“...A partida da Geraldine foi por uma tarde, calma e fria. A formosíssima ginasta vestia um casaco comprido, claro, chapéu largo de plumas e luvas justas de inverno. Tinha o seu belo ar, perfeito e correcto, de estátua pagã - e sorria vagamente, docemente, para o Ferreira d´Almeida. Este ilustre e loiro galã guardava uma aparência discreta, triste: e nos seus olhos havia uma suave resignação de saudade e de sentimento. O Choupal era triste, o Mondego era sereno, a riba silenciosa e a viração subtil: a Geraldine, à janela da carruagem, sorria o rosto ameno, no Céu inteira a paz, no Ferreira d´Almeida uma grandessíssima lágrima...
Mas antes que a ilustre e bela ginasta nos deixasse para sempre, nós quisemos conhecer as impressões que o seu coração e o seu espírito levavam de Coimbra. Já lhe tínhamos mandado pedir ao hotel uma entrevista. Fomos ao meio-dia: a divindade estava-se a pentear, voltamos às quatro horas: a divindade estava a sorrir para o Ferreira d´Almeida: - depois eram horas de jantar e nós não queríamos fazer positivamente a nossa interview à sobremesa. Voltámos no dia seguinte...
No teatro foi impossível falar-lhe... o Ferreira d´Almeida estendia na mão um cartuchinho de rebuçados e o Lopes d´Oliveira bramia, na sombra, que aquela mulher era a Revolução social!
... Logo que entrámos na gare, dirigimo-nos à deidade:
- Donnez-vous permission, mam´zelle Geraldine?
- Oh! Yes! (O que em português quer dizer: ora essa!...)
- Nous desirons connaitre les impressions de votre esprit...
A divindade não nos deixou continuar o nosso nobilíssimo francês: interrompeu-nos logo, dizendo: - Ah! je sais!
A divindade já sabia! A divindade já sabia ao que nós íamos! Começámos então a interrogá-la. Geraldine tinha a cada pergunta nossa um leve sorriso, delicado, fino, sorriso de graça e de bondade: o seu sorriso!...
Começámos, é claro, por lhe falar da Universidade. Geraldine teve um instante o ar de quem procura recordar-se, avivar impressões: depois disse gravemente, com uma gravidade atenciosa: - Trés carèques les docteurs!... Esperámos uma outra frase de impressão. A miss sorriu apenas e volveu lentamente: “Trés carèques, les docteurs!”
Eram as impressões que a graciosíssima beldade trazia: tiram-lhe parecido muito carecas, os doutores! Explicámos-lhe então que o “pensamento não é trabalho que nos dê saúde... nem cabelo!” ((João de Deus: Carta) E ela repetia ainda: “Trés carèques! All right”
Falámos-lhe então da Biblioteca. – Une jolie paysage! Uma lindíssima paisagem: a Biblioteca tinha-lhe parecido uma lindíssima paisagem... de livros!
Nisto, ao lado, o Ferreira d´Almeida mexeu-se. Ela olhou com solicitude e disse-nos, sorrindo, que achava aquele rapaz muito lindo e muito loiro! A divindade perguntou logo se havia muitos loiros na Universidade. Nós esclarecemos que na Universidade era o que mais havia era loiros... de borla: que ela já tinha visto as coroas... de capelo! Geraldine então teve uma deliciosa confidência: que era doida por loiros – une folie, une tentation! Sempre que visse um loiro, fosse onde fosse...
...Nós hesitámos um momento: que não, que ainda havia bastante loiros! – e rematámos: - Se tivéssemos sabido há mais tempo do empenho de V.Exa tínhamos-lhe arranjado aí meia dúzia de loiros... Ferreiras – e podíamos ter oferecido a V. Exa, uma coroa deles – d´Almeidas! – Oh! merci! C´est une tentation!
... Geraldine entrou à pressa para a carruagem e disse ao Ferreira d´Almeida estendendo a mão enluvada, com um ar enternecido: - Mon cher blond, adieu! E partiu...
Desta vez o Ferreira d´Almeida ia perdendo o pé!... All right!”
Resta perguntar ao Ferreira d´Almeida se sabe quem foi o Ferreira d´Almeida da Geraldine!
Mas antes que a ilustre e bela ginasta nos deixasse para sempre, nós quisemos conhecer as impressões que o seu coração e o seu espírito levavam de Coimbra. Já lhe tínhamos mandado pedir ao hotel uma entrevista. Fomos ao meio-dia: a divindade estava-se a pentear, voltamos às quatro horas: a divindade estava a sorrir para o Ferreira d´Almeida: - depois eram horas de jantar e nós não queríamos fazer positivamente a nossa interview à sobremesa. Voltámos no dia seguinte...
No teatro foi impossível falar-lhe... o Ferreira d´Almeida estendia na mão um cartuchinho de rebuçados e o Lopes d´Oliveira bramia, na sombra, que aquela mulher era a Revolução social!
... Logo que entrámos na gare, dirigimo-nos à deidade:
- Donnez-vous permission, mam´zelle Geraldine?
- Oh! Yes! (O que em português quer dizer: ora essa!...)
- Nous desirons connaitre les impressions de votre esprit...
A divindade não nos deixou continuar o nosso nobilíssimo francês: interrompeu-nos logo, dizendo: - Ah! je sais!
A divindade já sabia! A divindade já sabia ao que nós íamos! Começámos então a interrogá-la. Geraldine tinha a cada pergunta nossa um leve sorriso, delicado, fino, sorriso de graça e de bondade: o seu sorriso!...
Começámos, é claro, por lhe falar da Universidade. Geraldine teve um instante o ar de quem procura recordar-se, avivar impressões: depois disse gravemente, com uma gravidade atenciosa: - Trés carèques les docteurs!... Esperámos uma outra frase de impressão. A miss sorriu apenas e volveu lentamente: “Trés carèques, les docteurs!”
Eram as impressões que a graciosíssima beldade trazia: tiram-lhe parecido muito carecas, os doutores! Explicámos-lhe então que o “pensamento não é trabalho que nos dê saúde... nem cabelo!” ((João de Deus: Carta) E ela repetia ainda: “Trés carèques! All right”
Falámos-lhe então da Biblioteca. – Une jolie paysage! Uma lindíssima paisagem: a Biblioteca tinha-lhe parecido uma lindíssima paisagem... de livros!
Nisto, ao lado, o Ferreira d´Almeida mexeu-se. Ela olhou com solicitude e disse-nos, sorrindo, que achava aquele rapaz muito lindo e muito loiro! A divindade perguntou logo se havia muitos loiros na Universidade. Nós esclarecemos que na Universidade era o que mais havia era loiros... de borla: que ela já tinha visto as coroas... de capelo! Geraldine então teve uma deliciosa confidência: que era doida por loiros – une folie, une tentation! Sempre que visse um loiro, fosse onde fosse...
...Nós hesitámos um momento: que não, que ainda havia bastante loiros! – e rematámos: - Se tivéssemos sabido há mais tempo do empenho de V.Exa tínhamos-lhe arranjado aí meia dúzia de loiros... Ferreiras – e podíamos ter oferecido a V. Exa, uma coroa deles – d´Almeidas! – Oh! merci! C´est une tentation!
... Geraldine entrou à pressa para a carruagem e disse ao Ferreira d´Almeida estendendo a mão enluvada, com um ar enternecido: - Mon cher blond, adieu! E partiu...
Desta vez o Ferreira d´Almeida ia perdendo o pé!... All right!”
Resta perguntar ao Ferreira d´Almeida se sabe quem foi o Ferreira d´Almeida da Geraldine!
Caro Professor:
ResponderEliminarO meu amigo mostrou-se muito simpático, amável e camarada com o nosso Ferreira de Almeida, ao perguntar-lhe se conhecia o sósia e a situar a acção em 1902.
Pois aqui muito confidencialmente, e só para nós, que ninguém nos ouve, conto-lhe a verdade: a acção passa-se em 2002, e o Ferreira de Almeida é exactamente o nosso.
Digo-lhe ainda mais: em 2008, continua a suscitar cada vez maiores paixões!...
Bem me pareceu que havia aqui um "engano" de datas...
ResponderEliminarDelicioso, meu caro Professor! O que o meu Amigo descobre!
ResponderEliminarBom, lá tenho eu de revisitar a minha arvore geneológica para ver se no princípio algum dos meus antecessores, infeliz, não teve a habilidade bastante para apanhar aquele comboio, apesar do bilhete oferecido.
Quelle dommage!
Que susto, Pinho Cardão! Quando comecei a ler o seu comentário, às tantas receei que o meu Amigo ocnfidenciasse que eu afinal era a Geraldine!
ResponderEliminarUff...
Meu caro JotaC, o engano está no louro. É que o da estória pareceu-me pouco ágil para a ginasta. Ou como se diz no melhor francês: era areia de mais para a sua camioneta...