A sida é um grave problema de saúde a nível mundial mas em África a situação é verdadeiramente caótica sob vários pontos de vista, prevalência estupidamente elevada, falta de recursos médicos e terapêuticos, desaparecimento prematuro dos seus escassos quadros, falta de apoios sociais, enfim, tragédia atrás de tragédia.
O Ocidente tem muitas responsabilidades sendo obrigado a dar apoio e assistência. Muitas organizações rumam a África com esse nobre objectivo humanitário. De qualquer modo, a sida impõe intervenções ao mais alto nível.
Em 2004, tive que representar a Assembleia da República numa reunião de Parlamentares Europeus sobre a problemática da sida no Continente Africano. Reunião produtiva em que estiveram presentes altos responsáveis de muitos países cuja situação é dramática. A sida é, também, um problema político exigindo abordagens adequadas pelos estadistas de todo o mundo.
Numa das sessões, a embaixadora da África do Sul, em Dublin, fez uma conferência notável acompanhada da divulgação do concerto lançado pouco tempo antes pelo ex-presidente Nelson Mandela na meritória campanha contra a sida. As capas dos CDs e do DVD apresentavam o título “46664”, em letras garrafais, o seu número de prisioneiro. A escolha foi explicada com base nas próprias palavras do estadista. “Durante 18 anos de encarceramento fui apenas um número. Nos dias de hoje milhões de pessoas infectadas com o HIV são apenas isso, um número, cumprindo uma prisão perpétua”. A minha primeira reacção, antes da explicação dada pela simpática representante sul-africana, foi o próprio número. Dois "quatros" a ladear o “666”, o famoso número da besta! Apesar de não ser numerologista recordei-me de Pitágoras e da sua afirmação segundo a qual "não há nada que não possa ser expresso por números, até mesmo a natureza íntima das coisas"!
O “quatro” foi sempre relacionado com a matéria e com os fenómenos que interferem com ela. De acordo com a simbologia além de ser considerado a raiz sagrada de todas as coisas, representa a segurança. Instintivamente fiz uma primeira leitura. O “666” representaria o mal, a sida, e os “quatros” a segurança, o domínio em o travar. Leitura simbólica que foi substituída pela explicação previamente citada.
No concerto realizado na Cidade do Cabo, em que intervieram muitos artistas de renome mundial, Bono afirmou que a sua canção era um pedido "às igrejas para que abram as portas, para que forneçam abrigo e quebrem o estigma que acompanha os que são HIV positivo", acrescentando: "Se Deus te ama, qual o problema?" De todas as canções há uma, “46664 Long Walk to Freedom”, que foi interpretada por este autor, conjuntamente com Joe Strummer e Dave Stewart, constituindo um hino de esperança na luta contra tamanha peste que está a dizimar e a empobrecer o continente mãe da humanidade.
Moçambique também sofre as consequências da epidemia. Muitas iniciativas têm sido tomadas. Mas há dificuldades em transmitir certos conceitos e mensagens devido a vários factores entre os quais se destaca a credibilidade de muitos africanos. Recordo uma reportagem efectuada por Catarina Furtado, na sua qualidade de embaixadora de Boa Vontade da ONU, intitulada “Príncipes do Nada”. Perguntou a uma africana de certa idade, que mostrava a sua boa disposição com um largo sorriso desprovido de incisivos, se não sabia que podia ter evitado contrair a doença se tivesse usado preservativos. Ela disse que sim, mas que gostava mais de “nanha com nanha”(!) e lançou um gargalhada sonora. A embaixadora não percebeu o significado mas foi uma questão momentânea, porque tratou de explicar que o que pretendia dizer era que gostava mais de “carne com carne”! Este episódio foi um entre muitos transmitidos na reportagem dando a entender a presença de estereótipos e outras convicções alguns dos quais vão de encontro às ideias do Arcebispo de Maputo, caso da transmissão do vírus pelos próprios preservativos!
Sua Reverendíssima proferiu frases muito cruéis e feias a propósito da existência de uma conspiração europeia para exterminar os africanos através de preservativos e medicamentos contaminados com o HIV. Esta atitude pega bem naquelas comunidades. No entanto, o impacto que teve a nível mundial obrigou-o vir a terreiro a desmentir tamanhas afirmações!
Foi pena não ter assistido ao concerto promovido por Mandela nem escutado as suas sábias palavras cheias de esperança, porque teria aprendido muito. Se tivesse que escolher um título para a sua entrevista, não hesitaria em dar-lhe o número “666”.
O Ocidente tem muitas responsabilidades sendo obrigado a dar apoio e assistência. Muitas organizações rumam a África com esse nobre objectivo humanitário. De qualquer modo, a sida impõe intervenções ao mais alto nível.
Em 2004, tive que representar a Assembleia da República numa reunião de Parlamentares Europeus sobre a problemática da sida no Continente Africano. Reunião produtiva em que estiveram presentes altos responsáveis de muitos países cuja situação é dramática. A sida é, também, um problema político exigindo abordagens adequadas pelos estadistas de todo o mundo.
Numa das sessões, a embaixadora da África do Sul, em Dublin, fez uma conferência notável acompanhada da divulgação do concerto lançado pouco tempo antes pelo ex-presidente Nelson Mandela na meritória campanha contra a sida. As capas dos CDs e do DVD apresentavam o título “46664”, em letras garrafais, o seu número de prisioneiro. A escolha foi explicada com base nas próprias palavras do estadista. “Durante 18 anos de encarceramento fui apenas um número. Nos dias de hoje milhões de pessoas infectadas com o HIV são apenas isso, um número, cumprindo uma prisão perpétua”. A minha primeira reacção, antes da explicação dada pela simpática representante sul-africana, foi o próprio número. Dois "quatros" a ladear o “666”, o famoso número da besta! Apesar de não ser numerologista recordei-me de Pitágoras e da sua afirmação segundo a qual "não há nada que não possa ser expresso por números, até mesmo a natureza íntima das coisas"!
O “quatro” foi sempre relacionado com a matéria e com os fenómenos que interferem com ela. De acordo com a simbologia além de ser considerado a raiz sagrada de todas as coisas, representa a segurança. Instintivamente fiz uma primeira leitura. O “666” representaria o mal, a sida, e os “quatros” a segurança, o domínio em o travar. Leitura simbólica que foi substituída pela explicação previamente citada.
No concerto realizado na Cidade do Cabo, em que intervieram muitos artistas de renome mundial, Bono afirmou que a sua canção era um pedido "às igrejas para que abram as portas, para que forneçam abrigo e quebrem o estigma que acompanha os que são HIV positivo", acrescentando: "Se Deus te ama, qual o problema?" De todas as canções há uma, “46664 Long Walk to Freedom”, que foi interpretada por este autor, conjuntamente com Joe Strummer e Dave Stewart, constituindo um hino de esperança na luta contra tamanha peste que está a dizimar e a empobrecer o continente mãe da humanidade.
Moçambique também sofre as consequências da epidemia. Muitas iniciativas têm sido tomadas. Mas há dificuldades em transmitir certos conceitos e mensagens devido a vários factores entre os quais se destaca a credibilidade de muitos africanos. Recordo uma reportagem efectuada por Catarina Furtado, na sua qualidade de embaixadora de Boa Vontade da ONU, intitulada “Príncipes do Nada”. Perguntou a uma africana de certa idade, que mostrava a sua boa disposição com um largo sorriso desprovido de incisivos, se não sabia que podia ter evitado contrair a doença se tivesse usado preservativos. Ela disse que sim, mas que gostava mais de “nanha com nanha”(!) e lançou um gargalhada sonora. A embaixadora não percebeu o significado mas foi uma questão momentânea, porque tratou de explicar que o que pretendia dizer era que gostava mais de “carne com carne”! Este episódio foi um entre muitos transmitidos na reportagem dando a entender a presença de estereótipos e outras convicções alguns dos quais vão de encontro às ideias do Arcebispo de Maputo, caso da transmissão do vírus pelos próprios preservativos!
Sua Reverendíssima proferiu frases muito cruéis e feias a propósito da existência de uma conspiração europeia para exterminar os africanos através de preservativos e medicamentos contaminados com o HIV. Esta atitude pega bem naquelas comunidades. No entanto, o impacto que teve a nível mundial obrigou-o vir a terreiro a desmentir tamanhas afirmações!
Foi pena não ter assistido ao concerto promovido por Mandela nem escutado as suas sábias palavras cheias de esperança, porque teria aprendido muito. Se tivesse que escolher um título para a sua entrevista, não hesitaria em dar-lhe o número “666”.
Enfim, pobrezas de espírito. Mas ainda assim penso que a ciência pode dar as mãos à religião para afrontar este flagelo.
ResponderEliminarNão sei como, mas acho.
Eu estou crente (boa escolha de palavra..) que desta vez a igreja católica vai levar com as consequências dos seus actos, como deveria ter levado depois de genocídios e crimes vários ao longo da história, incluindo a recente. Nos Estados Unidos anda a fugir a acusações de cumplicidade em actos pedófilos e, estou certo, aos poucos serão acusados de apelo ao extermínio dos povos africanos.
ResponderEliminarPena é que os católicos a vão desculpando destes crimes afirmando-se como acomodados seguidores de alguns segmentos da sua doutrina, como se não fossem responsáveis pelo sustento de toda ela.
Muita generosidade a do Senhor Professor Massano Cardoso...
ResponderEliminarEu diria que sua reverendíssima proferiu frases que reavivam a fase mais obscurantista da história da igreja Católica!