Através de um jornal médico, tive conhecimento de que se realizou, em Nova Orleães, um Congresso da American Stroke Association. Neste evento foi apresentado um estudo sofre o efeito de um cocktail cafeína-etanol.
Há cerca de cinco anos, durante a minha estada na Assembleia da República, num dos meus “après-midi de chien” (um dia conto a história desta designação), li algo sobre o assunto, o que me levou a escrever este potencial post, já que ainda estava longe de andar pela blogosfera ou fazer parte de um blog. Lá o consegui desencantar na barafunda das minhas pastas.
A ciência é sedutora na medida em que vai fornecendo novas soluções ou explicações para muitos problemas que nos afligem. Em matéria de saúde é reconfortante saber que os nossos recursos vão aumentando. Um dos mais graves problemas que aflige os portugueses são os denominados acidentes vasculares cerebrais (vulgo "tromboses"), constituindo a principal causa de morte, além de serem responsáveis por graves incapacidades. Quem é que não teve um parente ou amigo que não tenha sofrido desta doença? As causas estão bem definidas, sendo a hipertensão um dos principais factores de risco. Recentemente, foi descrito o efeito "protector" e "recuperador" das lesões cerebrais causadas, experimentalmente, em ratos sujeitos a obstrução de artérias cerebrais, de um novo fármaco que tem a particularidade de ser uma associação de álcool etílico e cafeína, denominada “cafeinol”. Isoladamente, quer um quer outro, não tem qualquer efeito benéfico (pelo contrário, o etanol agrava as lesões!) mas, associados, permitem obter um efeito bastante positivo, permitindo a recuperação das lesões, se forem ministrados precocemente. Não se conhece ainda os mecanismos para explicar este fenómeno (agora já se conhecem alguns). Apesar dos efeitos nos seres humanos não terem sido, até agora, devidamente aprofundados, os dados de um estudo piloto apontam para resultados semelhantes, o que abre perspectivas interessantes. A divulgação destes achados na população poderá levar a pensar (não esqueçamos exemplos recentes, tais como os relativos ao efeito protector do álcool, que levaram à "legitimação" de condutas perniciosas) que "um café e um bagaço" seria uma forma de ajudar a "prevenir" ou a minimizar este problema tão prevalente entre nós. É importante que se diga que a cafeína do café e o etanol do bagaço, para terem estes efeitos, têm de ser injectados! E mais, tudo aponta para que o efeito se faça sentir apenas naqueles que não bebem. Sendo assim, o velho hábito de beber um café e um bagacito, tão comum, acaba por não ter qualquer efeito, podendo ser até prejudicial, devido a um fenómeno de tolerância. O melhor é evitar os factores de risco dos acidentes vasculares cerebrais, tais como a tensão arterial elevada, o consumo excessivo de sal e também do álcool, e se, infelizmente (tudo depende da idade!), um dia, formos vítimas deste flagelo talvez possamos beneficiar do “cafeinol” mas não do "cafégaço" português...
Caro Professor:
ResponderEliminarDesfazer assim de um medicamento tão à mão e sem custos para o SNS...
Não é patriótico!...
Também acho!
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