segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Outra vez na cauda da Europa...

Em Portugal, um quinto das crianças está em risco de pobreza. Portugal é o segundo país da União Europeia onde o risco de pobreza infantil é maior (pior mesmo, só a Polónia). A situação piorou desde 2004.
Esta pobre realidade está retratada num Relatório da Comissão Europeia hoje divulgado. Este retrato não apanhou de surpresa o País! Sentimos, percebemos, desconfiamos, suspeitamos, temos a certeza que por entre as famílias que nos rodeiam, nos bairros, nas vilas e nas cidades, há pobreza, ainda que, porventura, não contactando directamente com ela, ela está lá, silenciosa, envergonhada, discreta, disfarçada, escondida. Onde há pessoas, há crianças. Elas também estão lá.
Se os números e as estatísticas para alguma coisa servem é justamente para confirmarem o que muitas vezes aparentemente não se vê. O Instituto Nacional de Estatística tinha divulgado em Janeiro passado indicadores graves sobre o risco de pobreza e sobre a desigualdade dos rendimentos monetários aferidos ao ano de 2006: a população residente em situação de risco de pobreza era de 18% em 2006.
Este massacre de pobreza que rouba às crianças a possibilidade de serem crianças e condiciona o seu futuro como adultos é desesperante e deve ser motivo de tristeza.
Vivemos num País que não assegura os mais elementares direitos das crianças. Não podemos, ano após ano, constatarmos que não fomos capazes de atacar o problema e que os esforços para reduzir a pobreza infantil não foram suficientes. E, também, não devíamos, ano após ano, anunciar que foram tomadas todas as medidas necessárias para combater o fenómeno e que agora, sim, é que a situação vai melhorar.
Sejamos sérios e procuremos saber onde é que estão os erros cometidos e que medidas correctivas poderiam ser introduzidas nas actuais políticas de protecção social, num contexto de políticas fiscais sólidas, de modo a combater e a prevenir com maior eficácia a pobreza infantil. Discutamos estes assuntos com a mesma intensidade com que discutimos os “aeroportos” deste pobre País.
Ao escrever este pequeno texto, fui-me questionando sobre se alguém sabe, partindo do princípio que os nossos governantes e políticos sabem, quais são as medidas em vigor que incidem sobre as crianças mais desfavorecidas e sobre os resultados que se esperam em concreto atingir? Porque eu não sei, devo andar muito distraída!

4 comentários:

  1. Anónimo23:48

    Margarida:
    Este País anda demasiado distraído com os escandalos, os reais e os virtuais. As políticas - ou a falta delas - direccionadas para a protecção dos mais fracos pouco interessam.
    Nao sei se o estudo da Comissão é rigoroso na análise deste problema e nos resultados que alcançou. Sou sempre muito céptico quanto à exactidão destes rankings. O que eu sei é que o drama da imensa pobreza existe, pouco me importando saber se na lista somos os primeiros ou os últimos da Europa ou ficamos no meio. O que releva é a realidade, cada vez mais evidente e desonrosa, de um Pais muito desigual e só solidário no discurso.
    Quando cheguei a casa apanhei ainda parte de um programa - julgo que da TVI - sobre a condição dos idosos em Portugal. Chocante.
    A ausência de políticas não meramente paliativas de apoio à terceira idade é um facto. Como facto é a inexistência de um combate sério às causas da pobreza. Mas se faltam políticas, também é verdade que a sociedade não é inclusiva e parece declinar qualquer responsabilidade no encontrar de uma solução colectiva.
    Num momento em que já são muitos a entender que o Estado deveria ser mais leve, não devemos todos pensar qual o papel que nos cabe na remoção destes factores de vergonha em pleno século XXI?

    ResponderEliminar
  2. Cara Dra. Margarida:
    Infelizmente, não é só a pobreza das crianças que urge resolver! É também a pobreza e o abandono dos nossos idosos, à sua sorte.
    Ainda ontem, como refere o Drº Ferreira de Almeida, a TVI transmitiu uma reportagem que chocou, estou em crer, os corações mais "empedernidos".
    E qual é a nossa verdadeira atitude (principalmente daqueles que têm poder para ensaiar novas políticas de solidariedade), face a estas realidades? Atrevo-me a dizer: de distância.
    É desejável não se adiar mais a resolução destes problemas, porquanto, as crianças não podem esperar, e são muito poucos os portugueses que podem pagar os "resorts" Melos!
    No mesmo dia em que, a Drª. Margarida Aguiar, chama a atenção para a grave situação das crianças portuguesas, e a TVI chama, também, a atenção para a grave situação dos idosos, é confrangedor ouvir a notícia de que, a CGD, apesar da crise financeira obteve os maiores lucros desde sempre, e vai aumentar os spreds sobre os empréstimos...
    Apraz-me vociferar: que “raio” de lógica está subjacente a esta politica de um banco do Estado? Será a de “espremer”, ainda mais, as já depauperadas famílias portuguesas!?

    ResponderEliminar
  3. José Mário
    Para quem não vê ou não quer ver que a pobreza é um estado bem presente em Portugal, os estudos, as estatísticas e outros indicadores sociais, nacionais e comunitários, não deixam quaisquer dúvidas. Convergem todos no mesmo sentido ao expressarem que a pobreza é uma realidade de dimensão muito preocupante.
    O que é também muito preocupante, com ou sem anúncio de estudos e estatísticas, é a fraca mobilização política e social no combate à pobreza, em linha com um estado de despreocupação geral.
    E preocupante é também que o governo e a oposição não avaliem seriamente as políticas de combate à pobreza e de protecção social que têm sido seguidas, porque os resultados mostram, até para um cego que não vê, que não estão a actuar satisfatoriamente.
    E quanto ao Estado, deveria ser mais leve onde é pesado, e mais presente onde está demasiado ausente. Está à vista que as suas presenças precisam de ser revistas. O que se passa com a pobreza não deixa dúvidas!

    Caro jotaC
    Andamos todos, salvo seja, muito peocupados com os "aeroportos" do País. Bem sei que o futuro tem que ser assegurado no presente, mas a verdade é que não são os "aeroportos" do futuro que vão retirar muitos portugueses da pobreza. Vivemos realmente num país de grandes contrastes com um fosso económico e social que se poderá agravar. A pobreza não sendo combatida é geradora de pobreza! Continuamos a deitar "foguetes" pelos grandes êxitos, mas deveríamos ser um pouco mais recatados porque os tempos deveriam ser de respeito pelas imensas dificuldades com que sobrevivem muitos portugueses...

    ResponderEliminar
  4. Cara Margarida
    Só temos desgraças e não é porque surjam fenómenos intransponíveis, é porque queiramos ou não, a culpa é toda nossa. O que se passa com a pobreza entre nós é desprestigiante e revoltante, pela simples razão de que não é um facto recente e nenhum governo mostra vontade política para o resolver, traçando as bases de uma odisseia de recuperação e dando garantias de cumprimento. Tudo isto é uma vergonha. O pior é que quem não tem vergonha todo o mundo é seu ; lembro-me a este propósito daquela entrevista, sem vergonha!

    ResponderEliminar