quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Taxas de juro: BCE poderá não baixar...

Começam a enfraquecer as razões que têm sido apontadas para uma próxima descida das taxas do BCE.
Dados ontem divulgados pela Instituição (BCE, não o SLB...) mostram que o crédito às empresas não financeiras aumentou em Janeiro 14,6% em termos homólogos, a taxa de variação mais elevada desde o lançamento do Euro em 1999.
Por outro lado, as indicações recentes confirmam que a inflação elevada parece ter vindo para ficar por mais tempo do que se admitia – bem mais do que os inefáveis e omniscientes decisores económicos domésticos ainda há poucos meses nos asseguravam...(é claro que os sacrossantos 2,1% não estão em causa,não quero ofender a ordem constituída);
-Os preços das matérias-primas minerais, combustíveis e não combustíveis apesar de elevados continuam em alta;
- Os preços das matérias-primas alimentares não param de subir nos mercados internacionais, apesar das ameaças do Ministro da Agricultura português de colocar na rua as suas tropas para inspeccionar esses mercados e por na ordem os especuladores, desde Chicago até Shangai;
- Nas economias emergentes - China, Rússia e Vietnam muito em especial – a inflação tem vindo a subir acentuadamente nos últimos meses, acabando assim o contributo das suas exportações para a estabilidade dos preços nas economias desenvolvidas.
- Finalmente, e num registo algo favorável ao Prof. Ricardo Reis e às suas famosas previsões do Verão passado (quem ainda se recorda?) parece que o impacto da turbulência nos mercados financeiros será menor do que se supunha no que à economia europeia diz respeito – afirmação de Lucas Papademos, Vice-Presidente do BCE, esta semana.
Não me surpreenderá assim que o BCE meta na gaveta quaisquer intenções – se é que existiam – de baixar as taxas em Abril como os nossos laboriosos “media” da especialidade, com a sua conhecida argúcia, chegaram a dar como quase certo.
A ver vamos, manda a prudência acrescentar...À douta consideração de Pinho Cardão, Tonibler, André, Rui Fonseca e Outros ilustres comentadores...

15 comentários:

  1. Temos ultra-ricardiano...:)

    ResponderEliminar
  2. Se fosse verdade, o que não me parece, seria em todo o caso apenas MAIS UM, a seguir à ilustre pessoa de V. Exa!

    ResponderEliminar
  3. Então afinal confere-me razão, visto que eu insistia que o BCE mesmo com a crise do subprime não baixaria as taxas de juros por dois motivos. Primeiro porque a inflação está muito forte, apesar do decreto instituído que a proíbe ultrapassar os 2%, e segundo porque a crise do subprime não se está a sentir muito na Europa, devido aos NPI's. (entre elas os BRICs).

    Falta saber a opinião de Trichet!

    ResponderEliminar
  4. Então afinal confere-me razão, visto que eu insistia que o BCE mesmo com a crise do subprime não baixaria as taxas de juros por dois motivos. Primeiro porque a inflação está muito forte, apesar do decreto instituído que a proíbe ultrapassar os 2%, e segundo porque a crise do subprime não se está a sentir muito na Europa, devido aos NPI's. (entre elas os BRICs).

    Falta saber a opinião de Trichet!

    ResponderEliminar
  5. Caro Tavares Moreira,

    Também não me parece que uma descida das taxas de juro pelo BCE
    possa espevitar as economias europeias. Os factores determinantes que caracterizam a conjuntura não de molde a mobilizarem-se no sentido da reanimação. Já nos poderemos dar por satisfeitos que o contágio de recessão proveniente dos EUA não cause grandes estragos na Europa.

    Por outro lado, se o BCE reduzisse as taxas de juro encontraria terreno favorável ao crescimento da inflação.

    De qualquer modo, nem todas as economias da zona euro vão experimentar idênticas situações de ajustamento à desaceleração. A Espanha, muito provavelmente, será, de entre as maiores economias, aquela que apresenta piores perspectivas.

    Tanto pior para nós que fomos colocados aqui ao lado.

    Lamento, portanto, estar de acordo com o seu diagnóstico, por não ver por onde o possa razoavelmente contraditar.

    ResponderEliminar
  6. Caro Tavares Moreira,

    Só estava a devolver o "elogio" que me deu depois de ter tido dúvidas sobre a crise bem mais suaves que estas.

    Acho que há aqui uma quantidade de certezas que eu, erradamente, admito, não tenho.

    A primeira é que não podemos dizer que as economias estão a desacelerar e que a procura das matérias-primas que consomem está a subir. Isto não é muito coerente. Na realidade, parece estar a existir uma desvalorização absoluta do dólar, talvez pelas perdas cambiais dos produtores com as baixas do FED, que agora fazem esse risco cair em cima dos preços das matérias-primas. Mas nem a economia está a desacelerar assim tanto como os adivinhos previam, nem as matérias-primas se estão a valorizar como se pensa, apenas se estão a valorizar face ao USD.

    A outra certeza de que não sou grande comprador é a da crise dos mercados financeiros. A crise de liquidez foi eliminada logo à nascença, apesar da parvoeira de alguns dos maiores bancos de se lançarem logo a depósitos de taxas absurdas. A de resultados, não acredito que metade seja decorrente do subprime. Muito lixo foi assumido agora que já vinha detrás. Mesmo assim, falar em maus resultados parece-me relativo. Nos resultados deste trimestre vamos ter crescimentos de dois dígitos para toda a gente e, para as administrações novas e sobreviventes, prémios bem chorudos. O argumento que ouvi muitas vezes da maior dificuldade de acesso ao crédito por parte das empresas, é meramente teórico.

    Agora, a crise do imobiliário, essa estabeleceu-se. Cá, em Espanha, em Inglaterra, nos USA, em todo o lado. Furou-se a bolha com a questão do subprime. Vamos ver a importância do sector enquanto esperamos pela tão previsível crise dos fundos imobiliários que teima em nunca chegar. Aposto que valorizaram todos nos últimos meses :)...

    Quanto ao BCE, se esta minha "fézada" sobre as matérias primas estiver certa, então o certo é bloquear a taxa, mas estar preparado para o fazer no longo prazo. Agora é aproveitar para ver se se manda o dólar para canto.

    ResponderEliminar
  7. André,

    Meu Caro continua incisivo nas suas observações - não fosse um refinado Dragão...E com esta mecânica dos comentários em duplicado fica ainda mais bem vincada essa sua faceta!
    Quanto a Trichet deve estar sofrendo o mais longo período de insónias da sua vida...

    Rui Fonseca,

    Hoje é um dia grande para o 4R e para mim em especial que tenho o privilégio de obter a sua concordância para a teoria do meu Post!
    Algum dia teria de acontecer, mas ter sido hoje, 28/02/08, tornará esta data memorável!
    Espero que o meu Amigo também concorde com a teoria da absoluta fixidez da inflação, oficialmente em vigor entre nós - o que quer dizer que o índice de preços é perfeitamente inelástico,não reage a qualquer variação (para cima, claro) dos preços do cabaz...

    ResponderEliminar
  8. Não querendo ser pessimsta ou derrotista, parece-me no meu simples entender, que a actual crise está a ter origem, contornos e desenvolvimentos, identicos àquela que ocorreu no início dos "anos 30", que começou com o estoiro da Bolsa de Nova York e se estendeu rápidamente às economias europeias. Nessa época, aconteceram precisamente as mesmas recessões, desemprego, falências, desmoronamento completo das indústrias, fome.
    Resistiram em Portugal aqueles que praticavam a agricultura de subsistÊncia, a fome e as doenças graçaram.
    Actualmente, confiamos todos que o facto de a Europa se encontrar unida e ser detentora de uma economia que a todo o custo se deseja manter mais forte que a americana, os resultados irão ser diferentes e que a recuperação se irá verificar dentro dos prazos fantásticos que os analistas antevêem. Não sei caro Dr. Tavares Moreira, se o mundo não está a caminhar novamente para uma guerra e, que seja inevitável que ela cluda, para que as economias se recuperem.

    ResponderEliminar
  9. Meus Caros:
    No meio de tudo isto, não nos podemos esquecer dos ciclos económicos, uns longos e outros mais curtos que atingem as economias. É matéria adquirida, tanto como a lei da oferta e da procura. E se esta não se pode negar, também a verificação de ciclos é inevitável.
    Posto isto, os governos e as autoridades, francamente, pouco podem fazer. Claro que políticas económicas correctas podem evitar crises mais agudas, mas para isso é necessário que os governos percebam mais de economia e menos de propaganda. E as autoridades monetárias, através dos meios ao seu dispor, também podem atenuar alguns dos pontos mais agudos do ciclo.
    É neste contexto que digo que os governos não têm geralmente que se vangloriar das retomas; como o fazem, também não se podem admirar de ser culpados integralmente pelas crises, e sem dó nem piedade.
    Claro que há julgamentos diversos sobre as medidas a tomar. Mas eu estou cada vez mais céptico quanto a estas descidas ou subidas de 25 pontos percentuais nas taxas de juro. Não têm efeito nenhum na economia, quando muito na economia doméstica. Não têm qualquer efeito significativamente e real na retoma ou na inflação, ou o efeito é mínimo.
    Eu sou mais pelo choque. Acontece que uma subida significativa das taxas para conter a inflação seria mal vista pela França e por uma série de outros países, além de ser repudiada pelos sindicatos, associações empresariais, etc, etc. E o BCE encolhe-se.
    Ao invés, uma descida significativa das taxas de juro, que poderia ter uma implicação positiva na economia, traria tendências inflacionistas, que compete ao BCE contrariar.
    No meio disto tudo, e para fazer prova de vida, o BCE sobe um bocadinho para aqui, desce um poucochinho para ali, anda numa dansa politicamente correcta, mas que nãoleva a nada. Enfim, os compromissos dos nossos dias. Mas que é gente considerada e que faz tudo para o ser, lá isso é...
    Assim respondo ao repto do TM!...

    ResponderEliminar
  10. Caro Tonibler,

    Que meu amigo é uma pessoa inteligente, não podemos duvidar, a subtileza de seus argumentos o demonstra...
    Mas não esqueça uma coisa, um "pormenor": se as economias chinesa e indiana em 2008 crescerem 9,5% e 7,5%, respectivamente, estarão a desacelerar em relação a 2007, é um facto.
    Mas entende que com tais taxas de crescimento - em desaceleração - não continuam a exercer pressão sobre os preços das matérias primas? Importa-se de dar um pouco de atenção a este ponto?

    Caro Bartolomeu,

    Não sejamos nefelibatas, na linha da Sedes.
    As suas preocupações são mais do que legítimas, mas não me parece que o cenário apocalíptico, nesta altura, constitua uma vereda de análise adequadamente realista...
    A não ser que meu amigo acredite na aplicação da fórmula de Fibonacci ao processo de degradação em curso...

    Caro Pinho Cardão,

    Muito bem observado, a teoria dos ciclos económicos explica com certeza muito do que está a passar-se...
    E cada ciclo tem características próprias, não são sempre as mesmas causas a ditar os pontos altos/baixos do ciclo.
    É muito obvio entre nós que os governantes - os actuais não são excepção, bem pelo contrário até requintam o exercício - baralham-se completamente quando tentam "surfar" o ciclo em seu proveito, como muito bem observa...

    ResponderEliminar
  11. Anónimo04:38

    Caros Bartolomeu e Tavares Moreira, uma coisa o Bartolomeu disse que vai plenamente de encontro ao que eu próprio penso e já desde 2002-2003. Que vamos ter outra guerra em larga escala. Sempre apontei, aliás, o triénio 2012-2015 como a altura para a eclusão dessa infelicidade. Hoje em dia começo a achar que venho pecando por optimismo ao longo dos anos e esse horizonte pode estar mais próximo. E não é só por causa da crise económica, mas também.

    Os sinais existem, as pequenas tensões que sempre foram existindo têm vindo a escalar cada vez mais além e algumas passam de pequenas tensões localizadas a escaramuças de importância relevante. Há o crescimento da China e da India com o consequente pender de equilibrios mundiais, novas alianças, concorrencia pelas matérias-primas, pela energia e até pela água que esse crescimento engloba. Os Estados Unidos com a sua crise financeira e económica que não pode ser descurada. Não digo que seja determinante. Mas penso que pode ser um bom motivo para, na dúvida, ir em frente. E eu não sou nem remotamente suspeito de anti-americanismo. Afinal, que coisa melhor existe para estimular uma economia do que uma guerra em devida ordem e a subsequente reconstrução? Por fim, há um factor importantissimo também: a Russia quer recuperar o seu papel de grande actor mundial.

    Pessoalmente não duvido de que teremos uma guerra mundial em grande escala algures nos próximos anos. A dúvida é quando. Seria porém muito bom sinal chegarmos a 2015 e eu ter que engolir o meu chapéu por ter estado errado durante tantos anos.

    E isto quer o BCE baixe a taxa de juro na próxima reunião ou não. Não baixará. O senhor Trichet anda demasiado preocupado com a inflacção - que é, aliás, o seu mandato - para pensar em baixar a taxa de juro de referência. Ainda há não muito tempo (um, dois meses), nas suas intervenções, o bom senhor fazia comentários que pareciam sinalizar exactamente o inverso. Felizmente já ultrapassou essa fase.

    ResponderEliminar
  12. Caro Dr. Tavares Moreira,
    Não estaria tão seguro como o meu caro amigo, quando (nos) atribui e aos diagnósticos da SEDES o estado nefibata.
    Caro Dr.T.M.,
    A maior dificuldade reside sempre na avaliação das crises, depois, encontrar as medidas necessárias e adequadas, desde que se possua o conhecimento, a experiência, a convicção e determinação, surgirão sempre as formulas possíveis de ser aplicadas, de uma forma simples, ou imposta.
    Sinceramente, não pensei na aplicação da formula de Leonardo Pisano, porque a taxa de crescimento que ela reflecte, tende à proporção àurea, cuja equação se representa por: x2-x-1=0.
    Aquilo em que eu pensei mais concretamente, foi na formula economicista de Oliveira Salazar e na visão de Sebastião de Carvalho face às crises económicas porque o país passou, enquadradas no ambiente europeu e mundial das respectivas épocas.
    Provocarão concerteza estas minhas palavras, um sentimento de desilusão aos leitores, porém, como já referi, o mais difícil é avaliar e para tanto, caríssimo doutor, é fundamental possuír-se a faculdade de ultrapassar o campo limitado das ciências e entrar no campo ilimitado do visionismo.

    ResponderEliminar
  13. Concordo com aquilo que o caro Dr. Pinho Cardão comenta.
    Politicas económicamente correctas, espera-se que consigam atenuar crises mais agudas. Todavia, esperar que os governos direccionem as suas actuações num sentido estrictamente economicista, é inviável. Governos, governam sociedades, numa accção que visa a conducção de pessoas a criar riqueza que proporcione o maior bem-estar geral, de uma forma o mais egualitária possível. Logo, o conceito capitalista, está teoricamente excluído desta equação, o que condiciona inegávelmente a tomada de decisões num âmbito estritamente economicista.

    ResponderEliminar
  14. Caros Bartolomeu e Zuricher,

    Muito interessante o debate que propõem, mas permitam-me que não acompanhe vossas teses semi-apocalípticas...
    Crei que o Mundo caminha para uma situação de equilíbrio de poderes, depois de termos vivido alguns anos de predomínio de uma super-potência, que não sugere um desenvolvimento catastrofista, muito menos em 2012-2015.
    Se me disserem 2035-2040, aí já não estarei tão seguro, mas também espero não me encontrar por perto, se for infelizmente o caso...
    Quanto a Trichet, o melhor é deixá-lo "dormir"- ou sofrer insónias - descansadinho...

    ResponderEliminar
  15. o BCE vai sempre ao contrario da FED.como a fed se prepara para descer , acho que o bce vai manter as txs de juro como estão

    ResponderEliminar