segunda-feira, 6 de agosto de 2007

A Maior Farmácia do País!

O Diário Económico publicou há dias uma notícia dando conta do lançamento, nesta semana que agora começa, do concurso público para a gestão da primeira farmácia a ser instalada dentro de um hospital do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Estamos perante a concretização da acção legislativa levada a cabo, nesta matéria, pelo actual Governo e que veio permitir, por enquanto só aos hospitais públicos (os privados mais tarde se verá...) a possibilidade de cederem um espaço, mediante uma renda e uma "fee" sobre a facturação, a quem quiser concorrer à gestão de uma farmácia de público aí a instalar.
São já sete os hospitais com autorização do Ministério para receberem estas farmácias: S.João, no Porto; Santo André, em Leiria; Hospital de Faro; Hospital Padre Américo, no Vale do Sousa; o Centro Hospitalar de Coimbra; o Centro Hospitalar de Torres Vedras e o Hospital de Sta. Maria, em Lisboa.
É exactamente para Sta. Maria que está anunciado, esta semana, o lançamento do dito concurso.
Será assim o primeiro que, a ter sucesso como modelo complementar de financiamento do próprio SNS, será o início de uma "bola de neve" a crescer por todos esses hospitais, pelo País fora.
Os números até agora conhecidos, quanto a Sta. Maria, são alucinantes:

1. disponibilização de um espaço de 500 metros quadrados (a media das farmácias portuguesas
tem entre 90 e 100 metros quadrados)
2. facturação prevista de 17 milhões de euros por ano (a media das farmácias portuguesas factura 750 mil euros por ano)
3. 15 mil pessoas a passarem-lhe à porta por dia ( a capitação por farmácia em Portugal não chega aos 4000 habitantes)
4. uma concessão renovável cada cinco anos e a possibilidade de alargar "o negócio" a novas actividades farmacêuticas (as farmácias em Portugal têm a sua actividade própria, constante da Lei)
5. um período de abertura 24h/dia, 365 no ano ( as farmácias em Portugal estão proíbidas por Lei de fazerem este horário, excepto nos dias em que estão de serviço permanente, dias esses que são estipulados pelo Ministério da Saúde para cada farmácia)
6. uma renda para o hospital de 600 mil euros/ano, pela utilização do espaço, mais uma "fee" de 3% sobre o valor da facturação.

O Conselho de Administração do hospital já veio declarar que, no mínimo, tenciona arrecadar mais de um milhão de euros/ano, líquidos...de facto, é só fazer os cálculos, é simples.

É um negócio de gigantes, olhando para a actividade farmacêutica individual; olhando,como eu olho, para a Farmácia como um local de exercício de uma área da profissão.
Quem é que o Governo vai beneficiar? Quem vai prejudicar?
As populações dos lugares mais recônditos, onde não há nada...mas há farmácia?
As populações das grandes cidades e das capitais de distrito onde, de facto, há hospitais...mas há largas dezenas de farmácias?
(só à volta do Hospital de Sta. Maria, num raio se 2kms., há 72 farmácias!)

Onde está o "alegado interesse público", como diz a Lei, para que os hospitais abram farmácias de venda ao público, a qualquer público, independentemente de ter ou não recorrido aos serviços daquele hospital?
Como é que o Governo assegura o "serviço público" que é a distribuição de medicamentos no ambulatório às populações?
Como é que um Governo muda drásticamente as regras de jogo a "meio" de séculos de campeonato?

Eu tenho que fazer uma declaração de interesse: tenho sociedade numa farmácia, que herdei de minha Mãe, onde exerci a profissão de que tanto gosto durante largos anos; uma farmácia que "concorre" com mais cinco, num espaço de 500 metros!
Apoio a abertura de mercados, apoio a concorrência, mas sem batotas...nem distorções!

6 comentários:

  1. Falso socialismo, falsa economia de mercado, falsos alunos, etc.
    É tudo falso... e mais não digo!

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  2. Cara Clara,

    Compreendendo a sua preocupação empresarial, o projecto que me descreve dessa mega-farmácia parece-me votado ao fracasso.
    Há ensinamentos que parece que são sempre esquecidos.
    Um dia alguém achou que um banco se fazia num supermercado. Azar, as pessoas acham que um banco é coisa séria, não se mistura com a farinha e o arroz. Foi um enorme fiasco, todos os projectos falharam.
    Um dia alguém repetiu a asneira, e montou semi-farmácias dentro dos hipermercados. Azar, as pessoas não estão interessadas. Vende-se aquilo que já se vendia antes, pensos e alcool.
    Uma farmácia hipermercado? Ainda por cima com a acessibilidade de um Media Market? Quem não metia dinheiro nisso sei eu quem era! Mas porque é que não oscultam o sentir das pessoas? Estou certo que responderiam "medicamentos? Só em sítios sérios... "

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  3. ...e os hospitais passam a funcionar como um centro comercial para farmácias.

    Et voilá! Fica só a faltar cobrarem uma percentagem sobre o volume de vendas.

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  4. Clara,

    Será que essa farmácia se vai chamar Farmácia Campos? Ou Correia?
    Seguramente que Cordeiro é que não será...
    Obsessão total, a do nosso amigo AFCC: presumo que dedicará + 50% do seu tempo a pensar nas 5.000 maneiras de imolar um cordeiro...

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  5. Pois é, quanto ao "falso socialismo" não tenho dúvidas!
    Quanto ao "auscultarem as pessoas" também não dei conta que o fizessem...
    Quanto "ao cobrarem uma % nas vendas" já o vão fazer nestas "novas" farmácias...esperemos que não façam nas "antigas"!
    Quanto ao cc querer "imolar um cordeiro"...o problema é que o cordeiro é imolável...e quem se "amola" são os carneiros como eu!!!

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  6. Boa, boa, Drª Clara Carneiro!...

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