O Bear Stearns era um dos mais importantes, ilustres, credíveis e considerados Bancos de Investimento do mundo. Como resultado da sub-prime, é dito, entrou em colapso. Segundo notícias de hoje, e para não falir, foi comprado pelo Banco JPMorgan por uma quantia irrisória equivalente a 10% do seu valor na semana passada. Tal facto está a arrastar as Bolsas, no dia de hoje, para baixas substanciais.
Antes, foi o Citibank a registar prejuízos gigantescos de 18 mil milhões de dólares e, na semana passada, o Carlyle Fund a evidenciar estar próximo da falência.
Todas estas Instituições prestavam informações trimestrais, eram auditadas e supervisionadas pelos diversos e exigentes Reguladores, as suas contas eram espiolhadas para efeitos de rating empresarial ou dos produtos que colocavam no mercado. Assim sendo, qual a explicação para o desastre, para além das explicações simplistas, ilusórias e fáceis da crise do sub-prime e da falta de fiscalização?
Do meu ponto de vista, o sub- prime é apenas um fenómeno, como já foram ou serão outros, e as crises não resultam da falta de informação, do comportamento deficiente das auditorias, ou de actuações medíocres dos reguladores. Esta é uma explicação meramente burocrática.
Aliás, e para mim, a informação obrigatória excessiva é, ela própria, um dos motivos das crises.
Um segundo motivo radica no cada vez mais acentuado e delirante enfoque da gestão nos objectivos de rentabilidade a curto prazo, impulsionada pelos esquemas de remuneração dos gestores baseado em stock options ou na valorização bolsista.
Um terceiro motivo radica no comportamento dos analistas de mercado.
Não sendo a actividade corrente da empresa capaz de gerar resultados anormalmente crescentes, para mostrar serviço os gestores lançam mão de novos e sofisticados produtos. Cada vez mais sem correspondência em activos reais, constituindo tendencialmente meros produtos virtuais. Com a agravante de serem comercializados à escala planetária.
Os resultados crescem, a informação flui, as expectativas aumentam, os analistas fazem subir as cotações, os gestores são remunerados, os accionistas anestesiados. Depois, vem o colapso.
O sub-prime é apenas mera circunstância dentro desta realidade.
Como tudo isto pode parecer isotérico, irei continuar.
Antes, foi o Citibank a registar prejuízos gigantescos de 18 mil milhões de dólares e, na semana passada, o Carlyle Fund a evidenciar estar próximo da falência.
Todas estas Instituições prestavam informações trimestrais, eram auditadas e supervisionadas pelos diversos e exigentes Reguladores, as suas contas eram espiolhadas para efeitos de rating empresarial ou dos produtos que colocavam no mercado. Assim sendo, qual a explicação para o desastre, para além das explicações simplistas, ilusórias e fáceis da crise do sub-prime e da falta de fiscalização?
Do meu ponto de vista, o sub- prime é apenas um fenómeno, como já foram ou serão outros, e as crises não resultam da falta de informação, do comportamento deficiente das auditorias, ou de actuações medíocres dos reguladores. Esta é uma explicação meramente burocrática.
Aliás, e para mim, a informação obrigatória excessiva é, ela própria, um dos motivos das crises.
Um segundo motivo radica no cada vez mais acentuado e delirante enfoque da gestão nos objectivos de rentabilidade a curto prazo, impulsionada pelos esquemas de remuneração dos gestores baseado em stock options ou na valorização bolsista.
Um terceiro motivo radica no comportamento dos analistas de mercado.
Não sendo a actividade corrente da empresa capaz de gerar resultados anormalmente crescentes, para mostrar serviço os gestores lançam mão de novos e sofisticados produtos. Cada vez mais sem correspondência em activos reais, constituindo tendencialmente meros produtos virtuais. Com a agravante de serem comercializados à escala planetária.
Os resultados crescem, a informação flui, as expectativas aumentam, os analistas fazem subir as cotações, os gestores são remunerados, os accionistas anestesiados. Depois, vem o colapso.
O sub-prime é apenas mera circunstância dentro desta realidade.
Como tudo isto pode parecer isotérico, irei continuar.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarAinda antes de continuar, só um comentário para "ajudar" à continuação, que vem da nossa velha questão de se a economia é ou não uma ciência exacta.
Gosto de dizer aos meus colaboradores que, em tudo na vida, a qualidade daquilo que fazemos é inversamente proporcional ao quadrado dos pressupostos que assumimos. E todos os erros que cometemos, não é porque agimos mal face ao conhecimento que temos, mas porque assumimos pressupostos face ao conhecimento que não temos.
No mercado financeiro é inversamente proporcional à 10ª potência dos pressupostos. E se reparar, a esmagadora maioria das crises mais recentes vêm de se assumirem pressupostos errados. Sub prime no pressuposto que as valorizações do imobiliário verificadas eram uma boa medida das valorizações futuras, o pressuposto de que obrigações soberanas não têm risco veio com a crise das moratórias russa e brasileira e, principalmente, o pressupostos de que o mercado tem sempre razão, mesmo quando se baseia em pressupostos errados, como no caso da crise da LTCM. E, a partir daqui, temos reguladores a pedir informação (e a definir regras) com base nesses pressupostos, analistas a advinharem o futuro com base nestes pressupostos, valorizações baseadas em pressupostos errados que levam a resultados falsos, etc...
"Amanhã", todos os relatórios de auditoria, todos os relatórios pedidos pelos reguladores (tirando o Banco de Portugal que ainda não percebeu esta coisa dos bancos...), todos os analistas, todos os gestores vão medir, falar, agir em função desta crise como depois da LTCM o fizeram com os derivados, da crise russa com a dívida soberana, etc... Vão meter nas suas "curvas normais" a ocorrência desta crise que seria impossível com 99,5% de confiança e vai passar a ser possível com um dado nível de probabilidade.
A economia, ao contrário do mundo físico, é uma "física" em construção pelo próprio homem. A humanidade está a descobri-la à medida que a constrói. O que há de comum em todas as crises, em todas as análises económicas, em todos os actos de gestão é o assumir como válido o pressuposto de que da economia, por ser construída pelo homem, já se sabe tudo. Quem é que disse isso?
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=85431
ResponderEliminarCaro Tonibler,
ResponderEliminarTem-nos habituado com frases fantásticas, que sintetizam certos conceitos e ideias de forma sublime.
Mas a que apresenta agora no 2º parágrafo do seu comentário encheu-me as medidas.
Nunca encontrei uma forma tão perfeita de expressar essa ideia que há muito comungo.
Vou passar a usá-la, citando-o, claro.
Por isso, obrigado.
Quanto à questão económica, a lucidez a que nos habituou, isto apesar da minha ignorância nestes assuntos.
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarConcordo em absoluto contigo: o desvario que para aí vai no carnaval financeiro deve-se sobretudo à ganância de apresentar resultados para sacar quanto mais possível.
O caso português, para já, mais emblemático desta ânsia sôfrega de saque aconteceu no BCP.
Qual é o senhor que se segue?
Já leste "We will never have a perfect model of risk"
By Alan Greenspan http://www.ft.com/cms/s/0/edbdbcf6-f360-11dc-b6bc-0000779fd2ac.html
É o Greenspan a tirar o cavalo da chuva.
Queria colocar-lhe duas questões: devem ou não ser enjaulados os gestores do Bear stearns que há uma semana afirmaram não existir problema nenhum com o banco? Devem ou não devolver os chorudos bónus que receberam pela sua "extraordinária" performance à frente do banco?
ResponderEliminar2ª questão: Para que servem os aumentos de capital do BPI e do BCP? Aparentemente não são para usar em novos investimentos!? Serão para limpar o balanço de coisas que é melhor o mercado não saber exactamente o que são?
Caro Tonibler:
ResponderEliminarTem toda a razão quando refere que "assumimos pressupostos face ao conhecimento que não temos...".Daí todas as cautelas nas previsões, válidas dentro do cenário escolhido, mas falaciosas se o cenário mudar. E não há análise de sensibilidade que lhes valha, se as circunstâncias mudarem drasticamente.
Acresce a esta constatação, um facto ainda mais grave. É que, muitas vezes, se fazem previsões forçando o conhecimento que temos, para usar as suas palavras, com o propósito de apresentar uma situação capaz de gerar resultados no imediato, sabendo-se que haverá prejuízos para muitos no médio prazo. A isso chama-se fraude.
Caro SC:
Obrigado pelo elogio, mas o meu amigo acaba de me dar um golpe fatal. Então não é que, em todo o meu escrito, o que o meu amigo elogia é apenas o 2º parágrafo, isto é, a citação dos prejuízos do Citibank e do Carlyle Fund!...
Caro Rui:
Parece-me que só discordamos quanto à despesa pública!...
Caro RS:
Quanto à 1ª questão,as autoridades americanas e os accionistas deverão saber bem como actuar!...
Quanto à segunda,ainda não li a justificação profunda para os aumentos de capital. Como sabe, há que cumprir determinados rácios de solvabilidade, para preservar a segurança das instituições e dos depositantes.
O crescimento dos activos bancários, nomeadamente do crédito concedido ou a expansão para novos mercados,exige capitais próprios crescentes.
Estou crente de que os capitais que vão ser chamados se destinarão a esse fim , exclusivamente
Pinho Cardão, convém não esquecer as Agências de Rating, essas inefáveis criaturas que trabalham com base em pressupostos complexos, isto é pressupostos de pressupostos - pressupõem que são perfeitos os modelos de avaliação de risco elaborados por entidades que os conceberam pressupondo que as realidades subjacentes se encontravam fielmente reflectidas nas suas análises.
ResponderEliminarNem um nem outro desses pressupostos se confirmaram, mas suas excelências pretendem ser branqueados de todo este imbróglio como se não fosse nada com eles...
Caro Tavares Moreira:
ResponderEliminarTem o meu amigo toda a razão!...
Essas famigeradas entidades, quando acontece a desgraça, APARECEM LOGO NO DIA SEGUINTE A FAZER O DOWNGRADING DO UPGRADING QUE PRODUZIRAM NO DIA ANTERIOR!...
Caro Pinho Cardão,
ResponderEliminarDe facto o meu comentário está um pouco atabalhoado.
O 2º paragrafo que eu elogiei foi o do comentário do nosso comentador Tonibler: "a qualidade daquilo que fazemos é inversamente proporcional ao quadrado dos pressupostos que assumimos. E todos os erros que cometemos, não é porque agimos mal face ao conhecimento que temos, mas porque assumimos pressupostos face ao conhecimento que não temos.
Diga lá que não é uma sábia tirada!
Mas não leve a mal se no comentário não manifestei apreço capaz pelo seu post. É que em questões de economia e finanças, sei o suficiente para perceber a minha incompetência. Por isso, tento aprender alguma coisa com quem sabe e raramente me atrevo a comentários, ficam para mim.
Ainda assim, classifiquei o seu post, e também o comentário do Tonibler, de lúcido. Foi o meu atrevimento!
E perdoe-me a indelicadeza!
Mas que fique claro que aprecio, e muito, os seus textos sobre assuntos económicos e financeiros.
Só não exteriorizo o apreço, mas aproveito para aprender.
Já não será tanto assim com o futebol - porque será?. Mas ainda assim envio-lhe já os parabéns pela vitória do seu FCP, garantida, e pelo record de vantagem para o 2º(quem será?) que já se antecipa.
Um grande abraço.
Caros SC e Tonibler:
ResponderEliminarAgora é que vi que o meu comentário é que foi atabalhoado!...
Um momento de total burrice!...
E também a minha homenagem à formulação Tonibler!...
Bem, a das empresas de rating nem sei o que hei-de dizer. É um fenómeno completamente novo em que algo que é declaradamente mau não tem substituto nem se vê grande vontade de arranjar substituto.
ResponderEliminar