Começo por confessar que ando tão descrente... que a única voz política que me apetece ouvir é a do Presidente da República.
Estou mesmo convicta de que, actualmente, é a única voz audível (porque credível) deste nosso querido País.
Mas é pena, porque quando um Povo se sente alheado, distante, sem se rever em lideranças, porque nelas já não acredita, prevê-se um futuro morno, num tipo de gestão imediata e de técnica de "navegação à vista".
O Presidente falou para os portugueses o entenderem, aliás, falou pela voz dos portugueses com quem tem contactado por esse País fora, apontou as mesmas preocupações e apontou os mesmos problemas por resolver!
Lembrei-me dum Sermão do Padre António Vieira que reza assim: " uma das cousas de que se devem acusar e fazer grande escrúpulo os ministros é dos pecados do tempo, porque fizeram no mês que vem o que se devia fazer no passado; porque fizeram amanhã o que havia de se fazer hoje; porque fizeram depois o que se havia de fazer agora; porque fizeram logo o que haviam de fazer já...e o tempo não tem restituição alguma."
Disse, por exemplo, o Presidente que " seria importante que os Portugueses percebessem para onde vai o País em matéria de cuidados de saúde; que o acesso aos cuidados de saúde é uma inquietação de muitos Portugueses que não estão seguros de que os utentes, principalmente os de recursos mais baixos, ocupem, como deve ser, uma posição central nas reformas que são inevitáveis para assegurar a instabilidade financeira dos serviços de saúde."
Daqui se depreende que o Presidente entende que estas "reformas são inevitáveis" mas não sem que, em cada situação, se explique com verdade às pessoas quais as actuais dificuldades, porque são necessárias as mudanças, com que garantias elas se vão executar e que benefícios delas virão a colher as populações. (exactamente aquilo que a Margarida Corrêa de Aguiar defende no post a que chamou "Falar verdade não é impossível, é necessário...")
Já aqui defendi os encerramentos dos chamados SAP's que foram uma aberração quando criados, consumidores de recursos, incapazes de acudir a uma situação verdadeiramente grave, contribuindo muitas vezes para reais perdas de tempo, numa escala escusada que terá de culminar no hospital.
Mas o Governo prometeu soluções alternativas, antes de os encerrar e não cumpriu cabalmente; portanto, onde não cumpriu...não devia encerrar !
Antes de encerrar urgências de alguns hospitais concelhios e maternidades prometeu garantir reforços na área do socorro pré-hospitalar; o Governo prometeu, mas não cumpriu...não as devia encerrar!
Foi a estas situações que o Presidente da República se referiu ao alertar ser "importante que os Portugueses percebessem para onde vai o País em matéria de cuidados de saúde..."
E os Portugueses só não percebem porque quem é que percebe quando olha... e vê pôr uma carroça á frente duns bois?
Que todos, especialmente todos os que "ajudam" nesta 4R, tenham um melhor 2008!
Desejo-o, muito sinceramente e com amizade.
Falou o presidente da república na sua mensagem de ano novo do ano passado, em 4 de Janeiro, que esperava resultados concretos em 2007 das políticas e das “reformas” de Sócrates, no campo da Educação, Justiça e da Economia.
ResponderEliminarEsgotado o ano:
- O poder de compra dos portugueses registou uma quebra no ano passado, tendo descido para os 75% da média europeia, contra os 76% verificados em 2005. Segundo os dados divulgados pelo Eurostat, Portugal encontra-se já abaixo da Eslovénia e da República Checa, estando a Grécia bastante acima do nosso país (98%).
- O indicador de confiança dos Consumidores continuou a descer em Novembro, registando o valor mais baixo desde Fevereiro de 2006, de acordo com os dados divulgados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
- Segundo os dados do Eurostat, no terceiro trimestre de 2007, o PIB na UE(27), em relação ao trimestre anterior, aumentou 0,8%. Relativamente ao trimestre homólogo do ano anterior o PIB na EU (27) cresceu 2,9%.
Em Portugal, no terceiro trimestre de 2007 e em relação ao trimestre anterior, o PIB cresceu 0,0% isto é, estagnou. Quanto ao crescimento homólogo do trimestre do ano anterior não foi além de 1,8%, muito aquém portanto da média europeia (2,9%).
- As exportações para países fora da União Europeia caíram 5,3% em Agosto, registando a primeira descida mensal em pelo menos 12 meses, divulgou o Instituto Nacional de Estatística.
- Portugal está menos competitivo no xadrez económico mundial. Desceu dois lugares, de 37.º para 39.º, na tabela da competitividade, elaborada pelo Institute for Management Development (IMD).
- Portugal diminuiu o seu índice de “desenvolvimento humano” ao cair uma posição, situando-se agora em 29º lugar no ranking das Nações Unidas que analisou dados de 177 países. Na Europa fomos ultrapassados pela Eslovénia, Grécia e Chipre. Atrás de nós apenas a Hungria, Polónia e Bulgária.
- Desde que o actual Governo, liderado por José Sócrates, tomou posse, em Março de 2005, Portugal perdeu 167 mil postos de trabalho qualificados (INE).
- Pelos dados do Eurostat hoje divulgados, verifica-se que a taxa de desemprego da EU(27) foi de 6,7% em Agosto de 2007 quando em Agosto de 2006 era de 7,8%, baixando portanto, em apenas um ano, de 1,1%.
Portugal no entanto, não contribuiu para esta descida. Ao contrário, contrariando a UE, Portugal subiu no mesmo período a Taxa de desemprego de 7,5% para 8,3%, sendo a variação mais alta entre todos os países da UE.
Na mensagem do novo ano de 2008
“Cavaco Silva mostrou-se parcialmente satisfeito com a resposta dada os desafios lançados no ano anterior e eram eles o desenvolvimento económico do País, e as reformas da Educação e da Justiça.
Cavaco reconheceu melhoria do crescimento da economia e progressos no controlo das finanças públicas.
Todos gostaríamos que a evolução da situação económica e social do País tivesse sido mais positiva e que os sinais de recuperação fossem agora mais fortes". (DN)
Dr.a Clara, os portugueses, esses que têm de suportar horas de viagem até ás urgências e ás maternidades, aqueles que correm hoje mais riscos e pressentem que as suas terras empobrecem, esses não percebem as chamadas reformas da saúde e a sua necessidade.
ResponderEliminarMas, confesso-lhe com toda a franqueza, os portugueses porventura também não percebem se o senhor Presidente da República as percebe.
Porque se percebe e politicamente as aceita, então o problema é meramente processual e acessório. Isto é, a censura vai para a falta de jeito do governo em as explicar, não para os efeitos e para a substância das medidas.
Penso de maneira diferente. Penso que estas reformas são profundamente injustas e errada. Fazem parte do PDEC (Processo de Desertificação Em Curso) e tem uma justificação que não posso aceitar como não aceito com facilidade todas as soluções eminentemente ditadas por razões económicas ou financeiras.
Fecham-se serviços essenciais de saúde com o fundamento de que não há pessoas que justifiquem o seu funcionamento. Mas decide-se isso consciente de que sem esses serviços essenciais não há população que se fixe nesses locais.
Pelos vistos, governo, PS, principal partido da oposição e não sei se também o senhor Presidente da República, estão de acordo com a "necessidade" e a "inevitabilidade" das reformas.
Também eu, como a Dr.a Clara, estou cada vez mais descrente. Como muitos portugueses que vêem morrer a esperança em cada dia que passa sentindo na pele os efeitos da "necessidade" e da "inevitabilidade" das reformas.
Sobretudo porque me pergunto, sem resposta, para onde vão, afinal, os muitos milhões de euros de impostos que o governo se vangloria que cobra mais, e os outros tantos que diz que poupou e continuará a poupar, já que, com se vê, não são investidos na solidariedade para aqueles que menos oportunidades têm.
Clara
ResponderEliminarAntes de mais, desejo-lhe com toda a amizade um Bom Ano 2008.
Importante reflexão a sua, sobre um tema tão essencial ao desenvolvimento do País.
A política da saúde é desconcertante e angustiante!
Há certamente muitas coisas erradas no modelo de funcionamento e financiamento da saúde que precisam de ser corrigidas. Mas a gestão pública da saúde não se pode reger por princípios unicamente economicistas. Há outras questões que se colocam tanto ou mais importantes.
Queremos ou não desenvolver as regiões do interior do nosso País? Queremos ou não promover o investimento e emprego nessas regiões? Queremos ou não povoar e fixar pessoas nessas regiões? Se os cuidados de saúde não são assegurados com um padrão de qualidade e de segurança aceitáveis quem é que vai querer viver aí? É no mínimo desconcertante!
O encerramento de maternidades, de urgências e outras unidades de saúde sem verdadeiras alternativas, colocando as pessoas a dezenas de quilómetros dos cuidados de saúde sem os necessários apoios é naturalmente muito angustiante!
Não se percebe para onde é que vamos. Não há uma estratégia, não há opções bem definidas que evitem o jogo do avança-recua ou do pára-arranca, há uma insistência doentia na prestação de cuidados de saúde através de serviços públicos, os cidadãos mais vulneráveis e com menores recursos têm enormes dificuldades em resolver os seus problemas de saúde num tempo aceitável e com o necessário conforto e qualidade, etc.
É confrangedor que estejamos há dezenas anos a fazer "reformas" sem resultados... Sem um serviço de saúde de qualidade e sustentável!
Falar verdade é mesmo necessário, porque a mentira começa mesmo a estar esgotada...
Cara Clara,
ResponderEliminarSempre fui da opinião que um Presidente da República é um pouco como aquelas luzinhas verdes que indicam as saídas. Nunca damos por elas, passamos sem as ver e, idealmente, nunca precisaremos de as ver. Mas quando tiverem que exercer as suas funções, devem estar lá, para indicar o caminho entre o fumo e as chamas, levando as pessoas para a saída.
Aníbal Cavaco Silva consegue ser, com meio mandato, e na minha opinião, o maior erro do eleitor português desde o 25 de Abril.
Cara Drª. Clara, agradeço-lhe e retribuo os votos expressos de um bom 2008. Sem que saiba em concreto aquilo que estou a desejar, mas fazendo fé na plácida tradição "desde que haja saúdinha, da boa".
ResponderEliminarEste imenso e pasmado rebanho, que vai retoiçando as escassas ervas secas, já não acredita no pastor que o apascenta. Tal como na fábula do pastor e do lobo, este que deriva o rumo do rebanho, para a boca do lobo, vai no entanto garantindo às ovelhas que o lobo não está ali para as comer, mas sim para as engordar.
Cara Drª Clara, não estou tão certo como a Senhora, se o Sr. Presidente da República está a ser bem compreendido, ou simplesmente compreendido nas advertências proferidas e nos "concordo" às opções governamentais, pelo povo que o elegeu.
Mea culpa mea culpa...
ResponderEliminarSubscrevo o comentário do caro tonibler, mas não culpo os eleitores por este "fiasco".
Com efeito, tudo indicava que o Professor Aníbal Cavaco Silva fosse o homem certo para o lugar, mas pelos vistos não...
Em minha opinião, se me permitem, é uma personalidade muito parecida com o Drº Jorge Sampaio. Quero com isto dizer, que tem muito daquele estilo: peço desculpa por ser presidente...
Lamentavelmente, vou ter de me juntar às vozes dissonantes. Face ao cenário catastrófico, aliás muito bem descrito pelo Ruy, não é aceitável que um PR venha apelar à compreensão (no sentido de perceber para onde caminha o SNS) dos portugueses.
ResponderEliminarTudo o que actualmente sabemos é que estamos a pagar mais por menos e piores serviços.
Concordo muito, com o comentário do Caro Dr. J Ferreira de Almeida.
ResponderEliminarDe facto alguém anda mal informado:
- os utentes dos SNS ?
- o ministro da saúde?
- o PR ?
Independentemente das limitações óbvias dos Sap's, este tipo de serviço representa o primeiro apoio, a primeira triagem, que está ali "à mão". E que será muito importante, para as populações do interior, do Portugal Profundo.
Questiono-me sobre a qualidade técnica dos estudos junto das populações, anteriores a certas decisões na área da saúde, serem tomadas. Se é que tais estudos serão realizados !?
Mas acredito piamente que quando um autarca entrega uma providência cautelar no tribunal, para interromper o processo de encerramento de um SAP, está a ir ao encontro da vontade dos seus municípes.
Bem, pelo meu post já se percebeu a confiança que eu tenho neste PR! Por motivos vários mas tb porque, nestas suas funções, me transmite uma sua preocupação (central) de ajudar o País, cooperar...até vêr, não bloquear, não criar mau relacionamento...até vêr, não se atravessar no caminho...até vêr; fazer pedagogia, chamar a atenção, estimular, promover, agregar....enfim podia estar aqui até ao fim do dia, pq a língua portuguesa (mesmo pós-acordo) continuará a ser mto rica...
ResponderEliminarPor isso, caros Tonibler, Invisível, Anthrax, prezo mto os votos comentários, mesmo mto, mas calma...a procissão ainda vai no adro! (mesmo dentro do cenário catastrófico e real que o Ruy nos traça)
Pode ser que eu esteja enganada mas, à data de hoje, ainda é esta a leitura que faço; oxalá não me forcem a mudar de ideias, com a próxima mensagem, no próximo 2009!Porque, senão, fico sem uma luzinha aonde me "alumiar"...
A Pézinhos n'Areia não devia "acreditar piamente" nos Autarcas, como já aqui discutimos, há situações e situações e o que eu critico é alguma cegueira na uniformidade de critérios, critico quando se trata igual o que é diferente. Tenho situações no distrito de Setubal que acompanhei quer como deputada, quer agora como autarca no Seixal,de encerramentos de SAP's com melhorias para as populações; há posições eleitoralistas tomadas pelas autarquias que são só para a fotografia...por ex, a autarquia do Seixal propos-se trabalhar em conjunto com a direcção dos centros de saúde locais, no terreno, procurando soluções de proveito para o concelho; tb se manifestou, aliás a autarquia é PC, não é PS, mas depois arregaçou mangas e foi ao trabalho!
Mas o Seixal não é o Portugal profundo e a receita do Governo não pode ser "chapa zero", aí sempre estive de acordo!
Olhe a mim, já nem o PR me apetece ouvir. Até Cavaco já se deixa cair na demagogia dos salários dos gestores e está parcialmente satisfeito com os resultados. Pois eu acho que os resultados são miseráveis. Até os que parecem bons resultam de um inqualificável "cooking the books" que faz de Santana Lopes um mago das finanças.
ResponderEliminarNão bastava a miséria de governo, a inutilidade do PR e agora o fascismo higiénico.
Olhe, Dra. Clara Carneiro, este rectângulo está tão abjecto que a única coisa que me diverte é o Vasco Pulido Valente.
Eu queria desejar-lhe e desejar-nos um excelente 2008, mas temo que esse desejo seja tão realizável como ganhar o Euromilhões.