sábado, 9 de junho de 2007

Inocente de quê?

A determinação em acabar com o estatuto de arguido está em marcha. O próprio Procurador-Geral da República chegou a afirmar que muitos arguidos são inocentes.
De facto, entre nós, o estatuto de arguido é socialmente sinónimo de culpado. Mesmo aquela frase feita, que todos já conhecemos de cor e salteado – todos são inocentes até a condenação transitar em julgado –, não chega para contrariar esta tendência na qual a comunicação social tem, também, a sua quota de responsabilidade.
Corremos o risco de ser acusados por vários motivos e até por “dá cá aquela palha”. Situação muito desagradável, pela imagem negativa que nos pode trazer, pelos trabalhos que a própria justiça nos dá, obrigando-nos, muitas vezes, a penar durante anos e anos, pelas despesas que acarreta (não esquecer que a maioria dos portugueses não são abonados, e cada vez menos, infelizmente) e, a acrescentar a tudo isto, o clima de intimidação com que alguns – dotados de meios financeiros e jurídicos – se entretêm a acalmar quaisquer ímpetos ou veleidades por parte de um normal cidadão. No fundo, estamos perante uma nova situação, impensável há alguns anos. O melhor é começar a estar calado, quietinho e não levantar muitas ondas, caso contrário, as consequências far-se-ão sentir de muitas e imprevisíveis formas. Não bastava a condição epidémica de arguido, com todo o seu cortejo social negativo, como ainda temos que chupar com estas iniciativas “pós democráticas” ou “pré ditatoriais”.
Parece que os políticos são particularmente atreitos à condição de arguidos. Veja-se o que está a acontecer por esse país fora. Mas não devem ficar muito preocupados. No final, alguns (ou muitos) ainda farão chorar de inveja a Paris Hilton.
Quanto aos restantes portadores do estatuto de arguido, também não devem ficar muito tristes. De facto, segundo um cronista brasileiro da BBC, a viver em Londres, e a propósito de nova lei sobre a integração de imigrantes, cerca de 90% dos brasucas a trabalhar naquele país estão “alegremente” ilegais, não ligando nada a essa situação. As razões são simples. Se estivessem no seu país natal também estariam na mesma! Ivan Lessa diz que “Todo o brasileiro é culpado de alguma coisa. Mesmo depois que o provem inocente”.
Agora já começo a compreender melhor a nossa tendência. Às tantas fomos nós que a levámos para o Brasil.
É difícil inocentar alguém que não tenha sido condenado. Fica sempre a dúvida.
O cronista recorda um filme no qual Clint Eastwood baleou um indivíduo. Alguém lhe notou que a vítima estava inocente. Respondeu: - Inocente de quê?

3 comentários:

  1. Sr. Prof. Massano Cardoso

    Não percebo como é que uma pessoa da sua craveira intelectual se possa interessar por um "assunto" destes!

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  2. Caro Prof. Massano, acabar com o estatuto de arguido só pode ser para o substituir por outra designação qualquer, tipo, pré-suspeito, quase-à-beira-de-se-saber-se-é-inocente-ou-nãoou um eufemismo qualquer. De contrário, uma pessoa passaria de inocente a acusada ou a ilibada sem sequer saber que tinha estado sob suspeita. O problema é que nós não convivemos bem com as dúvidas e com o seu esclarecimento transparente e isento. Começamos logo a desconfiar que nos estão a esconder qualquer coisa, que se uma pessoa cai sob a alçada da justiça é porque alguma coisa fez de certeza certezinha. E é isso que está errado. Os tribunais, e todo o processo instrutório, servem tanto para condenar como para defender, e nem sempre o inocente é o que acusa, precisamente porque se sabe que há uma mancha difícil de limpar sobre quem é arguido e, pior ainda, réu.Estes fenómenos sociais, ou culturais, devem ser combatidos pelo esclarecimento, pela ajuda em se saber colocar as coisas no seu devido lugar, em vez de procurar inventar novas subtilezas que em breve ocuparão o lugar das anteriores.

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  3. A DGCI vai contratar o Clint Eastwood para substituir o Paulo Macedo... O que até nem é mal visto já que trabalhava como conselheiro avençado!

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