sábado, 2 de fevereiro de 2008

Evil Machines


"La science et la technologie apportent des réponses qui, de plus en plus, contrarient ce que disent nos sens et notre esprit" Ollivier Dyens "La Condition inhumaine" (citação do jornal Le Monde de 27 de Janeiro)

Fui ver o Evil Machines ao S. Luiz e não achei nada de especial, nem a música de Luis Tinoco nem a história de Terry Jones, apesar da notável imaginação na criação dos figurinos, os aspiradores, a máquina de lavar, a batedeira… Pareceu-me o tema um pouco trapalhão, aquela imagem das máquinas a querer dominar o mundo instigadas por um cientista que afinal era o robot feito à imagem e semelhança do seu criador, com a sua inteligência mas sem emoções, que tinha neutralizado o seu criador e tomava agora as rédeas do seu destino, virando-se contra os humanos..
Nem teria referido esse espectáculo se não tivesse lido hoje no Le Monde – nem de propósito!, - uma entrevista com o título “La Revolution Inhumaine” em que o Prof.Ollivier Dyens, da Universidade de Concórdia (Montreal) afirma que o poder da tecnologia digital vai mudar a percepção que temos do ser humano e que as máquinas vão dominar as criaturas.
Até agora, sempre se considerou que as máquinas existiam para responder às necessidades humanas, para lhes facilitar a vida e que, por isso, eram utilizadas e controladas nessa medida. Mas a crescente interacção biologia/tecnologia leva a que as máquinas se assemelhem cada vez mais às pessoas, são feitas à sua imagem e tentam reproduzi-la de modo cada vez mais perfeito, cada vez mais “vivo”, até que um dia se vão confundir, homens e máquinas, ficando aqueles na dependência ou sob o domínio do funcionamento destas.
Um exemplo desse domínio, diz o entrevistado, já é o caso do “Bug do ano 2000”, em que o mundo humano ficou simplesmente suspenso do modo imprevisível como as máquinas iam reconhecer os 3 zeros e provocar ou não uma catástrofe. Os meios afectos a tentar prevenir ou controlar os eventuais estragos foram gigantescos, mas afinal não houve problema nenhum.
Chegou-se, assim, a um ponto em que os conhecimentos incorporados nas máquinas são tão complexos, tão diversos e tão difíceis de seleccionar depois de conjugados, que se perde o poder sobre a máquina e ela pode agir como ser autónomo. “A tecnologia força-nos a redefinir o nosso lugar na hierarquia planetária. A situar-nos já não no topo da pirâmide mas numa dinâmica que tenha em conta que as máquinas são parte integrante da espécie humana. ”, diz O.Dyens.
Caso não se tenha isso em conta, diz o autor, corremos o risco de ver subvertidos os nossos valores, entramos num mundo de alienação pelo conhecimento, ou seja, somos dominados pelo saber disponível porque a cultura gerada pelas máquinas é muito superior à que conseguimos apreender, à semelhança de uma onda cuja massa conseguimos apenas “surfar” ou seja, tocar a superfície, mas que pode afogar-nos se mergulharmos nela.
Esta “condição inumana” tem virtualidades, porque estas tecnologias, como a Web, permitem a relação entre as pessoas, aproximam-nas e deverão conduzir a um menor impulso bélico ou destrutivo dos outros. Esta convivência planetária abre um plano de comunicação nunca existente, criando novas formas de inteligência colectiva que legitima os que estiverem “hiperligados”. O azar é que não reconhece os que ficarem fora dessa coerência global…
Afinal, o enredo de Evil Machines é para levar a sério!

3 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Cara Dra. Suzana Toscano:
    Concordo que a interacção homem/máquina tornou, de certo modo, o homem “dependente” da sua própria criação.
    É impensável nos dias de hoje, o mundo desenvolvido funcionar sem as maravilhas da tecnologia, nomeadamente os robots, os computadores, os lasers, e um sem fim de equipamentos que tornam o dia-a-dia mais confortável e, sem dúvida, muito mais agradável.
    É interessante verificarmos que já nos habituámos à criação” vertiginosa de novos produtos, sem pestanejarmos, sem esboçarmos sequer um gesto de admiração, e sem nos apercebermos que a realidade parece ultrapassar a própria ficção!
    Por isto, tudo será possível num futuro talvez não muito distante…
    Pelo sim pelo não, o melhor é mantermo-nos “ligados”, não vá alguma "evil machine" criar vontade própria…

    :))))

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  3. Caro Invisível, só agora reparei que a minha resposta ao seu comentário não tinha ficado gravada...espero que não seja já a máquina a fazer a sua selecção por não gostar do tema!
    Pois o que lhe dizia era que não creio que dependa de nós ficarmos ligados ou desligados, acho que em breve quem não estiver "in" é como se estivesse condenado ao ostracismo,uma morte civil,auto banidos da sociedade. No entanto, li há poucos dias que há cada vez mais gente a procurar a vida simples, fora das tecnologias, das modernidades, do consumismo e das grandes cidades. Talvez pegue a moda e afinal haja um mundo a crescer mais à nossa dimensão, quem sabe?

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