segunda-feira, 14 de maio de 2007

Missing

Uma das coisas que mais me chocou quando cheguei a Washington, há vinte anos, para aí viver uns tempos, foi a minha primeira ida ao supermercado. Na altura não havia em Portugal supermercados daquele tamanho, aquilo a que hoje se chama grandes superfícies, e levei um bocado de tempo a pensar como é que ia desembrulhar-me, com as duas garotas tão pequeninas, a percorrer aquela imensidão até encontrar alguma coisa que me parecesse comestível. Como os carrinhos eram enormes, é claro que sentei uma das meninas lá dentro e disse à outra para se pendurar na trave de trás e assim eu empurrava as duas. E lá nos preparámos as três para a aventura.
Mal tinha andado poucos metros, vejo um enorme cartaz pendurado do tecto, com a cara de uma criança, dizendo em letras negras “MISSING”. Achei um anúncio de mau gosto e fui ler as letras abaixo, onde avisavam para não deixar as crianças nos carrinhos, à espera, enquanto se procurava as coisas nas prateleiras a perder de vista. Os detalhes eram aterradores, que “eles” estavam em todo o lado à espera de roubar as crianças, que os levavam num segundo, e terminava com um dedo espetado PARA MIM a perguntar se eu queria ficar sem as crianças??? Um filme de terror, fiquei paralisada ali no meio, a pensar em fugir a correr daquele país tão ameaçador. Reparei depois que, coladas nas vitrinas, havia sempre fotografias de crianças desaparecidas, no supermercado e em todo o lado, e que “eles não se responsabilizavam”…
Na altura não se falava cá em crianças roubadas, abandonadas ou perdidas sim, não era novidade, mas roubadas?! Nunca tinha ouvido. Ainda me lembro do gelo que senti, do pavor de olhar para o lado e não ver uma delas, tornei-me até um pouco paranóica.
Um dia a carrinha da escola avariou e telefonaram a dizer para as ir buscar. Estava lá o Olivier, um garoto que morava no meu prédio, eu e a mãe dele dávamo-nos bem, quebrávamos a solidão com longas conversas em casa uma da outra. Disse-lhe que o levava, a mãe dele costumava trabalhar àquela hora. Recusou-se a ir no meu carro, que só saía com a mãe e mais nada. Acabei por o deixar lá e fui tocar à porta da outra, meio envergonhada por não lhe trazer o garoto. Ela riu-se muito e disse que o filho estava treinado para nunca sair da escola sem ela, que não havia excepções para não haver perigos. E lá fomos as quatro outra vez à escola porque ela não tinha carro e eu não deixava as minhas sozinhas nem um minuto…
Conto isto porque é tentador facilitar, as tais excepções de que falava a minha amiga Úrsula, muitas e muitas vezes fizeram troça de mim por não deixar as minhas filhas, que era uma psicose, que mal é que tinha, etc. etc Não sei o que aconteceu à garota inglesa, apesar de tudo acho a história esquisita, mas custa-se imenso ouvir acusar os pais, é um castigo desumano para uma imprudência!

4 comentários:

  1. Excelentíssima senhora,
    Criei um blogue de opinião que agora estou a divulgar.
    Se tiver interesse, não deixe de fazer uma visita:

    http://www.cegueiralusa.blogspot.com/


    Caso goste, por favor divulgue, pois pretende ser mais um espaço de discussão em busca de uma cidadania mais activa.
    O meu muito obrigado.
    Com os melhores cumprimentos,
    José Carreira

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  2. As minhas desculpas por colocar aqui informação sobre um tema que não está relacionado com este post! Mas julgo que é um assunto que vos poderá interessar...

    Gazeta Digital (http://gazetadigital.blogspot.com/)

    DESTAQUES DAS NOTÍCIAS PUBLICADAS NA IMPRENSA INGLESA SOBRE A ACTUAÇÃO DAS POLÍCIAS PORTUGUESAS NA INVESTIGAÇÃO DO DESAPARECIMENTO DE MADELEINE MCCANN

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    O RETRATO-ROBÔ FEITO PELA POLÍCIA PORTUGUESA É APENAS O DESENHO DE UM OVO COM ALGUNS RISCOS NO TOPO, A FAZER DE CABELO (IMAGENS PUBLICADAS PELO DAILY MAIL E TELEGRAPH.COM)
    Telegraph.com
    Daily Mail
    [May 10 - 2007]
    "[…] Staff at hotels, restaurants and bars in Praia da Luz where the McCanns are staying, and nearby towns, have been shown […] a computer-generated image which looked like "an egg with hair. […]Simon Russell, 40, a half-English, half-Portuguese video store owner said yesterday that he was visited by officers who showed him a computer-generated image which looked like "an egg with hair".(...)

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    MARTIN BRUNT (JORNALISTA DA SKY NEWS): "MAIORIA DAS NOTÍCIAS SOBRE MADELEINE MCCANN PUBLICADAS PELOS JORNAIS PORTUGUESES SÃO "CULHOES"..."
    [May 13, 2007] "
    (...) I'm having to rely for information on the local Portuguese Press whose accuracy is sometimes highly questionable. One paper seems to have good contacts. The rest of the stuff is best described as "culhoes". In neighbouring Spain that would be "cojones." Each morning, with the help of a translator, I have to pick my way through the minefield of flyers.(..)

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    OPINION
    Martin Brunt: another howling blood-thirsty British tabloid journalist, willing to kill – or let someone be killed – to have a story (*)
    By Paulo Reis
    Adolf Hitler didn’t managed to conquer Great Britain during the II World War, but some nazis took control over a few newspapers, until today...
    By Paulo Reis

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    Paulo Reis
    Jornalista (Carteira Profissional nº 734)
    pjcv.reis@gmail.com
    Yahoo Messenger: pjcv_reis
    Windows Live Messenger: pjcv_reis
    Gazeta Digital
    (http://www.gazetadigital.blogspot.com/)

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  3. A história de que estavam a jantar a 50 metros, deixando 3 crianças sózinhas num quarto, noutras circuntâncias, dava para apedrejar os pais. Sem o exagero americano, mas a situação não me passava pela cabeça enquanto pai e acredito que a PJ mantenha os pais como suspeitos por causa da negligência que é obscena.

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  4. Caro Tonibler, não é o caso destes pais, em férias e com meios para pagarem a alguém para olhar pelos filhos, mas há muitos pais e, sobretudo mães sozinhas, que não têm outro remédio senão confiar um pouco na sorte e deixar os garotos sozinhos para ir tratar de assuntos ou mesmo ir trabalhar (há muitos patrões que não querem que as mulheres a dias levem a criança, por exemplo). Há imensos casos de incêndios provocados por miúdos sozinhos, e acidentes de toda a ordem. Enfim, não estou a justificar nada, também nem me ocorreria deixar as minhas filhas para ir jantar (nem mesmo enquanto preparava o jantar!), nem conseguia engolir a sopa só com a preocupação, mas haverá outras maneiras de pensar e não é por isso que se vai "admitir" como um risco previsível esta punição tenebrosa, como se alguém normal pudesse imaginar tal perigo, entrarem em casa com o propósito expresso de levar uma criança que estava a dormir. Não lembra ao Diabo.

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