quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Linha do Tua

Acabo de ouvir na rádio que o relatório entregue ao senhor ministro sobre o recente acidente na linha do Tua “não revelou quaisquer problemas na via e na automotora”. Que alivio! Já podemos respirar mais à vontade.
Bom! A notícia é apenas o “cabeçalho” de um relatório que não li...

9 comentários:

  1. Anónimo14:04

    Infeliz e muito estranhamente, penso que este desastre no Tua ficará, como o anterior, sem ser possivel apurar causas para ele.

    Tanto um como o outro são muito estranhos e, efectivamente, não se conseguiu até agora descobrir o que se passa.

    A via não está em mau estado. Aquela coisa dos jovens que recolheram tirafundos - eu não ouvia usar este termo há anos e anos - é um mero fait-divers dado que isso não diz nada da segurança da via.

    Aquelas automotoras são material muito leve - talvez demais - e estão em bom estado.

    São descarrilamentos muito estranhos.

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  2. Pois é caro Zurich, são os miudos a palmar os parafusos e os passageiros que não ficam quietos nos bancos e fazem baloiçar a composição. Longe vão os Queirozianos tempos em que toda a gente viajava aprumadinha enquanto apreciava a maravilhosa paisagem.

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  3. Anónimo16:00

    Caro bartolomeu, para as velocidades e cargas ali praticadas, não seria nada extraordinário, sequer, renovarem-se as travessas uma sim, duas não, sendo este um método perfeitamente aceitavel de manutenção de vias daquele cariz. Isto, em absolutamente nada, afectaria a segurança da via, requerendo apenas que as velocidades e cargas sejam adequadas à infra-estrutura existente como é o caso. Ora, a REFER tem mantido aquela via com critérios muito mais apertados do que expus acima, portanto já vê, não é por aqui que o problema vem. E, aliás, tirar uma cesta de tirafundos nuns quantos km de via não é nada de especial tendo em conta que existem cerca de dez mil por quilómetro.

    Se tivesse sido esta a causa do desastre, a via teria aberto, ou seja, os carris teriam caído para o lado sob o peso da automotora o que não foi, de todo em todo, o caso.

    O estado, bom ou mau, duma via férrea e a sua influência na segurança da circulação são conceitos abstractos se vistos independentemente um do outro. Posso ter uma via para a qual olho e digo "Que horror de via". Mas a seguir dizem-me "Ahh, mas as velocidades aqui praticadas são de 30km/h e as cargas de apenas 5-6t por eixo". Aí eu respondo, "Ahhh, muito bem, então para isso chega perfeitamente". É o caso da linha do Tua. Evidentemente que não é uma linha top-notch nem tem que ser. Precisamente por isso tem a velocidade e as cargas autorizadas perfeitamente adequadas ao seu estado e com uma grande margem de segurança que, aliás, é tradição em Portugal na fixação de velocidades e cargas para as vias férreas. O que está chega e sobra muito, muito.

    Temos em Portugal linhas em muito, muito pior estado, com cargas bem superiores em cima e não acontece nada.

    Para uma via férrea estar intransitavel de todo e ser efectivamente insegura, mesmo a velocidades de 5-10km/h é preciso estar muito, mas mesmo muito, má, em estado tenebroso. E por via férrea incluo todo o conjunto plataforma, carris, travessas e balastro.

    Poderá ser um problema da via? Eventualmente sim - embora eu duvide -, mas não este específico de terem tirado «parafusos» com as mãos. Isto é um mero fait-divers.

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  4. Bom caro Zurich, na minha minguada qualidade de conversador-opinante de mesa de café, sugiro que elaboremos um rol de possíveis motivos para que a auto-motora, tenha saltado da via.
    Partindo do princípio que a relação velocidade/cargas, que apresenta, são garantia suficiente para que aquele tipo de acidente não possa acontecer.
    - estaria a composição naquela altura a exceder a velocidade "recomendada"?
    - O facto de os parafusos poderem ser retirados à mão, por crianças, não será motivo suficiente para quem entende do assunto, considerar a madeira em péssimo estado de conservação?

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  5. Anónimo19:35

    bartolomeu, não consigo, de forma alguma, fazer esse exercício que me propõe. É que, esse mesmo exercício foi feito pela comissão de inquérito ao desastre anterior, não tendo levado a conclusão absolutamente nenhuma.

    Em relação às perguntas que faz:

    - em caminhos de ferro as coisas não funcionam como nos automoveis. As velocidades máximas são efectivamente velocidades máximas. Não há velocidades recomendadas, sequer. Existem velocidades máximas e nada mais. E, quando excedidas, em troços mais modermos, o comboio pára por acção dos sistemas de segurança. Em locais mais antigos, como o Tua, um maquinista que exceda a velocidade máxima, habilita-se muito facilmente a um processo disciplinar grave. Exceder a velocidade sinalizada para uma via férrea é uma infracção disciplinar muito grave pelos riscos que acarreta. De qualquer forma, não há na cultura ferroviária esse hábito, de todo em todo. Conduzir um comboio é muito, muito diferente de conduzir um automovel. As prescrições regulamentares são totalmente diversas, muito mais esmiuçadas, nada, mas nada a ver com conduzir um automovel. E, a sua prática, nada tem a ver com a condução dum automovel.

    - não, claro que não. E aqui falo como um dos entendidos no assunto. Eu não sei onde foram tirados os tirfons, não sei a localização deles e, como lhe disse, não será nada de estranho isso acontecer, conseguir tirar-se um cabaz deles quando, por km, há cerca de dez mil. Porém, pelo que conheço da Refer, e muito embora nos últimos anos várias coisas venham sendo descuradas, o erro de permitirem a circulação com travessas totalmente podres ao ponto de a linha poder abrir não cometeriam, jamais, de todo em todo, nem no Tua nem em lado nenhum. Sim, pode haver ali travessas podres das quais se tirem os tirfons à mão. E então? Qual o mal? As restantes, novas, chegam plenamente para garantir a segurança da circulação existente e mais que fosse.

    De resto, como lhe disse, esse motivo está totalmente afastado de causa tanto para este descarrilamento como para o anterior. Se fosse um caso de travessas consecutivas podres e com danos ao ponto de não suportarem a passagem da automotora, a linha teria aberto, ou seja, os tirfons teriam cedido e o carril tombado causando o descarrilar da automotora. Não foi este, em absoluto o caso, logo, essa questão dos tirfons tirados é um mero fait-divers sem importância nenhuma.


    Agora, o que digo no que toca à investigação é outra coisa. Dadas as circunstâncias dos desastres havidos, dada a sua estranheza, não sei até que ponto existe capacidade técnica em Portugal para fazer a sua investigação e, já que aconteceu mais um, eventualmente seria prudente contratar entes estrangeiros - o Bureau Veritas ou equivalente - para as peritagens e investigações necessárias.

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  6. Anónimo19:38

    Um pormenor que me esqueceu relativamente ao post anterior e à questão da velocidade: os comboios têm registador de velocidade, logo, se fosse esse o caso facilmente se detectava.

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  7. Bom, caro Zurich, depois de ler o seu esclarecedor comentário, resta-me acreditar que só recorrendo aos famosos detectives do CSI, será possível esclarecer "O Mistério da Linha do Tua".

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  8. Anónimo22:42

    bartolomeu, não é preciso tanto. Porém, dada a especificidade dos acidentes havidos, é efectivamente necessária a investigação por gente especializada em investigação de acidentes ferroviários. Que não sei se existe alguém em Portugal, sequer, com esta especialização.

    Dado não ser possivel assacar responsabilidades directas, não haver nada que explique os descarrilamentos mas efectivamente eles aconteceram, passa-se do plano das engenharias de transportes, civil, mecânica, para uma esfera muito mais especializada: a da investigação de acidentes ferroviários, uma especialização dentro do mundo dos transportes como várias outras, onde os seus actores recebem a formação e o treino específicos para esse fim.

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