Às 15 h e 15 m do dia 13 de Novembro de 2002 um velho e inseguro petroleiro, de casco simples, paradoxalmente matriculado Prestige, navegava em grande dificuldade ao largo da Galiza e lançava um primeiro S.O.S..
À deriva durante seis dias, acabou por partir-se originando uma crise ecológica que muitos temeram poder atingir gravemente as águas e o território de Portugal.
Apesar de se ter deixado de falar no Prestige no imediato momento que se percebeu que a desgraça não atingiria a costa portuguesa (para manifesta e indisfarçada insatisfação de quem, do alto dos seus doutoramentos, garantia a pés juntos que a maré negra chegaria à costa alentejana...), a verdade é que os seus efeitos perdurarão por muitos anos.
Alguns deles jamais serão conhecidos como a afectação dos stocks biológicos, afectação que nunca é localizada e se projecta por uma área muito superior à que é directamente atingida. Outros, os efeitos materiais imediatos na redução do rendimento da pesca ou a despesa com a descontaminação de águas e a zona costeira directamente atingidas, estão contabilizados e cifraram-se por muitos e muitos milhões de euros.
O caso do Prestige alertou para os imensos riscos da navegação e para a fragilidade dos sistemas de prevenção e defesa contra este tipo de acidentes.
Sabe-se que nenhum Estado está ou estará alguma vez preparado para fazer face a um desastre ecológico deste tipo. Mas a cooperação internacional nesta matéria, sendo um imperativo uma vez que os impactos não conhecem fronteira, será tanto mais eficaz quanto os Estados se dotarem de meios de vigilância e defesa dos mares.
Portugal, que tem uma costa especialmente vulnerável atento o intenso tráfego marítimo que percorre as suas águas territoriais, mas também porque o mar foi e sempre será um recurso fundamental para o seu desenvolvimento, necessita como nenhum outro de se prevenir e defender.
O dia de hoje será um momento adequado para fazer o balanço do que foi entretanto foi feito.
Espera-se ouvir dos responsáveis da Defesa e do Ambiente mais do que a notícia do adiamento da entrada em serviço dos navios de combate à poluição, com que o Governo em 2002 decidiu equipar a Marinha. Para que se perceba que, nalguma medida, aprendemos com a amarga lição do Prestige.
Oportuníssimo este post, Caro Dr. J.M. Ferreira de Almeida. Não só pelo risco efectivo a que a nossa costa está permanentemente sujeita, como pela época do ano, mais propícia a frequentes tempestades que já teve início.
ResponderEliminarNão faltam exemplos antigos e recentes, que demonstrem aos orgãos responsáveis pela prevenção e controle destas catástrofes, quão urgente se torna activar meios eficazes de combate. Não podemos estar permanentemente sujeitos ao acaso e à desejada protecção divina. Apesar de muito respeitada e requerida essa protecção, compete-nos a nós todos e em especial aos técnicos e conhecedores do meio, reivindicar meios humanos e equipamentos e planos de vigilância, controle e solução para eventuais acidentes que possam ocorrer. Além do mais, sabemos que as alterações climatéricas no globo,apontam para tempestades de dimensões imprevisíveis e que surgem quase de surpresa, não dando muitas vezes tempo para grandes prevenções.
A título de nota, lembro que no caso do Prestige, assistimos ainda a uma mobilização espontânea e activa dos pescadores da Galiza. Tivemos oportunidade de os ver, nas imagens dos telejornais, empenhados em retirar das águas, com o seu esforço pessoal, a maior quantidade possível do crude derramado. Porém, não deixaram de criticar veementemente o governo Espanhol, por não responder com a urgência necessária e com meios técnicos adquados.
Esta consciência popular, no meu ponto de vista é uma das diferenças que caracteriza aquele povo e nos distingue, ditando talvez a diferença que justifica o sucesso da sua economia.
José Mário
ResponderEliminarMesmo perante os grandes desastres as memórias são curtas. Por isso a sua memória é muito bem vinda. Porque como refere o nosso Caro Bartolomeu, Portugal tem uma grande exposição ao mar, mar que constitui uma das suas maiores riquezas. Admito a minha ignorância, mas desconheço totalmente os eventuais planos de contingência para fazer face a situações que periguem a biodiversidade do mar e da costa, bem como ponham em causa a saúde e segurança de pessoas e bens das zonas costeiras.
E não foi hoje que fiquei a saber mais. Não tive notícia de qualquer balanço!