O desastre no exame de Matemática do 9º ano “pode ser revelador de um insucesso mais geral” em que “muitos alunos não entendem o que lêem”. Especialistas tentam explicar o insucesso devido à dificuldade em compreender o que está escrito. Esta notícia contrasta com uma outra, ao lado, em que a percentagem de positivas a Português aumentou substancialmente. Facto interpretado com tendo sido um ponto demasiado fácil. E deve ter sido.
A dificuldade na interpretação dos textos não é de agora e revela deficiente preparação dos alunos. Há muito tempo que assisto a uma diminuição da qualidade por parte de alunos que entram em medicina. Não obstante as elevadas classificações exigidas para aceder a este curso, que deveriam traduzir qualidade superior, verifico com uma frequência preocupante que muitos não sabem escrever, chegando mesmo a não compreender o que querem dizer.
A este propósito, há alguns anos, ao corrigir um ponto de um aluno fiquei completamente siderado. Não percebi nada do que estava escrito. Havia qualquer coisa de esquisito. Escreveu muito sem sombra de dúvida. Fiz o que me competia, obriguei o aluno a ir à oral para tentar compreender melhor a situação.
O aluno, de aparência normal, simpático e descontraído, sentou-se, contrariando qualquer ideia meia preconceituosa que tivesse tido a seu propósito. Comecei o interrogatório pela análise do ponto, explicando-lhe que não entendia patavina do que tinha escrito. Acto contínuo, respondeu, dizendo que não estava habituado a escrever e por isso tinha alguma dificuldade. Seguidamente, pedi-lhe para responder às perguntas do exame. O moço, com uma desenvoltura surpreendente, debita a matéria, demonstrando que a dominava. Fiquei estupefacto com a discrepância entre as respostas escrita e falada. Ainda equacionei a hipótese de eventual dislexia, mas pareceu-me muito pouco provável. Derivei em seguida para a sua formação no secundário, perguntando-lhe se tinha feito Português e se tinha lido livros de autores portugueses. Disse, naturalmente, que sim, embora reconheça nunca ter lido um livro! Leu alguns extractos, incluídos em colectâneas e coisas semelhantes, mas, de facto, nunca tinha lido qualquer obra da literatura lusa (e não lusa). O exame continuou, com outro tipo de perguntas às quais respondeu com qualidade e determinação. Dei o exame por concluído, atribuindo-lhe uma nota jeitosa e, muito educadamente, despediu-se. Ao chegar à ombreira da porta, estancou, voltou-se para trás e formulou-me a seguinte pergunta: - Senhor Professor, desculpe, na sequência da conversa sobre livros gostaria de lhe perguntar qual o autor que me recomendaria para começar a ler? Fiquei de boca aberta, porque não esperava nada semelhante. Respondi-lhe: - Olhe, escolha o Júlio Dinis. Foi por onde comecei! Com um sorriso de satisfação, agradeceu e foi-se embora....
A dificuldade na interpretação dos textos não é de agora e revela deficiente preparação dos alunos. Há muito tempo que assisto a uma diminuição da qualidade por parte de alunos que entram em medicina. Não obstante as elevadas classificações exigidas para aceder a este curso, que deveriam traduzir qualidade superior, verifico com uma frequência preocupante que muitos não sabem escrever, chegando mesmo a não compreender o que querem dizer.
A este propósito, há alguns anos, ao corrigir um ponto de um aluno fiquei completamente siderado. Não percebi nada do que estava escrito. Havia qualquer coisa de esquisito. Escreveu muito sem sombra de dúvida. Fiz o que me competia, obriguei o aluno a ir à oral para tentar compreender melhor a situação.
O aluno, de aparência normal, simpático e descontraído, sentou-se, contrariando qualquer ideia meia preconceituosa que tivesse tido a seu propósito. Comecei o interrogatório pela análise do ponto, explicando-lhe que não entendia patavina do que tinha escrito. Acto contínuo, respondeu, dizendo que não estava habituado a escrever e por isso tinha alguma dificuldade. Seguidamente, pedi-lhe para responder às perguntas do exame. O moço, com uma desenvoltura surpreendente, debita a matéria, demonstrando que a dominava. Fiquei estupefacto com a discrepância entre as respostas escrita e falada. Ainda equacionei a hipótese de eventual dislexia, mas pareceu-me muito pouco provável. Derivei em seguida para a sua formação no secundário, perguntando-lhe se tinha feito Português e se tinha lido livros de autores portugueses. Disse, naturalmente, que sim, embora reconheça nunca ter lido um livro! Leu alguns extractos, incluídos em colectâneas e coisas semelhantes, mas, de facto, nunca tinha lido qualquer obra da literatura lusa (e não lusa). O exame continuou, com outro tipo de perguntas às quais respondeu com qualidade e determinação. Dei o exame por concluído, atribuindo-lhe uma nota jeitosa e, muito educadamente, despediu-se. Ao chegar à ombreira da porta, estancou, voltou-se para trás e formulou-me a seguinte pergunta: - Senhor Professor, desculpe, na sequência da conversa sobre livros gostaria de lhe perguntar qual o autor que me recomendaria para começar a ler? Fiquei de boca aberta, porque não esperava nada semelhante. Respondi-lhe: - Olhe, escolha o Júlio Dinis. Foi por onde comecei! Com um sorriso de satisfação, agradeceu e foi-se embora....
Melhor ainda: Sophia
ResponderEliminarPois! Fazia-lhe muito bem. Talvez já tenha lá chegado!
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