O significado e a interpretação das dores relacionadas com a desfloração e o parto têm sido objecto de muitas análises. Não há sociedade que as não tenha incorporado na sua cultura. São inúmeras as explicações. No entanto, uma explicação evolutiva concede-lhes um significado especial. A dor física, e o aspecto emocional associado, promove e reforça os laços entre os indivíduos, a nível do casal e dos mais próximos dentro da comunidade, contribuindo para melhorar as capacidades humanas.
O medo e a dor associados a estes dois momentos, aparentemente, não batem certo, porque contrariam o prazer indispensável a um dos actos mais importantes: estimular a procriação! Sendo assim há necessidade de encontrar razões para estas dores.
Relativamente ao hímen, alguns evolucionistas interpretam-no como consequência da selecção de mulheres que apresentavam esta membrana face às que não a tinham, possibilitando a criação de “garantias” e “atributos”, aproveitados ao longo dos tempos para vários fins, dos quais se destacam o domínio por parte do sexo masculino e, em certas circunstâncias, a humilhação do ser humano.
As dores de parto são consideradas como um castigo. Basta ir ao Génesis e ler: - Depois, disse à mulher: «Aumentarei os sofrimentos da tua gravidez, entre dores darás à luz os filhos. Procurarás apaixonadamente o teu marido, mas ele te dominará.» (G. 3,16).
Os partos de outras espécies, sobretudo selvagens, decorrem com uma simplicidade estonteante, contrastando com a nossa.
Foi num dia de Agosto, precisamente o da Assunção de Nossa Senhora, tinha dez anos, quando “ouvi” o meu primeiro parto. Eram 10 horas da manhã. Na rua principal, não havia ninguém, nem passava um carro. O Sol aquecia de forma particularmente violenta, obrigando-me a procurar a sombra da casa dos Arcos. De repente, comecei a ouvir gritos de dores numa cadência crescente, espaçados de curtos períodos de calmaria, como se fossem cólicas, mas de uma intensidade tal que fiquei aflito. Sabia de onde vinham, quem os emitia e, também, a razão de ser. Só não sabia que era acompanhado de tamanho sofrimento. Ainda aguentei algum tempo, mas a ressonância na rua deserta era assustadora, obrigando-me a fugir para casa. Não disse nada. A meio da tarde, acompanhei a minha mãe que foi fazer uma visita de cortesia à senhora. Inchada, com ar desleixado e bastante suada, pegava ao colo o rebento. Havia um sorriso feliz que contrastava com a gritaria da manhã. “Mas esta mulher sofreu tanto para ter o filho”... Por que é preciso sofrer tanto?
Em casa, perguntei as razões de tantas dores. Lá me disseram qualquer coisa para me calar. Um dia, mais tarde, uma prima do meu pai disse-me que as mulheres tinham que ter dores e quanto mais dores melhor, porque assim passavam a gostar mais dos filhos. Fiquei de boca aberta. Lembro-me de lhe ter ripostado que as cadelas e as gatas não sofriam assim. Quase que me insultou pela comparação com os animais. Tive que arrepiar caminho e lembrar-lhe que a J., mulher solteira com muito filhos e que vivia num miserável barracão, tinha tido, recentemente, mais um, ou melhor, mais uma, sozinha. De manhã, passou pela minha casa com uma cesta à cabeça – ia para uma fazenda onde a deixavam cultivar algumas coisitas –, e, ao princípio da tarde, desta vez sem barriga, trazia a cesta debaixo de um braço, e no outro, embrulhado no pano da rodilha, a filha. Ainda ouvi perguntar-lhe como é que tinha acontecido e se tinha tido muitas dores... Sentiu qualquer coisita, e quase que não teve tempo de deitar-se no chão. Esperou um pouco, e, depois, com a faca de cortar as couves, separou-se da filha. O que a incomodou mais foram as secundinas que demoraram a sair mais tempo do que o habitual. A seguir, enterrou-as na leira, bem fundo, para que os animais não as comessem.
Pode ser que as dores de parto, com o seu poderoso efeito emocional, tenham tido um papel muito importante ao estimular a solidariedade e o reforço entre os próximos, ajudando a mulher num momento particular e tão sensível para a comunidade: o nascimento de mais um ser. Mas, também, é certo que algumas não sentem grande coisa. Hoje, graças aos meios que dispomos, podemos e devemos minimizar esse sofrimento, até, porque, em termos evolutivos, precisamos de outros motivos para estimular e reforçar a solidariedade...
O medo e a dor associados a estes dois momentos, aparentemente, não batem certo, porque contrariam o prazer indispensável a um dos actos mais importantes: estimular a procriação! Sendo assim há necessidade de encontrar razões para estas dores.
Relativamente ao hímen, alguns evolucionistas interpretam-no como consequência da selecção de mulheres que apresentavam esta membrana face às que não a tinham, possibilitando a criação de “garantias” e “atributos”, aproveitados ao longo dos tempos para vários fins, dos quais se destacam o domínio por parte do sexo masculino e, em certas circunstâncias, a humilhação do ser humano.
As dores de parto são consideradas como um castigo. Basta ir ao Génesis e ler: - Depois, disse à mulher: «Aumentarei os sofrimentos da tua gravidez, entre dores darás à luz os filhos. Procurarás apaixonadamente o teu marido, mas ele te dominará.» (G. 3,16).
Os partos de outras espécies, sobretudo selvagens, decorrem com uma simplicidade estonteante, contrastando com a nossa.
Foi num dia de Agosto, precisamente o da Assunção de Nossa Senhora, tinha dez anos, quando “ouvi” o meu primeiro parto. Eram 10 horas da manhã. Na rua principal, não havia ninguém, nem passava um carro. O Sol aquecia de forma particularmente violenta, obrigando-me a procurar a sombra da casa dos Arcos. De repente, comecei a ouvir gritos de dores numa cadência crescente, espaçados de curtos períodos de calmaria, como se fossem cólicas, mas de uma intensidade tal que fiquei aflito. Sabia de onde vinham, quem os emitia e, também, a razão de ser. Só não sabia que era acompanhado de tamanho sofrimento. Ainda aguentei algum tempo, mas a ressonância na rua deserta era assustadora, obrigando-me a fugir para casa. Não disse nada. A meio da tarde, acompanhei a minha mãe que foi fazer uma visita de cortesia à senhora. Inchada, com ar desleixado e bastante suada, pegava ao colo o rebento. Havia um sorriso feliz que contrastava com a gritaria da manhã. “Mas esta mulher sofreu tanto para ter o filho”... Por que é preciso sofrer tanto?
Em casa, perguntei as razões de tantas dores. Lá me disseram qualquer coisa para me calar. Um dia, mais tarde, uma prima do meu pai disse-me que as mulheres tinham que ter dores e quanto mais dores melhor, porque assim passavam a gostar mais dos filhos. Fiquei de boca aberta. Lembro-me de lhe ter ripostado que as cadelas e as gatas não sofriam assim. Quase que me insultou pela comparação com os animais. Tive que arrepiar caminho e lembrar-lhe que a J., mulher solteira com muito filhos e que vivia num miserável barracão, tinha tido, recentemente, mais um, ou melhor, mais uma, sozinha. De manhã, passou pela minha casa com uma cesta à cabeça – ia para uma fazenda onde a deixavam cultivar algumas coisitas –, e, ao princípio da tarde, desta vez sem barriga, trazia a cesta debaixo de um braço, e no outro, embrulhado no pano da rodilha, a filha. Ainda ouvi perguntar-lhe como é que tinha acontecido e se tinha tido muitas dores... Sentiu qualquer coisita, e quase que não teve tempo de deitar-se no chão. Esperou um pouco, e, depois, com a faca de cortar as couves, separou-se da filha. O que a incomodou mais foram as secundinas que demoraram a sair mais tempo do que o habitual. A seguir, enterrou-as na leira, bem fundo, para que os animais não as comessem.
Pode ser que as dores de parto, com o seu poderoso efeito emocional, tenham tido um papel muito importante ao estimular a solidariedade e o reforço entre os próximos, ajudando a mulher num momento particular e tão sensível para a comunidade: o nascimento de mais um ser. Mas, também, é certo que algumas não sentem grande coisa. Hoje, graças aos meios que dispomos, podemos e devemos minimizar esse sofrimento, até, porque, em termos evolutivos, precisamos de outros motivos para estimular e reforçar a solidariedade...
Interessantíssimo olhar sobre este assunto, a "dor", permita-me no entanto referir, caríssimo Professor, que, em minha opinião, a dor do rompimento do híman, será mais ou menos intensa, dependendo, entre outros factores, do amor e cuidado que o elemento masculino colocar no acto, proporcionando à mulher uma ambiência de maior descontracção. Em relação à dor de parto, caríssimo professor, só me ocorre deixar aqui duas homenagens, uma à natureza e outra à mulher. Eu assisti desde o princípio ao fim, ao nascimento dos meus 2 filhos. Intrigava-me e queria aprender todos os movimentos relativos ao parto, sobretudo a que distância do bébé deveria ser cortado o cordão umbilical e de que modo se extraiem as secundinas. Mas, aquilo que consegui reter de todo o processo, foi a extrema tenacidade e coragem que uma mulher tem de possuir, para conseguir dar à luz. Posso afirmar que encorajei a minha mulher em vários momentos, pois a minha sensação è que ela iria desistir. As dores eram intensas demais, o meu primeiro filho nasceu com aplicação de forceps. Mas aquilo que mais me "intriga" é, depois das dores e do incomodo passado durante a gravidez, ha mulheres que desejam repetir a façanha. Ufah!!!
ResponderEliminarA mnha esposa, diz-me - se não fosse a incerteza do futuro e a idade, que já não é a indicada, ainda criava outro filho. Eu, respondo, tudo bem, desde que não tenha de ser eu o pai...
Pois é, caro Bartolomeu, o Altíssimo lá teria as suas razões para confiar tal tarefa, e o respectivo sofrimento, às mulheres, Ele lá sabia quem é que ia esquecer tudo no momento seguinte e ficar pronta para outra! :) Mas o facto é que, apesar de o parte ser uma viol
ResponderEliminarencia física, há uma profunda transformação que vai acompanhando a evolução da gravidez, incluindo psíquica, e o sentimento que acompanha o nascimento de um filho é uma coisa tão profunda e tão intensa que anula quase de repente a memória da dor que se sentiu. Por isso quem vê "de fora" sente tudo com mais força, teme pela mulher que vê em perigo, não controla os acontecimentos. Eu assisti ao nascimento da minha 1ª sobrinha e achei uma brutalidade revoltante, depois, quando foi a minha vez, compreendi a diferença, a pessoa está fixada em que o bebe nasça bem, em evitar que ele sofra, há um sentido na vida que distingue em absoluto essas dores daquelas a que assistimos quando uma pessoa está doente sem esperança. A natureza é sábia...
Será talvez devido aos mistérios com que a vida vai "calcetando" o nosso caminho, que encontramos força anímica necessária para continuar dia-a-dia. É verdade cara Suzana, o esforço e o suportar de tão grandes dores, é supremamente compensado com o primeiro choro daquele que nasce do ventre materno.
ResponderEliminarEu tenho só mais uma coisinha a acrescentar; Viva o século XXI e o progresso científico!
ResponderEliminarA tradição já não é o que era, a não ser que se sofra de qualquer patologia do foro psiquiátrico.
A diferença que existe entre os humanos e os animais, no que diz respeito às dores de parto, vem da Selecção Natural.
ResponderEliminarOs seres humanos para serem mais inteligentes precisam de um cérebro maior (ou o contrário, um cérebro maior é que fará um ser mais inteligente). Assim, a Selecção Natural, ao "escolher" os mais inteligentes (com um cérebro maior), prejudicou o parto da mulher. De lembrar que, em proporção do corpo, o cérebro do ser humano é o maior do reino animal (e nos bebés essa proporção é ainda maior).
Li um livro do Stephen Hawking, que previa, que num futuro longínquo o desenvolvimento do feto seria feito fora do corpo da mulher, numa espécie de incubadora. Isto porque a tendência evolucionista do crânio humano seria aumentar de tamanho, apesar do canal de parto humano estar no "limite" físico.
Não sei se será assim, mas dá que pensar...
Caro Paulo
ResponderEliminarO que disse está correcto e faz parte de uma estratégia evolutiva. Se começarmos, por exemplo, a adoptar como rotina a cesariana, e atendendo a uma tendência crescente dos fetos para aumentar de volume, quem sabe se um dia os bebés deixarão de nascer por via "natural"! Há quem já tenha feito esta análise.
Importa esclarecer que o bipedismo também explica o não alargamento do canal pélvico, dificultando o nascimento.
O que se pretendeu dizer foi que certas estratégias evolutivas, além dos aspectos anatómicos e funcionais, também se acompanham de outros de matiz psicológica e comportamental em que, neste caso, as "dores" desempenharam um papel importante.
De facto somos uns "cabeçudos" dos diabos, exigindo que a formação de grande parte do cérebro se processe durante os primeiros anos de vida.
Mas é agradável ter como leitores pessoas atentas e conhecedoras destas matérias.