terça-feira, 8 de abril de 2008

Pequeno ensaio sobre a cegueira


O DN de hoje chama à primeira página uma notícia que o haveria de ser mais dia menos dia.

As políticas cegas de redução de pessoal na função pública estão a ter como efeito o abandono dos quadros mais qualificados do Estado. Compreende-se que assim seja. O mal-estar que se vive nas Administrações Públicas, o labéu lançado sobre os funcionários públicos e o seu continuado desprestigio social, a degradação dos vencimentos, a insegurança laboral, a irracionalidade do novo estatuto, a permanente instabilidade orgânica e a partidarização dos cargos dirigentes a todos os níveis, a discriminação em função da opção política, são factores que impelem para fora do círculo do Estado todos aqueles que, portadores de competências e capacidades, encontram no sector privado colocação mais compatível com o seu valor.
O maior paradoxo é que é o Estado a estimular e apoiar a chamada mobilidade dos funcionários públicos para o sector privado.
O movimento só não é maior porque a economia está como está e o emprego de pessoal qualificado também não abunda.

A crise é profunda e também se vê por aqui. À manifesta falta de qualidade das lideranças políticas, à consabida mediocridade de muitos dirigentes (veja-se como prova disso a inacreditável história contada pelo JN de hoje!), junta-se agora a fuga para o sector privado dos melhores que a função pública acolheu e muitas vezes formou.

Porém, como se ouve por aí que o Estado é para desmantelar, não se passa nada...

9 comentários:

  1. Sim, sim...Caro JMFA, deixe lá os quadros altamente qualificados deixarem o serviço do estado. Será, certamente, uma grande perda para todos nós mas não me consigo deixar convencer de que se temos os piores serviços públicos do mundo e, simultaneamente, os mais caros, isso é independente da altíssima qualificação desses quadros. Desejo-lhes a maior das boas sortes para os desafios que se aproximam nas vidas deles.

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  2. -O maior problema não são as políticas de redução de pessoal, mas as de redução salarial, essas sim, afugentam de lá os melhores, deixando os menos bons, e reduzindo por essa via o número. Que aliás, nem se conseguiram reduções significativas, face ao que seria desejável, é caso para afirmar, sairam poucos, mas bons!

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  3. Caro Dr. JM Ferreira de Almeida, não entendi de que forma o DN foi conduzido a aferir a qualidade daqueles que abandonaram os quadros do estado e a considerá-los "os melhores". Terá sido pelo nível salarial, ou pelas categorias que os classificavam?
    E depois... "Da lista de 103 funcionários que pediram para abandonar as respectivas funções, encontram-se muitos licenciados: além de sete técnicos superiores, há 12 médicos veterinários e 12 engenheiros técnicos agrários."
    Realmente, esta relação não deixa dúvidas... da lista de 103, 31 são licenciados... é! realmente são muitos, mas...ha nesta análise um promenor quais são as idades destes "dissidentes"? Secalhar, mas isto sou eu a imaginar, estavam próximo da idade para a reforma... será?
    Bom, ha um facto que é indiscutível, o completo desprezo e desrespeito que este governo vota ao funcionário público, ao seu estatuto e qualificação. Mas, com os sindicatos que defendem a classe, outra coisa não seria de esperar.
    Gostei do título deste post, é com a cegueira colectiva que o sinhuore inginheiro conta para 2009, é só uma questão de distribuir uns rebuçadinhos pelos ceguinhos.

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  4. Caro José Mário
    Preocupante!
    Se há necessidade de mudança na Administração Pública é no domínio da política dos recursos humanos. A definição desta política deve ter em conta a importância vital da necessidade de criar os incentivos para uma maior qualificação dos recursos humanos e tem de ser baseada no mérito, medido e avaliado correctamente. Recrutamento, promoção e compensação têm de seguir critérios rigorosos de mérito, resultantes de modelos de avaliação completos e exigentes. Os dirigentes devem ser motivados para investir na sua própria capacidade e para procurar melhorar a qualidade dos funcionários que dirigem. Isso passa por políticas de recrutamento, substituindo quem sai por um menor número de pessoas mais qualificadas e por políticas de formação bem desenhadas.
    Uma política de recursos humanos que não é capaz de reter e captar os mais preparados e qualificados, está a contribuir para aprofundar as dificuldades de mudança para uma Administração Pública capaz de cumprir plenamente as suas funções, colocando entraves à sua modernização e eficiência.
    Como em qualquer organização, o activo mais importante são as pessoas. E Administração Pública não foge à regra!

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  5. "Fuga para o sector privado dos melhores que a função pública acolheu e muitas vezes formou".
    Disse Dr. JA Ferreira de Almeida.


    Ontem, já era tarde !!!

    Perdoe-me a acidez do comentário.
    Mas aplica-se em muitos casos. Havendo, como sempre há, honrosas excepções.

    Um país tão pequeno, e tão mal gerido há que anos. Humm, sei não, se o Caro Dr. terá razão.

    E quanto àqueles que o Estado ajudou a formar. Provavelmente o Estado pagou caro com essa prática. É que para se estarem a formar, não podiam estar a cumprir a função, para a qual foram contratados, mas hoje podem utilizar a citada formação, "à pàla do Estado" (desculpe o vernáculo), se se candidatarem ao sistema privado.

    Dúvidas, muitas, suscitam-me certos curriculum's vitae. Mas isso é outro tema.


    Concordo com a Cara Dra. Margarida, mas parece-me que o SIADAP, como qualquer modelo, carece de melhorias. E não tem mal por isso.
    O problema começa desde logo pela utilização subjectiva feita pelas chefias. Será que todas as chefias têm competência para avaliar ?
    Será que todas as chefias têm competência para serem chefias ?

    Por uma auditoria de RH que fiz recentemente num serviço do Estado, só lhe digo que fiquei horrorizada, do modo, como era aplicado o SIADAP.
    Completamente desvirtuado....

    O fato é feito à medida, dos amores e (des)amores pelos colaboradores.

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  6. Caro Drº Ferreira de Almeida.
    Eu não sei a que tipo de quadros se refere mas, se é ao nível de dirigentes duvido muito! A maioria daqueles que conheço, sinceramente, não lhes reconheço grandes capacidades (tirando o facto de apreciarem um bom BM), pese embora o facto de terem currículos esmagadores. E a prová-lo está o mau funcionamento dos serviços públicos…
    Agora que nos quadros intermédios há bons profissionais, lá isso há, tal como os havia na década de 70/80 quando a banca começou a abrir imensos balcões e foi absorveu à F.P gente capaz.

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  7. Anónimo22:14

    Meus caros Amigos:
    Sim, há trabalhadores competentes na Administração Pública. E V.Ex.as sabem que sim. Conheço muitos. Como conheço muitos que são preguiçosos, pouco dedicados e incompetentes. Assim como contacto com bons e maus profissionais no sector privado.
    Não tomem, por isso, tão facilmente a nuvem por Juno.
    A Margarida Corrêa de Aguiar sublinhou aquilo que é a grande diferença, neste domínio, entre sector público e sector privado. É que as boas empresas sabem que os seus activos mais preciosos são os seus trabalhadores, e, de entre eles, os seus quadros. Não há boas empresas sem bons colaboradores (por muito bons que sejam os gestores). No Estado não se pensa assim. E sob pretexto do reequilibrio orçamental que tudo justifica deita-se fora a água do banho e o bébé.

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  8. Missão, Valores e Objectivos do Serviço Público são três premissas fundamentais, que para muitos FP pura e simplesmente não existem. Nem querem saber. Tão pouco.

    Já para não falar do importante conceito de Qualidade Percebida pelos Utentes dos Serviços Públicos.

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  9. Um tema muito importante, sem dúvida, caro Ferreira d'Almeida, a encarar sem preconceitos.

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