quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Como "Camuflar" um Litoral...




Ontem, ao ler uma revista sobre arquitectura, deparei com uma fantástica ideia desenvolvida por uns arquitectos irlandeses, muito preocupados com a preservação do seu bonito litoral.
Diziam eles que, cada vez mais, as pessoas constroem segundas casas para passarem as suas férias ou fins de semana prolongados e, obviamente, as constroem junto ao litoral, numa deterioração progressiva da paisagem.
Até aqui, tudo igual...lá, na Irlanda, como cá, em Portugal!
A novidade surge quando eles apresentam um modelo de construção de "casa invisível", uma casa igual às outras só que assente num elevador hidráulico, alimentado pela força das marés, e que permite "elevar" ou "esconder" a dita habitação, consoante ela está ou não a ser usada pelos seus habitantes!
Dizem eles ser a única maneira de camuflar a paisagem durante a maior parte do ano, em que a casa está desabitada, portanto "descida", em que só fica à vista uma relva que é o "telhado"...e onde as ovelhinhas continuam a pastar calmamente!
Apercebi-me, pelo artigo, que a ideia já estava a ser posta em prática pelos irlandeses e, estava eu ainda estupefacta, quando começa o telejornal e vejo a notícia dum fantástico empreendimento turístico para o nosso Alqueva, com hotéis, aldeamentos, mais de 17.000 camas...quatro campos de golf (que a barragem irá regar...), enfim, um somatório de cimento salpicado com o verde do golf e carregado de elogios do presidente da Câmara respectivo, dizendo que só assim se "evita a desertificação" do Alentejo, se "atraem turistas, se cria emprego e se desenvolve a região"... isto no mesmo dia em que li no jornal o abate de dezenas de pinheiros mansos bem velhinhos, em Ferreira do Alentejo, numa das maiores manchas de pinheiro manso da região, "obra" levada a cabo pelas Estradas de Portugal com a justificação de existirem alí problemas fitossanitários.
Tudo no mesmo dia...foi "dose"! E de contrastes!
Será que em Portugal não há tratamento para as árvores, sem ser o abate? ( se a moda pega nos humanos... ).
Será que em Portugal não podemos começar a aprender como "camuflar" as poucas paisagens bonitas e tranquilas que nos restam, já que a epidemia do cimento é doença dificilmente erradicável?
Fiquei com alguma esperança que alguém contacte estes arquitectos irlandeses, a ver se a nossa costa alentejana, o nosso Alqueva e outros, poucos, nichos de beleza que nos restam...se salvam a tempo; daí este S.O.S. "desesperado" á Quarta República.

16 comentários:

  1. Essa ideia aplica-se como uma luva a Portugal. Metiam-se os telhados de areia para que os camelos continuem a pastar calmamente na paisagem liberta de problemas fitosanitários. E bem vistas as coisas, já o outro dizia que é um deserto....

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  2. É engraçado andar por blogs que falam de economia e assuntos perante os quais eu até faria boa figura num jantar de natal com a família, mas basta-me ler um post aqui para ficar com uma noção nítida (não total, quando se fala de ignorância isso é impossível) do vazio das minhas opiniões, quase me apetece oferecer-me para fazer parte da base da pirâmide e largar os meus sonhos de pertencer à classe média semi-educada.

    Mas depois cruzo-me com comentários acerca de arquitectura e paisagem, pingados de naif, sem contudo serem modestos, e apercebo-me de que pretensões temos todos. Elas são postas a ridículo quando pisamos fora da área que delimitámos para nós quando decidimos o que queríamos fazer da nossa vida, e entramos na área dos outros que nem turistas ingleses queixando-se arrogantemente de não haver ketchup para o Bacalhau à Braz.

    Apetece dizer "não suba o sapateiro acima da chinela", mas afinal os blogs são isso mesmo, e não existiriam se se cumprisse esta máxima.

    Permita-me então elucidá-la acerca da arquitectura em Portugal. Não são os arquitectos ou os políticos que a escolhem, são os portugueses, que a compram e utilizam. São pessoas como quem escreve neste blog possivelmente, que gostam do vernacular azulejo na fachada, das janelas em arco, das varandas de colunas dóricas e da tijoleira no chão da sala para a casinha de férias à beira mar.

    Já nos anos 30 havia ideias destas. Em Portugal há coisas parecidas construídas. Os arquitectos irlandeses descobriram a pólvora realmente, convinha era descobrirem uma forma de vender o peixe, que é como quem diz convencer as pessoas de que isto é o melhor para elas (resta saber se o é de facto) e depois disso podem lá ficar pela Irlanda, que, permita-me defender a classe com algum chauvinismo à mistura, há cá bem melhores.

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  3. Anónimo19:29

    Um grande bem haja ao comentador antecedente. É sempre bom ver aparecer 'um parvo qualquer' que nos elucida.

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  4. Clara
    O nosso baixo nível de educação, cívica também, persegue-nos. Para qualquer lado que olhemos lá está a questão da EDUCAÇÃO, bem real, a marcar presença. É uma espinha muito grande!
    Temos muito que aprender com os irlandeses. E não só!

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  5. Os nossos arquitectos são os melhores do mundo e não são nada parvos! Não são mesmo nada!
    Os portugueses que “compram arquitectura” aos arquitectos (portugueses) são parvos? Às tantas… Já não digo nada!
    Parvoíce minha! Devia guardá-la para a ceia do Natal…

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  6. Essa de comparar a "finíssima sensibilidade" do meu post à tão british mistura ketchup+bacalhau à braz...deixou-me intrigada : vou experimentar!

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  7. Caro um parvo qualquer,

    É uma grande virtude sua reconhecer-se!

    Siga um conselho deste amigo virtual: Eleve a sua auto-estima!

    Ou então, como dizem "uns parvos quaisquer"...malandro não estrabucha ...muda simplesmente de esquina!Capisce?

    Fogo, hoje estou bravo. :)

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  8. Peço então imensa desculpa por invadir a vossa plantação de milho, não sabia que ia cá estar a GNR.

    Caro JM Ferreira de Almeida, apesar de insípido, o seu comentário teve piada.

    Caro Salvador Cardoso, se entendi mal corrija-me, mas passou-me pela cabeça que a sua insinuação sobre a esperteza dos arquitectos seria relativa à capacidade de enriquecer com a prática da actividade. Ora em 15.000 arquitectos portugueses, lembre-se de 10 nomes que conheça. Esses serão "empresários" de sucesso, 80% dos restantes ganham entre o ordenado mínimo e 800 euros, se trabalharem para outros, se não até podem não ganhar nada e ter que sustentar as rendas de um atelier. Quanto ao resto do seu comentário, não acredito na parvoíce plena de ninguém, acredito antes como disse a sua colega Margarida de Aguiar no seu comentário subtil mas não despercebido, que a educação é a explicação para tudo. Para a consciência cívica sim, mas também para o simples bom gosto.

    Cara Clara Carneiro, o tom do meu comentário pode ter várias leituras, mas acredite que o escrevi com um sorriso nos lábios, como parvo que sou.

    Querido invisível, eleve o seu nível antes de falar com os adultos.

    Cumprimentos sinceros a todos e bom Natal.

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  9. Caro um parvo qualquer,

    Registo e agradeço o conselho que me dá.

    No entanto rejeito, em absoluto, a "intimidade" que pretende revelar com as suas palavras: "querido" e "eleve o nível" .
    Não é por eu ter alguma coisa contra os produtos transgénicos,...apenas me fazem lembrar um programa muito piroso de tv...com um personagem zé qq coisa, não me lembro agora bem, mas de certeza que o "querido" sabe!

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  10. A homofobia assenta-lhe que nem uma luva, mas está a bater à porta errada.

    Encerro por aqui a minha participação na sua conversa de merda.

    Divirta-se.

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  11. Até à última palavra escrita, caro um qualquer, construi dos seus comentários ma imágem simpática.
    E mais, achei que comentou sobre aquilo que demonsra saber, acompanhado de uma astuta imagem de marca, semelhante a depreciativa, mas com o objectivo de captar a atenção.
    Para ser sincero, apesar de achar a ideia que a nossa cara Clara apresenta, bastante inovadora e ecológica, não me parece exequível na realidade do nosso país. Assim muito pela rama, apesar de ter já construido 2 habitaçoes próprias, mas não me achar conhecedor suficiente desta matéria, parece-me um projecto de casa dispendioso e não estou a ver em termos arqitectónicos e de dimensão´, capaz de satisfazer os gostos-padrão daqueles que desejam uma habitação de férias no campo, ou na praia. Terminada esta "comentação" e referindo o tom que o caro um qualquer utilizou, diria que não habia nexexidade zezezeze.
    :)))
    Sugiro: volte-se ao tom cordial, que afinal a todos dignifica.

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  12. Caro Bartolomeu,

    Apesar de não ter grande estímulo para continuar a fazer publicidade a quem certamente não fez por merecer, concordo plenamente consigo no que diz respeito à dignificação das diálogos pelo tom empregue. Acontece que não é necessário utilizar o tom do meu último comentário para se mandar a cordialidade e a dignidade às urtigas, como fez cliente do comentário anterior ao meu.

    O meu problema é que apesar de ter lido na diagonal o dicionário que serve aqui de calço à mesa do computador, à procura de uma palavra que classificasse o pensamento pueril por detrás daquele comentário, não encontrei, e penso que não exista, nenhuma melhor que aquela que utilizei.

    Quanto às habitações em causa, sim, trata-se certamente de um projecto muito dispendioso, quando se diz que utiliza a energia das marés, não se fala do funcionamento nem do valor do possível sistema que o permite. Não nos esqueçamos que se trata de "mover uma casa", mover condutas de gás, água, electricidade, esgotos, sistemas de impermeabilização, etc, para não falar nos espaços exteriores: o que é a rua? o que é o espaço urbano? mesmo que ele não exista temos que assegurar o acesso às habitações.

    Estes projectos surgem SEMPRE em concursos de ideias ou exposições internacionais, e duvido mesmo muito que a ideia "já esteja a ser posta em prática", até porque o preço de um projecto destes, mesmo que experimental, sai do bolso do cliente, e não será com certeza o estado a comparticipar as casas de férias de alguns.

    Cumprimentos cordiais!

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  13. Exactamente, caro um qualquer, foi precisamente na linha de pensamento do seu penúltimo período, que emiti a minha opinião.
    Porém, penso que a aquilo que motivou a nossa cara Clara Carneiro a colocar este post, foi num desejo mais amplo, mostrar que na Irlanda se encontrou uma "solução". Sinal que aquela rapaziada se preocupa, talvez um pouco mais com o mega problema da preservação de paisagens protegidas e de conservação, ou não agresão ambiental. É obvio que os projectos destes projectos, carecem para além de vontade, de apoios. Deixo-lhe assim uma questão/desafio: Crê possível, partindo da base do projecto dos Irlândeses, criar um conceito possível de executar, aplicável e em harmonia com o "gosto" latino, implementável nos PDM e sem custos acrescidos, significativos?
    Vamos lá caro um qualquer, os desafios existem para ser vencidos.
    :))

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  14. Fiquei contente por nos aparecer um comentador Arquitecto; creio que temas de Arquitectura e afins não têm sido aqui colocados (claro que não vou ser eu a fazê-lo..., sei "nada" sobre o assunto, para além da sensibilidade estética do comum mortal).
    Além disso temos o estimado Vitor Reis entre nós.

    Só falei nesta "inovação" porque me apanhou completamente de surpresa e colocou-me variadíssimas interrogações; questionei-me mesmo se seria verdade estar a ser posta em prática, tal como o artigo referia.
    Portanto, pensei que, tal como eu, também aqui no blog muitos seriam apanhados de surpresa.
    Inovações destas fascinam-me...e a minha "experiência" agora na Câmara do Seixal (A.M.) tem-me obrigado a "viver" as leviandades que presidem às constantes alterações dos PDM,s e à falta de cultura que reina...e tenho muita pena, faço muito "barulho"...mas não temos votos suficientes para nos impormos:
    Para a presidência das Câmaras só deveriam ir pessoas de grande estofo cultural, capazes de se baterem por um ordenamento territorial equilibrado, integrado nas suas regiões e não agressivo: acontece exactamente o oposto!
    Temos excelentes Arquitectos, sou amiga de vários, é uma profissão admirável e de grande importância social, proponho: Arquitectos, candidatem-se às Câmaras Municipais!!!
    Outro galo cantaria!

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  15. É isso cara Clara, é preciso que galos cantem , sempre em equipe com as galinhas, sem mandadores, sem penacho-dependentes, mas com ouvidores e decisores, conhecedores profundo das realidades e desejosos de executar obra.
    Estou a ver que se tudo se encaminhar convenientemente, a Câmara do Seixal, poderá ser num breve futuro, pioneira na arte de bem aproveitar as ideias de quem sabe, porque para isso adquiriu formação.

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  16. Saudações a todos.
    Estreio-me nos comentários a este blog apenas por que me parece que a verdadeira questão acerca deste post ficou justamente camuflada: é que um litoral de uma zona ecológica natural protegida esburacado e atafulhado de casinhas de férias, pode parecer um litoral de uma zona ecológica natural protegida a uma certa distância, mas como é óbvio, não o é. O que os arquitectos irlandeses terão "inventado" já se faz, realmente, há muito tempo por cá, chama-se varrer o lixo para baixo do tapete. Parece-me ainda que os únicos que poderão vir a lucrar com a prática desta ideia serão justamente as câmaras municipais e os arquitectos (infelizmente ainda não posso pensar em comprar uma casa de férias)

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