Há algum tempo, no decurso de uma conferência, terminei a minha apresentação com uma série de fotografias de John Coplans, pintor e fotógrafo, que, a partir de 1978 e durante 23 anos, começou a fotografar o seu corpo, mostrando imagens do seu envelhecimento. As mãos constituiu a sua primeira imagem tendo sido alvo de particular atenção ao longo do tempo. Para este autor o envelhecimento é uma arte e que melhor do que as mãos para o provar?
As mãos servem para tudo, amar, matar, escrever, esculpir, pintar, tocar, falar, insultar, curar, teclar, dançar, criar, destruir, beber, comer, bater, acariciar, rir, chorar e cumprimentar só para falar de algumas! A sua aparência é tão diversificada que basta, muitas vezes, olhar para elas para ler a personalidade, a idade ou a actividade do seu portador, até mesmo nos amputados. Ao apertar a mão, vulgaríssimo acto de saudação, podemos ajuizar muito sobre os nossos interlocutores. Não entrando pelas regras de etiqueta e de cortesia, é conhecido a sensação desagradável transmitida pelos excessos, caso dos quebra-ossos ou dos amanteigados!
Recordo que, em miúdo, algumas pessoas evitavam estender a mão no acto de cumprimentar ficando muitas vezes com a minha estranhamente estendida. Olhava, de imediato para os lados, incomodado pela falta de correspondência, tentando disfarçar o melhor que podia, porque a situação era mesmo embaraçante. Ficava furibundo.
Uma das pessoas que tinha este estranho comportamento era um médico, solteiro, de alguma idade, que usava um chapéu sebento, fato coçado, barba de dois dias e que volta e não volta – várias vezes ao dia - ia ao fontenário da Ponte da Praça ou à fonte do Pistolo lavar as mãos, regressando com as asas abertas e a pingar, porque não as limpava. Nos bombeiros, à noite, ou nas tardes dos Sábados e Domingos, o senhor doutor sentava-se, calado – nem me recordo do timbre da sua voz -, pegava, estranhamente, no Diário de Notícias, com as pontas dos dedos nas curtas margens não impressas e lia-o todo, inclusive anúncios. Assim que acabava de ler, levantava-se e lá ia percorrer umas centenas de metros lavar as mãos nos fontenários. Punha-me a pensar: - Como é que ele observaria os doentes?
Só mais tarde, na faculdade, é que fiquei a saber que o senhor, assim como outros, devia sofrer de uma perturbação obsessiva compulsiva.
Lavar as mãos é uma necessidade imperiosa para todos, como é fácil de compreender, sobretudo para os médicos, ao ponto de ainda há algum tempo o senhor ministro da saúde ter dado um “puxão de orelhas”, quando afirmou que “muitas mãos não são lavadas” e, como tal, seriam responsáveis por muitas infecções hospitalares. Não deixa de ter alguma razão, embora a forma peculiar como se debruçou sobre este assunto tenha originado alguns engulhos.
De acordo com um recente estudo, o risco de contrair uma gripe ou uma banal constipação é muito maior através das mãos do que os tradicionais beijinhos. Sendo assim torna-se necessário evitar os apertos de mãos, procedendo à sua lavagem imediata com sabão ou usar desinfectantes que contenham álcool. Na prática não é muito fácil. Não estou a ver ninguém a dizer para o seu vizinho ou amigo: - Eh pá! Estás constipado?! Não me estendas a mão, dá-me um beijinho! Mas se for a vizinha ou uma amiga, então é certo e sabido: - Já sabe que dar beijinhos é muito menos perigoso do que apertar as mãos? É verdade! Está cientificamente provado.
Imagino o que faria o tal médico da terra se tivesse tido acesso a esta informação! Mas também com a barba de dois dias e sem as “mãos”…
As mãos servem para tudo, amar, matar, escrever, esculpir, pintar, tocar, falar, insultar, curar, teclar, dançar, criar, destruir, beber, comer, bater, acariciar, rir, chorar e cumprimentar só para falar de algumas! A sua aparência é tão diversificada que basta, muitas vezes, olhar para elas para ler a personalidade, a idade ou a actividade do seu portador, até mesmo nos amputados. Ao apertar a mão, vulgaríssimo acto de saudação, podemos ajuizar muito sobre os nossos interlocutores. Não entrando pelas regras de etiqueta e de cortesia, é conhecido a sensação desagradável transmitida pelos excessos, caso dos quebra-ossos ou dos amanteigados!
Recordo que, em miúdo, algumas pessoas evitavam estender a mão no acto de cumprimentar ficando muitas vezes com a minha estranhamente estendida. Olhava, de imediato para os lados, incomodado pela falta de correspondência, tentando disfarçar o melhor que podia, porque a situação era mesmo embaraçante. Ficava furibundo.
Uma das pessoas que tinha este estranho comportamento era um médico, solteiro, de alguma idade, que usava um chapéu sebento, fato coçado, barba de dois dias e que volta e não volta – várias vezes ao dia - ia ao fontenário da Ponte da Praça ou à fonte do Pistolo lavar as mãos, regressando com as asas abertas e a pingar, porque não as limpava. Nos bombeiros, à noite, ou nas tardes dos Sábados e Domingos, o senhor doutor sentava-se, calado – nem me recordo do timbre da sua voz -, pegava, estranhamente, no Diário de Notícias, com as pontas dos dedos nas curtas margens não impressas e lia-o todo, inclusive anúncios. Assim que acabava de ler, levantava-se e lá ia percorrer umas centenas de metros lavar as mãos nos fontenários. Punha-me a pensar: - Como é que ele observaria os doentes?
Só mais tarde, na faculdade, é que fiquei a saber que o senhor, assim como outros, devia sofrer de uma perturbação obsessiva compulsiva.
Lavar as mãos é uma necessidade imperiosa para todos, como é fácil de compreender, sobretudo para os médicos, ao ponto de ainda há algum tempo o senhor ministro da saúde ter dado um “puxão de orelhas”, quando afirmou que “muitas mãos não são lavadas” e, como tal, seriam responsáveis por muitas infecções hospitalares. Não deixa de ter alguma razão, embora a forma peculiar como se debruçou sobre este assunto tenha originado alguns engulhos.
De acordo com um recente estudo, o risco de contrair uma gripe ou uma banal constipação é muito maior através das mãos do que os tradicionais beijinhos. Sendo assim torna-se necessário evitar os apertos de mãos, procedendo à sua lavagem imediata com sabão ou usar desinfectantes que contenham álcool. Na prática não é muito fácil. Não estou a ver ninguém a dizer para o seu vizinho ou amigo: - Eh pá! Estás constipado?! Não me estendas a mão, dá-me um beijinho! Mas se for a vizinha ou uma amiga, então é certo e sabido: - Já sabe que dar beijinhos é muito menos perigoso do que apertar as mãos? É verdade! Está cientificamente provado.
Imagino o que faria o tal médico da terra se tivesse tido acesso a esta informação! Mas também com a barba de dois dias e sem as “mãos”…
Que excelente post aqui nos deixa para pensar, caro amigo! As mãos são de facto uma excelente ilustração dos seus "proprietários" e denunciam muita coisa que a aparência, os enfeites,as cosméticas ou as plásticas conseguem disfarçar! Há quem diga que, carregadas de anéis, mostram insatisfação, as unhas roídas insegurança, a postura dos dedos avareza ou generosidade, enfim, uma infindade de sinais que incluem apossibilidade de ler o futuro nas linhas que já vêm traçadas de origem! A impresão digital, até há bem pouco tempo, era a única forma de detectar a individualidade. As mãos são o espelho da pessoa, o espelho da alma, quero dizer, a beleza das mãos não se avalia como o resto, têm uma leitura própria.
ResponderEliminarQuanto ao asseio, é melhor não divulgar muito, caso contrário ainda se acrescenta uma alínea nas competências da ASAE e temos todos que passar a andar de luvas!
Lindo texto, adorei!
Afinal, caro Professor, devemos concluir que diferentes aspectos, ou sinais exteriores do nosso corpo, são a janela para que consigamos entender o que vai no seu interior?
ResponderEliminar;))
Se não se importa acrescento às "utilidades" que indexa para as mãos, mais três, louvar, ler e escavar.
Não resisto a deixar aqui a minha teoria acerca do aperto de mão. Muito resumidamente, creio que o mesmo remontará aos primórdios da humanidade, talvez até anteriormente ao uso da fala. Nesses tempos o homem (creio eu) entendia-se como percebemos hoje que se processa o entendimento entre os animais. Por sinais, por empatias, talvez até pela acção telepática. No centro da mão e nos dedos estão concentrados um enorme número de terminais nervoso que conduzem ao cerebro um sem número de sensações e "leituras" relativamente a tudo aquilo que tocam. No centro da mão e do pé encontra-se ainda, para além do mapa das linhas que permitem a quem sabe, ler o percurso de vida de cada um, um ponto extremamente sensorial, que se não tivesse perdido a utilidade conforme o homem foi evoluindo e adquirindo presupostos equivalentes ou superiores "dotes" a esses pontos, seria ainda hoje o seu identificativo a todos os níveis, físico e mental.
Mas, esta opinião, nada mais é que uma simples teoria.
Ah, falta-me uma observação interessante: o gesto que ainda hoje é feito quando duas ou mais pessoas se encontram e levantam uma das mãos aberta, com os dedos unidos e a palma voltada para a pessoa que estão a cumprimentar.
Interessante, não acha?
[...]o gesto que ainda hoje é feito quando duas ou mais pessoas se encontram e levantam uma das mãos aberta, com os dedos unidos e a palma voltada para a pessoa que estão a cumprimentar[...]
ResponderEliminarE ... ?
e...
ResponderEliminarApetece-lhe especular um pouco, pézinhos?
Então comecemos, pé ante pé, que é como quem diz, um pé à frente do outro.
Quando não exitiam ainda os países, mas sim as tribos nómadas, que emigravam de acordo com os movimentos dos animais que caçavam para a sua alimentação e essas tribos, muitas vezes desconhecidas umas das outras se cruzavam, supõe-se que o primeiro gesto, quando desejavam demonstrar intenções pacíficas, era precisamente erguer a mão aberta com a palma virada para a frente e os dedos unidos. Imagino que conheça este sinal, assim como qual das mãos era levantada.
Porém, a mão aberta, com os dedos mindinho e anelar unidos e afastados dos restantes, adquiriu posteriormente um outro significado.
Agora é a sua vez de especular, tenha a bondade...
;))
ohhhhhhh, eu só estava a tentar perceber, porque seria interessante, para o Caro Bartolomeu, a posição da mão conforme descreveu.
ResponderEliminarnada mais.
pouca coisa, portanto !...:-)))
Este texto está magnífico.
O corpo (humano) "fala".
Logo, as mãos também.
Quando conheço alguém, talvez o primeiro pormenor físico que procuro, são as mãos.
Faço-o discretamente. Mas faço.
E os pés ? Serão mais ou, ... menos importantes que as mãos ?
O pé também "fala" ...
Sem dúvida que sim!
ResponderEliminarAfinal, o pé é o suporte de toda a nossa estructura física.
Diz-se que a forma como se utilizam os pés ao andar, determina diferentes aspectos da nossa personalidade. Uma passada regular, ritmada, em que o pé é assente direito, reflecte determinação de carácter, por exemplo.
Na optica de um clínico, a forma da passada, servirá certamente para identificar problemas, ou a ausência deles, no que respeita à estructura ossea, sobretudo a da coluna vertebral e bacia.
Mas e ainda, não nos podemos esquecer que as extremidades pedúnculas, são aquelas que nos mantêm em contacto permanente com a terra, por onde recebemos a energia que dela emana, ou seja a energia telúrica e, como bem sabemos, por onde se descarregam os picos de energia electrica acumulada.
Ou... não gravitamos todos em campos magnéticos?
;))
Caro Professor Massano Cardoso
ResponderEliminarGostei muito do seu texto!
Que bonito admirarmos as nossas mãos pela expressão que transportam das múltiplas facetas das nossas vidas e pela carga das marcas de sentimentos e afectos que reflectem.
As mãos são sempre belas porque é através delas que sentimos algumas das coisas mais maravilhosas da vida...