Usei a expressão “tiro no pé” em POST editado na última 6ª Feira, 3 do corrente, para caricaturar a decisão do BCE de manter a sua principal taxa de juro activa inalterada, em 4,25% – num momento em que eram perfeitamente visíveis os sinais de desaceleração dos preços no consumidor e também os sinais de abrandamento da actividade económica.
Fiquei com a convicção de que o BCE perdeu uma excelente oportunidade de se antecipar aos acontecimentos, baixando a sua taxa em pelo menos 0,5%, dando uma resposta clara ao sentimento económico fortemente negativo que se instalou na Europa.
Se foi só para ganhar o braço-de-ferro com os Sindicatos alemães, não posso estar menos de acordo...
Não sou adivinho para dizer hoje, mesmo ao fim do dia, o que vai acontecer esta semana nos mercados de capitais.
Estamos numa fase de enorme volatilidade, de terrível dificuldade de previsão – mas a queda muito acentuada das bolsas hoje verificada, se tiver continuidade ainda que mais moderada ao longo da semana (Deus nos livre que assim não seja), vai seguramente exigir outro tipo de reposta dos Bancos Centrais...
Se assim for, não correremos o risco de ver o BCE agindo ao sabor dos acontecimentos, ajudando ao sentimento negativo em vez de o prevenir ou combater?
É caso então para dizer – e agora, BCE?
From USA (Florida):
ResponderEliminar729 pontos negativos neste momento!!
às 7:28 pm (de cá)
Estamos praticamente perante outro OUTUBRO 1929!!!
sentimento de um luso americano....
ResponderEliminar:-(
Eu, por outro lado, gostava que os bancos centrais e os governantes estivessem um bocado, só um bocadinho, CALADOS que estou farto de perder dinheiro por causa deles. Cada vez que há um que "ataca" a crise, o pessoal descobre que afinal a crise pode ser pior. Já só falta vir um falar em gatos e lebres...
ResponderEliminarÉ bem verdade o que escreve Tonibler. Este frenesim não contribui em nada para o restabelecimento de um clima de minima confiança. Esperava-se mais acção e menos palavreado. Ou que o palavreado viesse depois da acção.
ResponderEliminarSeria bom, por exemplo, ouvir o presidente do BCE mas depois de anunciar a baixa da taxa directora.
subscrevo vossas observações, caros Tonibler e Ferreira de Almeida...embora tenha a impressão de que estão avaliando mal os nossos políticos profissionais quando dizem esperar deles mais acção e menos palavras...
ResponderEliminarPela minha parte, com toda a franqueza, não espero nenhuma acção e espero imensas mais palavras...
Dou-lhes um bom exemplo: o Ministro das Finanças afirmou que os depósitos bancários em Portugal estão todos garantidos - como entender essa declaração se o sistema legal de garantia de depósitos não sofreu qq alteração nem tal foi anunciado?
Caro Tavares Moreira
ResponderEliminarDado que não domino as subtilezas da missão do BCE, uma interrogação, não está, o BCE, a cumprir estrictamente o seu mandato?
Não faria sentido alargar o âmbito do mandato e aumentar os poderes? Deixar de estar amarrado ao controle da inflacção e incluir a viabilidade do sistema?
Não será esta crise a oportunidade para uma maior integração europeia, no sentido de um aprofundamento do federalismo?
(Declaração de interesses, não sou federalista europeu, no entanto, não posso deixar de reconhecer que, um sistema que limita os poderes da autoridade de supervisão, pode ser o poor dos mundos).
Cumprimentos
João
Caro João,
ResponderEliminarNo artigo 105º, nº1 do Tratado Tratado da União Europeia está definido o objectivo primordial do BCE - garantir a estabilidade dos preços - acrescentando no entanto que sem prejuízo desse objectivo o BCE "apoiará as políticas económicas gerais da União tendo em vista contribuir para a realização dos seus objectivos, a saber (i) elevado nível de emprego, (ii)crescimento sustentável e não inflacionista, (iii) alto grau de competitividade e de convergência do comportamento das economias dos estados membros.
Posto isto,não me parece, de todo, que a decisão de baixar as taxas de juro que sugeri pusesse em causa, de qq forma, os objectivos do BCE ou o seu mandato - para usar a expressão que o meu Amigo utiliza e que tem sido com frequência citada mas nem por todos bem entendida, parece-me...
Caro Távares Moreira,
ResponderEliminarNo meu entender, o aumento abrupto da taxa de juro (TJ) contribuí-o para esta situação.
Se não estou em erro há dois anos tínhamos um TJ de 2%, até ontem estava nos 4.25%. Mais do dobro.
A TJ nesta ordem de grandeza provocou o sufoco de muitas famílias e empresas o que levou ao incumprimento das suas obrigações perante as instituições que concediam o crédito.
A justificação para os aumentos sucessivos era sempre a mesma.... Controlar a inflação.
Pergunto se alguém percebeu, realmente, qual a verdadeira causa do aumento da inflação?
Não terá sido a especulação com os preços das matérias-primas, com especial ênfase no preço do petróleo.
Este facto provocou uma escalada dos preços em todos os sectores, levando ao aumento da inflação.
Penso que isto é evidente, mesmo para um leigo, como eu, na matéria.
Se olharmos para os Estados Unidos verificamos que a crise do Sub prime levou ao corte das TJ.
Se não estou em erro, na altura, estava acima dos 5%, agora está nos 1.75%.
Esta é uma análise simplista do efeito da TJ e que mostra como a Europa andou-se em contra ciclo e não foram capazes de antecipar o que estava para acontecer.
Embora esteja fora do contexto, achei um bocado ridículo o governador do Banco de Portugal vir pedir aos portugueses para terem calma e confiança nas instituições quando verificamos que são as próprias instituições que denotam enorme nervosismo e desconfiança nos mercados.
Eu tenho confiança que isto tudo vai passar e que faço votos para que estes tempos sirvam de lição aos governos e se comece a regular com mais rigor.
Caro meretíssimo,
ResponderEliminarCom a devida vénia, aquilo que mais contribuiu para a desordem que se instalou nos mercados não foram as taxas de juro altas mas...as taxas de juro excessivamente baixas!
Sobretudo nos USA, mas tb na Europa, as taxas de juro foram mantidas por longo tempo - entre os finais de 2001 e os finais de 2005 - em níveis irrisórios.
Esses níveis irrisórios convidaram e estimularam um excesso brutal de endividamento e a construção de produtos alternativos para as poupanças (ter dinheiro em depósitos bancários era só para masoqistas) assentes em estruturas ligadas aos artificialismos do mercado de crédito...
Criaram-se assim várias bolhas especulativas que, com o fim das taxas de juro baixas, resultantes do encarecimento súbito das matérias primas, começaram a rebentar, propagando-se depois a todo o sistema financeiro.
A minha crítica à política recente do BCE tem a ver com aquilo que considero a sua miopia de não perceber que os factores determinantes da política monetária tinham mudado, radicalmente, e o BCE continuar agarrado a um conceito absurdo de controlo dos preços...
Lá teve hoje de dar o braço a torcer, da pior forma, em minha opinião!
Quanto ao seu voto final de que estes tempos sirvam de lição aos governos...meu Caro, esse é um voto piedoso, que lhe fica bem enunciar - mas só isso mesmo.