1. Foi hoje notícia a suposta intenção da Parque Expo (P.E.) – empresa ainda detida a 100% pelo Estado – de alienar a sua parte (51%) do capital na GIL – Gare Intermodal de Lisboa, sociedade detentora da Gare do Oriente.
Percebi que a notícia equivale a um anúncio ou edital, uma vez que não se conhecem interessados no negócio - o que não surpreende dada a situação extremamente deficitária em que a referida GIL se encontra e que se vai agravando ano após ano.
A par dessa notícia foi também assunto, com menos relevo como é normal, a forma como ocorreu o último aumento de capital da P.E., ocorrido em Maio último.
2. É notável a originalidade da solução adoptada para este aumento de capital.
O aumento foi de € 41 milhões, destinando-se a repor a situação líquida da P.E., arrastada para o vermelho há alguns anos por acumulação sucessiva de prejuízos.
Este aumento de capital foi integralmente subscrito pelo Estado-Administração Central, em 27 de Maio, tendo sido realizado em duas parcelas.
- Uma parcela, de € 40.990.622,60 em espécie, mediante a entrega de 8.217.882 Unidades de Participação (UPs) do Fundo Margueira, avaliadas a € 4,987 cada uma;
- Uma parcela simbólica, de € 24.957,40, em dinheiro.
A parcela em espécie foi realizada a 27 de Maio, limitando-se o Estado a trocar um activo financeiro por outro, a pequena parcela em dinheiro foi realizada a 30 de Maio.
3. O dado mais curioso é que também a 30 de Maio o Estado-Administração Central recomprou à P.E. as UPs do Fundo Margueira, pelo mesmo preço por que tinham passado para o património da P.E. 3 dias antes!...
E assim, de uma forma subtil, o aumento de capital da PE acabaria na prática – que não em termos de contabilidade nacional – por ser realizado totalmente em dinheiro...mediante a reaquisição pelo Estado de um activo financeiro (UPs) que até há 3 dias pertencera ao mesmo Estado, não suscitando por isso qualquer nova questão quanto à sua qualidade – coisa que a aquisição de mais acções de uma empresa deficitária por certo suscitaria...
4. Engraçadíssima, esta engenharia financeira!
E ainda andam para aí algumas almas bem-intencionadas clamando que não há dinheiro para as grandes obras públicas!
Com esta capacidade de estruturar soluções financeiras de elevada sofisticação, não faltará nunca dinheiro para essas e outras obras – mesmo que não exista, inventa-se com recurso aos engenheiros financeiros...alguém, num futuro mais longínquo, sem memória, haverá de pagar!
E não se poderá também fazer desaparecer dívida? Porque não? Seríamos bem mais felizes...e não será por certo tão difícil como fazer desaparecer o Mosteiro de Alcobaça!
Assim como receber uma carrada de milhões de resultados da Caixa Geral de Depósitos para, no dia seguinte, subscrever um aumento de capital de outra carrada de milhões fazendo, ao mesmo tempo, registar receitas e investimento? Não há problema, privatiza-se o exército e hipoteca-se o domínio público marítimo (ops, tirando aquele que já foi vendido em Lisboa, claro).
ResponderEliminarDinheiro para obras públicas arranja-se sempre, riqueza é que não. Mas alguém vá explicar isto àqueles que dizem que o "aeroporto vai dar lucro"...
Tonibler,
ResponderEliminarSeja bem regressado.
O caso que refere é de claro benefício para os objectivos de contenção do défice:
- Os dividendos entram no Orçamento como receita;
- O aumento de capital, uma vez que a CGD é uma empresa lucrativa, é contabilizado como activo financeiro, não afectando (agravando) o saldo (défice) orçamental...
Observem de perto o esquema de financiamento das Estradas de Portugal e vão ver o que é engenharia financeira altamente criativa!
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