Nas previsões económicas ontem divulgadas, o BdeP aponta para o corrente ano uma taxa de inflação superior em 0,3 pp à que tinha sido anunciada pelo Governo: 2,4% é a taxa prevista pelo BdeP.
Erro claro.
O BdeP parece não ter ainda interiorizado a noção de que a inflação deixou de depender da evolução dos preços em Portugal: é fixada pelo Governo no início do ano e é inamovível nesse período, qualquer que seja o comportamento dos preços.
Assim, fez bem o Ministro Manuel Pinho em ter dito ontem que apesar de o BdeP anunciar uma inflação mais elevada, ele continuava convencido de que ela não seria superior aos 2,1% já fixados pelo Governo.
Julgo que esta inovação tem inegáveis vantagens: (i) reduz a incerteza económica, estimulando as decisões de investimento; (ii) pacifica as relações laborais, uma vez que se torna muito mais fácil ajustar as remunerações a uma inflação certa, que não admite revisões; (iii) agiliza os mecanismos de fixação de preços na medida em que estes, deixando de ter qualquer impacto sobre a inflação, também não constituem motivo de preocupação para as Autoridades que perdem a tentação de travar os preços, em especial os que ainda estão sujeitos a decisão administrativa.
No cenário pouco risonho que se desenha para 2008 e que a derrota de ontem, embora por escassa margem, de Barack Obama no New Hampshire veio tornar ainda mais lúgubre, esta inovação portuguesa que permite esterilizar os efeitos das variações de preços sobre o nível da inflação constitui uma das poucas notícias agradáveis.
Não será também possível conseguir um mecanismo semelhante para o PIB, tornando o respectivo crescimento insensível, por exemplo, às variações da conjuntura externa?
Talvez que, com algum esforço de investigação, se consiga lá chegar.
Então sim, teríamos motivos para nos tranquilizarmos ainda mais.
Eu até acrescentaria alguma sofisiticação a esta nova "framework" de previsão macro-económica alargando-a para 15 anos, o que permitiria planear convenientemente os recursos num prazo razoável e estabelecer objectivos de produção. Assim, a poupança nos gastos políticos seria também considerável, uma vez que não faria sentido andar a trocar de governantes em prazos inferiores ao horizonte temporal da previsão. E, para sublinhar o espírito inovador da coisa, chamar-lhe-ia "Plano Quinquenal"...
ResponderEliminarCaro Tavares Moreira:
ResponderEliminarJá há bastante tempo que o PIB é um dado e matéria não discutível para economistas bem informados e comentadores mediáticos.
Agora, parece ter chegado a vez da inflação.
Os grandes estadistas e os grandes governos dominam os acontecimentos e não são arrastados por eles.
Caro Tonibler:
Ora aí está está uma contribuição teórica relevantíssima no domínio das ciências económicas e com possibilidade de aplicação prática de imediato. Desde a concepção ao título, brilhante!...
Um Plano quinquenal a 15 anos vai dar Nobel pela certa!...
eheheh, isso ficou com um algarismo a mais, mas assim ficou melhor!
ResponderEliminarCaros Pinho Cardão e Tonibler,
ResponderEliminarParece-me que essa leve desconjunção do Tonibler se ultrapassa com a proposta de um Plano Quinquenal prorrogável por iguais períodos.
Acresce que esta novidade - avançada pelos nossos "media" com o conforto científico do marketing oficial - de uma taxa de inflação perfeitamente imune às variações dos preços, até permite Planos Económicos de duração bem mais longa sem o risco de as "variàveis" sofrerem qq variação...
Essa sim, é uma grande inovação: as "variáveis" económicas podem agora assumir valor fixo por decisão da Autoridade, sem sofrerem as consequências nocivas da lei da oferta e da procura.
Esta inovação poderia fazer um "jeitão" a Mugabe, pois li há poucos dias que a inflação no Zimbabue teria ultrapassado 40.000% este ano...é claro que impulsionada pelos preços, coisa que entre nós, felizmente e a partir de agora já não pode suceder.
Li o post original do Dr. Tavares Moreira. Li o comentário do tonibler e tive a leve sensação de que me leu o pensamento. Depois desenganei-me. Realmente todos já vimos esta coisa das fixações de índices por decreto nalgum lado. Algures ali para Este da Alemanha, parece-me!
ResponderEliminarPorque será que eu tenho a leve impressão de estarmos nos extremos da esquizofrenia total? O total alheamento da realidade com consequente formação de uma realidade ilusória paralela que, na cabeça de quem a forma, passa a substituir a realidade real?
Tempos estranhos estes...
Lúcida observação, caro Zuricher!...
ResponderEliminarIf this is a blessing, it is certainly very well disguised !!
ResponderEliminarPodem agora passar o ..."Yes,Prime Minister...", por favor?? Obrigado.
Fernando Antolin
ó Dr. Tavares Moreira, então !!!
ResponderEliminarA Hillary está a ganhar pontos ...
:-)))
Cara Pèzinhos,
ResponderEliminarNão me fale na Hillary - tal foi o desgosto que senti quando acordei a meio da noite de 3ª para 4ª, liguei a CNN e...já não consegui dormir mais...
Porque não se regozija com esta grande inovação da política económica em Portugal, em vez de me falar na Hillary?
Não vê que estamos a fazer história, pela primeira vez, em matéria de ciência económica?
Conseguimos separar inflação e preços, de tal modo que a primeira deixa de sofrer a nefasta influência dos segundos?
Que dirá Paul Samuelson a esta inovação?
Provavelmente não vai querer acreditar...vamos ter de lhe mostrar (alguém do marketing oficial) que é assim mesmo, que não pode ter dúvidas!
Reparou na segurança com que Manuel Pinho declarou que a inflação não iria além dos 2,1% previstos (fixados, betonados)pelo Governo, sem qq preocupação com o valor mais elevado do erro de previsão do BdeP?
Não é isto um benefício imenso para a condução da política económica e social em Portugal?
Não quer pronunciar-se sobre isto?
Perdoe-me a "distracção" Caro Dr. Tavares Moreira, realmente não me tinha apercebido deste "novo paradigma" da ciência económica:
ResponderEliminar- A inflação deixou de depender da evolução dos preços, sendo determinada por fixação de um indíce, através de decreto-lei.
Fantástico !!!!
Só mesmo de quem (também) considera os salários baixos portugueses, uma vantagem competitiva para o Investimento.
Tudo "bons exemplos" de que afinal é o Homem que serve a Economia, e não ... a Economia que serve o Homem.
ironizo....
PS - Faço votos de que Hillary não lhe "retire" mais horas de sono.
os meus sinceros cumprimentos.
Cara Pèzinhos,
ResponderEliminarAgradeço seu "PS" em defesa do meu sono...por isso e para retemperar forças, estou preparado para, neste fim de semana, rumar de Lisboa até Montalegre, com escala técnica no Porto, a fim de participar, mais uma vez, na famosíssima Feira do Fumeiro...
Confraternizar com alguns Amigos, incluindo ilustres Montalegrenses e o ultra-famoso Pinho Cardão, tem o condão de nos fazer esquecer, por algumas horas pelo menos, estas más disposições que a política americana nos arranja...
Acredite que simpatizo mesmo bastante com a mensagem do candidato Obama e não apenas pela circunstância de ter um Amigo - António Sampaio e Mello - envolvido da candidatura.
Vi hoje na RTP a referência à Feira do Fumeiro, em Montalegre, ... e salivei.
ResponderEliminarEntretanto, "espreitei" o site da C M de Montalegre, que tem umas fotografias muito bonitas.
Bons momentos "por aí", Caro Dr. TM !