O meu avô achava uma grande falta de educação perguntar o que era o jantar antes de nos sentarmos à mesa e respondia sempre, muito mal humorado, “são línguas de perguntador”. Também achava intolerável dizermos palavras que começavam a estar na moda, como “bestial” e “chatice”, duas monstruosidades que, só por si, explicavam a calamidade de uma educação pouco atenta. Também lhe parecia um escândalo que, aos 15 ou 16 anos, fossemos ao cinema com rapazes ou pudéssemos ir a festas a casa de amigas cujas famílias não eram amigas da nossa. Creio que todos podemos desfiar um rol bem largo das peripécias que, desde sempre, caracterizaram as diferenças de gerações e, em todas elas, o abismo que se ia criando parecia intransponível conduzindo directamente ao “cataclismo” que o meu avô também previa num futuro próximo.
Mas as gerações lá se vão desembrulhando como podem, primeiro como filhos, a romper as barreiras, depois como pais, a tentar o seu melhor para conduzir a garotada a bom porto, cedendo no que não parece indispensável, teimando no que, mal ou bem, vai parecendo ainda como a melhor solução para lhes garantir um futuro como pessoas decentes. Mas que é difícil, é.
Há dias pediram-me para ir falar num curso de formação de pessoas já licenciadas e havia pessoas de várias idades. Cheguei um pouco mais cedo e assisti ao fim da aula do formador anterior, sentada ao lado de um dos alunos, que tinha o computador aberto à sua frente. Navegava tranquilamente na Net enquanto ouvia a aula e continuou, imperturbável, quando a hora acabou e se iniciou o tema seguinte. Levantava a cabeça de quando em quando, assentia, parecia estar a ouvir tudo, mas lá continuava a girar o rato, freneticamente, como se pudesse estar com a atenção presa a vários azimutes.
Às vezes venho ao computador e aparece-me o aviso de outras pessoas que estão on line, com sorte são as minhas filhas e lá vem a msg, …”’tás aí? Eu est aki a fazer um trabalho, tb num chat com as minhas amigas…espera aí k está o telemóvel a tocar, já volto…”
Um artigo da Time chamou-lhes a Geração Multitasking, fazem mil coisas ao mesmo tempo, treinam-se na resposta instantânea a cada solicitação, ouvem música na rua, falam ao telefone enquanto olham as montras, estão o sossego do quarto ligados aos quatro cantos do mundo.
Sobre o que o artigo dizia a seguir terei que falar noutro post, tenho agora mesmo a janelita da conversa aqui a piscar “mãe, ainda estás acordada?”, deixem-me lá ir responder, para isso interrompo o post, se calhar podia muito bem ir escrevendo aqui e respondendo às mensagens em catadupa, definitivamente, não pertenço a esta geração multifunções…
Mas as gerações lá se vão desembrulhando como podem, primeiro como filhos, a romper as barreiras, depois como pais, a tentar o seu melhor para conduzir a garotada a bom porto, cedendo no que não parece indispensável, teimando no que, mal ou bem, vai parecendo ainda como a melhor solução para lhes garantir um futuro como pessoas decentes. Mas que é difícil, é.
Há dias pediram-me para ir falar num curso de formação de pessoas já licenciadas e havia pessoas de várias idades. Cheguei um pouco mais cedo e assisti ao fim da aula do formador anterior, sentada ao lado de um dos alunos, que tinha o computador aberto à sua frente. Navegava tranquilamente na Net enquanto ouvia a aula e continuou, imperturbável, quando a hora acabou e se iniciou o tema seguinte. Levantava a cabeça de quando em quando, assentia, parecia estar a ouvir tudo, mas lá continuava a girar o rato, freneticamente, como se pudesse estar com a atenção presa a vários azimutes.
Às vezes venho ao computador e aparece-me o aviso de outras pessoas que estão on line, com sorte são as minhas filhas e lá vem a msg, …”’tás aí? Eu est aki a fazer um trabalho, tb num chat com as minhas amigas…espera aí k está o telemóvel a tocar, já volto…”
Um artigo da Time chamou-lhes a Geração Multitasking, fazem mil coisas ao mesmo tempo, treinam-se na resposta instantânea a cada solicitação, ouvem música na rua, falam ao telefone enquanto olham as montras, estão o sossego do quarto ligados aos quatro cantos do mundo.
Sobre o que o artigo dizia a seguir terei que falar noutro post, tenho agora mesmo a janelita da conversa aqui a piscar “mãe, ainda estás acordada?”, deixem-me lá ir responder, para isso interrompo o post, se calhar podia muito bem ir escrevendo aqui e respondendo às mensagens em catadupa, definitivamente, não pertenço a esta geração multifunções…
Cara Suzana Toscano,
ResponderEliminarFoi pena a interrupção, porque o texto crescia de sentido.
As diferenças de sensibilidades, de gostos, de comportamentos, etc., das gerações são uma constante dos tempos.
Se isto é uma banalidade afirmar, parece-me que nunca como hoje elas foram tão numerosas, tão desconcertantes e tão distanciadoras do nosso desejável convívio.
Não se deve descrer da Juventude, como não se deve idolatrá-la.
Cada geração deve procurar desempenhar o seu próprio papel, sem pretender obliterar os problemas, os erros graves de entendimento recíproco, quando eles surjam, mas enfrentá-los, sujeitá-los à discussão, expondo as visões próprias, sem pedir desculpa de algum saber e experiência maior, indubitavelmente adquiridos por quem mais viveu, numa vida fértil de acontecimentos, sobre os quais maduramente se reflectiu.
A obsessão de nos tornarmos simpáticos com a Juventude, em todas as circunstâncias, torna-nos altamente responsáveis dos seus desacertos.
Bem gostaria que a Suzana retomasse a reflexão que aqui nos deixou.
Bom inicio de semana.
a realidade que retrata Cara Suzana é uma realidade partilhada.
ResponderEliminarEu que o diga !!!
Não sei é se todos temos consciência da "velocidade" de interacção, dos nossos jovens e filhos. Um "estar em todas", de braço dado, com as novas tecnologias, para o qual, às vezes, (já) não tenho "andamento".
Diz a Suzana:
- Mas que é difícil, é.
Ó se é difícil....digo eu.
O seu post ajuda-me, porque penso erradamente (concluo !) que sou só eu, que tenho estas dificuldades geracionais.
afinal não.
:-)))))
Para si:
http://www.youtube.com/watch?v=e4rUaITuXSg
acalma o stress gerado pelo "Multitasking" da garotada.
Boa semana.
E no entanto, ha um fenómeno que se repete, cara Suzana, o da retenção na memória.
ResponderEliminarTal como a Senhora se recorda daquilo que ouvia o seu avô proferir, que na altura, provavelmente lhe parecia vazio de sentido, mas que, conjuntamente com outros princípios, marcaram determinantemente a sua formação, tambem as suas filhas, formaram os seus carácteres e personalidades com base nos princípios que lhes incutiu. A pluralidade e capacidade de responder em simultâneo a diferentes solicitações, faz-nos crer, segundo os nossos critérios, que a geração dos nossos filhos, trata tudo pela rama, sem concentração ou consistência. Em criança e porque era um tanto alvoroçado, lembro-me de me dizerem com alguma frequência a frase " quem muitos burros toca, algum deixa para trás".
A moral desta frase, parece-me que continua actual, aquilo que mudou, a meu ver, na optica dos nossos filhos, foi o conceito. Creio que para eles, contam somente os burros que se mantêm agregados, aqueles que ficarem para trás... azar, problema deles...
A mim, que sou um velhote, não me espantam as multiactividades porque elas decorrem das múltiplas sugestões que, por muitos meios, atingem os jovens.
ResponderEliminarA mim o que me espanta é a descontracção (ou deveria chamar-lhe outra coisa qualquer?) com que alguns pais contemporizam e apoiam os filhos em férias perto de Barcelona (reportagem do Expresso de há 3 ou 4 semanas atrás) onde os excesso provocam comas alcoólicos e filas nas farmácias para compras da pílula do dia seguinte.
A mim, o que me espanta mais ainda é que os organizadores de tais férias para finalistas do secundário estejam a pensar promover férias para miúdos de 10/11 anos nos mesmos locais. Bem longe dos pais.
Eu “acho” que é uma das características desenvolvidas “involuntariamente”, pela nova geração. E digo, involuntariamente, porque toda capacidade que os jovens têm em apreender “sem esforço” tudo o que se relacione com a utilização das novas tecnologias, deve-se, suponho eu, ao facto de esta geração ser “gémea” dessa mesma tecnologia. Quero dizer: fazerem duas ou mais coisas em simultâneo é normal, porque o fazem sem esforço, pois servem-se de um conhecimento que lhes é inato -o das novas tecnologias.
ResponderEliminarJá vi muito jovem, sem formação específica, abrir a caixa de um CPU e substituir acessórios que aumentem, por exemplo, a velocidade de processamento de dados. Quando os questionei como o sabiam fazer respondiam, simplesmente, que um colega lhes tinha dito como se fazia!
Mas é curioso. Também há algumas pessoas da minha geração (dos cinquenta anos) que têm esta capacidade de fazerem coisas em simultâneo.
Conheço duas pessoas que conseguem ter, também, alguma desta simultaneidade: uma delas consegue ler e fixar e ao mesmo tempo estar em diálogo; a outra, é capaz de ter uma conversa e ao mesmo tempo perceber a conversa do casal em frente…
Disse-me a primeira pessoa que não é difícil, que é tudo uma questão de treino. E assim é.
Nos últimos tempos, por escassez de tempo, ouço pelo ouvido direito (com um headphone) uma língua estrangeira que pretendo aperfeiçoar, enquanto, o ouvido esquerdo ouve o diálogo que passa na TV. Igualmente, consigo já, “teclar” no msn e, ao mesmo tempo, alternar para digitar este comentário…
Se calhar é por isso que saiu um chorrilho disparates...
Caro António Viriato, como sabe o impulso que se tem perante o que não se compreende é o de desclassificar, ou de contrariar para nos situarmos de novo no registo que nos seja mais cómodo. Daí esta dificuldade entre gerações, cada uma tem referências que a outra não conhece ou não está interessada em valorizar e rapidamente ficam de costas voltadas ou, o que não é melhor, aceitam acriticamente,deixando que as coisas evoluam como calhar.
ResponderEliminarCara Pezinhos, que lindo Danúbio Azul, veja lá que consegui ouvir e ver os dez minutos seguidos!, um verdadeiro prazer,muito obrigada. E fique descansada que se alguém lhe disser que sabe gerir isto tudo sem entrar em angústia é porque está a enganá-la :))
Caro Bartolomeu, atento como é, e dado a reflexão, já foi antecipando a continuação do post, ou seja, o efeito desta actividade frenética na memória...
CAro Rui Fonseca, não é nada fácil impedir um adolescente de ir na viagem de fim de liceu quando TODOS vão, e essa praia perto de Barcelona tornou-se, de há vários anos para cá, na grande referência. É barata, juntam-se lá aos montes, há sempre alguns problemas mas o balanço não deve ser tão mau como o pintam porque, como diz, continuam a ir e cada vez mais. Creio que, como sempre, haverá uns miúdos que quando se sentem à solta disparatam mas em regra já não precisam ir para longe para o fazerem, a viagem é só mais um pretexto.
Caro Jotac, isso é que é juventude, já conseguir ouvir sem ser em estereofonia, mandar sms, ler o 4r,tudo em simultaneo, não sei se é por ter um background de outra geração mas o facto é que não se nota qualquer baralhação! :)
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