No curto espaço de 3 dias, somos defrontados com duas notícias aparentemente dissonantes:
- O PIB do 1º trimestre de 2007 terá aumentado 2,1% em termos homólogos, deixando antever que o crescimento do ano pode vir a registar o melhor resultado dos últimos 6 anos;
- A taxa de desemprego do 1º trimestre de 2007 subiu para 8,4%, valor mais elevado dos últimos 15 anos e já acima da média da União Europeia.
Estes dados são dissonantes só aparentemente, na realidade são consonantes e assiste-lhes uma lógica económica incontestável.
Com efeito, como se tem dito e repetido, a correcção dos desequilíbrios da economia portuguesa exige, entre outras condições, um aumento da produtividade.
Isso só é possível se os mesmos produzirem muito mais – o que se tem revelado muito difícil nomeadamente pela fraqueza do investimento – ou se menos produzirem um pouco mais.
É esta última condição que se está a verificar: com menos postos de trabalho produz-se mais.
Temo que este cenário tenha de ser bastante prolongado, alguns anos mais, pois se constata que a correcção dos desequilíbrios ainda é modesta.
E há outro factor a pesar negativamente na produtividade, que é o aumento persistente da despesa pública: soube-se há 2 dias que a despesa corrente primária do Estado aumentou 5% nos 4 primeiros meses do ano.
NÃO PODEMOS CONTINUAR ASSIM.
A economia sufoca sob o crescimento, também contínuo, da carga fiscal.
Uma palavra ainda para a opinião “política” sobre estes fenómenos:
O Governo tem tanta culpa no aumento do desemprego como mérito no crescimento do PIB: quase nenhuma ou nenhuma mesmo.
Com efeito, o aumento do PIB decorre em 1ª linha do ritmo forte de crescimento das economias europeias sobretudo daquelas que são os grandes mercados de destino das nossas exportações: Espanha, Alemanha, França, Reino Unido.
Não esqueçamos Angola, mercado que está em vias de se tornar o 6º na ordem de grandeza das exportações portuguesas (após aqueles 4 e os EUA), com crescimento impressionante (+43%) no 1º trimestre de 2007.
Quanto ao desemprego ele é em 1º lugar o resultado de uma combinação de factores estruturais e da desastrada política do período 97-2000, antes e após entrada no Euro como várias vezes assinalei.
Julgo que o discurso oficial só tinha a ganhar se reconhecesse estas realidades.
E o que vemos?
O Governo a reclamar mérito, porque a economia cresce “graças” às medidas de política.
A Oposição (se é que ainda existe...) zurzindo o Governo por causa do aumento do desemprego.
No meio, a espantosa reacção do Presidente da CIP, questionando a credibilidade dos números do INE quanto ao desemprego...O mesmo INE que 2 dias antes tinha divulgado os dados do PIB, nesse caso de indiscutível credibilidade...
Registe-se a reacção bem mais sensata do próprio Governo a este respeito.
Triste sinal dos tempos...
Numa coisa concordamos, o governo não tem nada a ver com isto. Embora, como comentei outro dia no post do MFrasquilho, o facto de sermos arrastados pelo crescimento dos outros já não é nada mau. E nisto o governo (e os dois precendentes) tem alguma influência pelo que não fez (em Portugal temos que ficar felizes quando os governos não fazem!).
ResponderEliminarOs números, concordo em parte com o presidente da CIP na questão da credibilidade dos números. Quando as variações da nossa economia têm uma influência dominante do comércio externo, a percentagem daquilo que é obtido a partir dos movimentos bancários é muito maior e logo a medida mais rigorosa. Quando o comércio externo é menos importante, os números do crescimento do PIB não valem nada.
Ora o PIB vem crescendo consistentemente há uns trimestres e o comércio externo tem estado bem, logo a variação da taxa de desemprego como medida nacional não faz sentido.
A taxa de desemprego, soube há pouco tempo quando estranhei o número do trimestre passado, é uma sondagem. O INE não vai aos números dos inscritos no fundo de desemprego (como penso fez no passado), mas faz uma sondagem que pode estar a ser desviada com os desequilíbrios regionais (se houvesse um PIB por regiões decente, decretava-se a calamidade no Norte ). Seria interessante que o IEFP publicasse a sua versão da variação da taxa de desemprego.
Se disser alguma asneira muito grande desculpem, pois eu e a Economia temos uma relação de mera curiosidade.
ResponderEliminarcaro Tonibler acha mesmo que os números do IEFP seriam mais válidos do que os do INE? Não são os dados do INE os utilizados para fazer comparações a nível internacional?
Caro Tavares Moreira partilho a preocupação do caminho que Portugal está a seguir. Quantos aos números do desemprego, não serao em parte justificados, com a emigração de empresas que ussam mão de obra intensa em busca de locais mais proximos da escravatura?
Obrigado pela atenção.
Cá vou eu dizer das minhas...
ResponderEliminar1- Os dados do desemprego do IEFP não valem nem mais nem menos que os do INE, isto porque falando do desemprego tanto é válido analisar-se da forma como o INE o faz, como o IEFP. Isto porque nem toda a gente (e são muitos)que procura trabalho e não encontra está inscrita no IEFP, logo os nºs de desempregados fornecidos pelo IEFP estão aquém da realidade;
2- O aumento da taxa de desemprego não se deve a este Governo exclusivamente. Deve-se ás políticas da Manuela Ferreira Leite/PSD e do Governo PS anterior. Estes só pegaram naquilo que já estava feito e continuaram, com a vantagem de beneficiarem de uma maior eficiência na máquina fiscal quanto à cobrança de impostos.
Quanto muito podem ser responsáveis de nada terem feito para inverter o rumo das coisas, género uma pessoa vê um individuo sozinho a esvair-se em sangue no meio da rua e passa a assobiar e a comentar "Este já foi... Mas eu continuo por cá e bem!";
3- A curiosidade da composição da taxa de desemprego é que esta está centrada nos jovens e sobretudo nos qualificados, ou seja, já não é exclusividade dos mais velhos e sem formação, antes pelo contrário.
Isto acontece porque:
a) Há menos pessoas a saírem do mercado de trabalho por estarem a limitar as pré-reformas (menos aos políticos e pessoal do B.Portugal, etc. e tal);
b) O grosso do nosso tecido empresarial (em força de trabalho são as PME's e não as PT's, GALP's, EDP's, bancos, Estado, etc.) não tem condições para a criação de postos de trabalho qualificados, uma vez que não tem disponibilidade de investimento em áreas que requerem individuos devidamente qualificados, logo não conseguem desenvolver a sua produtividade e eficácia da gestão (pescadinha de rabo na boca);
c) A produtividade não pode aumentar drásticamente porque a composição etária da força de trabalho que constitui as empresas é elevada, e recondicionar pessoas para realizar certo tipo de actividades em consonância com a sua idade não é assim tão fácil, até porque a nossa legislação laboral não o permite.
4- A acrescer a isto o facto de que, como escrevia um diário económico ontem na sua capa, tudo indica que as pessoas no futuro próximo vão ter obrigatóriamente de continuar a trabalhar para além dos 65 anos se querem garantir a reforma. E aqui pergunto eu:
a) Garantir a reforma de quem? Dos políticos e funcionários do B.Portugal? Sim, porque a deles não vai ser de certeza...
b) Não será mais simples acordar desde já as pessoas para a realidade de que vão ter de trabalhar até morrer? Sim, porque não é com a constante redução das suas reformas que vão poder viver sem trabalhar mesmo depois de "reformados"!
c) Que espécie de reforma é que querem dar às pessoas? Se vão ter de trabalhar até aos 70, ou mais, e a esperança média de vida deverá rondar os 73 para os homens e os 78 para as mulheres (SMC Help!) estão à espera que as pessoas gozem o quê da reforma?
d) O dinheiro que certamente irão poupar em reformas irá ser gasto em quê? Nas baixas médicas prolongadas, que por seu lado são reduzidas em função da sua duração, o que por seu lado vai levar a quê pessoas doentes tenham de trabalhar, e lá se vai a produtividade!...
e) Isso não irá dificultar ainda mais a entrada dos jovens no mercado de trabalho?
f) and so on...
O remédio para isto só é um, crescimento elevado e sustentado da economia do país (e não crescimento reduzido e arrastado) baseado não nas exportações mas sim no consumo interno, preferencialmente das familías. Para isso é preciso que o Estado liberte a economia e a deixe funcionar.
É preciso que o Estado não absorva da economia e das famílias aquilo que faz girar o mundo... é preciso deixar o mercado funcionar sem demasiada intervenção do Estado, excepto em áreas muito precisas. O seu papel na economia de um país deve ser única e exclusivamente de agente regulador e para isso deve recorrer-se de um bom sistema de Justiça que seja rápido e eficaz e algumas agências de controlo.
Tudo o resto é conversa para boi dormir... e enquanto o boi dorme a vaca continua a engordar... até um dia!
Faço minhas as palavras dum renomado economista portugues. José Sócrates deve ter estudado Goebbels. Cada vez que intervem consegue diminuir a preocupação da comunicação social com meia duzia de palavras, infelzimente para o Sr. Engenheiro, os números estão lá para nos ilucidar. É um avanço as pessoas começaram a ter noção da realidade dos problemas, mas continuo a pergntar-me quando esta comunicação social nos vai desenjoar desta permanente atitude lambe-botas ao governo.
ResponderEliminarÉ de louvar a campanha publicitária que está a ser feita internacionalmente sobre o algarve, contudo é triste ver que o primeiro ministro tem que ir pessoalmente resgatar duas empresas. É sinal que algo está muito mal. Primeiro porque não tem condições suficientemente atractivas para conseguir captar investimento e segundo para alguma coisa existe um ministro da economia. Em vez de Simplex e novas oportunidades, devia preocupar-se mais com o facto de as empresas terem de ser resgatadas a ferros praticamente. Já alguem viu o primeiro-ministro grego a implorar à Sonae para ir lá montar infra-estruturas????
Camarada Houdini,
ResponderEliminarSim, são os números do INE que interessam ao fim do dia. Aquilo que estava a questionar, e que questionei os técnicos no trimestre passado, é se a taxa de desemprego está a corresponder à fracção de pessoas que não têm emprego em Portugal.
Ainda é complicado dizer com segurança, mas cheira-me que o número está desviado para cima.
Camarada Virus,
Ao IEFP as pessoas recorrem por interesse. Não quer dizer que os números sejam piores ou melhores.
Uma das coisas que já aprendi na vida foi não tentar explicar índices com comportamentos particulares. Nunca é por isto ou por aquilo, simplesmente é. Quando falamos numa aldeola estatística como é Portugal, qualquer porcaria pode ser importante e muito do que julgamos importante não tem importância nenhuma. Produtividade não é um problema de Portugal, é um problema da função pública. O valor do trabalho devolvido à sociedade não corresponde ao valor do dinheiro que recebem. No resto do país a falta de produtividade é facilmente resolvida.
Quantos às reformas, mantenho. Dêem-me a gestão da segurança social, fundam todos os esquemas de protecção na reforma e ainda tiro uns milhões para mim. Só não é sustentável para quem tem interesse em dizer que não é sustentável.
Touché caro Tonibler...
ResponderEliminarComo espadachim deve ser o terror dos seus adversários!
Meus Caros,
ResponderEliminarO que destaquei nas espantosas declarações do presidente da CIP foi a dualidade de critérios de avaliação: o INE é bom nas estatísticas da produção, já não é credível quando divulga estatísticas do desemprego (e do emprego).
Isto é: quando as estatísticas agradam é credível, quando não agradam não é credível.
Convenhamos que quem não merece crédito, neste contexto, são as declarações do Presidente da CIP.
No tocante ao desemprego, poderemos até dizer que estas estatísticas, em termos absolutos e relativos, estão favorecidas pela macissa emigração dos últimos anos.
Se não tivesse ocorrido tal fenómeno, poderíamos estar hoje com taxa de desemprego de DOIS DÍGITOS.
Para além das condições tão precárias em que muitos deles trabalham como sabemos, esses PORTUGUESES ainda dão uma preciosa ajuda à taxa de desemprego...
Perversa ironia: perdem o emprego em Portugal; vão trabalhar em condições adversas (dramáticas, por vezes) para o exterior; ajudam a não agravar as estatísticas oficiais do desemprego...