A excelente reflexão do nosso comentador António Viriato no post "O nosso tributo!..." da autoria do Dr. Pinho Cardão (ler), convidou-me a criar aqui um espaço porventura mais visível e aberto, para debatermos o tema, sempre actual e necessário, da intervenção política e deixar aqui um primeiro contributo.
Está hoje espalhada uma grande descrença em relação à classe política e à política em geral, que não se fica a dever apenas a um motivo, mas é antes o somatório de diversas razões. As caras "políticas" repetem-se, é verdade, há fraca renovação, é certo, há episódios protagonizados por políticos com contornos de ética e moral duvidosos e não isentos de suspeição, é uma outra verdade, há incompetência política, também não deixa de ser verdade. São aspectos sobre os quais certamente já todos reflectimos e que se nos afiguram negativos para uma intervenção política saudável e ganhadora.
A desilusão colectiva, perfeitamente legítima, de anos e anos de promessas por concretizar, uma certa revolta silenciosa pela exigência de sacrifícios não compensados, o radicalismo e a ânsia do poder, o mediatismo da política que impede um trabalho de fundo porque os resultados são para ontem e as eleições são já amanhã, as ligações perigosas entre o poder político e o poder económico e tantos outros fenómenos tão ou mais importantes, comprometem a mudança no sentido da renovação das "elites" políticas. Esta realidade que o País vive não é o ambiente natural da competência técnica, da ética e da moral, valores que tendem a procurar "lugares" que os reconheçam e valorizem e que proporcionem possibilidades de realização pessoal partilhada com o benefício colectivo desse desempenho positivo.
Está hoje espalhada uma grande descrença em relação à classe política e à política em geral, que não se fica a dever apenas a um motivo, mas é antes o somatório de diversas razões. As caras "políticas" repetem-se, é verdade, há fraca renovação, é certo, há episódios protagonizados por políticos com contornos de ética e moral duvidosos e não isentos de suspeição, é uma outra verdade, há incompetência política, também não deixa de ser verdade. São aspectos sobre os quais certamente já todos reflectimos e que se nos afiguram negativos para uma intervenção política saudável e ganhadora.
A desilusão colectiva, perfeitamente legítima, de anos e anos de promessas por concretizar, uma certa revolta silenciosa pela exigência de sacrifícios não compensados, o radicalismo e a ânsia do poder, o mediatismo da política que impede um trabalho de fundo porque os resultados são para ontem e as eleições são já amanhã, as ligações perigosas entre o poder político e o poder económico e tantos outros fenómenos tão ou mais importantes, comprometem a mudança no sentido da renovação das "elites" políticas. Esta realidade que o País vive não é o ambiente natural da competência técnica, da ética e da moral, valores que tendem a procurar "lugares" que os reconheçam e valorizem e que proporcionem possibilidades de realização pessoal partilhada com o benefício colectivo desse desempenho positivo.
Ligado a tudo isto está, como não poderia deixar de ser, o nível (baixo) educacional do País, a condicionar a falta de ambição, exigência e visão. Temos gente muito boa, com excelentes qualidades humanas, éticas e morais, bem preparada para desafios difíceis e com competências técnicas elevadas. Mas é gente que não se identifica com a actual forma de "fazer política" e não encontra na política um espaço atractivo de concretização de "coisas"! Esse espaço também não procura essas pessoas!
Nestas circunstâncias, a intervenção cívica ganha relevo e é apreciada e pode, porventura, constituir uma via séria para contribuir para as mudanças, inclusive da intervenção política... Há quem diga que estamos a mudar para fazer a verdadeira mudança. Será?
Há realmente alguns invariantes na prática política formal do país, mas não se pode dizer que as caras sejam as mesmas. As caras vão mudando. Não melhoram, mas mudam :).
ResponderEliminarCara Margarida,
Este seria o tema em que não pararia de escrever. No entanto, tenho muito a dificuldade em fazê-lo com quem tem esta participação política ("participação cívica" cheira-me sempre a esturro, não sei porquê...), mas tem uma participação política formal, enquanto militantes de um partido.
Por isso, até porque assim não corro o risco de ofender ninguém, lançava o contra-deafio no mesmo tema. Como conciliar o livre pensamento que revelam aqui com o pagar quotas para um partido cuja direcção só não tem contornos éticos duvidosos porque estão mais que provados? (esta última parte pode não fazer parte do desafio...)
Penso que só lhe faltou referir um importanteponto. Aa juventudes partidárias em vez de estimularem um maior interesse racional dos jovens pela politica e incrementar uma vontade de mudar, através de uma forma mais coerciva, não o fazem. Essas mesmas Juventudes são antros de formação de futuros politicos como a mairoria dos actuais. Incompetentes e profissionais a fazer jogadas do estilo, toma lá dá cá.
ResponderEliminarA vontade de mudar o país é um problema "histórico". Os principais partidos que o prometeram fazer, descredibilizam-se dia após dia com a sua inaptidão para resolver o caso. O movimento de H. Roseta à Câmara de Lisboa e o Compromisso Portugal são exemplos dessa vontade de mudar, utilizando outras vias. Tendo em conta que Portugal é um clube de amigos, até que ponto este movimentos de intervenção cívica vão melhorar o panorama???
Saudações Republicanas
Caro André,
ResponderEliminarUm desses movimentos já conseguimos parar. Só falta o outro.
Senhores,
ResponderEliminarEntre a classe política de hoje e a de há 25, 28 anos atrás há uma diferença abismal. Naquela época, políticos a tempo inteiro, havia poucos... talvez só o líderes dos partidos e os seus lugares-tenentes, os restantes faziam parte da grande massa de cidadãos que, pelo seu valor profissional e saber, se mostravam empenhados em dar (repare que disse dar) o seu tempo aos compatriotas, trabalhando para a causa comum. Podiam fazê-lo bem ou mal, mas faziam-no com a competência que haviam mostrado nas suas vidas profissionais.
Agora, como disse um comantador anterior e diz toda a gente, nos partidos políticos pululam os «funcionários» à espera da sua oportunidade de serem desde autarcas a parlamentares e - por que não? - ministros, secretários de Estado, assessores e tantas outras coisas. A política deixou de ser o lugar dos competentes para passar a ser o lugar dos oportunistas.
Os partidos não estão errados; errada está a forma como se seleccionam os políticos. Veja-se o caso do Director-Geral dos Impostos a quem se teve de pagar uma fortuna! Esse não deu nada a ninguém... trocou de secretária, somente.
Antigamente (há 25, 28 anos) os políticos perdiam dinheiro, aceitando os cargos para que eram escolhidos! Contudo, sabiam que depois (repare, depois,) seriam compensados pela sociedade, porque iriam ocupar cargos rendosos e rentáveis. Era a paga de ter servido bem!
Agora, continua-se a assim fazer, só com a «pequena» diferença de se premiarem incompetentes e carreiristas.
A noção de serviço público e nacional foi corrompida pelos J's e pelos partidos que lhes deram abrigo.
O que fez na Vida José Sócrates, para além de ser político? E José Seguro? E tantos outros? Nada!
É contra isto que a nossa indignação se tem de manifestar.
É a minha opinião, claro
As raras fases de crescimento económico que o nosso país conheceu desde a sua fundação, ficaram a dever-se na sua totalidade à visão futurista e vontade dinamizadora de reforma, de reis, ministros e primeiros-ministros que foram forçados a impô-las pela obrigação e repressão a fim de que pudessem surtir efeito.
ResponderEliminarNa verdade as características sui generis do nosso povo, obriga qualquer visionário convicto da valência dos seus projectos, a ter de os impôr pela acção da coacção e nunca da concertação, mesmo que os visados percebam que as acções visam o benefício de todos.
Penso que essas condicionantes, são o motivo forte, para que, sobretudo depois de conquistada a dita "democracia", ganhos que foram os direitos de expressão e da livre opinião, impossibilitados de actuar por imposição, tivessem os nossos governantes e detentores de cargos publicos e políticos de se socorrer dos mais variados meios de convencimento e prestidigitação.
Como acontece frequentemente, no nosso país, com a nossa gente, é fifícil obter a unânimidade, o consenso de opiniões, sem que se consiga fidelizar a vontade das pessoas à imagem de um líder.
Temos exemplos de sobejo deste fenómeno, que como já referi, tem ganho dimensão desde ha um tempo recente. Verifica-se no mundo da política, no mundo do espectáculo e para cúmulo, começo a perceber que se estende inclusivamente ao meio familiar. O conceito generalizado, é o de enganar para convencer, e as formas de o concretizar são imensas e requintadas. Noto porem, com satisfação, que resistentes a este conceito abrangente, pugnam ainda pela clareza e rectidão, dos actos, dos discursos e das atitudes. São estes penso eu, a que a cara Margarida se refere neste post, quando afirma, deixando a interrogação final que eu interpreto tambem como uma afirmação... "Nestas circunstâncias, a intervenção cívica ganha relevo e é apreciada e pode, porventura, constituir uma via séria para contribuir para as mudanças, inclusive da intervenção política... Há quem diga que estamos a mudar para fazer a verdadeira mudança. Será?"
Caro Tonibler
ResponderEliminarTenho a certeza que se não quisesse parar de escrever o risco de ofender alguém seria sempre controlado. É sempre possível conversar ainda que os pontos de vista sejam distintos. É o que muitas vezes aqui fazemos e ainda bem! Quando tudo é igual não se avança...
Sobre o seu contra-desafio diria que um mal terrível que afecta muitos dos nossos políticos e governantes é a ausência de "pensamento". Não têm pura e simplesmente pensamento. Quando a suposta liderança política não tem pensamento vamos muito mal. O pensamento é sempre livre e não vejo, sinceramente, que as quotas para um partido sejam responsáveis pela falta de pensamento de que falo.
Caro André
A juventude é em cada momento da história o futuro das sociedades, o futuro de um País.
A base natural de recrutamento dos futuros políticos é, como refere, a juventude partidária. Mas se esta juventude não é preparada e formada para um dia mais tarde assumir responsabilidades públicas e políticas e se limita a copiar o exemplo que vem de cima não podemos esperar importantes melhoras...
Mas vamos ter esperança que, embora sendo Portugal um clube de amigos, para utilizar as suas palavras, a globalização, a integração de Portugal no mundo, a necessidade de sobrevivência e o investimento na educação e na formação dos jovens pressionem alguma mudança...
Caro Luís Alves de Fraga
Tem muita razão quando aponta o dedo à incompetência e ao carreirismo, quando refere a deturpação da noção de serviço público. É tudo muito verdade, mas a questão é saber como ultrapassar esta "crise"?
Porém, não partilho da crítica que faz ao recrutamento do Director Geral dos Impostos, na medida em que não se trata de um político mas sim de um profissional. É uma diferença muito grande. Diria mesmo que só teríamos a ganhar se tivéssemos na política pessoas com a sua preparação. Questão diversa é a das remunerações dos dirigentes da administração pública e dos políticos em exercício de funções.
Caro Bartolomeu
Excelente reflexão sociológica sobre este povo, outrora cheio de ambição e fazedor de conquistas, satisfeito com as amplas liberdades, esquecendo contudo que viver em democracia, sendo um bem, exige trabalho e responsabilidade.
Ás vezes surge-me a imagem de um povo adormecido numa verdade que é mentira, negando-se a enfrentar a verdadeira "verdade"!
Cara Margarida Aguiar:
ResponderEliminarA intervenção cívica parece constituir o início duma nova forma de fazer política. São movimentos de pessoas diversas, com uma atitude de certa maneira «altruísta» que, em conjunto, procuram dar um “safanão” às estruturas e às políticas sedimentadas.
O aparecimento destes movimentos decorre do facto de, dentro dos actuais cânones partidários, não haver muitas vezes “abrigo” para ideias novas. Todos sabemos o quão difícil é ter expressão dentro do partido.
É assim expectável que, num futuro próximo, algumas destas pessoas, as mais bem preparadas, venham a fazer a verdadeira mudança. Só assim, o descrédito e as suspeições que recaem sobre os políticos, tantas vezes injustas, irão paulatinamente desaparecer.
Está dito.
PS
ResponderEliminarCara Drº. Margarida Aguiar:
Não o mencionei no comentário anterior, mas este seu texto está entre os seus melhores.
Espero que não tenha aceite o comentário que fiz de maneira ofensiva, no entanto, já comecei a perder um bocado a esperança que estes problemas de fundo se resolvam no curto prazo. É muito provavelmente um problema que só será resolvido geracionalmente, com a evolução das mentalidades e com a vontade de deixar boa imagem quando se vive a 27...
ResponderEliminarSaudações Republicanas
Margarida, 100% de acordo. Porque não posso estar mais...
ResponderEliminarOlá Margarida
ResponderEliminarPrometi que comentava um dia destes, e cá estou ;-).
A intervenção na sociedade pode ser feita de muitas formas, e a intervenção política não esgota a intervenção civica que é possível e desejável.
Os "checks and balances" da actividade politica não se
podem esgotar na classe politica. Até porque o ritmo e exigências da actividade politica actual, marcados pela voracidade da comunicação social, não se compadecem com o tempo de maturação necessário para "pensar os problemas".
A usual sentença de "degradação da actividade política" em Portugal não pode, a meu ver, ser desligada da ausência de "think tanks" respeitados, libertos de conotação política, e assentes unicamente na sua actividade técnica.
Ainda não conseguimos encontrar em Portugal a forma de organizar intervenções civicas que sejam de facto vistas como uteis, e não apenas como manifestações de interesses individuais com um qualquer outro objectivo.
A politica não tem que ser "um espaço atractivo de concretização" para todos, basta que os por ela se sentem motivados tenham "profissionalismo" suficiente para suscitar colaborações, e que os que não se revêm na "politica enquanto actividade" tenham abertura, em lugar de desconfiança.
Enquanto não se traça esse caminho, o melhor é ir revendo o "yes prime-minister".
Caro invisivel
ResponderEliminarDisse e muito bem dito!
Que a intervenção política precisa de renovação é algo que parece ser consensual. Há um ambiente generalizado de desconfiança e de suspeição que afecta obviamente a credibilidade das próprias instituições democráticas. Mas não é sem razão que acontece. As pessoas estão cansadas e saturadas do mesmo. Esperemos que este desconforto funcione como uma vontade para mudar. A parte final do seu comentário vai neste sentido, com uma dose de optimismo que bem falta faz...
Caro André
Entendi a sinceridade do seu comentário, sem qualquer sentido de ofensa. Nem pensar!
O seu estado de espírito é comum ao de muitas pessoas, que estão desiludidas e cansadas, incluindo muitos jovens. Concordo que a mudança será vagarosa e progressiva...
Olá PPB
ResponderEliminarSeja muito bem vindo. O que é prometido é devido, não é assim?
E com uma abordagem certeira! O seu comentário vem reforçar a ideia, com a qual concordo absolutamente, de que o rótulo de "degradação da actividade política" está ligado à ausência de fóruns de reflexão credíveis, constituídos por pessoas independentes de interesses políticos e com competências técnicas e qualidades éticas reconhecidas. Este é, sem dúvida, um lado da intervenção cívica que precisamos de promover e estruturar. É uma forma activa e positiva para ajudar a qualificar a actividade política. Diria que é mesmo uma obrigação.
Quanto ao "yes prime-minister" não encontro melhor "concorrência"!
Cara Margarida
ResponderEliminarMais um texto polémico e daí muito interessante, que conduz à reflexão, diga-se de passagem num contexto social cada vez mais turvo e mais complexo, parafraseando o nosso Eça.
À laia de reflexões avulsas,começo por focar a
sistemática "complementariedade", de interesses desde sempre existente entre os poderes político e económico, tal como já foi referido noutro comentário. São tantos os exemplos concretos, que não vale a pena mexer mais na porcaria.
Antigamente era a honestidade que definia os homens,hoje é o livro de cheques.O "incesto" é insufismável e tem consequências que minam o ambiente e revigoram a crença de que quem faz política, o faz pelo poder, o que é profundamente criticável e porque prepara uma bela saída após deixar o "carro das serpentes", como lhe chamava Tocqueville. Daí que seja bem perceptível a posição " esforçada e renitente" do PS, em não querer, esquecendo-se incompreensivelmente de todos os sacrifícios que vai exigindo a este pobre e depauperado povo, reduzir o número de deputados, como se se entendessem as razões capciosas por si aduzidas ao processo.
A política está tão doente como está o futebol. Quantos "apitos dourados" têm existido no caldeirão da política?.Os respectivos grupelhos e grupinhos de apoio, revelam as mesmas características e as mesmas articulações, consubstanciados pelos interesses subjacentes e comuns aos dois poderes constituídos, poderes que necessitariam ser alicerçados para evitarmos o indecoroso espectáculo actual, na formação moral e civica de jovens que pelas suas qualidades básicas, pudessem vir a ser dirigentes sérios, competentes e sobretudo com vergonha na cara. Vai, graças a Deus, havendo excepções mas muito referenciadas e por vezes "apagadas", como convém.
A conjuntura mais ou menos idêntica àquela que o nosso Eça descreveu na sua época, tenho para mim, há-de propiciar e levar cada vez mais, à constituição de movimentos, como aqueles que se formaram para apoiar as candidaturas de Manuel Alegre e de Helena Roseta e Carmona Rodrigues.
A falta de confiança, de consideração e de respeito que o português comum revela pela classe política, está bem patente nas explosões de mau génio que o actual governo vai suscitando com a sua "exibição", de resto admiravelmente minimizadas e descredibilizadas de imediato por ele próprio, com a manha e não como a inteligência recomenda. A idiossincrasia portuguesa de que se destaca a grande altura, um fatalismo e uma descrença permanentes,leva a que se peça a Deus que nos ilumine nestas matérias, sob pena de poderem surgir cenários ainda piores ...
Cara Margarida Aguiar,
ResponderEliminarCaros Amigos da 4R,
A circunstância de passar o fim de semana longe do acesso à Internet fez-me perder tempo de resposta ao amável convite da nossa prezada contertuliana em prolongar o debate sobre a necessidade de renovar, reformular a intervenção política, tão baixo ela caiu.
Tenho a noção de que o tema levanta sentimentos dúbios. Se por um lado nos motiva, por outro também nos retrai, tantos foram já os que nos propuseram reformas, renovações, regenerações, etc., da vida política, que afinal se traduziram em decepcionantes resultados, deixando-nos a todos numa situação de cada vez maior desconfiança, em que a descrença e a revolta crescem perigosamente, conduzindo-nos perto do desespero ou do definitivo abandono cívico.
Repetidamente assim nos achamos. Todavia, um pensamento nos poderá ajudar : é que não há solução para isto, que não passe por insistir, por perseverar naquilo que julgamos elevado, útil e, portanto necessário para a nossa vida em sociedade.
Poderíamos encarar outra solução para romper com este nosso estado de desânimo, como o estudo, a investigação de um tema que nos seja caro, uma obra que requeira a nossa participação, etc., mas todos estas soluções de ordem pessoal, por muita satisfação que nos tragam, de um ponto de vista pessoal, resultam sempre insuficientes, pela nossa condição de seres gregários, que só logram sentir-se bem, se o meio que os envolve sofrer melhorias concordantes com as verificadas na sua esfera pessoal. Excluo desta reflexão os gozos espirituais de motivação religiosa.
As pessoas que mantêm sentimentos patrióticos, de orgulho da pertença a uma Comunidade antiga, que desejam contribuir para a sua continuação, para a sua elevação, encontram-se hoje, em geral, bastante frustradas, depois de terem assistido a tanta oportunidade desperdiçada, tanto objectivo falhado, traído, desprezado ou subvertido.
Vêem os mais capazes, acomodados nas suas altas mordomias, remeter-se a um silêncio incompreensível, fechados num egoísmo ou numa fria indiferença perante a sorte ou o destino da Comunidade, que, afinal, os distinguiu e lhes facultou o usufruto da sua actual condição de privilegiados, que assim acabam por desmerecer. Porque se estas pessoas mais destacadas no plano social querem ser, de facto, consideradas elites verdadeiras, devem empenhar-se na elevação geral de toda a Comunidade que lhes proporciona esse estatuto de especial conforto em que vivem, algumas já, registe-se, em completa desproporção com o seu real contributo, profissional ou outro, bem como com o contexto em que esse estatuto ocorre.
Para não prolongar o intróito, direi que por muito que nos custe retomar o tema da regeneração – política, ética, social, educativa, etc., - do conjunto da Comunidade a que historicamente pertencemos, não podemos furtar-nos à sua imposição. Ou ela se fará, com o esforço de todos, ou o País continuará numa senda de instabilidade, de êxitos meramente fugazes, recaindo na mediocridade, e a prazo na decrepitude geral.
Quem exerce o Poder, quem representa instituições deve dar exemplos de competência, de seriedade, de equidade, de empenho solidário.
Se achamos que tudo isto não passa de palavreado vão e que o importante é sobretudo o sucesso social, expresso em unidades monetárias, em ostentação, em vida florida e flauteada, então, meus amigos, adeus País, adeus legado histórico, adeus identidade cultural e busquemos todos a nossa recheada «malga de arroz».
Peço novamente desculpa pela extensão do comentário, mas, como referi, o passivo é enorme e urge fazer alguma coisa; porém, com pensamento a suportar acção, para evitar erros desnecessários, descabidos, sobretudo pela sua repetição…
Voltaremos certamente ao tema.
AV_21-10-2007
Caro antoniodasiscas
ResponderEliminarDeixa-nos aqui uma memória que infelizmente é acompanhada por muita gente. Deixa-nos um retrato doente, negro e pessimista da classe política, em que a ética e a estética dão lugar à promiscuidade a à falta de vergonha. Mas abre, simultaneamente, uma "luz ao fundo do túnel" quando se refere à constituição de movimentos cívicos, colocando no seu surgimento uma saída de renovação da classe política...
A inevitabilidade da intervenção cívica vai ganhando importância...
Caro António Viriato
Seja bem chegado! Obrigada pelo seu texto. Estávamos à sua espera para enriquecer o debate que, entretanto, teve alguns desenvolvimentos. O sentimento é de desilusão e de frustração, mas ao mesmo tempo encerra a convicção de que terá que haver mudança, não se sabendo bem como será feita. Concordo que o tema levanta sentimentos dúbios, entre a vontade de acreditar e a vontade de desistir! À crença de que é preciso mudar, fazer alguma coisa, junta-se depois a frustração e o desânimo. Certo é que a competência, a seriedade, a solidariedade, a liberdade, o amor pelo País, a vontade de dar e a sensibilidade social são valores que precisam de ser revigorados no exercício do poder.
Enquanto não formos capazes de colocar nas nossas prioridades cívicas e políticas a necessidade de assegurar o bem estar dos cidadãos e o direito a uma vida digna e feliz as coisas não mudam. Mais humanismo e menos materialismo precisam-se. Não é demagogia, é "pensamento" que tanto vai faltando nas cabecinhas de muitos dos nossos políticos. A política é uma actividade nobre e elevada quando exercida para servir os outros.Felizmente que há muitas pessoas que pensam assim...