sexta-feira, 4 de julho de 2008

CLAUSTROFOBIA do EURO: nova doença?

Como assinalei em múltiplos Posts neste espaço 4R, a nossa adesão ao Euro foi muito celebrada, especialmente pelas autoridades da época – estávamos em meados de 1999, é bom lembrar que em Outubro desse ano havia eleições legislativas.
Celebrou-se uma grande vitória do País, mais valorizada pelo facto de termos feito parte do chamado “pelotão da frente” – a Grécia não fez - o que augurava ou prometia os maiores sucessos para a economia.
Os problemas do passado, as crises cíclicas, tinham terminado, estávamos noutro Mundo.
Encontrávamo-nos já em euforia consumista e de explosão do crédito ao consumo e à compra de casa, beneficiando da significativa descida dos juros, que a entrada na nova zona monetária iria exacerbar.
O Estado “ajudou à festa”, com uma política orçamental de gastos sem controlo nem medida, uma postura pró-cíclica, totalmente contrária ao que seria recomendável.
Para quem tivesse uma noção das implicações da mudança de regime económico e financeiro da participação no Euro, o que se estava a passar na altura anunciava tormenta, mais tarde ou mais cedo.
Os problemas começaram logo em 2002, nas contas públicas, com a descoberta de um défice oculto elevadíssimo, que colocou o País à beira de um ataque de nervos.
A situação foi de imediato atacada por M. Ferreira Leite, com algumas medidas muito corajosas mas pontuais, que não tiveram continuidade.
Essa falta de continuidade deveu-se, entre outras razões, ao ambiente difícil que se criou a partir do momento em que o Presidente Sampaio resolveu “tirar o tapete” ao Governo em 25 de Abril de 2003 - de uma forma que ainda hoje me intriga pelo gigantesco erro que representou - quando solenemente proclamou que havia mais vida para além do Orçamento...
Mas o problema de fundo – a adaptação da política económica ao novo regime económico - nunca seria resolvido, nem antes nem depois da saída de MFL em meados de 2004: continuamos a gastar muito acima do que somos capazes de produzir – Estado em sentido amplo, Empresas e Famílias – e a situação foi-se agravando continuamente.
A entrada em cena de um novo Governo em 2005 nada mudou - começando aliás por agravar ainda mais a situação com o erro de palmatória do Orçamento suplementar para esse ano, que acomodou despesa de uma forma “lasciva” só para criar uma almofada para orçamentos futuros – criando-se assim um patamar mais elevado de despesa do qual, DIZEM OS LIVROS, já não é possível recuar a não ser com custos enormes.
Agora, com uma conjuntura externa muito desfavorável - que deverá prolongar-se não se sabe por quanto tempo – entramos numa nova fase, em que nos vamos sentir cada vez mais incomodados dentro do Euro, pagando a gigantesca factura dos erros acumulados.
Vai acentuar-se a noção, nos próximos tempos, de que estar no Euro não é uma festa, é pelo contrário, um fardo cada vez mais pesado.
A economia portuguesa, à beira de entrar numa recessão em 2008 e 2009, vai padecer de uma nova doença não tarda: a CLAUSTROFOBIA do EURO.
Terá o Prof. Massano Cardoso terapia para esta doença? Eu, confesso que não tenho...

4 comentários:

  1. -Posso estar a ver mal o problema, mas se não estivéssemos no EURO a solução dos nossos governantes seria a consecutiva desvalorização do escudo. Ora cada vez que a moeda desvaloriza não empobrecemos? Ter á mão tal instrumento, e um banco central ás ordens do poder político seriam vantajosos? Tenho sérias dúvidas, mas o prof pode explicar certamente muito melhor que eu as vantagens ou desvantagens de tal alternativa. A mim parece-me é ser necessário duma vez por todas reduzir a despesa pública, na saúde, na educação, reformar a administração e a Justiça. De preferência baixando impostos e diminuindo o peso do estado, permitindo o funcionamento da economia. Será possivel? Em Portugal tenho sérias dúvidas.

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  2. IMHO, julgo que a proposta de Miguel Frasquilho faz cada vez mais sentido.
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    Mas não é só baixar impostos! É reduzir também a despesa.
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    E quanto mais adiarmos a decisão que será inevitável no futuro, mais doloroso será.
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    Podem argumentar com a constituição e sei lá que mais... mas a emergência da realidade não se compadece com as ilusões... sem dinheiro não há circo.

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  3. Desvalorizar a moeda é uma forma de baixar a despesa pública já comprometida (salários, pensões, ...). Com o euro a única forma de baixar essa despesa é...baixar, o que é anticonstitucional e, pior que tudo, dá chatice(a primeira ultrapssa-se, a segunda é que não). Claro que isto só resulta com aquela despesa que já está comprometida, não funciona com aquela que ainda se quer assumir.

    Com o euro, a solução é a fuga aos impostos, para que estes subam mais em valor nominal, para aqueles que não podem fugir - os fornecedores e funcionários do estado - acabem por receber menos.

    Outra boa solução é entregar isto aos alemães. Se eles quiserem, elegemos o AJJ presidente da república e começamos a berrar por dinheiro chamando-lhes cubanos e colonialistas. Penso, aliás, ser essa a ideia fundamental do Tratado de Lisboa.

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  4. Caros António de Almeida e CCz,

    Em minha opinião, embora não estando 100% de acordo, tenho de reconhecer que têm alguma razão nos vossos comentários.
    Uma "possível" saída (sem saída do Euro, esta uma versão mais dolorosa, embora mais curta) consistiria, como recomendam, uma forte redução da despesa - muito a despesa do Estado e seu descontrolado e irracional sector empresarial, das Empresas não estatais e das Famílias - quer dizer uma recessão durante X anos...
    O problema desta saída é que ela não está sinalizada em lado nenhum - conhecem alguém que seja capaz de lhes dizer como, com que meios e por que forma se pode tomar essa saída?

    Caro Tonibler,

    Olhe que os Alemães não são tão parvos como possa pensar...eles quereriam garantias muito sólidas de que não haveria tumulto quando nos indicassem o menu colonial...

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