sexta-feira, 9 de novembro de 2007

A promessa falhada do crescimento de 3% em 2009

Foram hoje conhecidas as projecções económicas de Outono das Comissão Europeia (CE), que apresentam as primeiras previsões para 2009.

No que a Portugal diz respeito, para além das dúvidas de Bruxelas quanto ao défice público de 2008 e 2009 (projectados em valor superior ao que o Governo prevê), da manutenção da taxa de desemprego em redor de 8% neste horizonte temporal (também um número superior às projecções do Executivo), e do défice externo continuar em redor de 9% do PIB, o maior destaque vai, em minha opinião, para o crescimento projectado para o PIB em 2009: 2.1%, depois de 2% em 2008 (também abaixo dos 2% previstos pelo Governo). Confirma-se, assim, que, pelo menos até final da presente legislatura, o nosso país continuará a divergir da média europeia (UE-27: 2.4% de crescimento quer em 2008, quer em 2009), isto é, continuaremos a ficar mais longe da Europa e a empobrecer face aos nossos parceiros. O que, infelizmente para todos, creio que poderá continuar bem para além de 2009…

Mas para mim o mais importante é que estamos perante o primeiro cenário que deita por terra qualquer possibilidade, por mais ínfima que ela pudesse ser, de Portugal crescer 3% em 2009 – como José Sócrates, na campanha para as eleições legislativas de 2005, tinha prometido.

Já nessa altura era possível prever que essa promessa não iria ser cumprida, dadas as debilidades estruturais que a nossa economia atravessava – e ainda atravessa. E isto por mais que o Governo estivesse a governar bem, porque quaisquer reformas que sejam realizadas levam tempo até produzirem efeitos. Ora, não estando o Executivo Socialista a governar bem em diversas áreas – pelo menos em minha opinião – claro que atingir esse objectivo ficava ainda mais difícil… como, repito, infelizmente, tenho a firme convicção que sucederá em 2009.

Espero também que, tratando-se uma vez mais de uma promessa eleitoral que não será cumprida (e prometer um determinado nível de crescimento é um perfeito absurdo, porque, como facilmente se percebe, o crescimento económico não se pode decretar…), este caso sirva novamente como exemplo da postura que os responsáveis políticos não devem ter na proximidade de actos eleitorais. Prometer algo que depois não se pode cumprir é, em termos de credibilidade, o pior que pode haver. E é dos factores que mais contribui para cavar um fosso ainda maior (ao já existente) entre a população e a classe política.

Infelizmente, trata-se de algo que, como se sabe, não serve apenas para o Partido Socialista…

10 comentários:

  1. Anónimo21:57

    Enquanto se pensar que o crescimento económico depende da pro-actividade dos governos não saímos do mesmo.

    O crescimento (medido num prazo dilatado) é inversamente proporcional ás políticas do emprego, ás políticas de insentivos à economia, etc. Por isso quando um governo diz que vai criar x empregos, fazer crescer X%, trazer X fabricas para Portugal, está tudo tramado.

    Ora, quando um governo disser (ou um partido da oposição) que vai acabar com os centros de emprego que são uma farsa, vai acabar com o ipmai e os insentivos à economia, vai deixar de comprar a vinda de fábricas para Portugal e acabar com as agências especiais para o investimento, então estaremos no bom caminho.

    E quando todas as cabeças iluminadas dos organismos públicos forem para o desemprego decorrente da extinção dos mesmos, essas mesmas pessoas não terão dificuldade em passar a empreededores aplicando todas as técnicas que divulgam.

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  2. "Espero que (...) este caso sirva novamente como exemplo da postura que os responsáveis políticos não devem ter na proximidade de actos eleitorais"???????

    Miguel, andou a viajar outra vez, foi????

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  3. Onde vão já as promessas eleitorais de sócrates.Falar delas não será lá muito mobilizador quando os portugueses as sentem na carne todos os dias.
    Mobilizador seria desmascarar esse embuste em que se tornou a politica de "combate ao Défice".
    senão vejamos:
    Consultados os dados do Orçamento de Estado desde o ano 2005, verifica-se que o aumento de impostos, directos e indirectos, de 2005 para 2008 se cifra em 22,1%, o que corresponde a uma percentagem do PIB de cerca de 4,3%.
    De outro modo, o valor diferencial dos impostos arrecadados em 2008, 36.000 milhões de euros (previsão do Orçamento), face aos arrecadados em 2005, 29.843 milhões de euros, fazem objectivamente baixar o Défice, qualquer que seja o seu valor, em 4,3% do PIB.
    Ou ainda, o aumento de impostos aplicado desde 2005 pela governação Sócrates, mantendo todas as outras condições iguais, isto é sem os ganhos financeiros provenientes dos Cortes Sociais entretanto impostos pelo governo, encerramento de maternidades, Centros de Saúde, SAPs, escolas, aumento das taxas moderadoras e medicamentos, etc, acarreta só por si, uma redução do Défice em 4,3% do PIB.
    Assim, considerando somente as receitas arrecadadas com os impostos previstos em Orçamento, o valor de um Défice hipotético de 6,7% do PIB em 2008, baixaria para um valor de apenas 2,4% do PIB (meta apresentada como um grande feito pelo governo).
    Esta análise, correcta em seus valores e em sua lógica (dados da DGO), revela bem a incompetência, a péssima governação de Sócrates e o embuste do chamado “combate ao Défice” com que vem iludindo a população portuguesa. Só possíveis face à incompetência da nossa Oposição e de uma igualmente incompetente Comunicação Social servilmente enfeudada às directivas do governo.
    Mais ainda:
    Acrescentando a desorçamentação das Estradas de Portugal igual a 0,34% do PIB; as alienações de partes sociais de empresas inscrito no Orçamento de 700 milhões de euros ou 0,46% do PIB e tudo o que mais virá, mas só com isto 4,3% mais 0,8% dá uma folga de 5,1%. Para um Défice aparente de 2,4% do PIB como se propõe o governo basta um Défice Real de 7,5% (a condições equivalentes às de 2005), sem contar com as receitas provenientes dos Cortes Sociais entretanto impostos.


    Relativamente às Despesas com pessoal, verifica-se que face ao congelamento salarial imposto aos trabalhadores da Função Pública, o seu agravamento foi de apenas 3,3% face a 2005 (valores constantes).
    A um agravamento de impostos de 22,1% correspondeu apenas no mesmo período um agravamento da massa salarial da Administração Pública de 3,3%.
    Mas quanto às outras Despesas correntes, pasme-se, o seu agravamento atingiu o valor de 26%, passando de 23.322 milhões de euros para 29.438 milhões de euros. Um agravamento em percentagem do PIB da ordem dos 4%.
    Nunca os trabalhadores da Função Pública tiveram tantas razões para a convocação de uma greve geral como agora.

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  4. (por falta de stock agradeco perdoem a falta de acentos e cedilhas)

    "prometer um determinado nível de crescimento é um perfeito absurdo"

    Faco copypaste da sua afirmacao porque discordo dela.

    Neste seu post observa-se, para alem da classica diferenca de perspectivas do governo, que considera a garrafa meio cheia, e da oposicao, que a considera meio vazia, a uma ideia, muito generalizada, alias, de que e condenavel, por ser demagogico,um governo prometer o que podera nao cumprir.

    Os casos mais salientes sao os objectivos de crescimento economico e de emprego (os mirificos 155 mil empregos durante a legislatura).

    E frequente ouvir-se que nao tem o governo (nem este nem nenhum) capacidade para intervir decisivamente no crescimento economico e no emprego, objectivos que so podem realizar-se no ambito exclusivo das decisoes tomadas no sector privado, ao mesmo tempo que se invectiva o governo (este e todos os outros) pelo facto de a economia nao despertar e o desemprego crescer, absolvendo os privados.

    A proposta de objectivos em termos de crescimento economico e de emprego nao so e desejavel como imperativa, sendo impensavel que um qualquer partido candidato a governar nao concretize as suas ambicoes acerca da materia. Seria impensavel que um programa de governo se limitasse a enunciar que a economia iria crescer e o desemprego decrescer, sem dizer quanto, partindo do principio que nenhum seria suficientemente temerario para apontar o caminho da descida para a economia e da subida para o desemprego.

    Se os objectivos propostos sao inverosimeis ou se as realizacoes ficam aquem do programa apresentdo, compete as oposicoes denunciar a falta de fundamentos dos primeiros e a falha nos atingimentos das segundas.

    Mesmo numa perspectiva liberal maxima que advoga a reducao do Estado ao perimetro minimo, onde o Estado tem pouco mais funcoes que nos guardar as costas, mesmo neste caso alguma influencia tera o governo desse Estado no crescimento e no emprego. O crescimento espectacular da Irlanda nao pode ser creditado apenas a uma extraordinaria conjugacao astral.

    Poder-se-a dizer que, por exemplo, a sorte da economia portuguesa, hoje, depende muito mais do que acontece na China do que de alguma improvavel opcao acertada do nosso Ministerio da Economia. Em todo o caso, nao se resumindo o nosso Estado a funcao de nosso guarda costas nem o governo as impotencias do Ministerio da Economia, a actuacao do governo tera sempre uma influencia decisiva na sorte do barco em que navegamos juntos, mesmo tendo em conta que a mare e comandada pelos mundos a volta e, desta vez, pelo chines em particular.

    Parece, portanto,hoje, pelo menos tao excessiva a promessa do governo em atingir os 155 mil empregos no espaco da legislatura e um crescimento de 2,9 por cento em 2009 como afirmar-se que o governo nao tem, a nao ser por razoes politico-demagogicas, nenhuma capacidade para quantificar objectivos, sejam eles quais forem, se os mesmos nao dependerem exclusivamente da sua directa intervencao.

    Ja me parecem totalmente pertinentes e necessarias as criticas as politicas governamentais que possam ter comprometido a realizacao dos objectivos a que o mesmo se propos, sendo estes aplaudiveis.

    Ja me parecem pertinentes e necessarias popostas alternativas: a reducao da carga fiscal, por exemplo, desde que contemplem as contrapartidas.

    Porque se assim nao for faltarao sempre pecas e o puzzle nao fechara.

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  5. Anónimo19:15

    Caro Rui Fonseca,

    Advogar a diminuição drástica dos apoios directos à economia, incluindo o investimento publico que vise apenas dinamizar a economia por via da compra de bens e serviços, não é querer reduzir o estado ao perimetro mínimo.
    Estou convicto de que:
    1. O estado não tem perfil para identificar os sectores ou as entidades que deve apoiar.
    2. As empresas que interessam ao país deverão ser capazes de sobreviver sem o apoio do estado.

    Relativamente à presença do estado, ela não deve ser apenas na segurança. Ela deve estar presente na defesa, por exemplo, do território comum - as estradas e os rios são bons exemplos e parece que os primeiros estão na mira de algum tipo de alienação.

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  6. Necessario agitador!

    Deve o caro virtual amigo ter entendido a minha redaccao ao contrario (talvez pela falta de acentos e cedilhas) mas eu nao advoguei em materia de perimetro do Estado. O que eu disse, e o agitador pode comprovar, foi que nao concordava com Miguel Frasquilho quando ele diz que " "prometer um determinado nível de crescimento é um perfeito absurdo".

    E eu disse que nao e.

    E nao e porque todo os dias se pedem responsablidades aos governos pelo andamento da economia.

    Ora quando se pedem contas pedem-se relativament a um qualquer objectivo, nao e?

    Alias, ficou para a historia o celebre desabafo de Clinto "E a economia, estupido!". Lembra-se, certamente. Pois e. O governo pode interferir pouco, muito ou nada na economia, mas toda gente se volta para ele mesmo nos casos em que a sua intervencao e realmente muito diluida na economia global.

    Mesmo nos EUA as eleicoes presidenciais perdem-se ou ganham-se geralmente em funcao do andamento da economia.

    Ou nao?

    Pode o governo abster-se de se comprometer com metas nessa area?
    Poder, pode, mas seria imediatamente acusado de falta de compromissos.

    Nao lha parece?

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  7. Anónimo21:29

    Caro Rui Fonseca,

    Tem razão - o meu comentário foi algo desenquadrado.

    Quanto ao tema levantado pelo Miguel Frasquilho, fazer um discurso de promessa ou objectivo de 3% de crescimento faz-me lembrar os objectivos dos treinadores de futebol - ganhar o campeonato e ir à liga dos campeões.
    Eu sei que o povo é o mesmo, mas o país não é só futebol

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  8. Atento Agitador,

    Pois se 3 por cento e um exagero tanto pior para o governo que tera agora de se esticar para la chegar.

    Mas se 3 por cento e um exagero que meta propoe o atento Agitador?

    Que meta lhe parece realista?

    A posicao pela negativa e comoda mas nao ajuda a equilibrar a carga.

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  9. Anónimo13:12

    Caro Rui Fonseca,

    Imagine que o Sócrates tinha apregoado em fase de campanha 2% de crescimento e este valor é atingido. Concluiríamos que governou bem?

    Imagine que Sócrates tinha levantado a bitola para os 4%, passaria o governo a governar mal? E oposição passaria a ter tema de conversa fustigando o governo?

    Parecem-me simplificações características do futebol. Ou se ganha ou se perde, não interessa o desempenho. Penso que as pessoas querem ser confrontadas com ideias e não gostam da ligeireza de tais promessas.

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  10. Não, Agitador, a questão não é atirar um qualquer objectivo para preencher o papel.

    Um objectivo governamental, se ao governo é concedido o benefício da dúvida, tem reflexos importantes nas perspectivas dos agentes económicos.

    2 ou 4% representam objectivos diferentes que induzem leituras diferentes dos diferentes agentes económicos. Não são (não podem ser) uma irresponsabilidade.

    Se o governo se propôs atingir um objectivo de 2% e esse objectivo foi atingido a conclusão é essa: o objectivo foi, objectivamente, atingido. Se governou bem ou mal já é uma consideração subjectiva, que não vem ao caso. Ou virá ao caso na luta política que não conhece muitas vezes qualquer objectividade.

    Não concorda?

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