segunda-feira, 23 de junho de 2008

Tanto desperdício!

É frustrante a ausência de melhorais estruturais na evolução do conhecimento da matemática dos estudantes portugueses. No estudo do Programa Internacional para a Avaliação da Matemática de 2006 publicado pela OCDE, Portugal situa-se em 37º do ranking, seguido em piores resultados pela Itália, Grécia, Turquia e México. Os resultados foram os mesmos revelados pelo estudo de 2003.
Estes resultados apenas confirmam o que já todos sabemos. Nada de novo, portanto! O panorama da matemática em Portugal é desolador. Mas bem mais desolador é o facto de o problema estar há muito diagnosticado e desde lá para cá não termos sido capazes de inverter este estado de coisas.
Hoje mesmo realizou-se o exame nacional de matemática do 12º ano. O coro de protestos que se ouviu ao longo do dia de alunos, pais e professores é a reacção ao baixo nível de conhecimentos exigido no exame.
Pais e professores, cientes das dificuldades da aprendizagem da matemática, não deixaram, e bem, de manifestar a sua preocupação pelo facilitismo colocado neste exame nacional. Esta reacção insere-se, aliás, na polémica em que têm estado envoltos os exames nacionais.
A correcção dos baixos níveis de aproveitamento que se registam na matemática será sempre um processo lento, tendo em conta o contexto social e cultural envolvente, e, ainda assim, para que registemos progressos, necessitamos de colocar mais recursos e mais atenção no seu ensino.
Não é com o facilitismo de um exame que o panorama vai mudar. Fazê-lo é dar um sinal errado e prestar um mau serviço à cultura de exigência que tanta falta nos faz. Mas é também um factor de injustiça, ao não permitir premiar os melhores alunos, que mais estudaram e se aplicaram ao logo do período escolar, e os professores que mais se esforçaram na preparação dos seus alunos. E há também que reconhecer que desta forma é desbaratado todo um esforço e sacrifício de muitos pais que gastaram tempo e dinheiro em ajudar os seus filhos a ultrapassar os défices da qualidade do ensino da matemática. Poderemos estar perante uma estratégia do vale tudo para melhorar a estatística. Nivelando por baixo! É o que se chama a cultura da medíocridade!
Talvez assim, Portugal suba uns pontitos no ranking da OCDE. Mas a verdade é que não é assim que estaremos a preparar os nossos jovens para enfrentarem com confiança os desafios profissionais.
A matemática é considerada uma aptidão básica para lidar com a vida. O importante é que seja corrigida a complexidade que é colocada na apresentação da função dos números. No sucesso de aprendizagem será fundamental o ganho de confiança e de auto-estima na resolução dos problemas. Se persistirmos no facilitismo não seremos capazes de inverter o problema da aversão e do insucesso que caracterizam a aprendizagem da matemática nas nossas escolas.

9 comentários:

  1. Cara Margarida
    Mais uma vez os seus artigos demonstram uma oportunidade de aplaudir. O que se está a passar com o ensino da matemática neste pobre país, é de estarrecer. Que tudo se processa com todos os defeitos e com a mesma estratégia educativa de há uns anos atrás, ninguém tem dúvidas, agora que se entre pela desonestidade pública, fazendo crêr, com resultados completamente viciados por um facilitismo vergonhoso, que tudo melhorou, aí não, não e não, pois que enveredando por este caminho, tudo piorará a curto termo e a factura cada vez vai sendo maior. Quem nos acode? Onde é que isto chegou? Bem dizia o "excelente" guterres, o seguinte que feche a porta!

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  2. Por acaso, penso que isto não fará Portugal subir na lista da OCDE.

    É pior que isso tudo, cara Margarida. Há uns tempos, depois do meu filho mais velho fazer a prova de aferição, resolvi ir ver as provas. Está aqui

    http://tonibler.blogspot.com/2008/05/facilitar-naaaoooooo.html

    Descobri que a prova de aferição do 6º ano tinha perguntas em 2008 que tinham sido feitas na prova de aferição do 4º ano em 2007. E por isso, a ministra veio festejar as fabulosas medidas para melhorar o conhecimento dos miúdos. Afinal, basta exigir o mesmo que exige aos miúdos do grau de ensino abaixo que as notas sobem logo.Não me venham dizer que isto é uma questão de opinião técnica, isto é premeditado.

    O meu filho mais velho tirou A na prova. Ficou doido com o sucesso na prova e, logicamente, cabia-me parabenizá-lo. Mas, cá dentro, será que numa prova a sério ele tiraria o A? Será que este A não lhe vai estragar a vida, por poder não ser um A real? Quem é o FDP que consegue ganhar a vida a enganar miúdos de 10 anos? Porque é que há pessoas a serem julgadas por abusos na Casa Pia e estas pessoas andam a ser louvadas por abusarem de crianças em todo o lado?

    Isto é uma mega fraude de consequências horríveis para miúdos inocentes. Amanhã, outro político qualquer vai sentar-se no lugar da Maria de Lurdes e vai ter que dizer ao país que, no seu turno, as notas de matemática vão cair 50%? Duvido. Amanhã, o que hoje é fácil passa a ser normal até que outro criminoso resolva ainda facilitar mais para que a sua vidinha corra melhor.

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  3. Versão 12º ano. Há perguntas iguais nos exames do 9º e do 12º. Isto é espantoso. Só me vem uma frase, é preciso ter muita lata!

    http://tonibler.blogspot.com/2008/06/o-crime-da-maria-de-lurdes-2.html

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  4. Caro antoniodasiscas
    É de estarrecer, concordo, o que se está a passar!
    Há muito que não tínhamos tantos protestos de alunos, pais e professores. Pelo menos, começa a sedimentar-se uma consciência social de que o facilitismo não é o caminho.

    Caro Tonibler
    Partilho do seu comentário final. Qual é um novo ministro da pasta da educação que tem coragem de introduzir medidas correctivas para a elevação do grau de exigência, para logo de seguida o resultado ser uma deterioração da estatística? Politicamente muito complicado!
    Caro Tonibler também fui ver as provas.
    É inconcebível como é que num exame nacional se pergunta a um aluno do 9º ano: Qual é o mínimo múltiplo comum entre 12 e 24? Não é preciso compreender a matemática para responder. É uma troça!

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  5. Cara Margarida Aguiar,
    As suas perplexidades, e dos outros comentadores, são também as minhas. Muitas perplexidades mas muito poucas certezas, no meu caso, claro.
    Mas não posso deixar de discordar em absoluto com um dos argumentos que traz à colacção: "E há também que reconhecer que desta forma é desbaratado todo um esforço e sacrifício de muitos pais que gastaram tempo e dinheiro em ajudar os seus filhos a ultrapassar os défices da qualidade do ensino da matemática.
    Considerar válido este argumento, corresponderia a considerar maois importante os resultados da avaliação que os resultados da aprendizagem.
    Bem haja quem investiu para que os seus filhos ultrapassassem os défices. Os benificiários serão sempre, em primeira linha os seus filhos. Os resultados da avaliação são um detalhe do percurso. E, se estão bem preparados terão sempre melhores notas que os outros. A menos que tenham todos 20. O que não creio ser o caso.
    Seguindo o velho ditado: O saber não ocupa lugar. Mas, acrescento eu, ajudará sempre a ocupá-los..

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  6. Caro SC
    Não entendeu bem o alcance de uma das minhas reflexões.
    Com efeito, o "saber não ocupa lugar". Todo o investimento sério, com mais ou menos sacrifício, que os pais façam na educação e formação dos seus filhos terá retorno. Será uma mais-valia. Havendo, no entanto, um nivelamento por baixo na exigência escolar, pais e filhos não vêem reconhecido o seu empenhamento. É um sinal negativo e porventura um desincentivo para fazer mais e melhor.

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  7. Atentai no percurso "educativo" do nosso excelentíssimo PM e respectiva acompanhante da Educação, com especial revelo para o percurso no "Superior". A Margarida acredita mesmo que a disciplina, o rigor, a exigência e a seriedade fazem parte do léxico de algum deles? É preciso fazer-se pela vida (ou "pela vidinha", como diz o do laço).

    Sintomático o que diversos encarregados de educação de Leste (esses que, muitos deles tendo formações relevantes para as necessidades do nosso país, são postos a assentar tijolo, lavar chão ou coisas piores...) estão a fazer, para "salvarem" os seus filhos deste nosso luso sistema educativo.

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  8. Cara Margarida Aguiar,

    Eu é que não me terei feito entender bem. Claro que entendi o seu comentário e as suas perplexidades. O meu comentário foi apenas no sentido de alertar para o que estes "movimentos" precipitados de avaliação da avaliação podem ter mais de negativo que a alegada falta de "rigor" dos exames.
    Todos nós sabemos, especialmente os que já tiveram de o fazer, a dificuldade que é em adequar as perguntas de um teste à real avaliação dos conehcimentos dos alunos. Sempre fui tendo surpresas ao longo da vida.
    Por isso, há uns anos atrás, nesta altura do ano, a notícia era essa desadequação: os exames não reflectiam a matéria e a orientação pedagógica durante o ano, eufemismo de difíceis, digo eu.
    Agora é que são fáceis de mais e que isto é para as estatísticas. A nossa eterna mania de teorias da conspiração, descon fio eu.
    Há uns tempos um amigo que terá olhado com cuidado para os estudos da UNESCO disse-me foi que os resultados apontavam para uma subida constante porém demasiado suave. Isto é, independentemente dos resultados da nossa avaliação variarem de ano para ano, o resultado geral, feito por testes mais padronizados, diz que: i)em primeiro lugar não há diminuição das competências em matemática, antes pelo contrário; ii) essa subida é no entanto demasiado suave, o que explica que continuemos muito abaixo no ranquing por países.
    Não verifiquei mas não tenho razões para duvidar. Até porque me parece estar de acordo com o (bom) senso comum.
    E o que eu não aceito mesmo é que organizações com responsabilidades na área da matemática tenham também alinhado por esta crítica apressada. Por uma vez até me fizeram estar de acordo com a ministra.
    Há e também tenho uma declaração de interesse (único)neste assunto: também o meu filho fez exame de matemática de 12º ano, também gastei um dinheirito em explicações nos últimos dois anos (santos da porta...) e também me disse que o exame era muito fácil. O que lhe respondi, por agora, foi que estava para ver a nota...
    Por isso, prefiro esperar. E ver se a nossa atitude social relativamente à matemática muda.
    A propósito, quantas empresas ou outras instituições exigem uma prova de desempenho de competências básicas de matemática na admissão dos seus empregados?
    Bem, já vai muito longo, fico por aqui, com toda a estima.

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  9. Caro Ruben
    A falta de vontade de estudar é um problema, tal como é referido no artigo "CHUMBAR É UMA VERGONHA NO LESTE".
    Essa vontade de estudar é um aspecto sociocultural relevante no nosso País. A falta de vontade de estudar não é alheia, entre outras coisas, à qualidade do sistema educativo.
    A vontade de estudar surge do reconhecimento de pais, alunos e professores de que a educação é "uma coisa boa". Esta atitude responsável não se compadece com políticas em que a exigência e o mérito não são valorizados.

    Caro SC
    Não creio que a constatação do facilitismo que grassa em muitos domínios da sociedade portuguesa seja assimilável a uma teoria da conspiração.
    Não confundamos melhorias no sistema educativo em matéria de igualdade de oportunidades com a qualidade do ensino. Quanto ao primeiro aspecto a evolução é assinalável, já quanto ao segundo o nível de insucesso escolar é dramático.
    Aguardemos calmamente pelos resultados dos exames nacionais. Desejos sinceros de que o Caro SC tenha uma alegria quando o seu filho receber a nota do exame de matemática. Embora fácil, nunca se sabe. "Até ao lavar dos cestos é vindima"!

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