terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Determinismos

O rio corre, bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Fernando Pessoa, Poesias

Neste fim de semana, para alguns prolongado de descanso, ouvi pela enésima vez repetida a ideia de que é fatal como o destino que este governo, por seu demérito, cairá por si, de maduro. E daí que não vale a pena ao líder da oposição empenhar-se no que é suposto que faça: criar a convicção nos eleitores, daqui a ano e meio chamados a julgar, de que as suas propostas são melhores do que o projecto que o governo tem para o País.
Constato que há muito quem pense que basta ao líder de oposição aguentar-se no posto. Caído o governo em auto-desgraça, chegará, assim naturalmente, sem esforço nem prematuro desgaste, a sua vez.
Criou-se em muitos círculos esta ideia de que na democracia rege uma lei que determina que os governos não caiem por acção da oposição, caiem após passarem da fase do cansaço à da exaustão, ou então corroídos pelas intrigas partidárias que vão fertilizando à medida que o tempo passa.
Esta concepção determinista da política nacional assenta no pressuposto de que a liberdade dos portugueses é proporcional à falta de uma inteligência colectiva, incapazes por isso de julgar na mesma medida quem governa e quem se propõe governar.
Nada de mais enganador.
Equivoca-se e pagará por isso quem pensa que os eleitores não julgam também os que não criam a convicção de que mudar significa melhorar.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Idem

3 comentários:

  1. Cairá, cetamente que sim,
    não por desmérito ou usura
    Cairá porque o desmando tem um fim
    e não porque a oposição tenha tesura

    E creia meu caro Ferreira de Almeida...

    que se este povo amasse a liberdade
    e não o cinismo a emntira, a imbecilidade
    se este povo lutasse e exigisse a verdade
    não teria nunca, deste governo necessidade

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  2. Concordo consigo, caro Ferreira d'Almeida e além disso, não percebo como é que quem pensa que basta ser medíocre não tem vergonha de o manifestar.

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  3. Se os eleitores interiorizassem que -mudar é ficar na mesma-, estou convencido que a democracia estaria à beira do fim...

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