De repente o mundo mergulhou numa absoluta incerteza. As ameaças que antes nos atormentavam parecem agora meros episódios de rotina perante a enormidade da confusão que se instalou e, antes de se instalar o pânico, ainda estamos perante o estupor da perplexidade, como se um dique considerado absolutamente firme e inexpugnável tivesse subitamente começado a desabar por todos os lados, como se a sua estrutura de aço estivesse afinal corroída, assente numa matéria viscosa que escapa por entre os dedos que lhe querem restituir a firmeza perdida.
À medida a que assistimos a mais e mais notícias sobre o que nos pode acontecer, apercebemo-nos, com igual estupefacção, de como afinal éramos felizes. Ao que agora nos dizem, vivemos até agora tempos de prosperidade em que dispúnhamos da matérias primas baratas, de petróleo ao preço da chuva, de liquidez financeira, de acesso fácil ao crédito, de casas ao alcance de (quase) todos, de automóveis em permanente renovação, de viagens ao virar da esquina, enfim, podíamos confiar no futuro que só nos desafiava a ter mais e mais. A banca era o exemplo do sucesso das reestruturações, as políticas de recursos humanos eliminavam os menos produtivos em cada momento, quase não havia oportunidade para falhar, tudo girava perto da eficácia absoluta. A tecnologia garantia transparência, rapidez, informação a tudo e a todos.
As crises do passado que ainda era há uns meses, afinal eram só uma questão de velocidade, a maior ou menos capacidade de andar mais depressa, de progredir ainda mais, de ter o que ainda não tínhamos.
Ao que hoje sabemos, vivíamos tempos gloriosos de prosperidade e não nos deixaram descansar nisso, o mundo viveu numa velocidade vertiginosa e parece que se despistou.
Aturdidos pelo impulso da ganância e pelo deslumbramento do progresso meteórico e da riqueza fácil, nem reparámos no muito que já possuíamos.
Se recuperarmos os jornais da última década, a palavra crise repete-se a todo o tempo, as ameaças do terrorismo, da pirataria informática, do desemprego, da competitividade impiedosa, eram sistemáticas, não havia quase espaço para a esperança e para a confiança no futuro. De repente, sentimo-nos a perder tudo o que nem sequer chegámos a valorizar, o mundo avançou e a sua alma ficou para trás.
À medida a que assistimos a mais e mais notícias sobre o que nos pode acontecer, apercebemo-nos, com igual estupefacção, de como afinal éramos felizes. Ao que agora nos dizem, vivemos até agora tempos de prosperidade em que dispúnhamos da matérias primas baratas, de petróleo ao preço da chuva, de liquidez financeira, de acesso fácil ao crédito, de casas ao alcance de (quase) todos, de automóveis em permanente renovação, de viagens ao virar da esquina, enfim, podíamos confiar no futuro que só nos desafiava a ter mais e mais. A banca era o exemplo do sucesso das reestruturações, as políticas de recursos humanos eliminavam os menos produtivos em cada momento, quase não havia oportunidade para falhar, tudo girava perto da eficácia absoluta. A tecnologia garantia transparência, rapidez, informação a tudo e a todos.
As crises do passado que ainda era há uns meses, afinal eram só uma questão de velocidade, a maior ou menos capacidade de andar mais depressa, de progredir ainda mais, de ter o que ainda não tínhamos.
Ao que hoje sabemos, vivíamos tempos gloriosos de prosperidade e não nos deixaram descansar nisso, o mundo viveu numa velocidade vertiginosa e parece que se despistou.
Aturdidos pelo impulso da ganância e pelo deslumbramento do progresso meteórico e da riqueza fácil, nem reparámos no muito que já possuíamos.
Se recuperarmos os jornais da última década, a palavra crise repete-se a todo o tempo, as ameaças do terrorismo, da pirataria informática, do desemprego, da competitividade impiedosa, eram sistemáticas, não havia quase espaço para a esperança e para a confiança no futuro. De repente, sentimo-nos a perder tudo o que nem sequer chegámos a valorizar, o mundo avançou e a sua alma ficou para trás.
Éramos felizes e não sabíamos.
... Esta, pode ser uma forma resignada de observar o problema, cara Drª. Suzana.
ResponderEliminarContudo, a ganância (perdoe-me o termo) e a inconsciência imperaram desde que os sinais da iminência desta crise, apareceram. Acompanhando a preciosa metáfora do dique, diria que muito mais avisado foi o menino neerlandês "Hansje Brinker" em honra de quem foi erigida em Spaarnham uma estátua e, cujas acções simbolizam esse eterno combate. (Conta-se que num fim de tarde, ao regressar a casa, Hansje reparou que a água estava a passar por um buraco aberto na parede de um dos diques. Como não havia ninguém por perto a quem pudesse recorrer, tapou o buraco com o dedo e assim permaneceu até alguém aparecer finalmente no dia seguinte.)
Basta eliminar a ganância, a mesquinhez e os pequenos poderes, valorizar os pequenos prazeres e os pequenos gestos, basta regressar ao eterno e etéreo prazer de amar o próximo, que tudo se reconstruirá.
ResponderEliminarPara isso teremos de dar a mão aos solitários e infelizes donos do poder, pobres solitários transidos de medo, para perceberem que não estão sozinhos neste mundo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarCom a “globalização” retiram-se recursos da área dos investimentos produtivos transferindo-os para a especulação financeira.
ResponderEliminarEsta tendência atinge directamente o coração da legitimidade do sistema capitalista neoliberal. De forma mais ou menos explícita, todos nós nos queixamos das injustiças geradas pelo capitalismo, mas de certa forma as aceitamos na medida em que a riqueza do capitalista tendia a transformar-se em investimento produtivo, empregos e produtos. A injustiça social passava assim a ser um mal inevitável de um processo em última instância positivo. O que é novo, é que com a expansão dos sistemas de especulação financeira, segundo a Unctad, a crescente concentração da riqueza nacional nas mãos de poucos não tem sido acompanhada por uma elevação de investimentos e crescimento mais rápido.
As trocas especulativas diárias são da ordem de 1,5 triliões de dólares por dia, enquanto as trocas de bens e serviços realmente existentes mal atingem os 25 biliões, algo como 60 vezes menos.
Nesta lógica, o que constitui não uma excepção mas uma regular tendência das últimas décadas, assiste-se aos lucros crescentes de um lado, e a investimentos, salários e emprego decrescentes do outro, o que simplesmente torna este sistema neoliberal insustentável. A “crise financeira” actual é, afinal, o pronuncio do descalabro do capitalismo imperialista, do neoliberalismo.
Suzana
ResponderEliminarO que mais impressiona é que mais uma vez - comentário idêntico lembro-me de ter feito a propósito da escalada recente dos preços de bens alimentares – ficámos à espera do colapso, como que sendo uma fatalidade das nossas próprias escolhas de soluções de desenvolvimento, para depois nos admirarmos e actuarmos, como se o caminho que vínhamos trilhando fosse desconhecido.