Gostei da primeira parte do debate de ontem dos Prós e Contras dedicado ao tema “O que muda na Educação?”. Foi uma conversa elevada, o que vem sendo raro nos tempos que correm. Gostei porque foi uma daquelas raras ocasiões em que se gerou um consenso interessado em torno da necessidade de a educação investir na via profissional. Agradou-me também o entendimento por parte dos intervenientes de que o ensino profissional deve ser entendido como um caminho para combater o insucesso e o abandono escolar e como uma alternativa de qualificação dos jovens à tentativa cega de obtenção do título de “doutor”.
Verifiquei também a aceitação geral de que o modelo do ensino profissional não está isento de riscos, na medida em que o seu sucesso está muito ligado ao contexto profissional e empresarial local. Contudo, entre a qualificação e as oportunidades dadas aos jovens e a empregabilidade estabelece-se uma relação de reciprocidade causa-efeito que pode beneficiar a criação de actividades económicas potenciadoras de emprego qualificado. Mas a manifestação pública da evidência de riscos por parte da própria Ministra da Educação é, também, algo a que já não estamos habituados. É um bom sinal; é uma expressão de consciência política de que a medida pode falhar nos objectivos pretendidos e que, por isso mesmo, deve ser acompanhada e se necessário aperfeiçoada para que não produza mais um “elefante branco”.
Escrevi, recentemente, aqui no 4R um texto sobre a educação com o título “Ensino: igualdade de oportunidades com respeito pelas desigualdades... “. Transcrevo uma parte desse texto que enquadra o debate da primeira parte dos Prós e Contras. Penso que estamos no caminho certo e que devemos dar o benefício da dúvida a mais esta aposta na educação técnico-profissional.
Verifiquei também a aceitação geral de que o modelo do ensino profissional não está isento de riscos, na medida em que o seu sucesso está muito ligado ao contexto profissional e empresarial local. Contudo, entre a qualificação e as oportunidades dadas aos jovens e a empregabilidade estabelece-se uma relação de reciprocidade causa-efeito que pode beneficiar a criação de actividades económicas potenciadoras de emprego qualificado. Mas a manifestação pública da evidência de riscos por parte da própria Ministra da Educação é, também, algo a que já não estamos habituados. É um bom sinal; é uma expressão de consciência política de que a medida pode falhar nos objectivos pretendidos e que, por isso mesmo, deve ser acompanhada e se necessário aperfeiçoada para que não produza mais um “elefante branco”.
Escrevi, recentemente, aqui no 4R um texto sobre a educação com o título “Ensino: igualdade de oportunidades com respeito pelas desigualdades... “. Transcrevo uma parte desse texto que enquadra o debate da primeira parte dos Prós e Contras. Penso que estamos no caminho certo e que devemos dar o benefício da dúvida a mais esta aposta na educação técnico-profissional.
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“Devemos proporcionar a todos os jovens, de forma arrojada, sem medos nem complexos, o conhecimento de que necessitam para crescerem e se realizarem, através de um ensino diversificado e de qualidade que os alunos poderão frequentar a partir do 5º ano de escolaridade. É neste nível que – antes de atingirem o 9º ano de escolaridade – os alunos devem ser ajudados e orientados no sentido de lhes ser fornecido um projecto escolar e profissional, de acordo com as suas aptidões, apetências e capacidades intelectuais. É nesta fase que é útil explorar entre dois caminhos distintos: a via universitária e a via técnico-profissional. Esta é uma prática do sistema educativo de alguns países europeus, que por sinal apresentam taxas baixas de insucesso escolar.
Os alunos não ficarão traumatizados, antes pelo contrário, ficarão felizes e realizados e muito gratos – e o País também – por lhes ser dada a possibilidade de uma escolha efectiva e séria de oportunidades. É aqui que a igualdade de oportunidades encontra a sua melhor forma de concretização. A ideia que se instalou de que só há igualdade num País de “doutores” deu um péssimo resultado! Um erro que origina as piores das desigualdades!”
Para ler mais:
Os alunos não ficarão traumatizados, antes pelo contrário, ficarão felizes e realizados e muito gratos – e o País também – por lhes ser dada a possibilidade de uma escolha efectiva e séria de oportunidades. É aqui que a igualdade de oportunidades encontra a sua melhor forma de concretização. A ideia que se instalou de que só há igualdade num País de “doutores” deu um péssimo resultado! Um erro que origina as piores das desigualdades!”
Para ler mais:
Cara Margarida,
ResponderEliminarPor vício de profissão (mau vício ainda por cima), também tentei ver o Prós e Contras. Não consegui. Fui jogar computador (sempre é melhor do que ouvir asneiras, para as quais me começa a faltar a paciência).
Sabe, começo a achar que a Educação é como o Futebol. Há uma dúzia de marmelos a correr - como loucos - de um lado para o outro e uma data de treinadores de bancada. Cada um com a sua teoria mas jogar, jogar, não jogam. Sentam-se na bancada e ficam a observar. Ao fim de 90 minutos, como que por osmose, transformam-se em peritos da arte.
Eu estava aqui a escrever um grande texto sobre o tema mas apaguei tudo. Achei que não valia a pena.
A Formação Profissional é que é bom! Força! Vai resolver os males do mundo! Vai, vai. Não é António Caca. É Zé Caca.
Caro Anthrax
ResponderEliminarAinda hoje vieram a público os resultados de um estudo da OCDE que são, como não poderia deixar de ser, decepcionantes!
Entre 1995 e 2004 Portugal duplicou a despesa por aluno do ensino básico e do ensino secundário. No total Portugal afecta 5,4% do PIB à educação, quando em 1995 dedicava 5%. Este valor parece estar ao nível da União Europeia. O problema são os resultados porque o desempenho do sistema educativo português está abaixo do expectável. Continuamos a ter taxas elevadíssimas de insucesso e abandono escolar e é gigante o fosso de qualificações em relação aos restantes países.
Não estamos bem. Quantas reformas tivemos nós nas últimas décadas? Já perdi a conta! É muito desanimador, a paciência esgotou-se e a desconfiança é total.
Ainda assim, quando vemos ser anunciada uma medida política que faz sentido e que parece ser geradora de consenso devemos ganhar alguma esperança de que será possível obter resultados positivos.
Está em causa abrir aos jovens do ensino secundário oportunidades de qualificação, proporcionando uma formação técnico-profissional em lugar de pura e simplesmente desistirem ou continuarem a muito custo no caminho para a universidade. Não se trata da Formação Profissional dos anos 80, porque mais do mesmo não estamos mais interessados!
Pois é, minha cara Margarida. E o fosso vai continuar a crescer sabe porquê? Porque não é com meras medidas tácticas que se ganha uma guerra (pergunte lá aos Franceses se ganharam a guerra da Indochina?), e estas questões do insucesso, do abandono e das fracas qualificações, são uma guerra que nós estamos a perder.
ResponderEliminarNós temos Formação Profissional e Escolas Profissionais a dar com um pau (disso eu sei porque muitas delas estão cá caídas)e agora vêm-me dizer que a grande aposta é na "Formação Profissional". Então o que é que estas instituições andam a fazer há anos?
E os CRVCC? O que é que eles andam a fazer há anos se não o reconhecimento,validação e certificação de competências no âmbito da educação informal?
No meu ponto de vista não está em causa abrir aos jovens do ensino secundário oportunidades de qualificação técnico-profissional porque essas oportunidades já existem, ao nível do secundário. O que me parece que querem é transformar o ensino formal numa coisa que ele não é.
Além disso, o maior problema é ao nível do ensino básico e não do secundário, porque ao nível do secundário há sempre alternativas, no básico é que não. E aquilo que, me parece que, estão a querer fazer não é formar pessoas mas, pôr pensos rápidos naquelas que estão quase a sair.
Portanto, repita-me lá qual foi a grande medida inovadora apresentada?
Caro Antrhax
ResponderEliminarTenho muito medo das inovações. Aliás, para lhe ser franca, não vale a pena tentarmos inovar onde a roda já foi inventada.
Não há nenhuma grande medida inovadora. O que há é uma aposta no ensino técnico profissional ao nível do secundário para os alunos que não pretendam seguir o ensino clássico. Desculpe a economia mas transcrevo o que acima escrevi:
"É neste nível que – antes de atingirem o 9º ano de escolaridade – os alunos devem ser ajudados e orientados no sentido de lhes ser fornecido um projecto escolar e profissional, de acordo com as suas aptidões, apetências e capacidades intelectuais. É nesta fase que é útil explorar entre dois caminhos distintos: a via universitária e a via técnico-profissional. Esta é uma prática do sistema educativo de alguns países europeus, que por sinal apresentam taxas baixas de insucesso escolar".
Obviamente que não temos nesta aposta a "bola de cristal"!
Também gostei do programa, acho que, em muitos aspectos, foi esclarecedor para quem se interessa e quer pronunciar-se sobre estes temas sem ser apnas para reproduzir os habituais clichés. Saíu a semana passada um artigo detalhado no Nouvel Observateur sobre a educação em França, onde se colocam questões muito semelhantes com as devidas proporções. Um pouco por toda a Europa estas questões são discutidas sem receitas milagrosas e, apesar de tantos Governos, de tantas reformas e de tanto dinheiro desperdiçado, há que reconhecer que, em 30 anos, fizémos muitos progressos. Hoje temos, felizmente, um nível de exigência que era impensável generalizar há pouco mais de uma década. E os números da OCDE são muito úteis, sem dúvida, mas muitas das análises "apagam" o histórico de cada país, em especial o número de analfabetos ou baixa escolarização de há apenas uma geração...E isso conta muito.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCara Margarida,
ResponderEliminarPenso que o comentário do Paulo ilustra em grande parte o que penso.
Estamos a tratar as consequências e não a causa. É isso que me transtorna. Nenhuma casa é sustentável se as fundações não forem fortes.
Cara Margarida,
ResponderEliminarComo disse em resposta ao seu post anterior, a sociedade dos estudos profissionais já não existe. Existiu, no tempo do proletariado vitalício. Hoje, não existe. Como dizeram o Paulo e o Anthrax anteriormente, o objectivo é dar conhecimento para dar armas para a vida toda, não para os 5 anos seguintes que é o que um curso profissional dá.
Há 15 anos um curso profissional de programador dava um emprego de 600 cts por mês, hoje uma licenciatura em Ciencias de Computadores dá um estágio de 400 euros e é preciso que seja de uma universidade de jeito. Eu, que sou empregador e que preciso de gente com competências de programação não contrato licenciados em informática, porque já é uma coisa demasiado especializada para serem passíveis de um investimento formativo. Quero gente com conhecimento ainda mais abrangente.
Cursos profissionais a miúdos de 15 anos? Não passam a bem os anos, passam a mal. Vão estudar à noite, vão para a tropa até fazerem o 9º ano, vão varrer ruas e estudar de noite, fazem-se "seminários" dedicados... Há que meter na cabeça de todos, pais e alunos incluídos, que educação não é um "nice to have", é um dever colectivo para ser cumprido.
Tem razão, caro Tonibler, se calhar é mesmo esse conceito de "nice to have" que torna tudo tão complicado, em vez da noção de dever.
ResponderEliminarMuita educação (que giro o termo) na fase de elogios recíprocos,a noite ainda estava a começar. Para o fim, com o cansaço de ouvir repetir as mesmas coisas, descambou! Pouco faltou para o caldo entornar.
ResponderEliminarValeu o representante da Fenprof calar a ministra - os professores (esses bandidos!) não estão contra as mudanças mas sim contra a forma como são feitas.
Segundo o governo, é mau reprovar uma criança. É mau para o aluno, para a família, para o professor e para a sociedade. Mas não considerou que alguns alunos não podem progredir! Se acha melhor passar tudo, acabem-se com os exames de vez. Priviligia-se a mediocridade e ignora-se o mérito, e depois os culpados são os professores.
Camarada Tóni!
ResponderEliminarMuito bem dito. Concordo.
Caro Atreides,
Pois é o que eu digo... muitos treinadores de bancada.
Caro tonibler,
ResponderEliminarExcelente! Nem mas nem meio mas.
Mas, corre o risco de tirar o tacho a muita gente...não aos putos, mas àqueles que formam aquelas comissões e que, à conta dos putos, vão mamando naquela teta dourada que parece não ter fim!
Cara Margarida
ResponderEliminarÀ boa maneira do Marquês de Marialva - é o fadinho à portuguesa, choramo-nos, arrepelamo-nos e cantamos as desgraças - temos todos nós,uma dificuldade imensa, diria mesmo atávica, de saber concretizar as boas ideias. As idiotas, essas são uma rapidinha. De resto, de boas ideias está o inferno cheio. Parem de dizer como se faz e façam, sendo certo que o desaparecimento do tradicional ensino técnico foi uma desgraça, no contexto em causa, difícil de reparar pelas catastróficas consequências que daí resultaram. Façam e deixem-se de teorias que não levam a lado nenhum. O que eu preciso de saber é quando vou ter os excelentes desenhadores de máquinas que tinha hà trinta anos? O resto não passa de boas intenções e de boas intenções está o inferno cheio!
Caro Antoniodasiscas,
ResponderEliminarSe não parecesse tão estranho até lhe dava um beijo!
Caro Anthrax
ResponderEliminarJulgo que seria melhor confinar-se à sua natural envolvente, pois de contrário ainda são capazes de confundir anthrax com antraz! e acabou-se.
Suzana
ResponderEliminarLembra muito bem que "...apesar de tantos Governos, de tantas reformas e de tanto dinheiro desperdiçado, há que reconhecer que, em 30 anos, fizemos muitos progressos". Também é importante lembrar que partimos de uma base muito baixa. Mas não podemos estar satisfeitos e não deveríamos continuar a insistir num caminho de "mudam os ventos mudam as vontades". Não creio que tenhamos condições de continuar na vertigem da febre das reformas.
Temos que ser muito mais exigentes pois precisamos como do pão para a boca de elevar as nossas qualificações. Está aqui uma das chaves do desenvolvimento.
Caro antoniodasiscas
ResponderEliminar"O que eu preciso de saber é quando vou ter os excelentes desenhadores de máquinas que tinha há trinta anos". Não sei, não! Será que alguém lhe sabe responder? É bem possível que tenha de contratar um licenciado em máquinas. Certamente que sabe fazer desenhos...
Meus Caros
ResponderEliminarEu gostaria que todos os portugueses atingissem o cume dos cumes na formação académica. O pior é que ficam milhares na subida.
Também gostaria muito que todos os portugueses tivessem um emprego e trabalho. O pior é que o insucesso e o abandono escolar não ajudam.
O Estado deve garantir a todos os jovens oportunidades de acesso ao ensino, independentemente da sua condição económica e social. Esta igualdade de oportunidades deve ter presente que não somos todos iguais, que nos diferenciamos nas aptidões, apetências e capacidades intelectuais. Se assim não for, continuaremos a ter profundas e injustas desigualdades.
Cara Margarida,
ResponderEliminarEu, eventualmente, até poderia concordar consigo (e em alguns aspectos concordo mesmo), mas o Estado deveria garantir muita coisa que actualmente não só não garante como ainda encoraja o aumento do fosso existente.
Além disso, no momento em que estamos, felizes são aqueles que apenas têm o 9º ano de escolaridade porque esses, podem ser básicos e muito pouco instruídos mas têm um emprego garantido, a fazer uma coisa qualquer que seja mal paga porque é assim que está a nossa economia. Quem está mal são os que têm habilitações e que muitas vezes, para arranjarem um empregozito qualquer, têm de ocultar parte da formação académica para que não lhes digam que têm habilitações a mais.
E atenção, note-se que Portugal tem um n.º muito pequeno de licenciados (e muito mais pequeno de Mestres e Doutores), mas mesmo assim o mercado não absorve os poucos que há. Agora vêm falar na formação profissional como se fosse a receita para resolver todos os males? Contentes vão ficar as EP's porque lhes vão dar mais "atenção", de resto vai ficar tudo na mesma.
Cara Margarida,
ResponderEliminarSe está a dizer que os fins são iguais para todos mas os meios têm que ser diferentes, concordo. Aquilo que tinha entendido é que estava a dizer que os fins têm que ser diferentes. Isso não concordo.
Caro Tonibler
ResponderEliminarNão temos que estar sempre de acordo. É claro que de vez em quando é bom o consenso, em particular relativamente àquelas questões que se situam no campo dos princípios ou quando está em causa o bom senso.
Fins e meios fazem parte da mesma equação. No caso que temos vindo a tratar os "meios" devem ser diferentes, porque o que está em causa é assegurar a todos oportunidades de acesso. A concretização deste direito implica assumir que as pessoas não são iguais, que se distinguem pelas suas aptidões e capacidades intelectuais. Aceitar esta diferenciação implica justamente diferenciar nos "meios".
Pois... está a ver cara Margarida, essa é a parte em que concordamos.
ResponderEliminarAs pessoas não são todas iguais, nem têm de ser. Logo, tem de haver uma diferenciação de meios, perfeitamente de acordo.
A parte em que começamos a divergir é a parte dos "meios". Por exemplo, para mim não é aceitável que venham fazer um grande alarido à volta da "promoção das vias vocacionais" - como se isso fosse uma grande medida - quando apenas se trata de gerir, e de preferência bem, aquilo que já existe.
Também não me parece útil ou benéfico, para os alunos, reformar - outra vez - o ensino secundário. É que, às tantas, parece que "reformar o secundário" começa a ser um desporto nacional e ainda por cima caro (em todos os sentidos, desde o financeiro até à obtenção de resultados).
A única coisa que tenho estado a tentar dizer desde o início é: "Deixem as Instituições trabalhar". Elas sabem muito bem o que fazem desde que tenham as condições para o fazer e é para isso que serve o ME. Para lhes providenciar essas condições.
Caro Anthrax
ResponderEliminarO Estado deveria dar mais autonomia às escolas. O actual modelo intervencionista não favorece o trabalho das escolas e prejudica o seu desempenho. Entendo o que quer dizer com "Deixem as instituições trabalhar". Neste campo há ainda muito para mudar...