sexta-feira, 16 de maio de 2008

Saladas e salsadas


O Expresso conta-nos que França e Inglaterra contrataram chefes famosos para reformular os menus das cantinas escolares e assim lutar contra a escalada da obesidade infantil e que, cá no burgo, os cozinheiros de renome já se ofereceram para ajudar nesse quebra-cabeças.
Há um anúncio qualquer que diz que crianças que gostem de bróculos simplesmente não existem. Bem, é capaz de haver uma outra, claro, mas eu não conheço nenhuma, e peixe cozido também não tenho ideia. Sopa, nem vê-la, é preciso esperar pelo fim da adolescência para acabar com as cenas à mesa por causa da sopa.
Não é um drama da actualidade, ou um erro da educação facilitista e desse desfiar de acusações aos pais desatentos a que já nos vamos habituando, sempre foi assim, salvo em caso de fome ou pobreza, caso em que se come o que há, mas creio que não é para esses casos que se teoriza sobre os menus xpto. Quem não se lembra de ficar à mesa horas a fio, à frente do prato com o cozinhado que detestávamos, até o pai ou a mãe se condoerem e deixarem-nos passar à sobremesa sem comer tudo até ao fim? Invariavelmente eram as couves, ou as favas, ou a sopa…
Acho que a questão da alimentação das crianças nos países ditos ricos não está na concepção elaborada de combinações que exijam artes culinárias por aí além, isso que a Inglaterra e França decidiram fazer é um golpe publicitário dos políticos, não acredito que uma mãe de família mediana não se farte de rir com tanta complicação. A menos que elas próprias não saibam cozinhar, como acontece na América (em geral, claro) onde, há 20 anos, as refeições na escola primária já eram uma fatia de pizza ou uma sanduíche de manteiga de amendoim porque as crianças não comiam outra coisa em casa, a tradição culinária era simplesmente nula.
As refeições equilibradas são simples, aquilo que uma família deve poder comer são produtos com alguma qualidade e cozinhados sem muitos condimentos, dependendo as diferentes combinações, e variedades dominantes, dos hábitos alimentares e dos produtos de cada país. Acho que toda a gente sabe isto. Não fui analisar os menus em muitas escolas, como o Expresso, mas duvido que seja por aí que as crianças fiquem obesas, deve ser exactamente porque comem cá fora mil e uma coisas de que gostam mais e que depois lhes tiram o apetite para o que servem nos refeitórios.
Como controlar os abusos das guloseimas ou da sanduíche ou das pizzas, esse é que é o problema, não venham agora querer convencer-nos de que em Portugal esses maus hábitos alimentares se adquirem na escola e que é aí que temos que nos concentrar, e muito menos de que um concurso internacional de chefes de cozinha saberá tornar apetitosa para uma criança a couve flor ou o arroz de grelos! Por esse caminho, ainda vamos ter directivas comunitárias a decidir os menus diários imperativos em toda a Europa a 27…

6 comentários:

  1. Suzana
    Pois eu quando era criança adorava sopa e favas e nunca deixei de gostar. Lembrei-me de uma história engraçada que vou contar.
    Das coisas que não gostava, recordo-me do detestável pepino, um legume que transformava as refeições à mesa num autêntico suplício. Até que um dia eu e os meus irmãos descobrimos uma solução para acabar com a tragédia do pepino. Durante meses, muitos meses, colávamos as rodelas de pepino por baixo do assento das cadeiras. A baba do pepino funcionava como uma verdadeira cola, daquelas que colam ferro. Até que um dia a minha Mãe decidiu substituir as palhinhas das cadeiras. Foi o fim! Imaginem só o que nos aconteceu...
    Ainda hoje não aprecio pepino!

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  2. Cara Suzana
    Os maus hábitos alimentares das crianças resultam, frequentemente, da pobreza. Quanto mais pobres forem as famílias e, consequentemente, mais incultas, maior é o risco da obesidade.
    Acho muita piada – sem graça nenhuma – às campanhas para combater os maus hábitos alimentares. Agora, circula na TV uma campanha sobre como comer bem! Linda campanha, sobretudo num país em que a fome começa a ser uma realidade, onde milhares de famílias começam a contar os cêntimos para a compra do pão, onde as pessoas batem, desesperadamente, à porte do Banco Alimentar, onde as pessoas tocam na fruta mais “desfavorecida” e até já a decompor-se...
    Os senhores e as senhoras nutricionistas num meio envolvente apetecível e rico de supermercados, patrocinadores da campanha (publicidade encapotada?), esclarecem como alimentar-se bem. Bem? E o resto? Não conta? Parece que não!

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  3. Pois é Margarida, nas famílias com vários fihos a hora das refeições tinha sempre alguma crise porque havia sempre um que não gostava disto ou daquilo. Eu nunca provei favas porque o meu pai detestava e lá em casa não se comia,felizmente com o pepino era a mesma coisa até detesto cheiro quando misturam na salada,mas fartei-me de ter que comer coisas de que não gostava mesmo nada, como açorda. A sorte é que, quando passei a ter que ser eu a cozinhar, seleccionei devidamente o que gosto e o que não gosto, o resultado é que as minhas filhas nunca provaram favas, pepino e açorda...Prepotências!Hoje, se calhar, só com filhos únicos, os meninos já se dão ao luxo de escolher o menu.
    Tem razão, Prof. Massano,~essas campanhas não combatem os defeitos da pobreza, só orientam os mercados, esse é o papel dos vendedores, mas esperemos que os países não lhes sigam as pisadas.

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  4. Quando frequentei a escola primária do estado, era e ainda foi durante mais de uma década, António Salazar, Presidente do Conselho. Existia cantina na escola, onde era fornecido todas as manhãs, gratuitamente a cada aluno carênciado, uma carcaça com manteiga ou marmelada e um copo de leite, ao almoço, uma sopa, um prato de peixe ou de carne e uma peça de fruta, ao lanche, novamente a carcaça com manteiga ou marmelada eo copo de leite.
    O Alberto era o meu colega favorito, de etnia cigana, danado para a futebolada e tal como eu, ou eu como ele, sempre prontinho para assentar umas boas lambadas naqueles chicos-espertos que gostavam de malhar nos outros que por serem mais fracos, acabam o bombo da festa.
    Fizemos as provas de passagem da 1ª classe e tanto eu como o Alberto obtivemos a classificação máxima, os nossos nomes foram escritos pelo professor Machado no Quadro de Honra.
    Contava-me o Alberto que muitas vezes, o jantar dele era constituido por um pedaço de "pão escuro" um pão que se gundo creio era de inferior qualidade e preço, por ser feito com farinha de diversos cereais e, referia-me ainda que esse pão era sêco, ou seja, sem acompanhamento, ou conduto, como era habitual dizer.
    As minhas refeições eram tomadas em casa, até porque morava pertinho da escola, mas todos os dias levava na pasta dos livros um "miminho" que a minha mãe lá colocava para alimentar o "ratinho" a meio da manhã. Por vezes esse miminho era um pacote de bolachas short cake que eu adorava. Mas o Alberto tambem apreciava bastante as mesmas bolachinhas, então sentados no recreio oferecia-lhe metade das minhas bolachas e ele, lembro-me tão bem, com os olhos a brilhar, olhava para as bolachas e respondia... deixa estar, agora não me apetece. Obviamente que acabava sempre por comer, e segundos depois já estavamos os dois a correr atrás da bola, felizes e contentes.
    Mas não me recordo de ter colegas obesos lá na escola. Em abono da verdade, estou convencido que não havia tempo para isso. Ou a jogar futebol, ou às escondidas, ou ao avião com o salto de um sapato velho de homem, ou à apanhada, ao toca-e-foge, à rabia, ou a saltar ao eixo, encontrávamos sempre a forma ideal para naturalmente queimar qualquer caloria acumulada.

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  5. Caríssima/os,

    Aqui em casa a descendência come e aprecia peixe e sopa... É verdade que legumes cozidos e salada estão proscritos (mas os meus espiões privados dizem-me que comem os legumes na escola). E como não podemos estar sempre a martelar na cabeça da criançada, pois o pouco tempo em que estamos juntos acaba por ser durante as refeições, cabe-lhes provar e dizer que não gostam.

    Penso que os problemas que citam se devem a maus hábitos alimentares desde *tenra idade*. Sem um palato educado desde que largam as papas é natural que depois não comam...

    Há certas banalidades de base que se perderam -- comer-se diariamente uma refeição de peixe e outra de carne, sopa, fruta etc etc

    Como costumo comprar e cozinhar peixe sei quanto custa e quanto se espera para ser arranjado. Tempo e dinheiro dois bens escassos nos tempos que correm. Isto já para não falar da fraca qualidade geral e pouca variedade de peixe que existe nos supermercados.

    Quanto a guloseimas é bom que as comam pois já passei "vergonhas" aquando das primeiras festas dos coleguinhas. Foi aí que pareciam autênticos miseráveis a comeram gomas pela primeira vez na vida e se engasgavam com rebuçados e chiclets... (perguntando depois de engolir um rebuçado se iam morrer!)

    Cumprimentos,
    Paulo
    PS: Já viram que a ASAE já chegou às instituições de solidariedade social? Conhecia casos com o banco alimentar mas hoje o Público tem um artigo mais geral.

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  6. É engraçado ver as memórias de cada um associadas a esta questão. Paulo dá-nos já uma visão actual, É verdade que já não há tempo para estar ali de castigo à espera que as crianças acabem com as fitas, mas também é verdade, porque já vi com as minhas filhas e vejo ainda mais nítido com os sobrinhos netos, que há hoje a preocupação de fazer as refeições "adaptadas" ao gosgto das crianças, são elas que determinam os menus enquanto isso, há umas décadas atrás, podia quando muito ser um miminho especial no dia de anos. No resto do tempo, o que vinha para a mesa era o que os pais gostavam e o que achavam que os filhos tinham que aprender a gostar. É também verdade o que Paulo aqui nos diz, se tentamos manter os garotos afastados de alguns hábitos generalizados, corremos o risco de passar "vergonhas"como a que conta..

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