quinta-feira, 10 de maio de 2007

Blair e Sarkozy: curiosa aproximação

Nicolas Sarkozy acaba de ser eleito Presidente da República em França, cargo em que será empossado no próximo dia 16.
Tonyblair anunciou hoje que irá deixar a chefia do Governo britânico e a presidência do Partido Trabalhista (Labour) no final de Junho próximo, pondo assim termo a um consulado de 10 anos.
A saída de Blair da cena política nesta altura e nas circunstâncias em que ocorre tem algo de surrealista.
Trata-se do único presidente do Labour que conseguiu 3 vitórias sucessivas em eleições legislativas e é mais novo hoje do que a grande maioria dos seus antecessores primeiros-ministros quando iniciaram funções.
Para além disso, estou convencido que Blair voltaria a ganhar, apesar de todas as dificuldades por que tem passado, se daqui por dois anos voltasse a concorrer a eleições.
Não me parece que David Cameron, o leader dos Conservadores, apesar da sua popularidade, tenha já o “estofo” suficiente para derrotar Blair numa disputa eleitoral.
Mas Blair sai com um lugar seguro na história como grande renovador do Labour e corajoso continuador das políticas liberais (não conservadoras) de Margaret Tatcher, embora sob o estigma da aventura mal sucedida da invasão do Iraque.
Estes dois homens, Sarkozy e Blair, vão encontrar-se amanhã em Paris para discutir o futuro da União Europeia.
É curioso o contraste na situação de ambos: um que acaba de vencer uma importante disputa eleitoral, preparando-se para (talvez) 10 anos de presidência da Republica Francesa; o outro acaba de renunciar ao poder, após 10 anos de liderança no Reino Unido.
Mais curioso é que Sarkozy tenha escolhido Blair para o seu primeiro encontro com um líder de outro grande país europeu.
Ser-lhe-ia fácil, por exemplo, dar a primazia à Chanceler alemã, Ângela Merkel, até pela circunstância de esta exercer actualmente a presidência da União Europeia.
É conhecida a simpatia pessoal que existe entre estes dois líderes políticos, apesar de pertencentes a famílias políticas distintas.
A verdade é que Blair nunca escondeu a sua preferência por Sarkozy, o que chegou a causar algum mal-estar nas hostes do PS francês. E Sarkozy a sua simpatia por aquele, nomeadamente quando o visitou em Downing Street, em plena campanha eleitoral junto dos emigrantes franceses.
Este encontro de amanhã sela este especial entendimento pessoal, que ultrapassa as fronteiras políticas convencionais.
Estou particularmente expectante para ver como se vão referir à questão complexa da candidatura da Turquia à União Europeia, aparentemente aquela que mais os divide.
Já agora uma pitada de sal: e como irão reagir os heróicos “manifestantes anti-Sarkozy” à presença de Blair em França para se encontrar com a sua “bête-noire”?
Teremos um slogan do tipo “Blair-Sarko, un-deux, fachô?”

3 comentários:

  1. Caro Tonibler,

    Não será também "Etat de raison"?
    Cumprimentos.

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  2. Caro Tavares Moreira,

    As ideologias, no fundo, são apenas uma distracção e servem para marcar os objectos de eleição. Pintar os candidatos de vários tons de amarelo não dá jeito, pelo que o ser humano inventou as ideologias.
    Agora, quando o assunto começa a ser sério, quando há o bem estar de milhões de pessoas em jogo, até Jorge Sampaio anda aos abraços ao presidente chinês, o papa ao iraniano, o Sócrates é liberal e Lula ama o JW Bush. O problema é quando as pessoas levam essa coisa da ideologia a sério - morrem pessoas!...Se são razões de estado ou estados de razão, desde que os povos sejam protegidos...

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