quarta-feira, 18 de abril de 2007

O espanto não foi só meu!...

Como é sabido, o Governo vem exaltando de toda a maneira possível a enorme redução do défice orçamental. E tendo apelidado de manigâncias o recurso de governos anteriores a receitas extraordinárias, jurou não mais utilizar tal processo para o diminuir artificialmente, segundo dizia. Para marcar bem a fronteira, transformou mesmo o défice de 2,9% em 2004, em 5,2%, por não considerar as receitas extraordinárias. E foi esta a base que definiu como partida para a governação das finanças públicas.
Embora observador destas coisas, porventura nem sempre bem atento, nunca me passou pela cabeça que o Governo iria, em relação a 2006, calcular o défice por um método que tanto condenou, quando aplicado por governos anteriores. Mas foi o que aconteceu e que me levou a escrever, em 12 de Abril, o post A minha alma está parva, focando a minha estupefacção pelo facto de o défice de 2006, sem receitas extraordinárias, ter sido de 5,3%, superior ao de 2004!…Obviamente que não estou contra as receitas extraordinárias; o que eu digo é que, para ser coerente e haver progresso, o Governo deveria ter apresentado um défice bem menor. O post teve algum impacto na blogosfera e bastantes foram os blogs que o citaram. Por ordem alfabética, aqui deixo a menção dos que pude registar: a arte da fuga, blasfémias, classe política, gazeta lusitana, lusitânea, o divã de maquiavel, o insurgente, o juízo do ega, mais actual, vila forte
Os meus agradecimentos e os do 4R pela subida distinção!...

Nota: Segundo o DN de 15 de Abril, a Drª Manuela Ferreira Leite afirmou na véspera em Portalegre que “o défice não se situa nos 3,9%, mas sim nos 4,9% ou 5%...”, não incluindo as receitas extraordinárias, claro. Foi generosa, pois fez um ligeiro desconto…

10 comentários:

  1. Caro Pinho Cardão,

    O que o meu Amigo pôs em evidência no seu magnífico post "A minha alma está parva" e que a Drª Ferreira Leite explicou depois, significa, objectivamente, que a consolidação orçamental marcou passo entre 2004 e 2006.
    É claro que ninguém mandou os iluminados dirigentes governamentais no final de 2004 aprovar o Orçamento para 2005 depois do Presidente Sampayo ter decidido dissolver a Assembleia da República...
    Percebia-se que isso iria dar asneira, era como "dar o ouro ao bandido", mas aqueles fabulosos estrategas políticos não foram capazes de perceber a ratoeira em que estavam acair.
    Lembra-se?
    Agora também é preciso entender que embora o défice de 2006 não seja em nada melhor que o de 2004, a verdade é que apresenta uma delicada fragrância ROSA, criação brilhante da Givenchy, que o torna extremamente apelativo para o pessoal da comunicação social.
    É isso e só isso que faz a diferença.
    Mas convenhamos que se trata de um factor de peso.

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  2. Pergunta (se calhar um pouco parva):

    O que é que são as receitas extraórdinárias do Estado?

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  3. São assim tipo uns números que nós achamos "extraordinário" como é que aparecem contados de uma maneira, e depois vai-se a ver e são outra coisa. Ai abrimos a boca e dizemos: "é extraordinário".

    Que me desculpem os economistas de serviço pela intromissão na sua área...

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  4. Ou então... e peço também desculpas aos economistas pela intromissão nessa área:
    São receitas que nos caem do céu (leia-se UE) e cuja chegada nos deixa a pensar... como é que aqueles fulanos ainda nos enviam tanta massinha, depois de verem o caminho que tem sido dada a toda a outra que para cá veio?
    É extraordinário!!!!

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  5. Caro cmonteiro,

    Essa até pode ser uma boa explicação ( e é :))mas, eu preferia, assim, uma ligeiramente mais técnica.

    Caro Bartolomeu,

    As receitas da U.E não podem ser, não seria legal se o fizessem.

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  6. Humm... mais técnica? Obter receitas através de venda de património do Estado, privatização de empresas públicas etc etc, por exemplo. Mas aqui os nossos economistas da casa explicar-lhe-ão melhor. Há também uma contabilização de receitas que é absolutamente "extraordinária" e que consiste em contabilizar receitas que ainda não se obtiveram, ie.: o meu caro sabe que para o ano vai receber x de impostos e contabiliza-os como se os tivesse recebido já este ano. E para o ano? Bem... logo se vê!

    É extraordinário!

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  7. Caro Anthrax,
    A sua inocência é um espanto!
    Então não sabe o que é uma receita extraordinária! Ai ai ai...
    Eu explico...é assim como, ai como hei-de dizer-lhe...,imagine a minha mulher levar ao fim do mês para casa o dobro do ordenado e dizer-me: Olha marido o meu patrão este mês pagou-me a dobrar por achar o meu desempenho extraordinário!!!,e eu responder-lhe...Vá Gina, és mesmo extraordinária! :)
    Desculpem-me os ilustres economistas , mas foi a forma mais economicista de explicar ao ilustre Anthrax o que era uma receita extraordinária.

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  8. Gozem, gozem...

    Estou farto de vos dizer que não percebo nada de economia mas, de vez em quando, parece que não acreditam!

    De qualquer maneira, percebi a explicação do cmonteiro, tem lógica. Agora o que eu não fazia ideia é que se podia contabilizar "dinheiro dos impostos futuros", tipo é uma espécie de conta ordenado.

    Juro-vos que nunca ouvi uma ideia tão cretina! É que não cabe na cabeça de ninguém fazer uma coisa dessas... Desculpem lá, eu sei que vocês percebem todos muito disso, não fiquem ofendidos mas essa ideia - de contar com o ovo no rabo da galinha - é mesmo muito imbecil e não tem lógica nenhuma.

    A sério, não é nada normal contabilizar-se o que não se tem.

    Então, mas digam-me lá uma coisa... se se contabiliza o que não se tem, isso quer dizer - assim numa linguagem corrente - que "se está a gastar à conta" (mais ou menos como num cartão de crédito), então o que é que acontece quando se excede os limites do "crédito" e o rendimento não aumenta? As contas têm de ser pagas na mesma!

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  9. Camarada Anthrax,

    Deixe-me ter a honra: BEM VINDO A PORTUGAL!!!

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  10. Ah ah ah ah ah ah ah!! :))

    Meu caro cmonteiro, pois essa agora foi muito bem metida.

    De qualquer forma, deixem-me dizer-vos que não concordo nada com a ideia de se contabilizar o que não se tem. Vender património ou privatizar empresas, ainda é como o outro, não vem daí grande mal. Agora colocar "hipotecas" sobre uma coisa futura, isso é que não. Se calhar, é um ponto de vista ignorante e simplista, tudo bem mas, pelo menos, não cria falsas percepções.

    Bem vistas as coisas, essa maneira estranha de fazer contas é a mesma coisa que ter, por exemplo, um bisavô que comete um crime, apanha 300 anos de prisão (como nos EUA)e depois os seus descendentes é que têm de ir cumprindo a pena até prefazer os 300 anos. Naaaaaaa, não pode ser assim que se fazem as coisas.

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