É um lugar comum dizer-se que uma imagem não mente. Recorre-se à fotografia como meio de prova, dispara-se a máquina para registar o momento, palavras para quê? É só olhar e está ali tudo pronto para tirarmos conclusões.
A verdade é que não é bem assim, as fotografias podem não mentir (se não forem montagens, é claro, falo das inocentes, que captam um instante) mas também são um excelente meio para não se dizer a verdade toda. Uma imagem vem sempre buscar apoio à nossa imaginação para ser lida, se não tivermos qualquer referência do que aí se exibe temos que pedir ajuda para a entender completamente, e é este simples facto com que se conta quando se quer ocultar, sem mentir formalmente, a realidade de um facto.
Vem isto a propósito da “desmontagem” que agora veio a lume da fotografia que ganhou a Worl Press Photo, e que mostrava um belo descapotável com um grupo de jovens que parecia passear-se no meio das ruínas do Líbano, após um bombardeamento. Sem legendas, a reacção era automática. Que diabo!, há gente sem escrúpulos nem coração, uns ricaços a fazer pouco dos pobres, um bairro todo destruído e eles a tapar o nariz com o lenço, bem instalados, vê-se logo que nunca viram miséria… No nosso imaginário, à força de tanto vermos repetidos os estereótipos da desgraça, nos países como aquele não se vestem de t-shirt, nem andam de carro vermelho descapotável, as mulheres não são loiras e jovens e os rapazes só andam de espingarda na mão. Onde estão os trapos negros e poeirentos, as mulheres de lenço na cabeça e desdentadas, ou homens com ar rebelde e faminto, de turbante sujo?
Daí a meia mentira, daí a grande mentira. Afinal, o carro não era um espada de um capitalista americano, era um utilitário para classe média, e os jovens eram libaneses, os que ficam entre os muito pobres e os muito ricos, a avaliarem os estragos na zona em que viviam.Assim, a fotografia já não tem graça, assim, foi preciso “desmontá-la”, com insinuações sobre a falsidade de quem a tirou. Ou seja, se se soubesse a “verdade verdadinha”, já a arte tinha ido às urtigas, não havia prémio nenhum. Desgraça é desgraça, nada de mudar o imaginário colectivo.
Afinal onde é que está a mentira, no que vimos ou no que só deixam que se veja?
A verdade é que não é bem assim, as fotografias podem não mentir (se não forem montagens, é claro, falo das inocentes, que captam um instante) mas também são um excelente meio para não se dizer a verdade toda. Uma imagem vem sempre buscar apoio à nossa imaginação para ser lida, se não tivermos qualquer referência do que aí se exibe temos que pedir ajuda para a entender completamente, e é este simples facto com que se conta quando se quer ocultar, sem mentir formalmente, a realidade de um facto.
Vem isto a propósito da “desmontagem” que agora veio a lume da fotografia que ganhou a Worl Press Photo, e que mostrava um belo descapotável com um grupo de jovens que parecia passear-se no meio das ruínas do Líbano, após um bombardeamento. Sem legendas, a reacção era automática. Que diabo!, há gente sem escrúpulos nem coração, uns ricaços a fazer pouco dos pobres, um bairro todo destruído e eles a tapar o nariz com o lenço, bem instalados, vê-se logo que nunca viram miséria… No nosso imaginário, à força de tanto vermos repetidos os estereótipos da desgraça, nos países como aquele não se vestem de t-shirt, nem andam de carro vermelho descapotável, as mulheres não são loiras e jovens e os rapazes só andam de espingarda na mão. Onde estão os trapos negros e poeirentos, as mulheres de lenço na cabeça e desdentadas, ou homens com ar rebelde e faminto, de turbante sujo?
Daí a meia mentira, daí a grande mentira. Afinal, o carro não era um espada de um capitalista americano, era um utilitário para classe média, e os jovens eram libaneses, os que ficam entre os muito pobres e os muito ricos, a avaliarem os estragos na zona em que viviam.Assim, a fotografia já não tem graça, assim, foi preciso “desmontá-la”, com insinuações sobre a falsidade de quem a tirou. Ou seja, se se soubesse a “verdade verdadinha”, já a arte tinha ido às urtigas, não havia prémio nenhum. Desgraça é desgraça, nada de mudar o imaginário colectivo.
Afinal onde é que está a mentira, no que vimos ou no que só deixam que se veja?
Essas são as eternas polémicas que rodam todos os anos à volta do prémio, cara Suzana. De facto, o Mini Cooper Cabrio não é uma limusina, mas até em Portugal é um carro caro, e há uma certeza que muita gente viajada tem: De que as libanesas são bonitas. A história por detrás não é contada pelo fotógrafo, mas imaginada por aqueles que sempre gostam de concluir para além do que a foto conta.
ResponderEliminarA foto mostra um contraste e vale por isso. Se afinal o contraste não é assim tão acentuado, isso só pode decepcionar os que montaram uma história à volta dela (o que acontece sempre, também). Mas esse outro contraste menos vivo não foi fotografado nem foi a concurso...
Este é que foi!
:)
Há por cá quem tenha descoberto a grande capacidade ilusória da imagem. E se aproveite magistralmente dessa capacidade.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarSuzana
ResponderEliminarQue bem que "apanhou" esta fotografia, que para a minha sensibilidade de ética e estética não tem nenhuma.
Não gosto deste género de contrastes, que justamente por serem chocantes são vencedores de prémios. É assim na fotografia, no cinema, na publicidade,.. Isto é o que está a dar...
Também não acho a fotografia fabulosa cara Margarida, mas isto é fotojornalismo. Aqui não há lugar a critérios estéticos.
ResponderEliminarFaz-me lembrar a polémica à volta de uma quantidade de outras fotos sobre a incursão israelita no Líbano no Verão passado...
ResponderEliminarDe tão chocantes, das alegadas atrocidades israelitas, que eram acabou por se detectar e concluir que a grande maioria ou eram foto-montagens ou encenações por parte de algumas áreas mais extremistas daqueles que utilizam o magnífico país que é o Líbano como base política para atitudes menos "limpas".
Até a Reuters alinhou... por isso se é verdade que uma imagem valia mil palavras, actualmente uma imagem não vale sequer uma... o que vale é a interpretação que cada um lhe quer dar, e a forma como quem detém as imagens as apresenta... o resto é conversa!
Isso não é verdade. A Reuters tem regras muito claras quanto à manipulação de imagens digitais. Um software de manipulação de imagens não pode fazer mais que aquilo que o fotografo faria com uma camara escura na manipulação da impressão; controlar a luminosidade, o grão e a intensidade em cada ponto ou pontos da foto. O que o fotojornalista fez foi acrescentar colunas de fumo na vista aérea e a Reuters divulgou um comunicado informando estas regras e despediu o jornalista.
ResponderEliminarJá agora, as fotos são estas: http://www.msnbc.msn.com/id/13165165/
ResponderEliminarse bem que não me pareça que o seu "magnífico país que é o Libano" fique melhor tratado pelos israelitas na versão verdadeira...
cmonteiro,
ResponderEliminartambém tem razão sim senhora... os israelitas também não foram lá muito simpáticos... mas não foi a hecatombe e o holocausto que muitos tentaram fazer parecer através da manipulação das imagens.
E a discussão resume-se tão somente a isso, que é: as imagens enganam... e muito mais do que as palavras! Além de que as imagens, ainda mais do que as palavras, podem ser facilmente manipuladas...
Errado novamente meu caro. As palavras é que são manipuláveis, por isso é que "uma imagem vale mais que mil palavras".
ResponderEliminarDe tal forma assim é que poderíamos estar aqui a falar sobre a sua "hecatombe" indefinidamente, quando basta olhar para as imagens, que também são manipuláveis, não ponho em causa, mas menos, pois à primeira vista todos deram logo conta da manipulação. É que nas imagens há testemunhas e se algo não aconteceu, tenha a certeza que não é uma foto que o vai provar.
Agora olhe para a foto verdadeira e faça o seu juízo sobre a sua não-hecatombe a partir dela...
Será que é fácil falar quando não se está lá?...
Quer uma apostinha como na sua resposta vai manipular palavras?...
O que é manipulável então?
Eh... eh... boa resposta!
ResponderEliminarPrevísivel como sempre... o que eu esperava para acrescentar que os "três pontinhos" deixavam aberta a porta para a minha resposta que é tão só que os individuos na sua "área de funções" ganham a v/ vida a manipular as palavras e interpretá-las, conforme o lado que vos alimenta, o que me leva a rematar a conversa com a afirmação de que na vida tudo é manipulável.
Isto porque como eu sempre digo na vida tudo depende dos pontos de vista de cada um e a partir daqui abrem-se uma infinidade de discussões que o meu caro amigo por mais "conversa" que tenha falta-lhe a substância da experiência, ganha não apenas pelos anos que cada um vive, mas também em grande parte pela vida que cada um tem e leva...
Quanto à sua conversa de "É que nas imagens há testemunhas e se algo não aconteceu, tenha a certeza que não é uma foto que o vai provar" só demonstra a alguma falta de conhecimento sobre o que de melhor se pode e faz actualmente em matérias de imagem e "cinema", para o qual as novas tecnologias, muito vieram contribuir.
Mas que digo eu?! Bem sei que posso estar a falar de coisas que vão muito além da sua compreensão... mas por mais que feche os olhos e bata o pé a dizer que elas não estão lá, só lhe posso dizer que elas estão lá, e não é por fechar os olhos que as vai negar... Isso é tão válido na vida para si, como o é para mim... uma das nossas grandes diferenças está aí... eu não as nego, nem as julgo (se calhar é porque o meu ramo profissional é bastante diferente do seu) apenas as vejo e aplico o método do KISS!
Os meus parabéns...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarquod erat demonstrantum...
ResponderEliminarCaro cmonteiro, o problema é que a foto ou, se calhar, só o prémio, QUERIA mostrar o contraste, era esse o factor que a evidenciava.
ResponderEliminarMas não havia contraste nenhum, nenhum choque entre a miséria dos atingidos e a indiferença curiosa dos privilegiados com limusines, o que havia, como veio a provar-se, era todos atingidos, precisamente a falta de contraste porque todos procuravam nos destroços avaliar o que os atingira.E tão chocante era a imagem que alguém procurou apurar a realidade e concluiu isso mesmo, que não era um contraste mas uma identidade, TODOS atingidos pelas bombas. E não haveria, ainda assim, nada de especial neste equívoco se não tivesse havido a tal "desmontagem" pública, como se, assim, afinal não se visse o mérito do prémio...Foi isso que me indignou, essa confissão indirecta da manipulação, essa desilusão de quem quer iludir. Só isso. (Há muitos anos que sou amiga de uma família libanesa, classe média, duramente atingidos pela guerra de há 20 anos. Podiam bem ser os seus filhos aqui, a desgraça deles é tão grande como a dos que estão em 2º plano, porque não há-de impressionar-nos, por causa do automóvel?):)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCara Suzana,
ResponderEliminarOlhe a foto. Não vê um contraste? Acha que um fotojornalista perante esta cena não a fotografa? Eu vejo um contraste. O jornalista viu um contraste.
O júri julgou uma foto, não julgou a história da família. Julgou aquele pedaço de papel apenas.
Caro cmonteiro, o ponto é: o que é que havia para "desmontar"? A notícia que eu li, e qeuue motivou o post, era sobre isto, não sobre o mérito da fotografia ou do prémio.
ResponderEliminarDepois desta faço minhas as suas palavras:
ResponderEliminarquod erat demonstrantum...
Ilustres comentadores,
ResponderEliminarDepois de vos ler, dei tantas voltas à foto que já tenho a cabeça à roda. Para mim, a coisa é bem mais simples. Alguém, com bastante imaginação, "criou" este cenário com o objectivo de ganhar o prémio e ponto final.
Senão reparem no bóbó vermelhinho, com aquele recheio maravilhoso; Acham que o condutor ía dar um passeio por aquelas bandas?
Reparem na loirinha...e no vermelhinho acabadinhos de saírem do banhinho!!!
Bom, espero que na 4ª feira, quando o primeiro mostrar os diplomas de engº não levantem tanta poeira dos escombros!
Um abraço a todos.
borrabotas.
Em crónica que escrevi há dias para um jornal regional, e sobre esta mesma fotografia, rematei:
ResponderEliminar"A fotografia vencedora do Concurso WPP 2007 é disso um bom exemplo. Um grupo de jovens libaneses, de aspecto cosmopolita, fazendo-se transportar num descapotável vermelho metalizado, passeia-se perante um cenário de destruição num bairro de Beirute. A imagem é servida a frio, retrata uma contradição, e ao espectador não restará mais do que lamentar o facto de a desgraça ser tão fotogénica."
Para quem estiver interessado, fica aqui o link:
http://pracadarepublica.weblog.com.pt/2007/03/a_desgraca_e_fotogenica.html#more
Com a devida vénia, linkei o post!
ResponderEliminar