quarta-feira, 15 de agosto de 2007

A filosofia e a economia


Em comentário a um dos meus recentes textos sobre a Despesa Pública, alguém dizia que a descida dos impostos só por si não resolveria o problema do crescimento económico. Tem razão. É uma condição necessária, mas não suficiente.
A propósito, lembrei-me de Leibniz, um dos mais geniais cientistas, matemáticos, físicos e filósofos de todos os tempos. Para ele, todas as coisas eram composta por uma multiplicidade de forças ou mónadas, substância pura, entidades independentes, sem efeitos umas sobre as outras, mas dotadas de harmonia entre si.
Para Leibniz, a realidade não se transforma de uma só vez. A ordem do universo é assegurada, a cada instante, por acções autónomas das diversas mónadas.
Por similitude, na esfera da política económica, as mónadas são as políticas públicas. Cada uma delas contém em si forças capazes de trazer uma nova ordem ao universo económico. Neste preciso momento, a política fiscal será das mais importantes. Mas tem que ser dotada de energia que lhe permita o movimento. E essa energia só pode advir da baixa dos impostos.
Outras acções são necessárias e outras acções se devem seguir. Mas não é isso que deve impedir que se comece. Cada força, cada mónada, vale por si !...

10 comentários:

  1. Caro Pinho Cardão,

    Vai-me permitir que lhe lance um desafio. Um (ou aqueles que o meu caro entender) sobre "Para que é que servem os impostos". Na perspectiva económica, não na perspectiva do estado português porque, nesse, sabemos bem para que é que servem. Se estiver certo (eu) vamos ter algo para os seus companheiros (ou camaradas ou lá o que chamam uns aos outros) aproveitarem em substituição(ou em complementaridade, porque não?) da proposta dos impostos.
    E depois, pegamos outra vez no Leibniz...

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  2. Caríssimo Dr. Pinho Cardão, o exemplo que escolheu parailustrar o pensamento, merece a minha humilde vénia.
    Quando o Rosacruciano Sebastião José de Carvalho e Melo nasceu, Gottfried Wilhelm von Leibniz, tinha a minha idade, 53 anos.
    Tal como o caríssimo Pinho Cardão refere, Leibniz, apostolava a contigência, espontâniedade e reflexão, como sendo o "caminho" para a transformação da realidade. Esta trilogia, apoia ainda a questão das mónadas, o número dígito que compõe todas as equações matemáticas, pai da computação. Mas, e ainda como complemento à sua filosofia, Leibniz advogava ainda a "livre acção", ele não achava necessário que houvesse chefes, mas sim líderes, mestres, não cria no excesso de leis, mas sim nas leis necessárias e na auto-determinação e na formula aritmética (liberdade x determinação)= mónada.
    Comecei por colocar Sebastião José ao lado de Leibniz, como reparou, não só pela coincidência de terem feito parte da mesma associação secreta e isotérica, por terem sido contemporâneos, mas e ainda por Sebastião ter conseguido aplicar na prática os conceitos de Leibniz. Acredito que Sebastião possa ter sido discíplo de Leibniz, não sei se o foi. É claro que no tempo de vida útil de Sebastião, variadíssimos acasos ocorreram, que lhe deram o ensejo de praticar aqueles princípios e potenciá-los, nacionalizando a quota-parte da espontânea reflexão.
    Sebastião de uma forma contestada por alguns, por a acharem déspota, ergueu o país das cinzas e da ruína, lançando-o no caminho da prosperidade, rodeando-se do conselho daqueles que conheciam e não permitindo embargos nem desleixos. É deste número dígito que o nosso país está necessitado, liberdade x determinação x reflexão = mónada.

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  3. "When we arrived in 1993, we inherited formidable problems. We found the economy in a week, "jobless recovery" from 1990-91 recession., but it had begun to pull out of the recession well before Cklinton took office...Nonetheless, employment in 1992 remained below thwe level of 1990. We had been left to deal with a deep budget deficit, one that had been widening ever since the folly of Reagan tax cuts. THESE TAX CUTS were supposed to pay for themeselves, according to a theory scrawled on the back of a napkin, called the Laffer curve - after Arthur Laffer, who then was at the University of Chicago - which claimed that as taxes got higher and higher, people worked less hard and saved less, so much the tax revenue actually declined! (This idea comes out of supply- side economy, which emphasizes the limitation imposed by the willingness of individuals to work and save, as opposed to demand side economics, wich emphasizes the limitations imposed on the economy by demand - that firms would not produce goods if no one would buy them. The overwhelming evidence of this was that tax rates were nowhere the level at which a reduction in rates would increase revenues ). By 1992, the deficit amounted to almost 5% of America´s gross domestic product...

    As much as the Reaganites might have believed in "trickle-down economics" - which argued that growth benefited all (or as it was sometimes put, a rising tide lifts all boats) - the poor were benefiting from the growth of the eights. INDEED, since 1973, the poorest people in America had actually become poorer."

    Joseph E. Stiglitz (The Roaring Nineties) - Prémio Nobel da Economia

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  4. Caro Tonibler:
    Vamos lá ao desafio. Quer atirar primeiro?

    Caro Bartolomeu:

    Apesar de todos os seus feitos e descobertas científicas, Leibniz morreu solitário e esquecido. Só o seu secretário o assistiu até ao fime foi o único que o acompanhou no funeral.
    Quem dá razão aos sem razão tem geralmente uma vida cheia de benesses. Quem tem razão antes do tempo, ou não dá razão a quem não a tem, normalmente tem muito que penar!...

    Caro Rui:

    And so?!...

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  5. Caro Dr. Pinho Cardão, não sei se citou uma regra esotérica, mas mesmo não sendo o caso, é todavia uma regra oportuna, que a ser observada, coloca o seu praticante num caminho de rectidão demonstrativo de um sólido carácter.

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  6. Caro Pinho Cardão,

    Para mim os impostos só servem para manter a liberdade, por isso a redução da despesa pública seria simples. Por cada euro perceber se esse euro é fundamental para manter a liberdade. Se não é, então deve ser livre. Agora, isto é conversa da treta que metade deste mundo não entende e a outra metade não quer. Por isso o desafio, isto (porque sei que concorda) escrito por um economista de mente livre.

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  7. Caro Pinho Cardão,

    And so?!...

    Não sei se o Stiglitz se explicou bem ou tu não entendeste por eu ter transcrito apenas uns parágrafos.

    De qualquer modo nem a economia portuguesa tem alguma semelhança com a norte-americana nem os contextos (actual em Portugal, nos anos 90 nos EUA) têm algum paralelismo.

    Mas mesmo tendo em consideração as enormes diferenças entre as duas realidades, a perspectiva de Stiglitz sobre o que se passou nos "roaring nineties" e os antecedentes nos tempos de Reagan e Bush I é elucidativa das consequências de uma política "Tax cuts" confiada numa "trickle down economics". Foi desastrosa nos EUA, não há razão nenhuma para esperar o contrário em Portugal.

    Aliás, a prova provada de que Reagan tinha ido bastante longe de mais está naquela famosa cena de Bush I a prometer mais do mesmo "Read my lips". Viu-se obrigado, como toda a gente sabe, a fazer o contrário.

    Percebo, no entanto, o slogan : Abaixo os impostos. Contém todos os ingredientes de uma mensagem que promete.

    É curta, incisiva, apelativa, não fracturante.

    O pior, como dizia o outro, é o mais mau. O pior é arranjar resposta para a pergunta inocente: Como é que funciona? Porque não conhecendo a generalidade das pessoas nem Leibnitz nem Stiglitz, a grande maioria sabe, apesar disso, que é estranho haver manteiga no nariz do cão.

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  8. Caro Rui:
    De facto,a economia dos EUA nada tem a ver com a nossa.
    Contudo, na década de 90, das 3 grandes economias mundiais, a dos EUA foi a que mais reduziu a dívida pública e a que mais cresceu, e não foi pelo aumento dos impostos.A economia que menos cresceu foi a do Japão e foi também a que mais aumentou a dívida pública.A economia da UE cresceu mais do que a do Japão e menos do que a dos EUA e aumentou a despesa mais do que a dos EUA e menos do que a do Japão.
    Há uma coerência total. A despesa pública não é factor de crescimento, porque os impostos que a suportam diminuem valor à economia, em vez de acrescentar valor.

    Caro Tonibler:
    A sua teoria de que os impostos só servem para manter a liberdade tem que se lhe diga!...
    De facto, uma das funções dos impostos é assegurar as funções essenciais do Estado e nelas está a segurança e ordem pública e logo a liberdade individual.Outra função é a redistribuição de rendimentos, exigida por razões de coesão social, sem a qual também não há segurança nem liberdade.
    Acontece que, por razões ideológicas e de lógica de poder, os políticos foram "enriquecendo" as funções do Estado e foram-lhe acrescentando sucessivamente novas funções. Que desempenha caro e mal. Os políticos também tiveram a tonteria de pensar que, em geral, o Estado se deve substituir aos privados na economia, partindo do princípio, que tomaram como universal, de que a despesa pública é virtuosa ( e a privada, naturalmente, viciosa)...
    De tudo isto resultou a asfixia económica com a qual nos debatemos. E que aprisiona muitas empresas, que entregam ao estado dinheiro que melhor utilizariam em investimento, formação, organização, e inovação. Sem esse valor acrescentado, a economia não pode crescer. Não crescendo, perdem-se liberdades, a primeira das quais a liberdade de ter emprego por falta de estrutura produtiva.
    E por aqui me fico, pensando que me meti um pouco na sua onda!...
    Ou não?

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  9. Perfeito! Agora só falta meter isto na cabeça dos seus companheiros de partido para ser o Gorbachov do PSD.

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  10. Caro Pinho Cardão,

    Que a economia norte-americana nada tem a ver com a nossa, concordo e também o disse.

    Mas foi precisamente isso que te quis dizer: a administração Clinton, que recebeu a economia já em começo de recuperação assistiu também à ascensão da nova economia.

    A onda formada pela inversão da tendência e pelo entusiasmo provocado pelo alfobre de dot.coms que surgiu, permitiu a Clinton baixar os impostos, dando novo impulso ao crescimento económico.

    Clinton tinha lançado como slogan da campanha "It´s the economy, stupid!" e actuou sobre a despesa:
    Durante os anos Clinton (Stiglitz, The roaring nineties)o número de funcionários do governo federal contraiu-se para valores nunca atingidos desde o New Deal... um sucesso notável tendo em conta que cresceu o envolvimento do Estado na Segurança Social, Medicare e outros programas sociais).

    Mas claro, Portugal não é os EUA e não temos, por agora, ondas de inovação que permitam dar o golpe de rins reduzindo os impostos.

    Reduzir os impostos, é preciso. Mas, repito, sem um programa sério de redução da despesa, não passa de um slogan. Caçará alguns votos mas não resolve o problema da eficiência do Estado nem terá qualquer efeito positivo sobre a economia. Mesmo que houvesse margem de manobra para isso.

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