Começam a aparecer desenvolvimentos substantivos da crise financeira que estalou há pouco mais de um mês com epicentro na já conhecida novela dos “sub-prime loans” originados no mercado americano, mas distribuídos um pouco por todo o Mundo sob a forma de produtos financeiros derivados graças a uma inovação financeira que entre outros problemas não facilita – bem pelo contrário - a percepção do risco dos activos que vai gerando.
Curiosamente, esta crise veio acelerar a necessidade de correcção dos desequilíbrios macroeconómicos globais, que de há muito vinha sendo comentada mas sem que se vislumbrasse um factor de pressão que tornasse essa correcção inadiável.
Parece chegada a hora em que essa correcção não poderá ser adiada sob pena de consequências sérias para o crescimento global.
Este tema encontra-se tratado, com a clarividência e subtileza habituais, em artigo ontem publicado no Financial Times pelo seu articulista Martin Wolf.
O grande motor do crescimento global tem sido a procura interna da economia americana.
Esse motor está “gripado”, por força da crise no mercado imobiliário que inexoravelmente vai arrefecer o andamento da procura interna: os consumidores estão menos confiantes, o crédito está mais escasso e caro, o USD está em perda – tudo ingredientes para gerar aquele arrefecimento.
A solução passa, aparentemente, por uma descida significativa das taxas de juro americanas – esperando-se que o FED inicie essa descida já no próximo dia 18, com um corte de 0,5 pontos na sua principal taxa (Fed Funds) dos actuais 5,25 para 4,75%.
Esta medida não é contudo isenta de riscos, levantando pelo menos as seguintes questões:
1) Ser insuficiente para compensar os factores de arrefecimento da procura interna nos USA;
2) Provocar uma queda abrupta no USD, gerando pressões inflacionistas que nesta altura seriam particularmente indesejáveis;
3) Por redução da confiança no USD, fazer disparar as taxas de longo prazo da dívida americana (fixadas pelo mercado, nas quais o FED não tem qq espécie de intervenção) colocando em causa o próprio objectivo de redução das taxas de curto prazo e podendo forçar, a final, aquilo que se pretendia evitar - uma recessão.
Não se pode esquecer que os grandes financiadores da economia americana são externos, não lhes agradando nada a ideia de um USD fraco, pedirão um prémio mais elevado para manterem a procura de activos em USD.
O reputadíssimo Prof. Martin Feldstein, de Harvard, citado por Martin Wolf entende que perante estes riscos, o FED não pode mesmo deixar de baixar as taxas, pois entende que é maior o risco de uma recessão americana se nada for feito.
Outros reputados economistas (infelizmente nenhum dos nossos altamente credenciados), tb citados por Wolf, têm opiniões diferentes.
A questão é complexa e apaixonante.
Importa seguir os próximos episódios com a maior atenção.
E tenho a certeza de que o meu amigo nos dar� conta, em tempo real, das evolu�es da situa�o!...
ResponderEliminarDr. Tavares Moreira
ResponderEliminarAs notícias não são muito animadoras, pois não?
Nos Estados Unidos, o superavit da balança de capitais é importantíssimo para o financiamento do deficit da balança comercial. Com um USD fraco, embora as exportações sejam favorecidas, o financiamento externo vai certamente exigir um prémio. Julgo que é um cenário complicado para a economia americana (?). E as consequências para o EURO são preocupantes, com a moeda europeia a atingir máximos face ao USD. Más notícias, portanto, para as exportações europeias...
Cara Margarida,
ResponderEliminarAgradeça ao Trichet pelo EUR/USD. O homem acha que a mesma economia com petróleo a baixar é melhor que uma economia crescente com o petróleo a subir. A estratégia do homem é subir taxas para subir o câmbio, agora vai-lhe (-nos) rebentar na cara.
CAro Tavares Moreira,
Por acaso não entendo esse medo da inflação nos EUA. O FED já mostrou uma capacidade de reacção notável e a economia americana tem, ainda, um crescimento bom e uma ocupação da população excelente. O risco de inflacção é mínimo e, ainda por cima, controlado.
Pinho Cardão,
ResponderEliminarEm tempo real não garanto, mas certamente um pouco mais expedito que o nosso simpático Ministro Pinho, que ainda há dois dias nos assegurava que esta crise não afectaria, de modo nenhum, a economia portuguesa,lançada num crescmento imparável.
Não sei aonde é que o Ministro foi descobrir o imunizante, mas desconfio da qualidade do medicamento...
Margarida,
Estou convencido que estamos mesmo em face de um problema sério, cuja superação vai exigir bem mais tempo do que há um mês se pensava...Reparou nas afirmações do Secretário do Tesouro americano desta 4.ª Feira, segundo o qual esta crise vai durar talvez 2 anos até ser debelada? Não é um ignorante, lembremo-nos que aquando da nomeação, há menos de um ano, era CEO da Goldman Sachs.
Tonibler,
Estou um pouco na sua linha, não me parece que os riscos de inflação nos USA sejam neste momento o dado mais relevante para as decisões a tomar.
No entanto, admito que uma desvalorização abrupta do USD possa trazer esse risco de volta à agenda das preocupações...
Visto que ja foi feito um bet and win para as taxas de juro do BCE, nao seria de todo ma ideia comecar apostar no valor que o FED irá baixar.
ResponderEliminarQuanto a crise nos estados unidos penso que já terá batido no fundo, a menos que se venha a transformar numa recessao e ai os custos serao claramente maiores. As primeiras quedas bolsistas vertiginosas ja ocorreram e a pouco e pouco as empresas, certo que suavemente, tem vindo a corrigir os valores a que estao cotadas. E importante lembrar que o motor economico americano estava sobreaquecido e que isto veio acalmar um pouco os animos.
De Oviedo,
Saudacoes Republicanas
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarNa mouche!
A sua capacidade de prever o futuro
continua a ser notável.
A.Pessoa