A notícia do DN de domingo lembrou-me logo uma cena que muito me chocou há uns anos em que uma mãe levava a filha pequena pela trela, como se fosse um cão. Tinha uma espécie de corpete que a criança vestia e das costas saía uma fita extensível, que terminava no punho que a mãe segurava, dando mais ou menos largas ao raio de acção da menina.
Eu sei que não serve de nada lutar contra isso e que, não tardará muito tempo, a maquineta diabólica andará em todos os bolsos e mochilas. Mas que me dá arrepios ver anunciado que já está no mercado o telemóvel que “permite aos pais saber por onde andam os filhos”, isso dá, e não augura nada de bom.
Primeiro, acho absolutamente lamentável, para não dizer desprezível, que se utilize a chaga ainda fresca do mediatizado desaparecimento de 2 crianças para explorar esse sentimento de insegurança que se alimentou e estimulou até à histeria. É claro, sei que a oportunidade cria o negócio, mas tenho dificuldade em imaginar coincidência mais estranha, o estímulo e a resposta, tudo assim tão de repente como se o slogan já estivesse feito e com “as crianças como público-alvo. Os pais podem sempre saber onde estão os filhos e seguir os seus passos”.Note-se que os destinatários são as crianças, claro, não os pais… Tipo biberão, ou fraldas conforto, agora um chip no telemóvel. Não deve ser por acaso que a mesma notícia dá conta de que Portugal é dos países onde as crianças têm telemóvel mais cedo, agora então é mais que certo que passe a integrar o enxoval básico do recém nascido!
Este novo equipamento aparece, como sempre, sob a capa de um bem indispensável, qualquer coisa que uns pais dignos desse nome terão que comprar a correr, sob pena de parecer que afinal não fazem tudo, mas mesmo tudo o que podem, para “proteger” os seus filhos.
Com este aparelho maravilha, os filhos levam a asa protectora dos pais para onde quer que vão. E os pais deixam as crianças andar sozinhas mas é como se nunca tivessem saído de casa. A probabilidade de os jovens se tornarem cada vez mais irresponsáveis e inconscientes dos perigos que realmente correm é enorme, uma vez que vão certamente, como sempre, inventar mil e uma forma de iludir esta absurda vigilância, correndo riscos sérios. A probabilidade de os pais saberem cada vez menos onde param as criancinhas, de estas lhes mentirem ou de dependerem deles de uma forma doentia é cada vez maior.
Não sei se não se trata de segurança das crianças e jovens, se de perseguição. Não sei se se trata de tranquilidade dos pais, se de egoísmo de quem não quer nem suporta o mínimo de tensão que estará sempre associado ao processo de crescimento de quem depende de nós. Uns querem crescer e não os deixam, outros deviam ir aprendendo a ver os filhos crescer e fecham os olhos, passando a angústia para o telemóvel e os seus apitos atentos…
Não digo que não tenha que ser assim, é talvez uma inevitabilidade. Mas não me digam que isto é para nosso bem e dos nossos filhos e netos…
Eu sei que não serve de nada lutar contra isso e que, não tardará muito tempo, a maquineta diabólica andará em todos os bolsos e mochilas. Mas que me dá arrepios ver anunciado que já está no mercado o telemóvel que “permite aos pais saber por onde andam os filhos”, isso dá, e não augura nada de bom.
Primeiro, acho absolutamente lamentável, para não dizer desprezível, que se utilize a chaga ainda fresca do mediatizado desaparecimento de 2 crianças para explorar esse sentimento de insegurança que se alimentou e estimulou até à histeria. É claro, sei que a oportunidade cria o negócio, mas tenho dificuldade em imaginar coincidência mais estranha, o estímulo e a resposta, tudo assim tão de repente como se o slogan já estivesse feito e com “as crianças como público-alvo. Os pais podem sempre saber onde estão os filhos e seguir os seus passos”.Note-se que os destinatários são as crianças, claro, não os pais… Tipo biberão, ou fraldas conforto, agora um chip no telemóvel. Não deve ser por acaso que a mesma notícia dá conta de que Portugal é dos países onde as crianças têm telemóvel mais cedo, agora então é mais que certo que passe a integrar o enxoval básico do recém nascido!
Este novo equipamento aparece, como sempre, sob a capa de um bem indispensável, qualquer coisa que uns pais dignos desse nome terão que comprar a correr, sob pena de parecer que afinal não fazem tudo, mas mesmo tudo o que podem, para “proteger” os seus filhos.
Com este aparelho maravilha, os filhos levam a asa protectora dos pais para onde quer que vão. E os pais deixam as crianças andar sozinhas mas é como se nunca tivessem saído de casa. A probabilidade de os jovens se tornarem cada vez mais irresponsáveis e inconscientes dos perigos que realmente correm é enorme, uma vez que vão certamente, como sempre, inventar mil e uma forma de iludir esta absurda vigilância, correndo riscos sérios. A probabilidade de os pais saberem cada vez menos onde param as criancinhas, de estas lhes mentirem ou de dependerem deles de uma forma doentia é cada vez maior.
Não sei se não se trata de segurança das crianças e jovens, se de perseguição. Não sei se se trata de tranquilidade dos pais, se de egoísmo de quem não quer nem suporta o mínimo de tensão que estará sempre associado ao processo de crescimento de quem depende de nós. Uns querem crescer e não os deixam, outros deviam ir aprendendo a ver os filhos crescer e fecham os olhos, passando a angústia para o telemóvel e os seus apitos atentos…
Não digo que não tenha que ser assim, é talvez uma inevitabilidade. Mas não me digam que isto é para nosso bem e dos nossos filhos e netos…
Vai ser, com certeza, um excelente negócio para os promotores, pois está ligado a um dos objectos mais “queridos” dos portugueses, o telemóvel que, como é sabido, tem no nosso País a maior distribuição per capita da Europa.
ResponderEliminarDepois, talvez o desaparecimento recente das duas crianças seja aproveitado de forma a “atormentar” aqueles mais relutantes em aderirem à nova tecnologia...nada que um bom marketing não consiga fazer...
No livro, "As Pequenas Memórias", José Saramago escreveu:
ResponderEliminar"..."Avó, vou dar por aí uma volta." Ela diz "Vai, vai", mas não me recomenda que tenha cuidado, nesse tempo os adultos tinham mais confiança nos pequenos a quem educavam."
Os tempos desde então mudaram muito, até mesmo no Alentejo profundo...
PS
ResponderEliminarOnde digo Alentejo , digo que digo, Ribatejo.
;)
Tem toda a razão, caro jotac, é muito mais fácil por uma trela do que educar e confiar... Apesar das diferentes e surpreendentes formas com que a ânsia de controlar sempre aparece, no fundo é sempre o mesmo fenómeno odioso, que esconde fraqueza e insegurança, de querer recusar autonomia, de impedir a afirmação e de confiar responsabilizando. Com um prexto ou com outro, mais ou menos justificado, o mal está lá. É o lobo com pele de cordeiro, não se dá por ele assim à vista desarmada...
ResponderEliminarJa vi isso em Dresden vai para 5 ou 6 anos.
ResponderEliminarApetece, às vezes...
Mas percebo-a.
Claro que apetece, caro pintoribeiro, tudo o que nos tire angústias e preocupações é tentador. O pior é a que preço...
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