quarta-feira, 25 de abril de 2007

O Senhor Presidente terá razão? Duvido...

É frequente ouvir dizer “Se isto acontecesse durante os Governos de Durão ou de Santana, o que é que não diriam…Cairiam o Carmo e a Trindade…”.
Isto, como é evidente, a propósito de alguns episódios controversos, mais ou menos recentes, envolvendo figuras do Governo e situações ou medidas mais questionáveis.
E acrescenta-se que agora não é assim por causa do apoio que os órgãos de comunicação social dispensam a este Governo, em contraste com a posição muito mais crítica que mantinham em relação aos anteriores.
Aceitando que existe algum fundamento nesta observação, tenho para mim que a complacência ou condescendência (que chegam até à cumplicidade) com que a generalidade dos meios de comunicação e muitos “opinion makers” encaram a actividade deste Governo, em especial grande parte das medidas mais controversas (bem como situações pessoais) tem uma origem e uma justificação mais profundas, que justificariam uma atenta análise social e política.
Vem isto a propósito de declarações do Presidente da República hoje proferidas na sessão solene evocativa do 33º aniversário do 25Abril.
Disse o Presidente que o 25Abril não pertence em exclusivo a certos sectores políticos, não era propriedade de ninguém em particular mas de todos os portugueses.
Tenho as maiores dúvidas de que assim seja, realmente.
Julgo que a percepção que os portugueses em geral têm do 25Abril não é essa.
O 25Abril pertence, no pensamento geral, às chamadas “forças de esquerda”, a que eu chamaria “esquerdas de catálogo”, que têm cada vez menos a ver com uma real defesa dos valores tradicionalmente identificados com a esquerda.
E é por isso, em minha opinião, que existe aquela condescendência e cumplicidade em relação a medidas de política ou situações pessoais mais controversas.
Tomando como o desmantelamento do SNS a que este Governo se vem dedicando com particular obstinação e eficácia.
Este trabalho, se fosse conduzido por exemplo pelo Dr. Luís Filipe Pereira, no Governo Barroso, teria causado um tumulto geral e arrastado com certeza a demissão do Ministro ou mesmo do Governo.
Esse tumulto, no qual o PS se teria empenhado até ao limite, fazendo coro com as demais “esquerdas de catálogo”, fundamentar-se-ia, entre outras razões, nas ofensas à Constituição e a outros padrões herdados da revolução de Abril.
E isto porque a um Governo Barroso – muito menos a um Governo Santana – nunca será reconhecido, pela comunicação social e/ou ”opinion makers”, o direito de mexer, muito menos de destruir, o que não é seu: as chamadas “conquistas de Abril”.
Nas conquistas de Abril só está autorizado a mexer – “maxime” destruir, como parece ser o caso do SNS – quem delas seja “dono”, proprietário, ou nelas tenha uma quota reconhecida, como é o caso do PS.
Ninguém aceita que quem quer que seja venha mexer na sua propriedade, muito menos danificá-la ou destruí-la.
Mas todos aceitam, em princípio, que um proprietário tome a iniciativa de demolir a sua própria casa, por exemplo para construir outra diferente.
E o que é verdade no plano do exercício dos direitos reais, no privado, também será verdade no plano do exercício do poder político.
O Povo é o mesmo. Penso eu de que, Dr. Pinho Cardão...

10 comentários:

  1. Há um conceito que há uns dias resolvi analisar, quando li aquilo que a "opinião pública" achava da jutificação do Sócrates relativamente ao curso. E se pensarmos bem o que será a "opinião pública" vemos que não passa de uma média de umas quantas centenas de semi-analfabetos que "falam" mais alto porque escrevem e falam em orgãos de comunicação social.
    O Presidente da República tem razão, sim, porque ao fim do dia a "opinião pública" não vale nada.

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  2. É bem interessante esta leitura do Dr.Tavares Moreira, pode de facto explicar muitas das perplexidades que fomos sentindo ao longo dos tempos, mais e menos recentes, com acções e reacções contraditórias que não são explicadas só pela retórica e jogos de estratégia política.

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  3. Muito bem visto, Dr. Tavares Moreira.
    De facto, só os donos podem mexer na sua propriedade.
    Da coisa pública somos nós os donos, pensamos nós de que...
    Mas, também aqui, os donos não são bem iguais...

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  4. Registo com satisfação um tom de intervenção política mais contundente, por parte do PSD e aqui também neste lúcido apontamento. É mais que tempo de revigorar o discurso ante as inúmeras falhas deste Governo manhoso, que povoa o Estado com gente estipendiada e mantém um comércio venal com alguns interesses privados. Isto, bem entendido, se não quisermos contemporizar com os abusos e com a imoralidade, nem alimentar, nem muito menos conviver com o pântano, que, afinal, sempre havia, nado, criado e hoje multiplicado por conhecidos senhores que se imaginam tutores do Regime.

    Boa noite e semana inspirada para todos.

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  5. CAMARADAS,

    Não se excluam, porque a Revolução é de todos!

    hehehehe ;)

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  6. Desculpem lá que vos diga isto, mas...

    Eu pasmo... Porque é que eu não ouço este género de análises por parte do PSD na AR?

    Porque é que só ouço, de facto, o "bota-abaixismo" por parte do actual PSD (aquele que vai apararecendo para a "opinião pública" em geral através dos media), em vez de pegar e destapar um pouco o atoleiro em que nos estamos a meter cada vez mais?

    Eu nem devia dizer isto, mas não aguento: O que é que os meus caros estão à espera para contribuir verdadeiramente e pôr o PSD outra vez no mapa político?

    É que com estes senhores que lá estão o futuro não me parece muito risonho! Mas também não quero a corrente do PSD igual a eles, porque disso também eu estou farto, aliás é também graças a essa corrente que hoje temos o (des)Governo que temos...

    Quando é que alguém, de facto, muda a direcção?

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  7. Caro Pinho Cardão,

    Tem o meu Amigo razão, a "coisa pública" é de todos, ou melhor devia ser de todos - por isso é que se chama "res publica".
    Mas o que devia ser, neste caso não é.
    Na verdade, a República criada com o 25/IV, é uma República das tais forças da "esquerda de catálogo", quer nós queiramos quer não.
    Trata-se de uma realidade sociológica incontornável, como agora se diz.
    Trata-se ainda de uma percepção generalizada, que na prática equivale a considerar corpos estranhos do regime aqueles que não expressem uma sintonia ritualista com as chamadas conquistas de Abril.
    Isto pode parecer muito estranho, complexo até, mas parece-me ser a realidade, nua e crua.
    O direito mais certo e seguro que detemos sobre a tal "coisa pública",nós que não pertencemos às tais agremiações - ou com as mesmas convivendo/pactuando - é o "direito" de pagar os nossos impostos para "ajudar" o País.
    Por exemplo ajudar a construir o aeroporto da Ota e a pagar os rendimentos negativos que este projecto vai impor à economia e às finanças públicas durante gerações.

    Caro Virus,

    A pergunta que formula no início do seu comentário deve ser naturalmente endereçada aos responsáveis do PSD.
    Quanto ao segundo comentário, estes "seus caros" não estão à espera de nada.
    Nós cumprimos o nosso papel de "pagadores de impostos" - direito supremo que nos é reconhecido nesta República.
    E procuramos alertar consciências através deste meio de contacto muIto especial que é o 4R.

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  8. Excelente artigo Drº Tavares Moreira.

    Não há dúvida que se fosse um governo que não este, a tomar estas medidas (destruição paulatina do sns, desrespeito pelas populações do interior e pelos funcionários públicos, distribuição em massa de diplomas de certificação de habilitações sem os conhecimentos inerentes), já tinha caído o Carmo e a Trindade.

    Mas há uma coisa que gostaria de ver esclarecida: será que esta atitude, este silêncio do Srº Presidente da República, significa “aval a estas políticas” ?

    Desculpem lá perguntar...mas aquando das eleições presidenciais eu disse aos meus familiares, aos meus amigos...votem neste homem que o País vai para a frente!...

    Agora estou naquela atitude do cavaleiro que quando retira o seu belo puro sangue da box para montar, repara que ele lhe parece coxo e pensa...humm, já te vi com melhores olhos!

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  9. Oh valha-me deus, as coisas que se escrevem!!!

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  10. É...e a tolerância?

    Quando a nossa "pança" cultural é demasiado grande, não devemos escrever em espaços abertos, para não corrermos o risco de falarmos apenas para o nosso umbigo.

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