Há cerca de 2 semanas editei aqui um POST no qual procurei, sumariamente, descrever um novo conceito economico, designado PLUTONOMIA pelo seu Autor.
Disse na altura que me parecia que a economia portuguesa apresentava, nos últimos anos, sinais crescentes de comportamento típico de plutonomia.
E prometi em breve justificar essa afirmação.
Para fundamentar tal opinião poderia socorrer-me de indicadores parcelares, alguns bem conhecidos:
1 - O comportamento claramente dual do mercado da habitação, existindo um segmento de habitações médio ou abaixo da média, com excesso de oferta em relação à procura, nalguns casos em verdadeira crise, enquanto que no segmento de elevada qualidade/preço a procura absorve facilmente (nalguns casos rapidamente) a oferta;
2 - O comportamento também dual do mercado de veículos automóveis novos, em que o negócio dos carros mais caros floresce enquanto que nos veículos mais baratos existe uma queda acentuada das vendas;
3 - A crescente procura dos destinos turísticos mais caros no exterior, enquanto que um número cada vez maior de portugueses declara que tem de passar as férias na sua própria residência habitual por falta de recursos para sair de casa;
4 - A frequência dos restaurantes mais caros, que continua animada ou mesmo em alta, enquanto que restaurantes da faixa média se queixam de dificuldades cada vez maiores;
5 - Mais importante nos últimos dois anos, a saída maciça de portugueses para o estrangeiro, em busca de trabalho que aqui não encontram, enquanto que a faixa de 1% mais abastados aumentou consideravelmente a sua riqueza graças, em especial, à forte valorização bolsista a que se assistiu neste período.
Podia aditar mais alguns exemplos do mesmo tipo, mas não é por aí que quero chegar à demonstração da minha tese.
O que constato de novo e de mais significativo, em 2005 e mais ainda em 2006, é a resistência, para mim surpreendente, da procura interna a uma política económica de austeridade que, noutra altura – anos 80 ou anos 90 – teria acarretado forte quebra da procura interna, designadamente do consumo privado.
Pois a verdade é que em 2006 o consumo privado – apesar do aperto orçamental e do endurecimento da política monetária do BCE - deu ainda um contributo positivo para o crescimento do PIB.
E o défice dos pagamentos ao exterior (transacções correntes) que em condições normais – atentas aquelas mesmas políticas – deveria exibir redução significativa, teve em 2006 comportamento oposto, passando de 8,3% para 8,8% do PIB.
Não creio que exista outra explicação para estes fenómenos, tal como noutros países, que não seja a “plutonomização” da economia portuguesa.
Ou seja, enquanto que uma significativa parcela da população tem mesmo de “apertar o cinto”, por força das restrições orçamentais e do excesso de endividamento/subida dos juros, a parcela dos mais abastados, graças ao considerável aumento de riqueza de que tem beneficiado, expandiu os seus gastos compensando o menor gasto das classes de mais baixos rendimentos.
Tudo isto se desenvolve, curiosamente, sob o manto diáfano de uma imagem de esquerda... NOTÁVEL!
Camarada Tavares Moreira,
ResponderEliminarO país não tem que apertar cinto nenhum. Quem tem que apertar é o estado. No entanto, pelos números do INE, o estado não apertou coisa nenhuma.
Aquilo que descreve é apenas desigualdade social provocada por haver um "pluto" que controla o fluxo de metade da riqueza declarada do país. A população que tem mesmo que apertar o cinto são aqueles para os quais temos um estado, mas que o estado não providencia para que consiga aumentar o sub secretário-geral-adjunto ou, talvez, para construir um indispensável aeroporto.
O consumo privado sobe em flecha porque as pessoas passam a ser pagas em géneros para fugir ao fisco. Um ALD de um Mercedes em vez de mais 50 cts. por mês, uma factura de um jantar colectivo para justificar mais 30 cts. no salário líquido,etc. Resultado, o PIB sobe por causa do consumo privado, o desemprego desce uns quantos trimestres antes e até, pasme-se, consegue-se que a receita fiscal suba por efeito do crescimento real da economia.
Há a ideia errada que as pessoas que fogem ao fisco são menos de 10 milhões, mas se pensar que são mesmo 10 milhões, vê que os estranhos fenómenos que descreve fazem todo o sentido.
E quanto mais subirem os impostos mais estranhos lhe vão parecer os indicadores.