No decurso da Verão li o livro, “O Pecado de Darwin”, de John Darnton, de uma penada. Romance imaginativo, bem escrito e sedutor consegue apreender a atenção de qualquer um, mais pelo enredo do que propriamente pelo conteúdo científico. Um aspecto emblemático do livro prende-se com a descrição da doença de Darwin depois do seu regresso a Inglaterra. As crises que padecia, diversificadas e frequentes, revelam um comportamento depressivo e hipocondríaco muito grave. As causas das suas maleitas têm sido alvo de especulação e de análises interessantes. São várias as explicações para que o cientista adoecesse desta forma relacionando com o longo tempo que demorou a escrever a sua obra prima, “A Origem das Espécies”, precisamente, vinte e dois anos! Interpretações psicanalíticas e conflitos entre a sua educação formal e os achados que estão na base da teoria evolucionista, constituem algumas. Mas há quem aponte outras, também, muito interessantes. É o caso da hipótese de sofrer de doença bipolar ou ter sido vítima de uma picada de um insecto, denominado vinchuca na Argentina ou bicho-barbeiro no Brasil, responsável pela transmissão da doença de Chagas.
Um dos aspectos mais relevantes da personalidade de Darwin, enquanto jovem, prendia-se com um vigor impressionante, ao ponto de surpreender os próprios gaúchos das pampas argentinas. “Nunca se cansava, não perdia o sentido da curiosidade ou o do maravilhoso”. Uma stamina invejável. Há quem coloque a hipótese de sofrer de hipomania substituída mais tarde pela depressão.
Esta abordagem tem como objectivo ilustrar que certas doenças mentais desempenham um papel importante na evolução humana. Desde que não sejam ultrapassados certos limites, a bipolaridade, sobretudo durante a fase de hipomania, pode-se acompanhar de manifestações de criatividade extraordinária. Não há campo do conhecimento humano que não tenha beneficiado desta particularidade, desde a música, passando pela pintura, literatura, poesia, ciência, até à própria politica. Claro que o inverso também pode ser verdadeiro, como é o caso da destruição, das manifestações maléficas, e até de comportamentos genocidas.
No fundo, uma boa dose de “loucura” é benéfica para qualquer sociedade, ao propiciar maior criatividade, ao estimular o desenvolvimento e ao produzir mais riqueza.
É pena que os portugueses não sejam mais “loucos” saudáveis. Convém, no entanto, não confundir “loucura” com tolice, porque o que abunda por aí são tolos, às carradas. Muitos portugueses, também, andam deprimidos o que faz com que a criatividade diminua ainda mais. Neste momento, por exemplo, os utentes do SNS consomem psicofármacos como se fossem tremoços, na ordem dos trinta por cento! Bem precisávamos de uma epidemia de “hipomania saudável”, mas nem vê-la quanto mais senti-la...
Um dos aspectos mais relevantes da personalidade de Darwin, enquanto jovem, prendia-se com um vigor impressionante, ao ponto de surpreender os próprios gaúchos das pampas argentinas. “Nunca se cansava, não perdia o sentido da curiosidade ou o do maravilhoso”. Uma stamina invejável. Há quem coloque a hipótese de sofrer de hipomania substituída mais tarde pela depressão.
Esta abordagem tem como objectivo ilustrar que certas doenças mentais desempenham um papel importante na evolução humana. Desde que não sejam ultrapassados certos limites, a bipolaridade, sobretudo durante a fase de hipomania, pode-se acompanhar de manifestações de criatividade extraordinária. Não há campo do conhecimento humano que não tenha beneficiado desta particularidade, desde a música, passando pela pintura, literatura, poesia, ciência, até à própria politica. Claro que o inverso também pode ser verdadeiro, como é o caso da destruição, das manifestações maléficas, e até de comportamentos genocidas.
No fundo, uma boa dose de “loucura” é benéfica para qualquer sociedade, ao propiciar maior criatividade, ao estimular o desenvolvimento e ao produzir mais riqueza.
É pena que os portugueses não sejam mais “loucos” saudáveis. Convém, no entanto, não confundir “loucura” com tolice, porque o que abunda por aí são tolos, às carradas. Muitos portugueses, também, andam deprimidos o que faz com que a criatividade diminua ainda mais. Neste momento, por exemplo, os utentes do SNS consomem psicofármacos como se fossem tremoços, na ordem dos trinta por cento! Bem precisávamos de uma epidemia de “hipomania saudável”, mas nem vê-la quanto mais senti-la...
Caro massano, o que me parece é que a loucura é cada vez menos apreciada, já não há espaço para "génios intermitentes", ou bem que se trata de uma genialidade cientificamente testada e resistente á provação de muitos anos de dúvidas e suspeitas, ou bem que se catalogam as criaturas como falhadas, ou racistas, ou outros "istas" quaisquer e tudo se apaga num instante. Num tempo em que a criatividade é elevada ao mais alto expoente do caminho para o sucesso, o que assistimos e a uma crescente padronização, há modelos para tudo e quem não quer a esquadria não é reconhecido. Talvez porque se conhece tudo um pouco, as diferenças esbatem-se e a informação substitui a imaginação. Será por isso que se recorre tanto aos anti depressivos? Porque a indiferença substitui a paixão das coisas?
ResponderEliminarCaro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarCompreendo a sua "loucura" saudável! Mas o problema é que estamos rodeados de loucos à solta nas suas plenas faculdades mentais. Uma loucura que nem a criatividade mais vigorosa imaginava ser possível atingir.
A propósito lembrei-me agora do fantástico filme "Os deuses devem estar loucos"! A não perder...
Caro prof,
ResponderEliminarEstou certo que os seus colegas receitam os psicofármacos para combater a galopante epidemia de estupidez. Ontem estava a ver num canal qualquer os "factos" de 2007 e parece-me que o SNS vai ter que reservar para si boa parte da produção mundial...
Neste "Elogio da Loucura" escrito pelo Prof. Salvador, recordo umas palavras de António Lobo Antunes:
ResponderEliminar"É preciso muita coragem para se ser realmente louco."
É isso !
Falta "loucura".
E falta a coragem de o ser ...
Eu gosto de pessoas "loucas".
Serei "louca" ? Não tenho a menor dúvida ...:-)))))
Nota de rodapé - "Loucura" saudável !! Claro !