Nunca fui grande consumidora de televisão mas gostava de ver os programas informativos e os debates, confiando que seria uma maneira relativamente fácil de conhecer os factos e de ouvir pessoas especializadas em cada área a trocar ideias sobre os mesmos, habilitando-me a formar a minha própria leitura dos factos.
Mas esses formatos cedo se transformaram numa espécie de programas de entretenimento, em que o prazer de dissecar notícias, perorar sobre elas e tergiversar sobre as suas implicações se tornou numa espécie de desporto. Abre-se a televisão para ver as notícias e o que é que se vê? Jornalistas a lerem notícias e logo a seguir opiniões, análises, comentários de…outros jornalistas! O que parece é que os factos que apresentam são só meros pretextos para explodirem na sua apreciação, para se sentarem sucessivamente na cadeira de entrevistador ou de entrevistado, tudo num círculo quase fechado, com a cumplicidade do tratamento por tu, que cria a maior das confusões e que impede que se distinga com clareza quem deve informar e quem deve esclarecer as dúvidas que a informação suscita. Que torna praticamente impossível destrinçar o que são factos e o que são leituras derivadas.
Não quero com isto dizer que não possa haver pessoas que, além de jornalistas, têm também capacidade para analisar e comentar certos temas específicos, mas nesse caso é nessa qualidade que devem intervir, e não na de jornalista. A questão é que a credibilidade e a competência estão hoje completamente confundidas com o número de vezes que se aparece no ecrán ou aos microfones, ou seja, parte-se do princípio de que uma cara bem conhecida da televisão capta tantas ou mais audiências atentas e crédulas como qualquer guru especializado na matéria. E que é mais eficaz apresentá-lo como jornalista do que como economista, ou jurista, que porventura também seja.
Na rádio é mais ou menos o mesmo, sintoniza-se um posto e lá estão as tertúlias entre jornalistas, seja o tema questões internacionais, económicas, judiciais, desportivas, sociais, relatórios mundiais, guerra ou paz. Ou então chama-se um nome sonante para falar sobre a matéria e a seguir o que ele disse é logo desfeito, ampliado ou retalhado, já se isolou o que interessa e se omitiu o que não convém ou não se entendeu, tudo de repente, num frenesim ouve-comenta-conclui, uma verdadeira trituradora que muitas vezes deixa irreconhecíveis as notícias e as declarações que lhes serviram de pretexto.
Está instalado um exercício de “tradução simultânea” que não deixa espaço para que o espectador forme a sua própria ideia ou tenha sequer a ousadia de vir a arriscar uma opinião, porque quando chega ao fim do espaço “informativo” já nem se lembra o que esteve na origem de tantas apreciações, intenções, cálculos, receios e vaticínios. Os jornalistas apropriaram-se do espaço de comunicação e a notícia já não é o que aconteceu mas o que se pensa que devia ter acontecido. As notícias são apenas um ingrediente do produto que é servido pronto a ser consumido.
Mas esses formatos cedo se transformaram numa espécie de programas de entretenimento, em que o prazer de dissecar notícias, perorar sobre elas e tergiversar sobre as suas implicações se tornou numa espécie de desporto. Abre-se a televisão para ver as notícias e o que é que se vê? Jornalistas a lerem notícias e logo a seguir opiniões, análises, comentários de…outros jornalistas! O que parece é que os factos que apresentam são só meros pretextos para explodirem na sua apreciação, para se sentarem sucessivamente na cadeira de entrevistador ou de entrevistado, tudo num círculo quase fechado, com a cumplicidade do tratamento por tu, que cria a maior das confusões e que impede que se distinga com clareza quem deve informar e quem deve esclarecer as dúvidas que a informação suscita. Que torna praticamente impossível destrinçar o que são factos e o que são leituras derivadas.
Não quero com isto dizer que não possa haver pessoas que, além de jornalistas, têm também capacidade para analisar e comentar certos temas específicos, mas nesse caso é nessa qualidade que devem intervir, e não na de jornalista. A questão é que a credibilidade e a competência estão hoje completamente confundidas com o número de vezes que se aparece no ecrán ou aos microfones, ou seja, parte-se do princípio de que uma cara bem conhecida da televisão capta tantas ou mais audiências atentas e crédulas como qualquer guru especializado na matéria. E que é mais eficaz apresentá-lo como jornalista do que como economista, ou jurista, que porventura também seja.
Na rádio é mais ou menos o mesmo, sintoniza-se um posto e lá estão as tertúlias entre jornalistas, seja o tema questões internacionais, económicas, judiciais, desportivas, sociais, relatórios mundiais, guerra ou paz. Ou então chama-se um nome sonante para falar sobre a matéria e a seguir o que ele disse é logo desfeito, ampliado ou retalhado, já se isolou o que interessa e se omitiu o que não convém ou não se entendeu, tudo de repente, num frenesim ouve-comenta-conclui, uma verdadeira trituradora que muitas vezes deixa irreconhecíveis as notícias e as declarações que lhes serviram de pretexto.
Está instalado um exercício de “tradução simultânea” que não deixa espaço para que o espectador forme a sua própria ideia ou tenha sequer a ousadia de vir a arriscar uma opinião, porque quando chega ao fim do espaço “informativo” já nem se lembra o que esteve na origem de tantas apreciações, intenções, cálculos, receios e vaticínios. Os jornalistas apropriaram-se do espaço de comunicação e a notícia já não é o que aconteceu mas o que se pensa que devia ter acontecido. As notícias são apenas um ingrediente do produto que é servido pronto a ser consumido.
TUDO excelentemente observado!
ResponderEliminarE deixe-me dizer-lhe Drªa Suzana, que não evitei uma gargalhada quando li no final deste texto a frase "Os jornalistas apropriaram-se do espaço de comunicação e a notícia já não é o que aconteceu mas o que se pensa que devia ter acontecido."
É isto, sem tirar nem colocar uma virgula, a que assistimos quando nos sentamos em frente ao televisor.
Daí a frase que passeia alegremente pelos becos e rualas da nossa sociedade: São os midia que actualmente governam. Eles informam, desinformam, influênciam, manipulam, trinta por uma linha, e sempre sob a asa protectora da liberdade de informação, de expressão e de escrita.
Nada se pode fazer quanto a esta vicissitude que a democracia permite.
Também eu subscrevo a nota. Coincidência: antes de ler o post tinha acabado de comentar o que a Suzana designa por "tradução simultânea", num dos telejornais em que o António pergunta ao Miguel, que antes tinha perguntado ao António se o "directo" do Carlos a que ambos assitiram confirmou aquilo que já se pressentia.
ResponderEliminarPois, de facto assim é. Mas, a meu ver, tal acontece porque existe um espaço vazio que ainda ninguém com "substância" se atreveu a preencher, dando as explicações reais sobre as causas deste cataclismo e, muito pelo contrário, ouviram-se apenas palavras triviais...
ResponderEliminarAtente-se por exemplo na cronologia da evolução do discurso sobre as garantias dadas aos depositantes...
Suzana
ResponderEliminarEstou completamente de acordo com o seu "desabafo". Mas acrescentaria que os jornalistas, comentadores e entrevistadores constroem factos onde eles não existem para deles fazerem notícia. Depois é fazer um embrulho com romance ou drama, tanto faz, e vender paixões. E o que é certo é que têm audiência!
Está visto, caros amigos, que todos temos esta sensação esquisita de não estar a ouvir informações mas opiniões que nem pedimos. Já não é mau quando se consegue identificar a causa do mal estar!
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