O Primeiro Ministro britânico, Gordon Brown, anunciou ontem que não convocará eleições gerais este ano nem em 2008.
Como se sabe, no sistema de governo britânico, o Primeiro Ministro em exercício dispõe de poderes discricionários quanto à data de convocação de eleições gerais, podendo fazê-lo com grande antecedência em relação ao termo normal da legislatura.
Diversas razões sugeriam o interesse de Brown em convocar eleições para o final do corrente ano, tendo nas últimas semanas emitido sinais nesse sentido:
- Em primeiro lugar e como se sabe, Brown recebeu o poder das mãos de Tony Blair, a meio de um mandato, não tem uma legitimidade eleitoral equivalente à do seu antecessor que venceu três eleições gerais consecutivas.
Brown governaria com maior autoridade se fosse buscar um novo mandato a um sufrágio universal.
Está em posição semelhante à de Santana Lopes quando recebeu a chefia do Governo das mãos de Durão Barroso.
- Em segundo lugar, até há cerca de duas semanas o ambiente parecia de feição para Brown. As sondagens davam-lhe uma vantagem bastante grande (superior a 10%) sobre o seu rival do Partido Conservador (Tories), David Cameron, depois deste ter liderado as sondagens nos últimos meses do consulado de Blair.
- Em terceiro lugar e não menos importante, adivinham-se sinais de abrandamento na economia inglesa, induzidos por um forte arrefecimento do mercado imobiliário, o que pode trazer alguns dissabores ao Governo nos últimos dois anos do mandato em curso, com o inerente risco de vir a disputar as próximas eleições, em 2009, em posição de desvantagem.
Este último ponto está de resto tratado por Martin Wolf, em artigo publicado no F. Times da última 6ª Feira, com a habitual perspicácia analítica.
Pois bem, apesar destes factores positivos, que recomendavam uma postura ofensiva, Brown optou por uma atitude defensiva. Porquê?
Aparentemente pelo facto de as mais recentes sondagens, da última semana, terem revelado uma súbita e forte recuperação dos Tories de David Cameron, que nalgumas sondagens aparece mesmo colado ao Labour de Brown.
Brown terá trocado o incerto de curto prazo pelo incerto de longo prazo.
Estou convencido de que Brown teria ganho, se fosse agora a votos.
Optando pela defesa, Brown é capaz de vir a ter vida difícil nos próximos dois anos, acabando por perder as eleições que nunca ganhou.
Fica desde já rotulado como um político receoso, que teve medo de ir a jogo, e isso em política é meio caminho para a derrota.
Quem a esta hora tem razões para sorrir, com ironia, é…Tony Blair.
Estou plenamente convencido que, em igualdade de circunstâncias, Blair não teria hesitado: ia a votos.
Brown é sem dúvida um bom sucessor de Blair. Foram comentários como estes que inundaram a imprensa internacional. No espaço de poucos meses o panorama inverteu-se. Os resultados dos exames foram bons de mais e a educação era do ponto de vista da oposição muito elitista, um bocado ao estilo de Portugal. Quem tem dinheiro para o privado, enquanto a maioria se resigna ao público. A crise da Northern Rock e o problema da saúde também não foi esquecido. Tudo isto contribui para esta perda nas sondagens.
ResponderEliminarNão ir às urnas é bom, até. É tempo que não se perde em folclores eleitorais e é preciso ter muito cuidado para reagir muito bem a esta crise financeira. Por outro lado, vai estar com as baterias permaneteª/ apontadas. A imprensa tem que vender jornais e isso ressente-se com a falta de eleições.
Temo por outro lado que lhe aconteça o mesmo que a Santana.
Não vai a eleições por achar desnecessario, a imprensa trabalha melhor e mais forte que a oposição para o destruir. A oposição recebe de mao beijada o poder.
Esperar para ver......
Saudações Republicanas
Será talvez a manifestação do efeito Santana em todo o seu esplendor. A ver vamos. A Rainha poderá ter de sampaizar Brown.
ResponderEliminarAnálise penetrante, caro André, creio igualmente que Brown, não obstante a sua competência mas desprovido da audácia dos ganhadores como Blair, vai ter reinado efémero...E a comunicação social não lhe vai facilitar a vida, ao contrário do que se passa no país mais ocidental da Europa continental...
ResponderEliminarInteressante o seu conceito de sampaização, Joshua. Sampaizar quer pois dizer "preparar os patins"?
Confirmei no dicionário de inglês que tinha à mão e "Sampaizating" significa de facto, "preparing the roller skates".
ResponderEliminarObrigado pelo esclarecedor contributo, caro Baya. Será possível, dentro desse conceito, a "auto-sampaizating"?
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