Foi notícia há dois dias no F. Times um acordo entre sindicatos da função pública e Governo Federal da Alemanha para uma actualização salarial de 8%, válida para 2 anos, 2008 e 2009.
Este acordo traduz a mais elevada variação salarial no sector público na Alemanha desde 1992.
Com base neste acordo, os funcionários públicos alemães (a notícia refere 1,3 milhões) vão receber:
- Em 2008, um aumento mensal igual para todos de € 50,00 acrescido de um aumento da tabela salarial de 3,1%;
- Em 2009, um aumento igual para todos de € 225, pago de uma só vez, acrescido de um aumento da tabela salarial de 2,8%.
Significa isto que os aumentos são bastante mais generosos para os salários mais baixos, valorizados pela componente fixa dos aumentos, tanto em 2008 como em 2009.
Em contrapartida, os funcionários (só na parte correspondente à antiga Alemanha Ocidental) aceitam um aumento do horário de trabalho de 30 minutos/dia.
Trata-se de mais um acordo salarial relativamente generoso no corrente ano, que se segue aos dos trabalhadores da industria do aço (aumento de 5,2% para 2008) e dos maquinistas de comboios (+11% também para 2008), esperando-se para breve um outro acordo, com os trabalhadores da industria química, de +7% igualmente para 2008.
O Ministro dos Assuntos Administrativos (o MAI lá do sítio) e negociador por parte do Governo, Wolfgang Schauble, conhecido dirigente cristão-democrata explicou a razão de ser desta generosidade salarial:
“ O aumento tem custos elevados mas é aceitável, pois os funcionários públicos têm o direito a partilhar, com justiça, da evolução positiva do crescimento económico da Alemanha”...
A inflação na Alemanha terá subido de 2,9% em Fevereiro para 3,2% em Março e, segundo as indicações mais recentes, deverá, pelo menos nos meses mais próximos continuar a subir...
E todos sabemos quanto a Alemanha preza, como mais nenhum outro país, a estabilidade de preços...
Nota da Redacção
Segundo as tabelas ideológicas em uso pela comunicação social doméstica, os democratas cristãos da Alemanha são conservadores...e os socialistas cá do burgo serão progressistas - neste último caso de acordo com um certificado emitido em 25/04/74 e, segundo os próprios e os media (contestados sem sucesso por parte da população) ainda válido...
Não será que já estamos todos (ou quase todos) a ficar meio doidos?!!!
Em oposição, também posso perguntar porque é que esse é generoso e os de cá são populistas?
ResponderEliminar"funcionários públicos têm o direito a partilhar, com justiça, da evolução positiva do crescimento económico da Alemanha"??? Isto é um misto de Paulo Portas e Toni Carreira...
Além do mais, a Alemanha é um país atrasadíssimo em que a inflação segue a evolução dos preços, o que impede a oposição de questionar o governo sobre o escândalo dos preços que sobem mais que a inflacção.
É triste que em Portugal se olhe para os exemplos escandinavo. Eu aconselhava todos os sindicatos portugueses a olhar para os congéneres alemães. Sindicatos que forma a classe trabalhadora, que não fazem reivindicações estapafúrdias, que não se queixam por tudo e por nada, que actuam em sinergia com as entidades patronais,..
ResponderEliminarPortugal teria muito a aprender com o exemplo alemão. Em que a vontade nacional em ter um país melhor se concretiza, em que todos trabalham numa cooperação estratégica. Em Portugal discute-se muito, mas age-se pouco.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarQuando li esse artigo que refere do FT, tentei encontrar uma justificação lógica para aquilo que, à primeira vista, parece ser surpreendente.
A mim, parece-me, que os alemães, prevendo um inevitável crescimento dos preços nos próximos anos na Zona Euro, estão a tentar delimitar esse mesmo crescimento na Alemanha, realizando uma acção de contra-fogo.
Como a Alemanha tem experimentado nos últimos anos dos mais elevados crescimentos de produtividade, o crescimento dos salários não comprometerá os seus níveis de competitividade.
Em Portugal, pelo contrário, os salários cresceram acima da produtividade e o ajustamento actual na área do funcionalismo público, por exemplo, deve-se em grande parte à descompensação anterior.
Isto não justifica, no entanto, o outro lado da questão, que constitui outro problema: a continuação do crescimento das desigualdades de rendimentos entre os 20% mais pobres e os 20% mais ricos em Portugal.
Salvo melhor opinião.
Caro André,
ResponderEliminarDiz muito bem que temos a aprender com o exemplo alemão, designadamente e ao que parece com a preocupação por uma distribuição mais justa da riqueza que se vai criando...
Caro Rui Fonseca,
Muito interessante essa metáfora do contra-fogo...embora me pareça que neste caso o contra-fogo é capaz de ajudar mais ao fogo do que na técnica habitual de combate a incêndios!
Quanto ao ponto da produtividade, que tem todo o fundamento, eu lembraria a questão: a responsabilidade pelo insuficiente crescimento da produtividade será de quem - apenas dos trabalhadores assalariados?
Tem a palavra o Rui Fonseca...
Caro Tonibler,
Bem suscitado o ponto das preocupações sobre a subida dos preços, levantado esta semana de uma forma brilhantemente arcaica pelo CDS-PP...
Haverá alguma razão para que o Caro Tonibler não tenha dado o nome às coisas,preferindo refugiar-se no conceito vago de oposição? Teve receio ou quis atingir terceiros não relacionados com tal diatribe?
Ou ficou "tocado" por se ter tornado evidente que os cristãos-democratas alemães se mostram infinitamente mais atentos ao problema da distribuição do rendimento do que os "socialistas" em Portugal?
Mas olhe que estes últimos tb têm feito muito para melhorar a distribuição, concentrando-a tanto quanto podem...
"a responsabilidade pelo insuficiente crescimento da produtividade será de quem - apenas dos trabalhadores assalariados?"
ResponderEliminarObviamente, que não.
Os assalariados são os menos responsáveis.
Caro Tavares Moreira,
ResponderEliminarEu não queria dar todos os "méritos" ao CDS porque estava a fazer a comparação entre dois países em que um deles está livre disso. Quanto a aumentar funcionários públicos ser distribuição de rendimento, isso é outra história...
Rui Fonseca,
ResponderEliminarMuito bem!
Então meu Amigo será certamente de opinião que concentrar ainda mais a distribuição do rendimento em Portugal não augura melhoria de produtividade, certo?
Então esta premeditada política de aumento da concentração do rendimento nacional - porque é disso que se trata, não tenha ilusões - nada vai resolver, vai é agravar a evolução da produtividade, concorda?
Considera que, não obstante isso, se pode considerar uma política "progressista", em exclusiva atenção aos seus promotores e ao certificado histórico que exibem?
Caro Tonibler,
Não precisava de dar os méritos ao CDS porque eles já os detinham por inteiro - quando ouvi a notícia pensei nas guerras do preço do pão, que inspiraram a revolução da Maria da Fonte...
E admiti que, aquando do debate do tema na AR, os deputados em causa iriam apresentar-se a rigor, com o traje típico do século XIX...
Seria tão interessante essa evocação histórica...
Mas meu Amigo continua, perdoe-me a observação, a "fugir" ao essencial da questão que são políticas concretas de distribuição do rendimento, na Alemanha e em Portugal, diametralmente opostas - e com protagonistas que, atendendo às tabelas ideológicas em vigor cá, parecem (mas só parecem...) totalmente trocados!
Quid juris, então?