domingo, 14 de setembro de 2008

Por caminhos da Dácia e da Trácia-Um Rei contratado II


Como aqui referi, a Roménia nasceu em 1859, pela união dos Principados da Valáquia e da Moldávia. A escolha do rei revelou-se um problema melindroso, já que nenhum dos Principados deveria aparecer como privilegiado ou subalternizado. Por isso, o entretanto nomeado Príncipe da Roménia, Ioan Cuza, e o Parlamento acordaram na definição do perfil de uma terceira pessoa que pudesse exercer as reais funções: um estrangeiro, dotado de capacidade de liderança, sério e com prestígio internacional. A escolha acabou por recair num príncipe alemão Karl von Hohenzollern-Sigmaringen, que recebeu a coroa da Roménia, com o nome de Carol I.
Para aceitar, Carol pôs como condição não constituir um encargo para o novo país. Assim, a morada que para si mandou fazer, o fabuloso Palácio de Peles, foi totalmente financiado pelo próprio. Não tendo descendentes vivos, chamou um sobrinho, com vista a prepará-lo para a sucessão, construindo, também a expensas próprias, um outro Palácio mais pequeno, para habitação do seu sucessor. Carol I revelou-se uma excelente escolha e foi um Rei altamente apreciado e estimado pelos romenos.
Para além da excelência da arquitectura, o Palácio de Peles estava ricamente decorado, o que levou o Presidente Ceausescu a querer requisitá-lo como habitação presidencial. Ceausescu tinha um medo terrível das doenças. Sabendo disso, e temendo as adaptações que o desvirtuariam, o Conservador do Palácio, no decorrer de uma visita de Ceausescu, foi-lhe falando dos vírus instalados nas madeiras antigas, propiciadoras de terríveis doenças. Assustado, Ceausescu, não quis arriscar e requisitou, bem perto, também um belo edifício, um antigo Casino, para morada de férias.
Com o desaparecimento do regime comunista, em 1989, os descendentes vieram a reivindicar a posse dos seus Palácios, já que não foram erigidos pelos fundos do Estado romeno. Foi-lhes devolvida a propriedade dos mesmos, condicionada a que se mantenham como monumentos e museus visitáveis.
Uma visita que valeu mesmo a pena. Claro que, no decorrer da mesma, não deixei de pensar se a escolha de um rei profissional estrangeiro não seria a melhor solução para ultrapassar as tricas caseiras que paralisam a governação de certos países…

3 comentários:

  1. Anónimo01:54

    Caro Pinho Cardão, muito obrigado por esta história que nos trouxe. Subscrevo o seu último parágrafo! Eis uma boa ideia, um rei profissional contratado. Gosto da ideia. Francamente gosto!

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  2. Excelente texto, caro Dr. P. Cardão, tal como o nosso prezado co-comentador Zuricher realça, uma interessante e "edificadora" estória.
    Podemos ainda inferir da leitura do mesmo que Karl Von Hohenzollern-Sigmaringen, nascido a 7de Setembro de 1811 e falecido a 2 de Junho de 1885 (as coisas que a Wikipedia nos diz)demonstrou possuir dotes antecipativos ao perceber que a prosperidade dos mercados financeiros, depende tambem da expansão imobiliária.
    Nesta descrição com que o caro Dr. PC nos brinda, verificamos uma relação interessante entre o presidente Ceausescu e o nosso rei D. José I e de certa forma, entre o conservador do palácio e o 1º ministro Sebastião José de Carvalho e Melo.
    Quanto à escolha de um "rey estrangeiro", que me parece não seja tão improbáble, quanto à partida possa parecer... falta definir os critérios que presidirão à escolha.
    (Ou será que não estão já definidos?)
    E se a coisa acontecer por sucessão alfabética... a seguir a Filipe, poderá acontecer um Garcia?!, so para vermos se aparece alguem capaz de lhe entregar a carta.
    Em certos paíse, como é obvio!!!

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  3. Reis profissionais, gestores profissionais, jogadores de futebol profissionais e, já agora, primeiros-ministros profissionais tipo treinadores de futebol com ministros e secretários de estado a fazerem lembrar o eclético campo do futebol ou o filantrópico serviço praticado pelos gestores...
    Quanto à monarquia profissional, torço o nariz. Sempre é preferível uma “República Profissional”...

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