Começam a enfraquecer as razões que têm sido apontadas para uma próxima descida das taxas do BCE.
Dados ontem divulgados pela Instituição (BCE, não o SLB...) mostram que o crédito às empresas não financeiras aumentou em Janeiro 14,6% em termos homólogos, a taxa de variação mais elevada desde o lançamento do Euro em 1999.
Por outro lado, as indicações recentes confirmam que a inflação elevada parece ter vindo para ficar por mais tempo do que se admitia – bem mais do que os inefáveis e omniscientes decisores económicos domésticos ainda há poucos meses nos asseguravam...(é claro que os sacrossantos 2,1% não estão em causa,não quero ofender a ordem constituída);
-Os preços das matérias-primas minerais, combustíveis e não combustíveis apesar de elevados continuam em alta;
- Os preços das matérias-primas alimentares não param de subir nos mercados internacionais, apesar das ameaças do Ministro da Agricultura português de colocar na rua as suas tropas para inspeccionar esses mercados e por na ordem os especuladores, desde Chicago até Shangai;
- Nas economias emergentes - China, Rússia e Vietnam muito em especial – a inflação tem vindo a subir acentuadamente nos últimos meses, acabando assim o contributo das suas exportações para a estabilidade dos preços nas economias desenvolvidas.
- Finalmente, e num registo algo favorável ao Prof. Ricardo Reis e às suas famosas previsões do Verão passado (quem ainda se recorda?) parece que o impacto da turbulência nos mercados financeiros será menor do que se supunha no que à economia europeia diz respeito – afirmação de Lucas Papademos, Vice-Presidente do BCE, esta semana.
Não me surpreenderá assim que o BCE meta na gaveta quaisquer intenções – se é que existiam – de baixar as taxas em Abril como os nossos laboriosos “media” da especialidade, com a sua conhecida argúcia, chegaram a dar como quase certo.
A ver vamos, manda a prudência acrescentar...À douta consideração de Pinho Cardão, Tonibler, André, Rui Fonseca e Outros ilustres comentadores...
Temos ultra-ricardiano...:)
ResponderEliminarSe fosse verdade, o que não me parece, seria em todo o caso apenas MAIS UM, a seguir à ilustre pessoa de V. Exa!
ResponderEliminarEntão afinal confere-me razão, visto que eu insistia que o BCE mesmo com a crise do subprime não baixaria as taxas de juros por dois motivos. Primeiro porque a inflação está muito forte, apesar do decreto instituído que a proíbe ultrapassar os 2%, e segundo porque a crise do subprime não se está a sentir muito na Europa, devido aos NPI's. (entre elas os BRICs).
ResponderEliminarFalta saber a opinião de Trichet!
Então afinal confere-me razão, visto que eu insistia que o BCE mesmo com a crise do subprime não baixaria as taxas de juros por dois motivos. Primeiro porque a inflação está muito forte, apesar do decreto instituído que a proíbe ultrapassar os 2%, e segundo porque a crise do subprime não se está a sentir muito na Europa, devido aos NPI's. (entre elas os BRICs).
ResponderEliminarFalta saber a opinião de Trichet!
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarTambém não me parece que uma descida das taxas de juro pelo BCE
possa espevitar as economias europeias. Os factores determinantes que caracterizam a conjuntura não de molde a mobilizarem-se no sentido da reanimação. Já nos poderemos dar por satisfeitos que o contágio de recessão proveniente dos EUA não cause grandes estragos na Europa.
Por outro lado, se o BCE reduzisse as taxas de juro encontraria terreno favorável ao crescimento da inflação.
De qualquer modo, nem todas as economias da zona euro vão experimentar idênticas situações de ajustamento à desaceleração. A Espanha, muito provavelmente, será, de entre as maiores economias, aquela que apresenta piores perspectivas.
Tanto pior para nós que fomos colocados aqui ao lado.
Lamento, portanto, estar de acordo com o seu diagnóstico, por não ver por onde o possa razoavelmente contraditar.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarSó estava a devolver o "elogio" que me deu depois de ter tido dúvidas sobre a crise bem mais suaves que estas.
Acho que há aqui uma quantidade de certezas que eu, erradamente, admito, não tenho.
A primeira é que não podemos dizer que as economias estão a desacelerar e que a procura das matérias-primas que consomem está a subir. Isto não é muito coerente. Na realidade, parece estar a existir uma desvalorização absoluta do dólar, talvez pelas perdas cambiais dos produtores com as baixas do FED, que agora fazem esse risco cair em cima dos preços das matérias-primas. Mas nem a economia está a desacelerar assim tanto como os adivinhos previam, nem as matérias-primas se estão a valorizar como se pensa, apenas se estão a valorizar face ao USD.
A outra certeza de que não sou grande comprador é a da crise dos mercados financeiros. A crise de liquidez foi eliminada logo à nascença, apesar da parvoeira de alguns dos maiores bancos de se lançarem logo a depósitos de taxas absurdas. A de resultados, não acredito que metade seja decorrente do subprime. Muito lixo foi assumido agora que já vinha detrás. Mesmo assim, falar em maus resultados parece-me relativo. Nos resultados deste trimestre vamos ter crescimentos de dois dígitos para toda a gente e, para as administrações novas e sobreviventes, prémios bem chorudos. O argumento que ouvi muitas vezes da maior dificuldade de acesso ao crédito por parte das empresas, é meramente teórico.
Agora, a crise do imobiliário, essa estabeleceu-se. Cá, em Espanha, em Inglaterra, nos USA, em todo o lado. Furou-se a bolha com a questão do subprime. Vamos ver a importância do sector enquanto esperamos pela tão previsível crise dos fundos imobiliários que teima em nunca chegar. Aposto que valorizaram todos nos últimos meses :)...
Quanto ao BCE, se esta minha "fézada" sobre as matérias primas estiver certa, então o certo é bloquear a taxa, mas estar preparado para o fazer no longo prazo. Agora é aproveitar para ver se se manda o dólar para canto.
André,
ResponderEliminarMeu Caro continua incisivo nas suas observações - não fosse um refinado Dragão...E com esta mecânica dos comentários em duplicado fica ainda mais bem vincada essa sua faceta!
Quanto a Trichet deve estar sofrendo o mais longo período de insónias da sua vida...
Rui Fonseca,
Hoje é um dia grande para o 4R e para mim em especial que tenho o privilégio de obter a sua concordância para a teoria do meu Post!
Algum dia teria de acontecer, mas ter sido hoje, 28/02/08, tornará esta data memorável!
Espero que o meu Amigo também concorde com a teoria da absoluta fixidez da inflação, oficialmente em vigor entre nós - o que quer dizer que o índice de preços é perfeitamente inelástico,não reage a qualquer variação (para cima, claro) dos preços do cabaz...
Não querendo ser pessimsta ou derrotista, parece-me no meu simples entender, que a actual crise está a ter origem, contornos e desenvolvimentos, identicos àquela que ocorreu no início dos "anos 30", que começou com o estoiro da Bolsa de Nova York e se estendeu rápidamente às economias europeias. Nessa época, aconteceram precisamente as mesmas recessões, desemprego, falências, desmoronamento completo das indústrias, fome.
ResponderEliminarResistiram em Portugal aqueles que praticavam a agricultura de subsistÊncia, a fome e as doenças graçaram.
Actualmente, confiamos todos que o facto de a Europa se encontrar unida e ser detentora de uma economia que a todo o custo se deseja manter mais forte que a americana, os resultados irão ser diferentes e que a recuperação se irá verificar dentro dos prazos fantásticos que os analistas antevêem. Não sei caro Dr. Tavares Moreira, se o mundo não está a caminhar novamente para uma guerra e, que seja inevitável que ela cluda, para que as economias se recuperem.
Meus Caros:
ResponderEliminarNo meio de tudo isto, não nos podemos esquecer dos ciclos económicos, uns longos e outros mais curtos que atingem as economias. É matéria adquirida, tanto como a lei da oferta e da procura. E se esta não se pode negar, também a verificação de ciclos é inevitável.
Posto isto, os governos e as autoridades, francamente, pouco podem fazer. Claro que políticas económicas correctas podem evitar crises mais agudas, mas para isso é necessário que os governos percebam mais de economia e menos de propaganda. E as autoridades monetárias, através dos meios ao seu dispor, também podem atenuar alguns dos pontos mais agudos do ciclo.
É neste contexto que digo que os governos não têm geralmente que se vangloriar das retomas; como o fazem, também não se podem admirar de ser culpados integralmente pelas crises, e sem dó nem piedade.
Claro que há julgamentos diversos sobre as medidas a tomar. Mas eu estou cada vez mais céptico quanto a estas descidas ou subidas de 25 pontos percentuais nas taxas de juro. Não têm efeito nenhum na economia, quando muito na economia doméstica. Não têm qualquer efeito significativamente e real na retoma ou na inflação, ou o efeito é mínimo.
Eu sou mais pelo choque. Acontece que uma subida significativa das taxas para conter a inflação seria mal vista pela França e por uma série de outros países, além de ser repudiada pelos sindicatos, associações empresariais, etc, etc. E o BCE encolhe-se.
Ao invés, uma descida significativa das taxas de juro, que poderia ter uma implicação positiva na economia, traria tendências inflacionistas, que compete ao BCE contrariar.
No meio disto tudo, e para fazer prova de vida, o BCE sobe um bocadinho para aqui, desce um poucochinho para ali, anda numa dansa politicamente correcta, mas que nãoleva a nada. Enfim, os compromissos dos nossos dias. Mas que é gente considerada e que faz tudo para o ser, lá isso é...
Assim respondo ao repto do TM!...
Caro Tonibler,
ResponderEliminarQue meu amigo é uma pessoa inteligente, não podemos duvidar, a subtileza de seus argumentos o demonstra...
Mas não esqueça uma coisa, um "pormenor": se as economias chinesa e indiana em 2008 crescerem 9,5% e 7,5%, respectivamente, estarão a desacelerar em relação a 2007, é um facto.
Mas entende que com tais taxas de crescimento - em desaceleração - não continuam a exercer pressão sobre os preços das matérias primas? Importa-se de dar um pouco de atenção a este ponto?
Caro Bartolomeu,
Não sejamos nefelibatas, na linha da Sedes.
As suas preocupações são mais do que legítimas, mas não me parece que o cenário apocalíptico, nesta altura, constitua uma vereda de análise adequadamente realista...
A não ser que meu amigo acredite na aplicação da fórmula de Fibonacci ao processo de degradação em curso...
Caro Pinho Cardão,
Muito bem observado, a teoria dos ciclos económicos explica com certeza muito do que está a passar-se...
E cada ciclo tem características próprias, não são sempre as mesmas causas a ditar os pontos altos/baixos do ciclo.
É muito obvio entre nós que os governantes - os actuais não são excepção, bem pelo contrário até requintam o exercício - baralham-se completamente quando tentam "surfar" o ciclo em seu proveito, como muito bem observa...
Caros Bartolomeu e Tavares Moreira, uma coisa o Bartolomeu disse que vai plenamente de encontro ao que eu próprio penso e já desde 2002-2003. Que vamos ter outra guerra em larga escala. Sempre apontei, aliás, o triénio 2012-2015 como a altura para a eclusão dessa infelicidade. Hoje em dia começo a achar que venho pecando por optimismo ao longo dos anos e esse horizonte pode estar mais próximo. E não é só por causa da crise económica, mas também.
ResponderEliminarOs sinais existem, as pequenas tensões que sempre foram existindo têm vindo a escalar cada vez mais além e algumas passam de pequenas tensões localizadas a escaramuças de importância relevante. Há o crescimento da China e da India com o consequente pender de equilibrios mundiais, novas alianças, concorrencia pelas matérias-primas, pela energia e até pela água que esse crescimento engloba. Os Estados Unidos com a sua crise financeira e económica que não pode ser descurada. Não digo que seja determinante. Mas penso que pode ser um bom motivo para, na dúvida, ir em frente. E eu não sou nem remotamente suspeito de anti-americanismo. Afinal, que coisa melhor existe para estimular uma economia do que uma guerra em devida ordem e a subsequente reconstrução? Por fim, há um factor importantissimo também: a Russia quer recuperar o seu papel de grande actor mundial.
Pessoalmente não duvido de que teremos uma guerra mundial em grande escala algures nos próximos anos. A dúvida é quando. Seria porém muito bom sinal chegarmos a 2015 e eu ter que engolir o meu chapéu por ter estado errado durante tantos anos.
E isto quer o BCE baixe a taxa de juro na próxima reunião ou não. Não baixará. O senhor Trichet anda demasiado preocupado com a inflacção - que é, aliás, o seu mandato - para pensar em baixar a taxa de juro de referência. Ainda há não muito tempo (um, dois meses), nas suas intervenções, o bom senhor fazia comentários que pareciam sinalizar exactamente o inverso. Felizmente já ultrapassou essa fase.
Caro Dr. Tavares Moreira,
ResponderEliminarNão estaria tão seguro como o meu caro amigo, quando (nos) atribui e aos diagnósticos da SEDES o estado nefibata.
Caro Dr.T.M.,
A maior dificuldade reside sempre na avaliação das crises, depois, encontrar as medidas necessárias e adequadas, desde que se possua o conhecimento, a experiência, a convicção e determinação, surgirão sempre as formulas possíveis de ser aplicadas, de uma forma simples, ou imposta.
Sinceramente, não pensei na aplicação da formula de Leonardo Pisano, porque a taxa de crescimento que ela reflecte, tende à proporção àurea, cuja equação se representa por: x2-x-1=0.
Aquilo em que eu pensei mais concretamente, foi na formula economicista de Oliveira Salazar e na visão de Sebastião de Carvalho face às crises económicas porque o país passou, enquadradas no ambiente europeu e mundial das respectivas épocas.
Provocarão concerteza estas minhas palavras, um sentimento de desilusão aos leitores, porém, como já referi, o mais difícil é avaliar e para tanto, caríssimo doutor, é fundamental possuír-se a faculdade de ultrapassar o campo limitado das ciências e entrar no campo ilimitado do visionismo.
Concordo com aquilo que o caro Dr. Pinho Cardão comenta.
ResponderEliminarPoliticas económicamente correctas, espera-se que consigam atenuar crises mais agudas. Todavia, esperar que os governos direccionem as suas actuações num sentido estrictamente economicista, é inviável. Governos, governam sociedades, numa accção que visa a conducção de pessoas a criar riqueza que proporcione o maior bem-estar geral, de uma forma o mais egualitária possível. Logo, o conceito capitalista, está teoricamente excluído desta equação, o que condiciona inegávelmente a tomada de decisões num âmbito estritamente economicista.
Caros Bartolomeu e Zuricher,
ResponderEliminarMuito interessante o debate que propõem, mas permitam-me que não acompanhe vossas teses semi-apocalípticas...
Crei que o Mundo caminha para uma situação de equilíbrio de poderes, depois de termos vivido alguns anos de predomínio de uma super-potência, que não sugere um desenvolvimento catastrofista, muito menos em 2012-2015.
Se me disserem 2035-2040, aí já não estarei tão seguro, mas também espero não me encontrar por perto, se for infelizmente o caso...
Quanto a Trichet, o melhor é deixá-lo "dormir"- ou sofrer insónias - descansadinho...
o BCE vai sempre ao contrario da FED.como a fed se prepara para descer , acho que o bce vai manter as txs de juro como estão
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