terça-feira, 6 de novembro de 2007

Da temerária profecia de Ricardo Reis...à realidade

Em 29 de Agosto último, referi aqui declarações de Ricardo Reis, (muito) jovem Professor da Universidade de Princeton, em entrevista ao D. Económico, na qual o jovem Professor arriscava uma surpreendente profecia: dentro de um mês não se falará mais da crise dos mercados financeiros.
Acrescentava o Professor R. Reis que a crise de que então se falava diariamente era apenas monetária, não verdadeiramente financeira, pelo que seria de muito curta duração e os seus efeitos rapidamente se desvaneceriam.
É claro que para os laboriosos “media”, preocupados como estavam em encontrar suporte para a tese oficial de que a economia portuguesa em nada seria afectada pela turbulência dos mercados, a profecia do jovem Professor caía como “sopa no mel”.
O entusiasmo com a profecia foi ao ponto de Ricardo Reis ter sido logo apelidado de “nova estrela da economia nacional” entre outros epítetos.
No post então editado “Crise financeira: Ricardo Reis versus mercados”, mostrei surpresa por tão ousada profecia mas, como é evidente, não quis deixar de conceder ao Professor Reis o benefício da dúvida, esperando, com então referi, que a sua profecia se cumprisse.
Passaram os 30 dias da arriscada profecia, já lá vão mais 40 dias e a crise não só não passou como se mostra actualmente bem mais grave do que então se suspeitava.
Nos últimos dias assistimos a uma quase hecatombe nos resultados dos maiores bancos americanos, com destaque para a gigante Merrill Lynch, que de um golpe apenas foi obrigada a reconhecer perdas de USD 8 mil milhões decorrentes da desvalorização de activos hipotecários e seus derivados.
Outro gigante, o Citigroup sofreu também perdas elevadíssimas.
Em ambos os casos a situação foi considerada de tal modo grave que os seus Presidentes executivos foram forçados a resignar – no caso da Merrill Lynch com uma modesta (para os padrões portugueses, claro) indemnização de USD 160 milhões...
O pânico instalou-se nos mercados e a cotação das acções dos bancos, tanto nos USA como na Europa tem sofrido pesadas perdas.
Assiste-se a uma novo episódio de aversão ao risco, caracterizado pelo downgrading de extensas áreas de risco financeiro até agora tidas por muito seguras – por exemplo as obrigações municipais e estaduais nos USA.
Podemos assim concluir que a crise, além de monetária como referia Ricardo Reis, é também financeira e bastante profunda.
Resta saber quais serão as suas implicações no comportamento das economias dos países mais afectados por esta nova fase de aversão ao risco.
Quererão os laboriosos "media" habilitar-nos com nova profecia para nos tranquilizar?

9 comentários:

  1. Anjos ou Deuses
    Anjos ou deuses, sempre nós tivemos,
    A visão perturbada de que acima
    De nos e compelindo-nos
    Agem outras presenças.

    Como acima dos gados que há nos campos
    O nosso esforço, que eles não compreendem,
    Os coage e obriga
    E eles não nos percebem,
    Nossa vontade e o nosso pensamento
    São as mãos pelas quais outros nos guiam
    Para onde eles querem
    E nós não desejamos.

    De: Rcardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)

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  2. Muito a propósito, caro Bartolomeu, muito a propósito!
    Tenho aliás notado que anda muito inspirado, ultimamente...não quer arriscar uma profecia, neste caso?

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  3. Caríssimo Dr. Tavares Moreira, crê ser possível arriscar seja o que fôr, relativamente a matéria sujeita naturalmente a tão diferentes e imprevisíveis influências?

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Caro Tavares Moreira,

    Não sei, não. Para a generalidade dos comentadores a coisa está entre o cinzento claro e o preto.

    As perdas reconhecidas pelas instituições financeiras – 20 mil milhões de dólares – é apenas a ponta de um iceberg que atingirá as centenas de milhares de milhões de dólares.Mas esta é uma parcela ínfima dos valores que estão em jogo não só em hipotecas sub prime mas também near prime e prime, para onde a vaga de incumprimentos se está estender. E que se espraia pelos cartões de crédito, crédito para compra de automóvel, etc.

    Ouvem-se estas notícias e não podemos deixar de reparar para o nosso umbigo. Para concluir que também à volta dele circulam estas ameaças.

    Com a dívida externa que já atingimos em Portugal onde vão os bancos arranjar imaginação para continuar a subir degraus de dois dígitos?

    E se perderem a passada irão escorregar pela escada abaixo?

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  6. Caro Rui Fonseca,

    Para quem tem subido degraus de 2 dígitos existem, face a uma alteração de circunstâncias como a que estamos a testemunhar, várias alternativas:
    - Subir degraus de 1 dígito;
    - Estacionar;
    - Descer degraus de 1 dígito;
    - Descer degraus de 2 dígitos;
    - Escorregar pela escada abaixo.
    Meu Amigo foi logo para a última opção: convenhamos que será um tanto pessimista, não acha?

    Caro Bartolomeu,

    Não quer mesmo arriscar um pouco? Não é de opinião que a vida sem qq risco fica algo sensaborona?

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  7. Caro Tavares Moreira,

    Não optei, perguntei.

    Fico na expectativa da sua opinião.

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  8. Caro Dr. T. Moreira, qualquer prognóstico que pudesse emitir, basear-se-ia unicamente, na tosca opinião infundada de um leigo nesta matéria. Longe, longíssimo dos conceitos que orientam (desorientam) a alta finança mundial.
    Mas se o caro Dr. me desafia para brincar aos banqueiros, assim como quem atira fisgadas a pardais, eu dir-lhe-hei simplesmente, que na minha opinião já não ha formulas que consigam manter os níveis dos resultados a que as finanças e os investimentos mundiais se habituaram. No meu ponto de vista, insisto, resta à finança europeia e americana estar atenta ao desenvolvimento da finança asiática e aos jogos de poder económico que se irão desenrolar a partir daí.
    Depois... bem depois resta-nos rezar, mas rezar com muita fé mesmo, e pedir ao altíssimo para que não expluda um conflito mundial entre uma coligação china/rússia/india e os países do médio oriente, detentores da produção mundial de petróleo.
    Parece-lhe apocalíptica esta visão?

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  9. Rui Fonseca, meu Caro,nem pela cabeça me passou atribuir-lhe uma opção, nem a si nem a mim compete neste contexto optar...
    O que eu disse, simplesmente, foi que das 5 opções de correcção de tiro que se oferecem aos bancos, na singela escala que elaborei, meu Amigo foi para a última e tb a mais "dramática"!
    Se quer a minha opinião dir-lhe-ei que a muito curto peazo irão para a opção 1 (até pelo efeito da inércia de crescimento) e, lá para o 2º semestre de 2008, vão eatacionar.
    Mais longe, não arrisco por agora.

    Caro Bartolomeu, bem dizia eu que o Senhor tem andado inspirado...e pelos vistos continua...
    As suas considerações, proferidas em estilo apocalíptico, tocam nalguns dos problemas mais agudos da geopolítica económica do nosso tempo! Bem observado!

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