Estamos sempre a tropeçar no mito de Sísifo, nas mil e uma vezes que nos perguntamos qual o sentido das coisas, do que fazemos ou do que vemos os outros fazer, sem que lhes vermos utilidade bastante.
Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar pela encosta acima um pedregulho imenso, até a pedra rolar pela outra encosta abaixo, para ele voltar a empurrá-la, até ela voltar a cair, assim gastando a sua vida, sem progresso aparente, sem utilidade alguma.
Há mil e uma interpretações, mil e uma lições tiradas do esforço, da submissão e da condenação de Sísifo. Mas também da sua resistência, da sua teima insensata, quem sabe? da sua maneira silenciosa de afrontar o pedregulho com todas as esforças e fazê-lo rolar à sua frente.
Talvez não tivesse importância saber se a pedra ia alguma vez ficar presa no cume.
Sísifo foi condenado pelos deuses a empurrar pela encosta acima um pedregulho imenso, até a pedra rolar pela outra encosta abaixo, para ele voltar a empurrá-la, até ela voltar a cair, assim gastando a sua vida, sem progresso aparente, sem utilidade alguma.
Há mil e uma interpretações, mil e uma lições tiradas do esforço, da submissão e da condenação de Sísifo. Mas também da sua resistência, da sua teima insensata, quem sabe? da sua maneira silenciosa de afrontar o pedregulho com todas as esforças e fazê-lo rolar à sua frente.
Talvez não tivesse importância saber se a pedra ia alguma vez ficar presa no cume.
Talvez a sua condenação fosse a de simplesmente ter que fazer com que ela se movimentasse, para que não lhe travasse o caminho, não o deixasse preso no sopé da montanha. Para não morrer, uma vez que essa era a condição dos deuses.
Se, para a subir, tinha que fazer esse esforço insensato, porque nos fixamos no esforço, e não na subida?
Porque sabemos que Sísifo sabia o fim da história, sabia que a pedra ia cair vezes sem fim, tantas quantas as que ele a empurrasse.
Sísifo foi condenado a viver sem esperança, creio que é isso que é terrível no seu castigo.
Sísifo
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Miguel Torga
Cara Suzana,
ResponderEliminarMas que pessimismo! Há que procurar nestas coisas ver o lado positivo, haja alguém que suba muitas vezes a montanha, olhe que há muito boa gente que finje subir!
Condenados estamos nós a pagar internet carissíma e lenta que se farta se não nos mexermos, por isso criamos o nosso blog. ser pessimista nao resolve como diz o chevalier, por isso resolvemos fazer qualquer coisa. Toda a colaboração é bem vinda!
ResponderEliminarSísifo foi condenado pelos deuses a empurrar a pedra montanha acima, após a sua morte, como castigo pelos inúmeros actos crueis que praticou, enquanto rei de Corinto.
ResponderEliminarEsta penitência, tem como cenário para ser executada, uma montanha nos infernos. Então devemos concluir que o diabo é justo na aplicação de penas aos que lhe caem na fornalha?
oh diabo...
:)
Caríssima Suzana, a metafórica história que maestralmente nos apresenta, convida-nos a reflectir, sobre as considerações que nos aponta e ainda sobre uma outra. Os grandes factos religiosos ocorreram no cimo de montanhas, alguns exemplos são a entrega das tábuas a Moisés, a construcção e a (amaração?)da arca de Noé, a crucificação de Cristo e mais uma lista infindável. Ainda hoje se olha um cume de um monte como sendo um ponto a conquistar e de lá se obter uma vista priveligiada sobre o mundo.
Cara Suzana,
ResponderEliminarCom tantos mitos engraçados, foi logo escolher um tão "cinzentão" (não se esqueça que o Bartolomeu tem razão, Sisifo foi condenado por algum motivo). E bem vistas as coisas, empurrar o pedregulho encosta acima até nem é muito mau (veja o que aconteceu ao desgraçado do Prometeus).
Pessoalmente, gosto mais da história do Ícaro, principalmente, a parte em que ele se esborracha cá em baixo (foi um crescimento não sustentado, foi o que foi).
Independentemente disso, parabéns pelo post Suzana, gostei. :)
Caríssima Susana, ve-se mesmo que hoje é dia de chuva...mas, pelo menos, sempre é sexta-feira!
ResponderEliminarTemos que combater o mítico Sísifo que, volta e meia, nos apoquenta: chega a ser uma "luta" quase tão grande...qto. a tarefa a k o Sísifo foi condenado;
Temos que fazer o esforço de "ir" mais atras do Torga, esse ilustre conterrâneo k ainda conheci; gosto mais do "recomeça" do Torga, é mais lúcido o seu "enquanto não alcances não descanses"... é um alcance alcancável!
Sei que a Susana pensa assim...quis foi fazer um bonito post; e conseguiu!
Cara Susazana
ResponderEliminarEste post fez-me pensar, gostei bastante das suas considerações.
Talvez porque recentemente um amigo de escola, jovem na flor da vida, teve de partir ... ainda hoje me parece um até já.
Depois vemos o atentado na Universidade, a guerra no Iraque, no Sudão e o que se faz ??? Nada ... realmente acho que a maioria de nós parece que é companheiro de pena do Sisifo.
Com tanta ódio que prlifera por aí, um dia destes ficamos secos por dentro, como diz sábiamente Chevalier de pas aqui
, amputados na alma. Que esperança tem uma raça amputada na alma?
Acreditem que por vezes ainda me custa aceitar que o ser humano é o animal racional. Curiosamente, senão me engano hoje faz anos que Hitler nasceu ... Suzana o seu post foi coincidência ??? Já dizia Einstei, coincidências são obras anónimas de Deus.
Anthrax todos nós nascemos com a capacidade incontrolável de errar, todos nós temos de carregar com os nossos erros, logo o Sísifo pode ser qualquer um de nós.
Suzana desculpe a divagação, mas realmente é sexta e chove, amanhã é Sábado e voltamos à caminhada interminável para o topo da montanha e aproveitando as pausas pelo caminho.
Bom se calhar ele foi condenado por fazer parte de um Governo que arrasta sempre os seus cidadãos para o fundo da montanha... uma forma de ele provar os efeitos do seu próprio egocentrismo e gula desmedida que levou à decadência dos valores morais e éticos de uma sociedade que explorou em proveito próprio, sem qualquer ponta de consideração por aqueles que era suposto servir...
ResponderEliminarUm pouco como o que se tem passado por aqui na última década e meia...
Bah!... Isto deve ser da chuva...
Suzana
ResponderEliminarÉ verdade, não é difícil tropeçarmos no mito do Sísifo.
É um belo, mas ao mesmo tempo aterrador mito. Belo pela forte imagem que nos transmite do castigo e da crueldade. Aterrador pela eternidade da inutilidade de um esforço repetitivo e monótono.
Triste fim mas merecido, este do Sísifo, com o requinte de uma condenação à "morte eterna".
Um aspecto positivo a retirar é que não devemos ser rotineiros e repetitivos, passar a vida a rolar uma pedra montanha acima...
Podemos e devemos ser teimosos e criativos na nossa vontade de rolar muitas pedras, grandes e pequenas, por muitas montanhas e vales, para sermos melhores…
Com sonho e esperança!
Nada de pensamentos negativos…
Cara Margarida,
ResponderEliminarUm grande bem haja! É exactamente isso.
Great Houdini,
I beg to differ.
Nós não nascemos com uma capacidade incontrolável de errar. Nós nascemos. Errar faz parte de um processo de aprendizagem contínua, faz parte de um processo de crescimento. Quem não erra, não aprende, nem cresce e Sísifo foi condenado a aprender na morte aquilo que não aprendeu na vida.
Há, de facto, muitos Sísifos por aí que carregam os seus próprios erros e nesse caso, provavelmente, merecem carregá-los, é um direito que os assiste. Agora, outros há que, tendo errado e reconhecido o seu erro, transportam o conhecimento que daí advém. Esses, não carregam erros, carregam conhecimento.
Assim, Sísifo pode ser aqueles que o querem ser.
Cara Margarida,
ResponderEliminarConvenhamos que a ideia do post da Suzana Toscano é brilhante porquanto, leva-nos a análises e estados de alma diversos.
Mas eu quero é comentar o seu comentário: obrigado pela força positiva que transmite!
Como eu entendo a tragédia de Sisifo!
ResponderEliminarTambém eu me sinto condenado - todavia sendo inocente - a empurrar montanha acima, anos e anos a fio, processos judiciais que de repente se vêem no sopé da montanha de novo...
Caro Anthrax:
ResponderEliminarObrigado pela discordância ... Realmente que o erro é a ponte para o sucesso, e a sua frase final é inspiradora: "Assim, Sísifo pode ser aqueles que o querem ser."
O que queria dizer é que realmente o erro nasce conosco, para nos permitir realmente aprender mais. Logo errar é humano, faz parte.
Com tanta fome, tanta violência certamente que nós estamos a cometee erros, todos, nem que seja não fazer nada.
Acho que na verdade Sisifo é uma metáfora da humanidade, tal como Adão e Eva o castigo é para toda a humanidade, pois veja-se o que temos feito ... além de carregar as nossas pedras.
Esta última é mesmo só para chatear, o conhecimento pode também ser a nossa pedra pois quanto maior é menor é ...
esta chuva hoje está mesmo estranha ... mas mesmo num dia de chuva Margarida as suas palavras são inspiradoras
Caro Houdini,
ResponderEliminarNão é nada só para chatear :), é verdade, «quanto maior é menor é» e é isso que torna tudo fascinante.
Claro que errar faz parte da natureza humana mas, se pensar bem, há outras coisas (que disse) que também fazem parte da natureza humana. Agora dizer que são "erros" é estar a atribuir-lhes um juízo de valor fundamentado numa moral judaico-cristã que lhe incutiu um determinado padrão de Bem e de Mal.
Apesar de, em termos práticos, estes padrões serem necessários para uma convivência razoável em sociedade, em termos teóricos a perspectiva muda substancialmente quando se pensa fora deles.
Pensar fora dos padrões é um desafio excepcional que, normalmente, não é muito bem recebido (e eu que o diga), mas é onde habitualmente encontramos respostas e soluções diferentes.
Caramba! Venha mais trovoada que eu hoje estou inspiradote! :)
Caros amigos, desculpem se vos deixei aqui uma nota de pessimismo, não era bem a minha ideia, embora às vezes seja preciso invocar os deuses para continuarmos a sentir aquela centelha que nos obriga a ir empurrando a pedra encosta acima! Acontece que tenho ouvido muita gente queixar-se da monotonia das suas vidas, da falta daquilo a que costumamos chamar um "sentido para a vida" e a isso vem juntar-se o espanto com que assistimos aos nossos filhos a descartar-se dessa condenação, a irem embora à procura serem mais felizes, cheios de esperança, exactamente o que faltava ao pobre Sísifo. Enquanto houver essa esperança, fugimos à condenação, é só isso. Embora este mito - desculpe Anthrax, mas cinzentão é que ele não é! - dê mesmo muito que pensar, como mostra este belo debate que não acompanhei porque fui gozar uns belos 2 dias de sol...à Holanda! E que bela festa das flores lá havia, para além da planura, sem enconstas a vencer! ;)
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