quarta-feira, 28 de maio de 2008

Vizinhança: um fenómeno "fora de moda"...

Não sabia que existia o Dia Europeu dos Vizinhos, assim como não me apercebo de muitos dias nacionais, europeus ou internacionais que comemoram, relembram, promovem ou fomentam um cem número de “coisas”. Enfim, não fazia ideia da existência deste Dia. Foi uma pequena peça televisiva que me despertou para o assunto.
Fiquei a pensar sobre as razões que motivaram a ideia de assinalar um dia dedicado aos vizinhos. Na verdade, a vizinhança é um fenómeno que está em extinção, vítima de uma nova dinâmica económica e social que alterou profundamente o modo como se opera a “socialização” nos países que registaram transformações económicas importantes. Com efeito, cultivar relações com os vizinhos constitui hoje em dia uma dificuldade, não sendo assim reconhecida porque as pessoas na azáfama do dia a dia não valorizam os laços de vizinhança, não sentem a sua falta, não os consideram algo que poderia melhorar a sua convivência social e humanizar o relacionamento com o meio.
Alteraram-se os modos de relacionamento com os outros e as formas como interagimos com o meio envolvente e as estruturas económicas e sociais de que dependemos, modificaram-se os hábitos e os costumes de vida, o espaço físico conheceu uma nova organização “urbana”, alargaram-se as ofertas e as respostas à nossa disposição para a ocupação do tempo e a descoberta do mundo e imprimiram-se novos espaços, tempos e ritmos para as 24 horas do quotidiano.
Com estas mutações da organização social desapareceram, em particular no meio urbano, os laços de vizinhança assentes em valores tão importantes como a proximidade, a solidariedade e a entreajuda. Desapareceram, assim, redes importantes de apoio, de convívio e de inclusão social.
Quantos de nós não conhecemos quem são os nossos vizinhos? Não sabemos quem são, como se chamam, se são altos, baixos, magros ou gordos, o que fazem, se estão bem ou se precisam de ajuda. A regra é hoje o desconhecimento do que se passa paredes meias com a nossa casa, no prédio ao lado ou no outro lado da rua. O vizinho idoso necessitava de uma ajuda mas não fomos informados ou a casa do lado foi assaltada mas não soubemos! Aparentemente não tem importância, é indiferente!
Se pensarmos um pouco mais sobre a importância dos laços de vizinhança, verificamos que a sua ausência é um factor que estimula a solidão, a exclusão social e a insegurança. Mas não temos tempo para reflectir sobre estes "detalhes" da vida! Andamos tão entretidos com o progresso que mais facilmente comunicamos pela internet com alguém que está do outro lado do mundo do que cumprimentamos um vizinho!
Agora consigo compreender um pouco melhor a razão de ser do Dia Europeu dos Vizinhos!

5 comentários:

  1. Vivo há 23 anos num prédio de 12 habitações. No apartamento ao lado do meu instalaram-se, na mesma altura, 2 vizinhos especiais: os meus Pais. O prédio foi depois sendo habitado e, estranhamente, ainda lá estamos todos. Quando, 6 meses após a minha instalação, o meu Pai morreu, a minha Mãe começou a receber discretas demonstrações de boa vizinhança. Foi muito bom, apesar de ela também ter contribuido ao ter manifestado previamente os seus votos de "boas vindas" aos vizinhos que iam chegando.
    O "prédio" tornou-se familiar q.b., sem grandes indiscrições. Pontuais comportamentos menos agradáveis foram sendo encarados com "complacência activa", o que evitou situações de ruptura ou zangas evidentes.
    Alguns dos primeiros vizinhos estão hoje velhos (no melhor dos sentidos), tendo-se tornado, sem atitude premeditada, "Avós" de quem foi entretanto nascendo.
    Com uns mais que com outros, vamos mantendo laços de cordialidade e até de amizade. E de solidariedade e ajuda quando necessário. Problemas surgiram, e muitos, mas o comprometimento social que já existia permitiu resolvê-los sem demasiada dor.
    Não é o Paraíso, mas é melhor que muito do que tenho visto. E por isso celebro agora, porque há 10 minutos não conhecia a sua existência, o Dia Europeu dos Vizinhos.

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  2. Quando vi a notícia ontem também me ocorreu escrever um post, mas revejo-me totalmente no que a Margarida aqui escreveu. Hoje desvalorizamos completamente as relações de vizinhança, ao ponto de se confundir uma saudável cautela em evitar que se intrometam nas nossas vidas com a total falta de cortesia ou urbanidade. É frequente no meu prédio os vizinhos entrarem no elevador e nem sequer dizerem bom dia. Ou irem à frente e fecharem a porta obrigando o de que vem a seguir a esperar de novo pelo elevador. Há duas castas: os velhos vizinhos, que se cumprimentam e perguntam pelos filhos (e netos!) e os novos, que fazem de conta que cada território é independente. Mas são laços de solidariedade muito importantes, devem ser cultivados, mesmo quando o registo é de alguma cerimónia...

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  3. Caro Manuel
    O seu testemunho é a bem a prova de que é possível e com bons resultados cultivar os laços de vizinhança. A cordialidade e a amizade de que nos fala propiciam a todos os vizinhos um ambiente mais caloroso e a entreajuda que só quando a temos a sabemos valorizar. Quem não a tem não sabe o que perde! Às vezes basta um sorriso e um cumprimento para nos sentirmos melhor, nós e os outros.
    Tem realmente razões para celebrar o Dia Europeu dos Vizinhos.

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  4. Cara Margarida
    Como já vai longe a iniciativa de ir pedir à vizinha um bocadinho de salsa! De cada um usufruir, com termos, barreiras e boa fé, do facto de haver boa educação, princípios e um pouco de compreensão ,digamos, cristã.
    Basta refletir um pouco sobre as condições sociais que viabilizavam a prática da boa vizinhança, para se poder concluir de vez, por estas e por aquelas razões,que a não ser em casos especiais, a boa vizinhança teve o seu tempo, muitos séculos, mas que acabou, como sucedeu a muita coisa boa de que o "progresso", apesar dos seus aspectos positivos, é provavelmente responsável.

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  5. Suzana
    A falta de cortesia e urbanidade é pouco para designar a má educação e a indiferença com que essa "casta" ofende os laços de vizinhança.
    Depois dos "velhos vizinhos" esperemos que os novos vizinhos que também lá chegarão aprendam alguma coisa com a idade...

    Caro antoniodasiscas
    Tudo é feito de balanços. Claro que o “progresso” tem coisas muito boas. Mas será que algumas das coisas que se perderam não poderiam ser recuperadas com alguma cedência em troco de valores e de compensações que fazem falta? Será que há uma verdadeira consciência?

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