sábado, 9 de fevereiro de 2008

Sarkozy: crepúsculo antecipado?

A popularidade do Presidente francês, eleito há menos de 1 ano, tem caído a pique nas últimas semanas: desde o início do corrente ano, a % dos que consideram positiva a sua actuação caiu 13 pontos, situando-se agora em cerca de 40%, depois de nos primeiros meses do seu mandato ter ultrapassado os 65%...
Sarkozy apresentou-se como um Presidente com um estilo novo, ideias arejadas, espírito reformador, rompendo com um passado de uma prática presidencial ambígua e pouco transparente, parecendo vocacionado para colocar a França numa posição de prestígio internacional, sabendo congregar à sua volta personalidades de distintas forças políticas atraídas pelo seu estilo federador e pela sua mensagem renovadora.
Passados poucos meses, tudo parece estar a esfumar-se e a desilusão começa a apoderar-se do seu partido, a UMP.
Entrou numa sucessão de ziguezagues em relação a algumas medidas de política: por exemplo, um mês depois de ter anunciado que os cofres do Estado estavam vazios e que não era possível alargar mais as benesses sociais, esta semana – provavelmente com o objectivo de contrariar a erosão da sua popularidade - vem prometer (i) aos titulares de baixas pensões um bónus extraordinário, uma medida com um custo orçado em € 1,3 mil milhões e (ii) aos trabalhadores de uma siderurgia no Lorraine a ajuda do Estado para salvar a unidade em dificuldades…
Ao mesmo tempo, a extraordinária exposição mediática da sua vida privada, se pode ter graça uma vez, aos franceses não deve agradar muito ter um Presidente que se comporta como um “movie star”, passeando publicamente as suas desilusões e conquistas amorosas num ritmo alucinante…
Por outro lado, a sua ânsia de protagonismo, tem-no conduzido a desvalorizar o papel e a intervenção dos seus colaboradores, designadamente dos membros do seu Governo (Kouchner é uma das raras excepções), chamando a si a condução de todos os dossiers com algum impacto mediático.
A situação chegou ao ponto de o seu Primeiro-Ministro, François Fillon, uma figura mais discreta e com um comportamento muito mais sóbrio, desfrutar actualmente de maior popularidade do que o Presidente – o que deverá deixar Sarkozy muito mal disposto.
Em Março próximo (9 e 16), disputam-se em França eleições municipais.
Se a UMP tiver um mau resultado, pode começar aí, ainda menos de um ano após a eleição, um período de muitos e complexos – quiçá infindáveis – problemas para Sarkozy.
Teremos o crepúsculo antecipado de um Presidente que parecia votado a um grande sucesso?

7 comentários:

  1. Caro Dr. Tavares Moreira
    Parece-me que Sarkozy confundiu o estilo novo com que conquistou muitos franceses cansados de uma França "velha" com o estilo de "movie star" que fica bem aos actores deste mundo que tudo fazem para serem estrelas cor de rosa planetárias mas que em nada abona a favor da sobriedade que se exige a quem desempenha cargos políticos de elevadíssima envergadura. Um divórcio ou um casamento não têm nada de mal. Mas fazer destes acontecimentos da vida privada uma novela pública pode ser perigoso.
    Na Europa não há o hábito de perseguir e espiolhar as vidas privadas dos altos responsáveis políticos. Há uma cultura de reserva da intimidade! A quebra deste sossego, ainda por cima alimentada pelo próprio Sarkozy, não está a agradar aos franceses. O mal já está feito. Será que Sarkozy o conseguirá reparar!?

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  2. Margarida,

    Iremos ver, iremos ver, quanto à capacidade de Sarkozy para dar a volta à situação de desconforto para a qual tem contribuído em larga medida como bem diz...
    Tenho muitas dúvidas, confesso-lhe.
    Acho que o Presidente se deixou deslumbrar com o cargo e com a popularidade que o envolveu após a vitória eleitoral...demonstarndo uma falta de maturidade algo surpreendente.
    Considero que está em posição bastante difícil nesta altura e se tiver um mau resultado nas municipais, dentro de um mês apenas, as dificuldades vão aumentar.
    Terá que mudar radicalmente de estilo para sobreviver politicamente, parece-me, mas não sei se será capaz...

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  3. Duvido muito que voltem a levá-lo a sério, ele humilhou a França com o seu comportamento pateta, mostrando-se um joguete nas malhas da sua vida sentimental. E duvido muito que a nova mulher o ajude a ultrapassar a crise, o mais certo é começarem a soar os ecos dos desentendimentos não tarda muito, tudo aquilo é uma turbulência que não leva a confiar...

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  4. Caro Dr. Tavares Moreira

    Tivemos já em Itália no passado recente alguns exemplos de politica espectáculo com Berllusconi cujos resultados não foram nada famosos. Essa politica espectáculo também por cá passou e não deu (nem daria)em nada de bom. Em França o que está a acontecer é demasiada mediatização concentrada num só "one man show". É pouco recomendável e pouco credível. As responsabilidades de um país como a França no contexto internacional e no seio da Europa, exigem cautelas e muita atenção ao fenómeno. Até porque estes fenómenos quase que viciam os protagonistas. O que pode iludir a importancia do que dizem e do que fazem.

    Um abraço
    Mário de Jesus

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  5. Pois é, meus Caros, esta política virada espectáculo-espalhafato em França parece que não vai produzir resultado brilhante...
    Já entre nós, caro Mário de Jesus, a situação parece ser distinta... o espectáculo a que temos assistido tem contado com muito maior condescedência dos media, e por este andar não terminará tão cedo...
    E o pior é que esse espectáculo, que nos é impingido a toda a hora e cuja qualidade deixa muito a desejar, não só não é gratuito - aí até se poderia tolerar - como nos custa bem caro...e op preço não cessa de aumentar...
    Houve um período anterior de política espectáculo que não acabou bem - creio que se referia a esse no seu comentário - mas aí a atitude dos media foi bem menos condescendente...

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  6. Quanto a Sarkozy não serei a pessoa mais indicada para fazer uma análise isenta, especialmente por apreciar a sua atitude. Farei mais neste momento de advogado do "diabinho".

    Aprecio a mão dura de Sarkozy pois a França carecia de um líder destemido, capaz de ultrapassar os medos do sindicalismo francês.
    Quanto ao investimento na siderurgia, se este tiver o mesmo impacto que teve na Alstom, tenho que estar d'acordo com este tipo de investimento.

    Vamos dar mais algum tempo e ver do que Sarkozy é capaz....

    Saudações Republicanas

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  7. Caro André,

    Quanto à mão-dura de Sarkozy, consta que amoleceu consideravelmente nos últimos tempos, com recuos importantes de que dei alguns exemplos no post...e ou me engano muito ou essa mão-dura vai até virar "gelatina" se os resultados nas municipais forem desfavoráveis...
    Quanto a dar tempo a Sarkozy, eu até lhe dou "todo o tempo do Mundo" se meu Amigo quiser - os franceses é que poderão ser menos condescendentes e menos pacientes...Veremos!

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