segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Afeganistão: a guerra do ópio

As notícias que nos vão chegando do Afeganistão não dão para perceber bem o que lá se passa.
Sabemos que se encontra instalada nesse País uma força multinacional, cumprindo um mandato das Nações Unidas e também da NATO para manter a paz e a ordem como forma de prevenção contra ataques terroristas, da qual faz parte um contingente militar português de cerca de duas centenas de membros.
Também sabemos que a defesa da paz e da ordem neste caso significam a luta contra um inimigo estranho, os Taliban, com ligações conhecidas à Al Qaeda.
Os Taliban dominaram aquele País desde o fim da ocupação soviética (1996) até 2001/2, tendo praticado uma política que não poucas vezes chocou o Ocidente por decisões que atentavam contra elementares valores civilizacionais - tais como a destruição de monumentos históricos e a execução pública de mulheres como forma de punição pela prática de adultério.
Por isso (embora não apenas) a campanha militar no Afeganistão é vista no Ocidente como necessária, em contraste, por exemplo, com a que decorre no Iraque.
No entanto, sabemos pouco do que se passa no Afeganistão, para além das notícias que de quando em vez – mais nos últimos meses, infelizmente – dão conta da morte de soldados da força internacional e de cidadãos afegãos apanhados em acções militares.
Para melhor perceber o que se passa no Afeganistão, bem como a missão da força multinacional, recomendo aos “clientes” do 4R a leitura de uma magnífica reportagem publicada na revista New Yorker, da semana 9-16 de Julho, intitulada “The Taliban’s opium war”.
Dessa reportagem se retira a noção da extrema dificuldade da missão da força multinacional para conseguir uma solução estável e duradoura para o País.
A economia do Afeganistão depende muito da produção do ópio (base da produção da heroína), que representa mais de 50% do PIB do País.
O regime dos Taliban tinha proibido a produção de ópio, impondo penas severas aos prevaricadores, não raro a pena de morte. Talvez essa tenha sido uma das razões da facilidade com que foram derrotados pela força anglo-americana em 2001/2002.
Desde então a produção de ópio aumentou significativamente, existindo actualmente perto de 200.000 hectares dedicados ao cultivo da planta.
O problema é que a força multinacional pretende também acabar com esta produção, para o que foi criada uma Afghan Eradication Force (AEF) que, juntamente com elementos americanos especializados tem vindo a destruir plantações como forma de dissuasão.
Os Taliban, esquecendo as suas convicções religiosas, oferecem agora protecção aos produtores e negociantes da droga, em troca do pagamento de um imposto do ópio – o negócio é bom para ambas as partes.
Acresce que muitos protegidos do regime de Cabul beneficiam da complacência do Governo/ força multinacional para manterem a produção de ópio, criando dificuldades à acção da AEF.
Um puzzle estranho, que torna muito incerto o futuro do País e também o cumprimento dos objectivos da força multinacional.

10 comentários:

  1. Sém duvida que a plantação de ópio foi um problema colateral que aparecem com a queda do horripilento regime taliban. A solução para o problema é dificil. O fim do mesmo traria consigo ainda mais miséria e terminaria, certamente num reacender da guerra no afeganistão mas desta vez a população estaria virada contra as forças internaconais. É um problema que so pode ser resolvido de forma estável no longo prazo, através da educação das populações. Até então poderão captar o investimento fabril que requer mão -de - obra pouco qualificada e barata. Sem duvida que não é tarefa fácil, contudo também não é nada que seja impossível do lobby americano pôr em prática.
    em jeito de nota final, atrevo-me a dizer que Bush tem analogias com Marques Mendes. Não me refiro à sua estatura, mas sempre que abre a boca consegue piorar o panorama. Hehehe. Esperemos então que ambos permanecem calados.

    saudações repúblicans

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  2. Caro André Algarvio,

    Comentário interessante, sem dúvida.
    O tema Afeganistão pode nesta altura parecer um pouco esotérico -estão muito longe, lá no meio das montanhas, dão para lá uns tiros, aleijam-se uns quantos ou morrem mesmo algumas dezenas de militares da força multinacional - mas ninguém se preocupa verdadeiramente.
    Só que se a situação não puder ser dominada e encontrado um modo de vida para os afegãos que seja alternativo da cultura do ópio - e isso é uma tarefa quase impossível - mais tarde ou mais cedo vamos todos ter de nos incomodar e muito com o Afeganistão.
    Quanto à comparação de G. W. Bush a Luís M. Mendes, julgo poder concluir que André Algarvio (se ligado ao PSD como me parece) já terá feito a sua opção no aceso debate interno pela liderança que vai animando essa agremiação recreativa...

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  3. Antes do país ter sido arruinado por mais de 20 anos de guerra e seca as principais produções eram Lápis-lazúli, esmeraldas, fio cirúrgico, gás natural, algodão, seda e tapetes. Infelizmente o Afeganistão viu-se envolvido no braço de ferro, durante a guerra fria, entre as duas potências. Aliás, diga-se em abono da verdade, que os diabolizados taliban ganharam muito em treino, técnicas e meios com os estados unidos quando foram úteis na oposição ao exército soviético a partir de 1979.
    A produção agrícola quase desapareceu. A vinha, a batata, a cana-de-açúcar, milho arroz, algodão e frutas, que desempenhavam um papel importante na economia local passaram a ser importados, desequilibrando ainda mais a balança comercial e agravando a dívida externa. Com o fim destas actividades, desapareceu a pouca indústria transformadora que elas tinham propiciado.
    A exploração mineira não existe num país rico em jazidas de ferro, carvão e cobre, chumbo, zinco, estanho, tungsténio. Outras das riquezas conhecidas é o gás natural, cuja reserva existente foi avaliada pelo banco mundial em 1998, em 120 biliões de m3.
    O narcotráfico e a produção de opiáceas tornaram-se a grande fonte de rendimento dos grupos que disputam o território afegão. A Aliança do Norte, que governa com o apoio militar e politico dos EUA, é responsável pelo controlo de 20% da produção de ópio, apesar de controlar apenas 10% do território nacional. O Afeganistão é responsável por mais de 75% da produção mundial. Estes dados são do Observatório Geopolítico das Drogas (OGD). O preço do quilo do ópio disparou depois dos atentados de 11 de Setembro, era de 44 USD em 2000, sendo hoje cerca de 746 USD.
    A intervenção militar internacional só veio agudizar a situação existente num país, em estado permanente de guerra, sem governo, o que existe só o é formalmente, porque não dispõe de uma estrutura que gira efectivamente. O território está balcanizado entre vários grupos e milícias que se financiam através do comércio do ópio e que disputam entre si o alargamento das áreas de influência. O clima generalizado, levou ainda, a uma espécie de economia de guerra que tornou lícita a exploração do narcotráfico pelas facções que culturalmente o reprimiam, como os taliban.
    Desta situação é directamente responsável a intervenção internacional, impulsionada pelos EUA no seu combate ao terrorismo. Ela mais não fez do que desagregar por completo económica, social e organizativamente o estado afegão, criando as condições propícias à tomada do país pelas redes organizadas de narcotráfico internacional. Não se perspectiva para breve uma solução para este conflito. Militarmente está perdido, sendo que a saída passaria por um forte investimento na edificação de uma nova economia assente nas potencialidades locais, para tal é fundamental a paz. E essa está cada vez mais distante e é cada vez menos desejada por quem lucra com o actual estado da arte.

    Bruno Simão

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  4. Caro Tavares Moreira, boa tarde!

    Antes de mais, agradeço-lhe a indicação do artigo do New Yorker, que já li, e é tão interessante quanto intrigante, como, aliás, o meu Amigo refere.

    O problema da droga, que felizmente nunca me bateu à porta, mas ninguém está livre de surpresas, é daqueles que, de vez em quando me ocorrem quando tento perceber algumas contradições da economia.

    Os relatórios da ONU vêm dando conta da dimensão e da evolução do negócio a nível mundial. Fiquei verdadeiramente surpreendido quandon li, no relatório do PNUD 2000, que "O comércio ilegal de droga, em 1995, foi estimado em 400 mil milhões de dólares, cerca de 8% do comércio mundial, mais do que a parcela de ferro e aço ou de veículos motorizados e aproximadamente o mesmo que a dos têxteis (7,5%) e do gás e petróleo (8,6%). Desde então o negócio não deve ter perdido a sua importância relativa, ainda segundo os relatórios especializados da ONU.

    Um dia ocorreu-me começar a colocar aos meus amigos, se a ocasião se propiciava, a seguinte questão: Se te fosse dada uma varinha mágica que, de um momento para o outro, terminasse com o consumo de droga, o que farias?

    A pergunta, à primeira vista, é bizarra e nem sequer sei se é original. A mim nunca me tinha sido colocada.

    Os meus amigos, geralmente, acabam por concordar que talvez deixassem a vara mágica de lado até estudarem melhor o assunto.

    Este seu "post" só contribui, perdoe-me a imodéstia, para reforçar a pertinência daquilo que nas minhas palavras cruzadas tenho escrito sob a interrogação:

    E SE, DE REPENTE, ACABASSE A DROGA?

    Quanto à presença de tropas portuguesas no Afeganistão é matéria que suscita (deveria suscitar) algum debate político que, ao que parece, os principais evitam.

    É matéria que se inclui num desafio que coloquei ao Pinho Cardão aí no "post" em baixo.

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  5. Caro Câmara e Sousa,

    Importante seu contributo para a discussão deste tema.
    Permita-me no entanto que coloque reservas (sérias) a parte da sua explicação, quando refere "Desta situação é directamente responsável a intervenção internacional,impulsionada pelos EUA no seu combate ao terrorismo.
    Ela mais não fez do que desagregar por completo economica, social e organizativamente o estado afegão, criando as condições propícias à tomada do país pelas redes organizadas...".
    Parace-me, salvo melhor opinião, que dizer isto é equivalente a sustentar que o estado afegão, sob o regime taliban, constituia uma organização com mérito, justificando a sua manutenção?
    Se sim, não posso de forma alguma concordar.
    O regime talibã, ainda que estruturando e organizando um estado, capaz entre outras coisas de banir os narco-traficantes, representava um retrocesso civilizacional horrendo.

    Caro Rui Fonseca,

    A questão do combate mais eficaz à droga está em aberto.
    É inquestionável que as proibições impostas ao consumo e ao tráfico tornam este negócio altamente rentável desde o produtor até ao final da cadeia de distribuição.
    Será que a liberalização total, acompanhada de formas de controlo em tempo real seria susceptível de acabar com ou reduzir significativamente este negócio extremamente imoral?
    No limite contribuindo para acabar com o negócio?

    Ainda em relação ao Afeganistão, tenho a percepção de que a única saída neste momento disponível para extinguir a influência dos taliban e dar algum sentido útil à intervenção internacional será contemporizar com a produção do ópio.
    Uma vez assegurada, de forma definitiva, a erradicação dos taliban - o que pode exigir entre 3 a 5 anos, por hipótese - haveria então condições para lançar as bases de uma nova economia, que progressiva mas eficazmente fosse substituindo a cultura do ópio.
    Fazer tudo ao mesmo tempo parece-me impraticável e é susceptível de conduzir (no mesmo prazo de 3 a 5 anos, se não mesmo antes) a um beco sem saída, com consequências muito nefastas para a comunidade internacional.

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  6. “O regime talibã, ainda que estruturando e organizando um estado, capaz entre outras coisas de banir os narco-traficantes, representava um retrocesso civilizacional horrendo.”

    È óbvio que o regime Taliban no Afeganistão era um regime com o qual não me identifico, cujos valores não são os meus pessoais e nem se sequer se aproxima do contexto civilizacional que partilhamos. Creio bem que quando fala de retrocesso civilizacional, utiliza em primeiro lugar um conceito de progresso/retrocesso bastante indexado do ponto de vista cultural, quando escreve civilizacional o faz por referência ao nosso ambiente civilizacional com tudo o que ele contém de património e história.
    Mesmo assim o resultado da intervenção norte-americana ainda distanciou mais o Afeganistão desse modelo. Mas mais, acreditando eu que os modelos civilizacionais não devem ser impostos, muito menos o devem ser com o recurso à beligerância, (existem modos mais justos e lícitos de influenciar cultural e civilizacionalmente um povo, mediante a cooperação económica, cultural, etc, ou/e através da diplomacia. Métodos estes bem mais consonantes com os nossos valores civilizacionais), no caso do Afeganistão afastámo-nos quer do progresso (conceito bastante ocidental), quer da paz que é condição base para todos os progressos, carecendo ainda de prova que existiu eficácia no combate efectivo ao terrorismo, e ainda agravámos o problema central que preside à troca destes textos, as condições favoráveis para o narcotráfico melhoraram.
    Para mim, o saldo é francamente negativo. Não me move qualquer tipo de anti-americanismo de base. Mas considero que as recentes opções da politica externa americana revelam uma profunda inaptidão no que respeita ao legitimo combate ao terror, sendo o Afeganistão e o Iraque dois bons exemplos do que não se deve fazer.

    Bruno Simão

    Nota: desculpe eu no comentário anterior não ter assinado o meu nome. Câmara e Sousa é bricadeira de blogoesfera, mas como fiz o registo a partir do meu blogue aparece sempre essa identificação.

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  7. Caro Bruno Simão,

    Tenho por hábito respeitar as opiniões divergentes da minha.
    Por isso não vou insistir no ponto da nossa discordância, que a final nem será assim tão profunda.
    Resta a questão porventura mais importante e actual: como sair daqui?
    Para mim, como referi no último comentário, uma saída que salvaguarde os objectivos essenciais da intervenção implica contemporizar em relação à produção de ópio, numa 1ª fase, seguida de um programa de apoio a culturas alternativas, numa 2ª.
    Se assim não for - e acreditar no testemunho do reporter da New Yorker - a intervençaõ corre o risco de se ternizar, com um nº crescente de vítimas de ambos os lados.
    Será um fracasso total e abrirá as portas de novo aos taliban, por mais absurdo que isso possa parecer.

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  8. De facto não é produtivo dissecar o mal feito para além do estritamente necessário para ele se constitua com experiência profilática. O Afeganistão foi o laboratório de um novo conceito de guerra, a “preventiva”, e já temos o resultado da experiência. Que nos coloca o a questão que formulou, “Como sair daqui?” Essa é sem dúvida a questão que nos deve ocupar.
    De forma directa, importava alterar a direcção política do processo em curso, mesmo na sua dimensão militar aumentando o protagonismo das Nações Unidas e da União Europeia. Este é para mim o vector fundamental de uma nova abordagem. Nem sempre quem faz a guerra consegue desempenhar o papel de construtor da paz, e sendo a guerra um desastre, bem menos isso é possível.
    Contemporizar com a produção do ópio numa primeira fase nem sequer me parece uma escolha consciente, na medida em que já se percebeu ser impossível contrariá-la no actual contexto político-miliar no terreno. Porém, contemporizar com a produção do ópio significará, creio bem, reforçar as posições daqueles que jamais terão interesse em pacificar o Afeganistão. Os proveitos fáceis deste negócio viciam mais que o pr´pprio produto. Logo, a segunda fase deve ir-se implementando na medida em que existam condições de estabilidade militar e política, numa perspectiva progressiva, como pequenos passos, bem menores seguramente que o que desejamos, e desgraçadamente as operações militares têm um papel a desempenhar.
    Os proveitos do ópio são hoje parte importante da subsistência das populações afegãs, mas ao mesmo tempo são a causa da disputa entre facções. Pelo seu cultivo, as populações recebem não só rendimento, como, não menos importante, protecção. A segunda fase, tem de garantir esses dois aspectos fundamentais, na medida em que a reconversão será seguramente contrariada pelos verdadeiros beneficiários do negócio.
    Em simultâneo a comunidade internacional, deve ir procurando, sem sobrancerias culturais, criar um modelo alternativo de consolidação institucional para o inexistente estado afegão. Esse modelo, sendo tão democrático quanto possível, ficará sempre aquém das nossas realidades e desejos ocidentais, sendo o exercício do possível. Não esquecendo que o território afegão é um mosaico de etnias bem distintas, cujo equilíbrio e mutuo respeitos será necessário preservar, impor-se-á para que haja sucesso, que se restabeleçam estruturas tradicionais de organização, mais facilmente aceites pela cultura local. Assim como desempenhará um papel decisivo o esforço de formar novas elites nacionais, sejam elas políticas, culturais, económicas e até religiosas. Condição primeira para uma aproximação a um estado e uma sociedade funcionais.

    Bruno Simão

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  9. E aqui estamos, Bruno Simão, quase a convergir na opinião quanto ao que háa a fazer para que o Afeganistão não venha a transformar-se num atoleiro para as forças multinacionais.
    É claro que se trata de uma tarefa imensamente difícil e prenhe de riscos, mas será ainda mais difícil se se oferecem trunfos ao inimigo como sucede actualmente.

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  10. e enerante todos os comentaraios edeas postas ,mas devemos ver de forma diferenti ,pois o proprio povo nao quer mudança , se matan entre si . se tivesse pelo menos un que nao queresse esti movimento bellico opio militar esccravagista relgioso ai, sim poderiamos salvar .mas nao. que qui no temos con isso , quren ssi matar que se maten.

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