Balde de água gelada sobre o marketing oficial lançado ontem pela Comissão Europeia: dos 27 da União Europeia, Portugal é o País em que o desemprego mais cresceu nos últimos 12 meses, até Agosto de 2007.
Mais 0,8%, enquanto que na média dos 27 se verificou uma descida de 1%.
A taxa de desemprego em Portugal já supera em 1,6% a média da EU (27), que é de 6,7%, e em 1,4% a média da zona Euro, que é de 6,9%.
No conjunto dos 27 e no período em causa, o desemprego cresceu apenas em 3 Países: a seguir a Portugal vêm a Irlanda e o Luxemburgo, cujo desemprego subiu 0,3% para…4,4% e 5%, respectivamente - quem nos dera!
É claro que estas notícias nada têm de surpreendente para quem acompanha o desempenho da nossa economia nos últimos 8/9 anos.
O aumento do desemprego é o reflexo de uma afectação de recursos profundamente viciada, dramaticamente agravada no período 96-2000, que impede,no quadro do regime económico de moeda única, o crescimento da produção a ritmo susceptível de criar emprego líquido.
Enquanto o sector público conseguiu absorver mão-de-obra, foi uma “festa”, agora que o sector público já não pode mais…sucede-lhe o desemprego que é a contra-capa dessa “festa”.
E a situação só não é mais negra porque a emigração tem ajudado imenso as estatísticas.
Se houver um refluxo de emigrantes, de Espanha por exemplo, onde poderá ir parar esta taxa de desemprego? Aos dois dígitos, inevitavelmente…
Não se pode mesmo descartar a possibilidade, dentro de 1 a 2 anos, de virmos a ter a mais alta taxa de desemprego dos 27.
É claro que o Governo pouco pode fazer, no curto prazo, para resolver esta situação.
Todavia, a incessante propaganda mediática com que diariamente somos "trucidados", pretendendo fazer-nos crer num sucesso económico que é mais miragem do que realidade, é responsabilidade directa do Governo.
E essa propaganda enganosa faz os cidadãos acreditarem na capacidade do Governo para resolver problemas como o desemprego, capacidade que na realidade não existe.
Assim, quando a oposição vem apontar ao Governo a responsabilidade pelo aumento do desemprego, não tendo em rigor qualquer razão, ela beneficia das falsas expectativas criadas pelo próprio Governo.
Falsas promessas e tristes realidades – quem é a final culpado?
Diz uma antiga profecia da Serra de Sintra, que se deve reunir o passado ao presente de forma a se projectar um futuro com consistência.
ResponderEliminarNão é importante conhecer culpados de uma situação que sem sombra de dúvida existe e foi motivada por um conjunto conhecido e desconhecido de factores que a originaram e da qual não nos apercebemos e para a qual não nos precavemos atempadamente.É efectivamente preocupante o inexorável problema do desemprego. Problema esse que para os mais septicos não encontrará a curto prazo a solução desejável.
A meu ver, quem neste país tem a responsabilidade de zelar pelo bem estar da população, em todas as suas vertentes, não pode estar indefinívelmente à espera de um milagre das rosas. A acontecer, esse milagre estaria sempre dependente de uma outra conjuntura e operável por intremédio de um agente, rosacruciano inevitávelmente.
Aquilo que urge ser feito é, em minha opinião uma reflexão profunda, em que muitas pessoas se reunam com um objectivo comum e sejam pensadas diversas questões relacionadas com o mesmo propósito.
Debelar a precaridade de emprego.
Não creio que esse objectivo possa ser atingido através da implementação de reformas de leis de emprego, ou de concertações empresariais, ou laborais, ou sindicais. É importante reunir todas as pessoas ligadas ao sector laboral e de formação profissional e discutir objectiva e conscientemente as resoluções quer administrativas, quer privadas a tomar nesta matéria.
E, sobretudo, colocar frontalmente a questão que no meu entender é pertinente: Qual é a solução desejável e consequentemente: de que forma conseguiremos atingir essa solução, ou nos conseguiremos apróximar dela? Quais os esforços que são necessários ser feitos, por empresários, estado e trabalhadores? De que meios será necessário socorrermo-nos?
Estas e outras questões, são no meu ponto de vista importantes, senão mesmo incontornáveis, para que seja possível saírmos deste impasse e mais rapidamente tentar equilibrar um barco que só por milagre ainda se mantem a flutuar.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarConcordando no essencial, continuo a achar que os números do desemprego têm um desvio para cima derivado da distribuição geográfica que se tenta fazer deles. Mas tem razão no que diz, se não são 8,3% são 7,2%, não é por aí. E se não são 8,3% hoje vão ser amanhã ou depois.
Agora, afectação de recursos viciada no período 96-2000??? "Cadê" os outros???
Ah, o culpado sou eu. Melhor, são os meus filhos. E para castigo só podem comer depois da "corte" retirar aquilo que lhe cabe do meu suor, porque o desemprego aumenta, as pessoas morrem nas autovias espanholas para irem ganhar alguma coisa e, no fim do ano, os custos com pessoal da administração pública subiram 4,5%.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarApesar de compreender o que quer dizer, não posso deixar de o contrariar e dizer-lhe que é importante conhecer "os culpados".
Não é possível corrigir o que está errado se não soubermos qual é o erro, qual a sua origem e se não pudermos pôr de "quarentena" quem o cometeu (a fim de evitar posteriores contaminações).
A questão do emprego/desemprego não tem a ver com milagres, nem com a adopção de medidas avulso, tem a ver com execução e com trabalho. Discutir com os sectores laborais não vai levar a lado nenhum, tal como não tem levado até agora. O mercado de trabalho está completamente pervertido e a responsabilidade não é do sector privado (que muitos tendem a ver como a Santa Casa da Misericórdia), nem da questão da formação profissional (que de uma maneira ou outra, fazem o seu trabalho).
Relativamente aos sindicatos, esses não servem para rigorosamente nada (caso contrário os trabalhadores portugueses não seriam o exemplo acabado de como é possível perder regalias e poder de compra e ainda parecer que "no pasa nada"), os sindicatos são apenas mais uns sentados à mesa do orçamento e enquanto fizerem parte do sistema vão continuar a não servir para nada, excepto para fazer algum folclore.
A responsabilidade suprema da situação cabe, única e exclusivamente ao Estado, que não cumpre as suas funções de criar as condições favoráveis ao desenvolvimento económico. Mais nada. Essa história das concertações para cá e concertações para lá, só servem para defender os interesses de alguns (que normalmente são os funcionários públicos, pq o Zé manel que trabalha numa fábrica têxtil está sempre lixado).
Os empresários não têm de fazer esforços nenhuns porque a missão deles é ganhar dinheiro e não é servir de Segurança Social, além disso se a empresa deles estiver bem, todos quanto lá estiverem a trabalhar, estão bem. Só que não é isto que se passa em Portugal.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarNão há maior erro que pensar que a solução para o desemprego é fomentar o emprego.
Tonibler,
ResponderEliminarMeu Caro leu mal, desculpe. O que eu digo, citando, é "...viciada afeactação de recursos, dramaticamente agravada no período 1996-2000".
Portanto,a viciada afectação de recursos não nasceu em 1996-2000, já vinha de trás, mas foi, sem qq dúvida (Relatório Bruegel, entre outros)dramaticamente agravada naquele período.
E o grande problema é que este período coincidiu com a "famosa" entrada (sem saída) no Euro...
De acordo quanto ao resto.
Caros Anthrax e Toniber, não cometo a veleidade de tomar as vossas opiniões como infundadas ou irrelevantes. Tenho a noção precisa de que não possuo os conhecimentos técnicos que me permitam avaliar a matéria do desemprego de forma irrefutável.
ResponderEliminarPorém, no meu modo pessoal de avaliar esta questão e porque ela é tão abrangente em termos sociais, não me restam duvidas absolutamente nenhumas para poder afirmar que a solução passa peremptoriamente por concertações em que sejam intervenientes e corresponsáveis todas as partes. Trabalhadores, patrões, estado, sindicatos.
E, caro Anthrax, não concordo quando dissocia deste panorama as empresas que se estejam a "safar" bem. Não nos podemos esquecer que empresas fortemente implantadas ha menos de uma década, estão hoje a passar por terríveis crises económicas e de colocação no mercado dos seus produtos. Como diz o caro Dr. Tavares Moreira "o grande problema é que este período coincidiu com a "famosa" entrada (sem saída) no Euro..." Concordo totalmente com esta opinião e só não concordo com aquilo que colocou entre parêntesis, porque mantenho a esperança de um dia, que não longínquo o nosso governo se aperceba que a recuperação económica também está dependente da adesão à moeda única. Pode ser que depois da presidência portuguesa, se faça ouvir o grito do Ipiranga nesta matéria.
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarDiga-me, quantas pessoas conhece cujo posto de trabalho resulta do fomento do emprego? Pois é, trabalham todas no IEFP, não é?
Se houver falta de arroz por causa de uma seca e eu lhe disser que vou fomentar a cultura de arroz com um investimento adicional, certamente me pergunta se, com dinheiro, eu vou fazer chover. Claro que no fim, não só não tem arroz, como não vai ter dinheiro e o seu problema que se resolvia com água, agora são dois e sem grande solução. A solução para a esmagadora maioria dos nossos problemas económicos não é fazer, é desfazer.
Caro Tavares Moreira:
ResponderEliminarNão acredito no poder dos governos para microgerirem a economia.
Acredito que os governos devem actuar na criação de condições claras, transparentes e iguais, para os interessados em arriscar na montagem de empresas que geram valor, criam riqueza, alimentam o emprego e a coesão social. Pode, simplesmente bastar o "do no harm".
Contudo, os socialistas acreditam no poder, e no dever, dos governos, para criarem empregos e gerirem(?) a economia. Por isso, gostava que, como se eu fosse muito burro, redigissem uma narrativa, formulassem uma teoria, fizessem um desenho, sobre como pensam fazer com que o país saia do buraco negro, para onde vamos sendo sugados progressivamente...
Buraco negro... singularidade
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarRetiro de um dos seus comentário a afirmação seguinte:
"E o grande problema é que este período coincidiu com a "famosa" entrada (sem saída) no Euro..."
Posso deduzir que, na sua opinião, o Euro é o culpado do crescimento do desemprego?
Caro Bartolomeu,
ResponderEliminarCompreendo o seu desalento e a sua boa vontade de mobilizar vontades para atacar este problema.
Só que essa receita está gasta e os frutos que foi capaz de produzir estão à vista...ou, talvez melhor, não se vêem.
A concertação não pode render mais, não é por aí, julgo, que este magno problema pode algum dia ser superado.
Caro Anthrax,
Excelente peça a sua, só foi pena não ter rematado com a indicação, clara e sem sofismas, do responsável nº1 - não único é certo - pela triste situação a que chegamos.
Vá lá, não quer fazer um pequeno esforço de memória e um exercício de coragem cívica?
Porque ter tanta vergonha em por os nomes aos "bois" (ou boys)?
Oh, Rui Fonseca e preclaro Amigo, mas que ideia!
Então o Euro é que será o culpado -por acaso fomos obrigados a aderir ao Euro ou foi por vontade nossa?
O problema não está nem esteve no Euro, o problema esteve e está ainda na desastrada política que seguimos na altura da adesão ao Euro e anos subsequentes, que nos condenou por tanto tempo!
Escrevi tantos textos de opinião em 1999, 2000, 2001 e por aí fora, chamando a atenção para a grave situação que estavamos a gerar...foi pregar no deserto e ainda se voltaram contra mim, numa agressividade brutal...
Quando se começou a falar da criação do euro, uma das primeiras vozes que ouvi,a advogar a sua adopção por Portugal, doi a de Mário Soares.
ResponderEliminarQual a justificação? Porquê?
Porque era uma questão política, era fundamental pertencer ao pelotão da frente. Tinha de ser, só pela política, o resto nem era mencionado... isto faz-me lembrar a argumentação actual para que Portugal aprove o Tratado Europeu, ou constituição, porquê? O que temos a ganhar como país? O que temos de mudar?
Não interessa, politicamente é importante este bonito... o resto vê-se depois.
Tem toda a razão, CCz, estas questões são tratadas entre nós como matérias de Folclore Político:
ResponderEliminar-"Temos de aderir ao Euro..." porque nos fica bem, somos a guarda avançada da Europa...
-"Pelotão da frente" pois claro,não podemos ficar para trás...
-"Europa, o nosso futuro", nem se admite outra coisa.
É tudo assim, não se medita no essencial e a verdade é que na opção de entrada no Euro o esencial - que era a adopção de políticas adequadas de afectação de recursos e de agilização dos mercados de factores e de produtos - ficou para trás.
Estamos há anos a pagar os enormes custos dessa tremenda falta de seriedade na tomada de decisões fundamentais.
E vamos continuar a pagar, o que não se sabe é por quantos anos mais...e se a factura nunca mais fica paga?
O grave problema do défice da Balança de Rendimentos, ou seja a gigantesca factura dos juros que temos de pagar ao exterior, que este ano deve ultrapassar € 7 mil milhões, ou 4,5% do PIB e deverá continuar a subir nos próximos anos, sugere que ainda vamos ter enormes dores de cabeça por força das opções erradamente tomadas.
Este seu último esclarecimento motiva-me para mais um comentário que submeto à sua imensa paciência:
ResponderEliminarNão parece que possa merecer razoável contestação a sua posição sobre o assunto.
Contudo, também não parece ajudar grande coisa, "chorar (agora) sobre o leite derramado". Se as devidas medidas não foram tomadas na devida altura (e por via delas o desemprego teria subido nessa altura, talvez à altura a que subiu em Espanha) a questão que se coloca é se hoje estão a ser adoptadas as medidas que as circunstâncias presentes impõem.
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É o que, salvo melhor opinião, importa agora discutir. Porque, como dizia Daniel Bessa há alguns tempos, e nisso concordo com ele, o desemprego vai fatalmente aumentar em Portugal. Se tivermos sorte talvez aumente moderadamente.
Os culpados pelo imparável e estenuante crescimento são vários. Nos ultimos governos, os ministros preocuparam-se em ser empresários de empresas públicas. Resultado duplamente catastrófico. Fizeram mau trabalho onde puseram as mãos e para além disso, não criaram condições para os privados o fazerem. Resta pôr mãos à obra e criar condições para o desemprego baixar.
ResponderEliminarSaudações Republicanas
PS: Cortar nos subsidios de desemprego não seria mau. Quantas pessoas conhecem que são dadas como desempregadas e trabalham ao mesmo tempo? Eles ganham a dobrar, o Estado perde a dobrar. Pior estatistica e evasão fiscal.
Sabe meu Caro Rui Fonseca, o meu ponto, quando recordo os graves erros que nos trouxeram para este colete de forças económico de que parece não sermos capazes de sair,não é nem nunca foi chorar sobre o leite derramado.
ResponderEliminarIsso de chorar sobre leite é exercício a que nunca fui dado, acredite.
O que me importou e continua a importar é que, pelo menos, não se insista nesses erros numa altura em que o nosso espaço de manobra para os gerir já se esgotou.
E o que eu verifico, infelizmente, é que ainda continua viva a tentação de repetir os disparates do passado, agravando uma situação já de si tão difícil.
A insistência nas SCUT's, os novos estádios de futebol, o erro gigantesco de um projecto como o a OTA - até há bem pouco tempo uma opção indiscutível - todos são ilustrações gritantes da persistência e aprofundamento dos erros que nos trouxeram para a actual situação.
E que vão continuar a marcar, pela negativa, a nossa qualidade de vida ao longo dos próximos anos.
É por isso, Rui Fonseca, que não será demais, nem sequer é suficiente pelos vistos, lembrar os erros de política que tenho por hábito assinalar.
Eu até penso que um documento como o Relatório Bruegel deveria ser de leitura obrigatória pelo menos para todos quantos sejam investidos em cargos públicos de responsabilidade.
Sabe meu Caro - e para não me alongar mais - tenho a percepção de que ainda está por fazer a pedagogia do que nos cumpriria fazer/ ter em conta quando se adere a uma zona monetária...e sem isso, nada feito.
Caro André, bastante bem observado o seu ponto.